Teste 2: CAIXAS ACÚSTICAS JBL L82 CLASSIC
fevereiro 9, 2022
Teste 1: CAIXAS ACÚSTICAS ESTELON YB MKII
fevereiro 9, 2022
TOCA-DISCOS RELOOP RP-2000 MkII

Juan Lourenço

A Alpha AV trouxe para o Brasil mais um toca-discos de vinil da alemã Reloop. Em outras edições da revista, foram testados dois modelos muito bons, dentro de suas respectivas faixas de preço. Os reviews podem ser vistos nas edições 244 e 247 da revista.
O modelo em questão é o RP-2000 Mk2, um toca-discos direct-drive por quartzo, pensado para DJs iniciantes que queiram se aventurar na cena eletrônica ou em casa mesmo, além de nós meros apreciadores da primeira arte. Ele possui visual clássico, um pré de phono interno que pode ser desligado para o uso de um pré de phono externo, saída USB para utilizar em uma mesa eletrônica ou digitalizar suas músicas, e até utilizar em sample no futuro, e todos os cabos de alimentação.

O braço balanceado em forma de S possui levantamento hidráulico e ajuste de anti-skating. Não possui ajuste de altura da base do braço, porém vem com o ajuste para cápsulas Ortofon. O TD vem equipado com uma cápsula Ortofon OM Black com faixa de frequência de 20Hz a 22kHz, saída de 4mV com o logo da Reloop. Sim, a empresa alemã mantém uma excelente parceria com a maior fabricante de cápsulas do mundo, a Ortofon – ou seja, cápsulas é o que não vão faltar para fazer upgrades, principalmente com a facilidade e conveniência do headshell tipo baioneta SME, universal.

O chassi já consagrado pesa 6 kg, é robusto e vem evoluindo com o RP-2000 anterior e com outros modelos da marca que utilizam o mesmo gabinete, com pequenas modificações – mantendo-se praticamente inalterado interna e externamente, exceto pelo novo painel metálico preto profundo e botões metálicos de acionamento, e regulagem de velocidades 33 1/3 e 45 RPM. O prato continua o mesmo, fundido em alumínio e usinado com precisão. O motor DC de duas velocidades não utiliza escovas, o que evita dores de cabeça com manutenção. Os pés em borracha reduzem a vibração e fazem um bom desacoplamento da base do toca-discos com a prateleira em que estiver apoiado, isto se traduz em uma qualidade sonora superior, uma imagem de palco sonoro mais definida e um silêncio de fundo melhorando toda a apresentação musical.

Para o teste foram utilizados os seguintes equipamentos. Amplificador integrado: Sunrise Lab V8 MkIV Signature Special. Pré de phono: Sunrise Lab The PhonoStage II SE. Cabos: força, caixa e interconexão RCA da Sunrise Lab Premium e Reference Magic Scope. Caixa acústica: Dynaudio Evoke 30.

O RP-2000 Mk2 chegou lacrado e muito bem protegido em sua embalagem. Dentro dela vem o toca-discos com algumas partes separadas e protegidas individualmente. Gabinete, prato, contrapeso, cabos e acessórios estão acondicionado em isopor injetado. A cápsula está unida ao headshell, bastando rosquear ao braço, e pronto.

O único trabalho é o ajuste do contrapeso – para o que é preciso uma balança própria para toca-discos. O ajuste ficou em 2 g, e o anti-skating em 1,6 g.

Após o amaciamento de cerca de 40 horas, iniciamos os trabalhos com o disco Bozzio Levin Stevens, Black Light Syndrome, todo o lado B do disco 2. Gosto de começar por este disco por ser bastante complexo e exigir do toca-discos um bom compromisso do material e geometria do braço, e de sua fiação interna, além da interação com a cápsula. Como era de se esperar, a Reloop mantém seu histórico intacto com um ótimo compromisso entre braço e cápsula. Bom equilíbrio tonal e conforto auditivo é quase uma regra para o vinil, é preciso ser um projeto propositadamente mal-feito para que um toca-discos de vinil não tenha estas características acentuadas – ter tudo isso e uma ótima extensão nos dois extremos e timbres muito bonitos.

Seguindo em frente, passamos para Patricia Barber, Café Blue, que mantém a performance do RP-2000 Mk2 em bom nível com um contrabaixo desembolado e agudos com boa limpeza e arejamento. O conjunto braço e cápsula formam uma dupla bastante sinérgica. Pode parecer óbvio, mas não é. Algumas marcas consagradas se descuidam deste detalhe quando se fala em toca-discos de entrada e insistem em cápsulas que não possuem boa sinergia com seus braços, o que se traduz em um sistema que o usuário utilizará poucas vezes. Neste ponto, a Reloop faz direitinho o seu dever de casa.

CONCLUSÃO

A Reloop parece dar muita importância para os materiais empregados em seus projetos, e à sinergia entre eles, e com uma cápsula reconhecidamente amigável – como são as Ortofon. Não dão chance para o azar, revisando de tempos em tempos seus produtos de forma sistemática. A prova disto é o RP-2000 Mk2, que está melhor que o anterior, mantendo a sonoridade intacta.

TOCA-DISCOS RELOOP RP-2000 MkII
(usando pré de phono interno)
Nota: 57,5
TOCA-DISCOS RELOOP RP-2000 MkII
(usando pré de phono externo)
Nota: 60,0
AVMAG #272
Alpha Áudio e Vídeo
(11) 3255.2849
R$ 2.990

TOCA-DISCOS THORENS TD 402 DD

Juan Lourenço

Na edição 262 da Áudio & Vídeo Magazine, testamos o toca-discos de vinil Thorens TD 202, uma boa opção para quem está iniciando no mundo analógico do vinil. Com o Thorens TD 402 DD, o iniciado pode dar mais um passo seguro rumo à satisfação musical no hobby. Trata-se de um toca-discos direct drive (tração direta), como sugerem as letras DD, com acionamento semi-automático e pré de phono interno.

O TD 402 DD é mais um projeto caseiro da Thorens, produzido na China sob sua supervisão, e é substancialmente melhor que o TD 202, a começar pela plataforma mais robusta, resistente à vibrações, característica reforçada pelos pés em elastômero que, juntos, fazem um ótimo trabalho de contenção das vibrações espúrias. O braço TP72, feito em fibra de carbono, casa muito bem com a cápsula Audio Technica AT-VM95E, que vem montada em um headshell tipo baioneta, dando vida ao conjunto. Com o modelo TD 402 é possível escolher acionar o prato tanto pela chave localizada ao lado direito do prato, como de forma semi-automática, comutando uma chave no painel traseiro. Também no painel traseiro encontra-se a chave liga/desliga e a entrada de alimentação, que é feita por uma fonte externa bivolt, e a chave que habilita ou desabilita o pré de phono interno, bem como as saídas RCA e o aterramento do braço. Por falar em braço, o TP72 dá alguns passos adiante no emprego de materiais compostos: é possível perceber as qualidades do material, porém é preciso prestar atenção ao travamento do braço com a base, pois pode haver pequenas folgas a serem ajustadas manualmente.

O prato é feito em alumínio fundido, e possui acabamento cromado de alta qualidade – internamente ele recebe um anel de borracha que atenua as possíveis vibrações. Abaixo do prato está o acabamento superior da base, feito em aço escovado que também contribui para melhorar o foco, recorte e a inteligibilidade da música como um todo. A Rega utiliza uma solução parecida, fazendo uso de uma lâmina interligando o braço até a base do pino central do prato – uma solução mais modesta que a utilizada pela Thorens.

A montagem do TD 402 é bastante intuitiva: ele vem embalado de forma a facilitar a nossa vida. A tampa é a primeira peça na caixa, e a plataforma vem pronta para uso, deixando apenas o encaixe do prato no pino central. A cápsula vem montada e ajustada no headshell baioneta, bastando encaixar no braço e girar o anel de travamento. A única coisa que não dá para fugir é ajustar o contrapeso do braço. Vai precisar de uma balança e, de preferência, uma digital para obter maior precisão. O peso recomendado é 2 gramas, e de fato não precisou mais do que isto. Já o antiskating ficou em 1,5 gramas.

COMO TOCA

Para o teste do Thorens TD 402 DD, utilizamos os seguintes equipamentos. Amplificação: receiver estéreo Cambridge ARX100, amplificador integrado Sunrise Lab V8 SS. Pré de phono externo: Sunrise Lab The PhonoStage II. Cabos de força: Sunrise Lab Reference II, e Illusion Magic Scope. Cabos de Interligação: Sunrise Lab Reference II, e Illusion Magic Scope. Cabos de caixa: Sunrise Lab Reference II, e Illusion Magic Scope. Caixas Acústicas: Neat Ultimatum XL6.

Lembrando do amaciamento do TD 202, me preparei para a longa jornada, mas para minha alegria não foi como o irmão mais novo – ele já saiu tocando razoavelmente bem. Um pouco engessado nos extremos, mas com bom timbre e uma região média promissora. O tempo total de amaciamento durou 45 horas. Após este período, os extremos apareceram, o grave firmou, tirando de cena a secura e dando lugar a uma extensão bonita. A região média recuou e as transições entre as frequências ficaram mais coerentes, apresentando um ótimo equilíbrio entre elas.

Começamos as audições com o disco do Bozzio Levin Stevens, Black Light Syndrome. Como este disco é complexo no que se refere às texturas, foi bom começar com ele e perceber que o TD 402 DD se sai bem em desembolar as cordas emborrachadas do contrabaixo elétrico, trazendo uma fluidez e precisão surpreendentes! A integração entre os músicos é outro ponto forte deste toca-discos, ele consegue tirar um pouco daquela sensação de que os músicos gravaram em separado e que na mixagem reposicionaram tudo, comumente observado em aparelhos de seu nível. Com ele a sensação de integração nos faz apreciar a música com um nível de relaxamento muito bom, completando tudo isto com agudos mais redondos, mas com bom decaimento. Parte deste benefício vem do braço em carbono que dá um pouco de luz para a cápsula AT-VM95E, que é um pouco escura para este nível de toca-discos. O ideal seria uma Ortofon 2M Bronze neste aparelho – aí com certeza seria uma dupla dinâmica!

O Cambridge ARX100 fez um belo par com o TD 402 DD: são de mesmo patamar e tocam com total sinergia! Talvez se trocar a cápsula por uma mais refinada, o ARX100 fique para trás, mas para quem não tem esta pretensão, os dois fazem um belo casal!

Já com o pré de phono externo, e o V8 SS, ouvimos Café Blue da Patricia Barber, e devo dizer que este toca-discos cresce com pré externo: as texturas são empolgantes e as intencionalidades brotam no amplo espaço do palco sonoro. Uma boa profundidade regada à transientes rápidos, não deixa que os músicos se amontoem uns nos outros, com direito a bom arejamento em cada instrumento, principalmente na bateria. Com clássicos, o conjunto se sai bem, pois o palco é bastante amplo e tem bom arejamento e ar entre os naipes e instrumentos solo. Mas em obras com muitos componentes, tende a perder um pouco o foco e, com isto, o palco se mexer um pouco – eu culpo a cápsula, que age como um freio de mão impiedoso, escondendo parte da beleza desse toca-discos.

CONCLUSÃO

A Thorens conseguiu aliar novas tecnologias com o design funcional e atemporal, dando ao TD 402 DD a tarefa de manter a tradição de ótimas peças com preços realistas, tirando máximo proveito de sua vasta experiência em combinar materiais, para nos entregar um produto belo, atual e extremamente competitivo, que tem em seu DNA a musicalidade como carro chefe.

Nota: 67,0
AVMAG #270
KW Hi Fi
fernando@kwhifi.com.br
(48) 3236.3385
€ 1.200

TOCA-DISCOS THORENS TD 148 A

Fernando Andrette

Em uma edição comemorativa de 25 anos, em que quisemos fazer uma homenagem à topologia que deu sentido à busca pelo hi-end: o analógico, seria frustrante não apresentar também nesta mesma edição um toca-discos mais próximo à nossa realidade.

E foi assim que escolhemos o Thorens TD 148 A para também fazer parte desta edição comemorativa. Afinal, a Thorens é parte desta maravilhosa história da busca pela alta fidelidade com toca-discos que marcaram época e foram verdadeiras referências a serem batidas.

Que audiófilo com mais de 40 anos não teve ou conheceu alguém que ainda tem um setup analógico com os modelos TD 160, TD 124 ou o TD 125, com os braços da própria Thorens ou os tão desejados SME 3009, ou os Jelcos?

Eu tive, por quase duas décadas, primeiro o TD 160 e, posteriormente, o TD 124, comprado na Raul Duarte, ainda na Rua Sete de Abril, diretamente das mãos do Cassiano, o pai das meninas da Raul Duarte (como elas ficaram conhecidas após o falecimento do pai). E o mais impressionante é que ambos ainda estão em perfeito funcionamento com dois queridos amigos músicos, que os tratam como as “joias” de seus setups! Mostrando o grau de confiabilidade desses toca-discos quando bem cuidados!

A Thorens agora se encontra na mão de seu terceiro dono, e o novo CEO é um profissional de enorme competência e com muitos e muitos anos de mercado, afinal foi presidente da Elac, uma outra empresa alemã com uma longa história de bons serviços prestados à alta fidelidade. E sob esta nova direção, a Thorens quer manter sua história e credibilidade vivas. Mas quer avançar e conquistar um nicho mais jovem, e que deseja um toca-discos prático, moderno e se possível de boa qualidade.

O mercado de toca-discos intermediários está cada vez mais competitivo, e cada centavo conta pontos nesta briga por uma maior parcela neste segmento tão atraente.

A Thorens, em sua longa história, nunca brigou nesta faixa de preço, pois sempre seus toca-discos buscavam atender o consumidor que desejava um definitivo, e com um grau de precisão que atendesse tanto a uma boa performance sonora, como a manutenção de seus valiosos discos.

Pois não pensem vocês, com menos de 40 anos, que no auge do vinil, não se produzia muita porcaria! Toca-discos que destruíam os discos com as famosas cápsulas de cerâmica, capazes de deixar um LP totalmente esbranquiçado após corroer os sulcos.

Eu vi tantas barbaridades nos meus sessenta e três anos de idade, que daria para escrever uns 50 Espaços Abertos, só falando dos crimes cometidos aos pobres discos, com moedas ou caixas de fósforos penduradas no shell do braço, sobre a cápsula, elásticos sendo usados como anti skating, cabos de braço soldados à cápsula. Atrocidades capazes de destruir discos em três a quatro audições.

Para os jovens que começam sua peregrinação aos sebos, em busca de raridades que custem de 10 a 30 reais, prestem muita atenção: se o LP estiver esbranquiçado, os sulcos foram destruídos e se você, ao tocá-lo em seu toca-discos, irá destruir sua agulha também.

E não pense que os toca-discos indecentes ficaram no passado – ledo engano. Todas essas “vitrolas” oferecidas a menos de 3.000 reais são descendentes direto das antigas vitrolas destruidoras de discos. O mercado “consumer” nunca irá aprender a respeitar o melômano e o audiófilo com um orçamento muito apertado. Pois eles sabem que o número de consumidores desinformados é enorme.

Para os que desejam se aventurar na “magia sonora” do analógico, tenham em mente, como sempre escrevo, que será necessário pelo menos R$ 5.000 para a compra de um toca-discos decente que não vai destruir seus discos, e que vai lhe proporcionar prazer em escutar seus LPs. Os bons permitem ajustes no braço e no peso da cápsula, para que seus discos não sejam danificados e durem por décadas! E para extrair o melhor som!

O TD 148 A faz parte deste time de TDs com o mínimo de qualidade, que aceita upgrades de cápsulas e tem alguns mimos – como ao término do disco levantar o braço para você não ter que correr e não deixar a agulha encostar no selo do disco (ruído que é bem desagradável e que pode muito bem cortar o barato de uma audição prazerosa).

Em sua classe de toca-discos, o TD 148 A possui um chassi de suspensão flutuante de duas peças, que protege o disco e o braço de vibrações externas. O gabinete é feito de MDF e pode ter acabamento em folheado de madeira natural ou em preto (o que veio para teste tinha o acabamento de madeira, muito bonito). E o sub-chassi é feito de alumínio. A suspensão, como na maioria dos Thorens, é para manter o toca-discos o mais estável possível. A transmissão é feita por correia (belt-drive), com um motor totalmente desacoplado do chassi. O prato é feito de vidro temperado e polido, para um acabamento mais refinado. O toca-discos vem com um braço TP 92 feito sob encomenda para a ELAC. Este braço, ainda que minimalista e despojado de refinados controles, tem força de rastreamento e anti skating também ajustáveis.

Este modelo já vem de fábrica com uma cápsula Thorens TAS 267 (Audio Technica AT-95E), que já sai de fábrica ajustada. É o tão falado plug & play, para os marinheiros de primeira viagem que querem tudo “à mão”. O que indicamos e sugerimos é que o TD 148 A pode render muito mais do que o pacote que ele sai de fábrica, merecendo cápsulas melhores e mais refinadas.

Este modelo possui três velocidades de rotação (33. 45 e 78 RPM), que são selecionados do lado esquerdo do painel por uma chave, mas que será preciso lembrar, aos que não sabem, que caso deseje se escutar um disco em 78 RPM, será necessário o uso de uma cápsula específica, pois do contrário o risco de destruir a cápsula para 33 e 45 RPM é total! O TD 148 A possui modo de uso manual e automático (ainda bem, pois pessoas velhas como eu, jamais se acostumariam com o padrão automático).

Para que o automático funcione é necessário colocar o interruptor especial na posição do diâmetro do prato no final do disco. Feito este procedimento, de levar o braço até o final do disco, toda vez que o mesmo acabar o braço se levanta e o motor desliga.

Eu usei o tempo todo no modo manual, pois são décadas e mais décadas levantando e trocando o disco de lado, que fazer algo diferente deste ritual me parece estranho demais. Mas não sou contra oferecer novidades às gerações acostumadas a comandos sem sair da cadeira – ainda que no analógico não se tenha saída de, a cada 20 minutos, exercitar as pernas e os braços – é inevitável.

Para o teste, utilizamos basicamente os prés de phono Boulder 508 o PS Audio Stellar. Os cabos foram os Virtual Reality (RCA e XLR) e o Sunrise Lab Quintessence (RCA e XLR). As cápsulas, além da MM que veio no TD 148 A, ouvimos a Hana ML e também a Ortofon 2M Red.

Começo minha avaliação auditiva afirmando que o Thorens merece, no mínimo, uma Ortofon 2M RED. Pois as diferenças em termos de performance serão enormes! Com a cápsula que vem instalada, o som carece de vivacidade e inteligibilidade em passagens mais complexas. Falta os extremos e, principalmente, o som carece do DNA do analógico, que é justamente um som com corpo bem próximo do real, e aquela folga e conforto auditivo tão presente no analógico.

Entendo que, para tornar o aparelho competitivo em um mercado tão disputado, a Thorens optou por uma cápsula muito de entrada. Mas, com isso, deu um tiro no próprio pé, pois deixou exposto o elo fraco que é justamente a cápsula. Eu repensaria essa estratégia, pois em uma apresentação com seus concorrentes diretos, o Thorens não irá se destacar pelo som. Ainda que, nos outros quesitos, ele ganhe facilmente dos TDs de entrada muito mais despojados e simples. Mas se o que conta para o consumidor é a performance acima de tudo, esta estratégia deveria ser repensada.

Para o leitor ter uma ideia clara, com a cápsula que ele vem, sua nota seria inferior à de um toca-discos bem de entrada e básico. Mas com uma 2M Red ele se mostrou consistentemente superior aos toca-discos de entrada em todos os quesitos da Metodologia. E com a Hana ML, conseguiu extrair o sumo do sumo de suas habilidades, pois possui um bom braço, ainda que simples, é silencioso, tem baixa variação de rotação e um prato de muito bom nível.

Então, para facilitar o leitor, ao final daremos duas notas: com a cápsula original e com a Ortofon 2M Red.

No início do teste, achamos que a falta de “vivacidade” poderia ser algum problema na resposta de transientes, e na velocidade. Usei o disco de strobo diversas vezes para me certificar que não era problema de variação de velocidade. E não era, pois foi instalar a 2M Red e tudo mudou da água para o vinho. Ganhamos vivacidade, presença, corpo, maior extensão nas duas pontas, melhores planos, e uma apresentação muito mais condizente.

Os toca-discos de entrada e intermediários são por demais dependentes da escolha certa da cápsula para poder “justificar” o investimento. Então, se você está pensando em se embrenhar pelo analógico, saiba que é preciso planejar e ter em mente, dentro de seu orçamento, todas as opções possíveis. E esqueça o discurso do “desembalar, conectar e sair dando piruetas de alegria pela sala” ao ouvir o primeiro LP. Isso não existe nem nos contos de fadas atuais!

Montar um setup analógico é tarefa que exige paciência, conhecimento e ousadia. Se não, será rapidamente usado como objeto de decoração em sua sala de estar e nada mais que isso.

CONCLUSÃO

O Thorens TD 148 A pode sim ser o seu primeiro toca-discos, capaz de lhe dar prazer em ouvir LPs – mas não lhe levará a orgasmos sonoros nunca! Mas também não o desapontará, desde que siga as recomendações aqui feitas.

Primeiramente: lembre-se de colocar no orçamento a compra de uma cápsula de qualidade compatível com o braço desse toca-discos.
Segundo: se certifique que o pré de phono também esteja à altura do setup, e que seja silencioso o suficiente para apresentar os detalhes das gravações.

E terceiro: nada de usar aquele surrado cabo guardado em uma gaveta cheia de controles remotos, também velhos, de equipamentos que nem existem mais. Utilize um cabo decente de entrada blindado (pois um setup analógico é altamente suscetível à interferência de Rádio-Frequência). E certifique-se de ligar o fio-terra no chassi do Thorens.

Com esses cuidados, e o braço corretamente ajustado para uma nova e boa cápsula, o Thorens TD 148 A pode ser digno da história desta empresa.

TOCA-DISCOS THORENS
TD 148 A (com uso da
cápsula de fábrica)
Nota: 50,0
TOCA-DISCOS THORENS
TD 148 A (COM USO DA
CÁPSULA ORTOFON 2M RED)
Nota: 70,0
AVMAG #273
KW Hi-Fi
(48) 3236.3385
R$ 14.700

TOCA-DISCOS ORIGIN LIVE SOVEREIGN MK4

Fernando Andrette

Uma vida apenas, para um revisor de áudio ouvir tudo o que de melhor se fez em termos de hi-end, é muito pouco.

Por mais que ele tenha tido o privilégio de ter nascido no Primeiro Mundo, tenha conseguido ser contratado aos 25 anos para já fazer resenhas, graças ao seu talento com a escrita e o ouvido afinado, e tenha uma condição genética admirável para que sua gloriosa carreira se estenda por meio século, a quantidade de aparelhos testados será uma fração do que este universo hoje apresenta.

Sabedor desta limitação incorrigível, se ele não perder a humildade e mantiver os pés no chão, ele jamais cairá na tentação em afirmar (em nenhum momento de sua carreira), que “tal” produto é a referência absoluta em seu segmento. Pois ele, muito rápido, perceberá que na indústria de ponta o permanente é como a espuma de uma gigantesca onda quando chega a areia, e nada mais que isso!

Nossos leitores mais antigos são testemunhas que deste “cálice” nunca bebi, pois ainda que escute e avalie produtos excepcionais, eu sempre tomo o cuidado em lembrar que se eu não escutei todos, não posso afirmar que aquele em teste seja o melhor do mundo!
E, cá para nós: será que realmente existe o melhor dos melhores? Pois em que condições poderíamos com segurança afirmar isso? Morrerei sem ter esta resposta. Então o que sei, que posso compartilhar com vocês leitores?

Que alguns produtos, dos mais de 1700 testes publicados nos 25 anos da revista, atingem um grau de performance tal que descrever suas virtudes fica tão difícil quanto falar em detalhes de algo que nunca vimos antes. Este desafio nos foi proposto tanto neste teste, quanto no Teste 1 desta mesma edição.

Mas, quiseram os deuses do Olimpo, que tivéssemos ambos ao mesmo tempo, para poder nos ajudar a dar a eles a maior sinergia possível. Não me lembro de nenhum outro momento da história da revista em que tivemos este privilégio, de testar na mesma edição dois produtos tão diferenciados em termos de performance, simultaneamente.

É claro que essa “conjunção” ajudou enormemente, até para entender a magnitude de ambos produtos. Fico feliz que essa condição tão favorável tenha ocorrido justamente em uma edição de enorme significado para nós. Pois não é todos os dias que uma revista segmentada comemora um quarto século de existência (ainda mais em um país como o nosso, em que o hi-end é visto como algo elitista e um “acinte” à nossa realidade econômica).

Quando as pessoas me perguntam meu ramo de trabalho (principalmente nos voos) e digo o que faço, as que não reagem com desdém, se surpreendem que exista equipamentos de áudio que custem mais que uma casa ou um carro – ainda que o mercado de joias, bolsas de grife, relógios, etc, concorram diretamente com o áudio hi-end e sejam dez vezes maiores que o nosso segmento.

Estou tão acostumado com a reação do leigo, que procuro ser sempre o mais sucinto possível sobre as principais características e motivos que levam uma pessoa a gastar tanto tempo e dinheiro na busca do sistema dos sonhos.

Foco sempre nas virtudes de se ouvir música, e nos seus reflexos para nossa saúde física, mental e emocional. E este enfoque costuma dar resultado, pois aí o interlocutor costuma mudar as perguntas tirando o peso dos valores do sistema, para as vantagens de bem estar! E quando falo que a neurociência estuda com afinco os efeitos positivos da música em nossas vidas, o interesse (principalmente das mulheres) cresce consistentemente.

Claro que isso não pode ser visto como uma pesquisa qualitativa de tendências, mas ao menos revela que as mulheres aparentam estarem mais preocupadas com sua saúde como um todo, do que os homens.

Voltando ao teste, se já é difícil explicar ao leigo o que um sistema hi-end pode fazer pelo seu bem estar, o mesmo ocorre ao tentar falar de um produto que irá fazê-lo rever todos os seus conceitos e, acima de tudo, descobrir que o seu patamar de referência será completamente revisto. Este é o caso desses dois Testes (1 e 2), em que os produtos avaliados se encontram muito acima dos melhores produtos por nós já avaliados aqui na revista. E não falo apenas em pontuação superior, falo principalmente em conceito na forma de buscar soluções para a melhoria da performance.

Como sou um “rato” de informação e conhecimento, acompanho a Origin Live desde o tempo em que tive um Rega Planar 3 (estava ainda na revista Audio News), e li na Hi-Fi Choice sobre acessórios produzidos por este fabricante, também inglês, para “turbinar” o braço RB300 da Rega. Sinceramente, achei que parecia mais uma atitude de uma empresa querendo viver à sombra de outra já muito bem estabilizada, e não me interessei. Afinal, meu Planar 3 me atendia perfeitamente naquele momento.

Alguns anos depois, descubro que esta mesma empresa tinha ganhado “autonomia” de voo, e começou a apresentar seus próprios braços e, posteriormente, seus toca-discos. Mais alguns anos, e começaram a sair excelentes críticas de ambos. Aí coloquei de vez a Origin Live em meu radar, e quando eu faço isso, amigo leitor, significa que toda informação me será útil e irá para a minha lista de produtos a serem escutados.

Mas, sinceramente, jamais tive a ilusão que um dia haveria distribuição aqui, pois já temos marcas de toca-discos suficientes para um mercado tão restrito. Até que o Giovanni e o Robson Mozer da Timeless me apresentaram o seu primeiro toca-discos, o Ceres, e o braço que enviaram para teste foi um Origin Live!

Fiquei surpreso e, ao mesmo tempo, ansioso como uma criança na véspera de Natal, para saber se era tudo que realmente sempre li. Foi paixão à primeira vista!

O resultado foi tão impressionante em termos de informação, que jamais havia extraído com o conjunto SME Series V e cápsula
Soundsmith Hyperion 2, que tomei uma decisão radical e coloquei à venda meu SME V (companheiro e minha referência de uma década) e comprei o Enterprise de 12 polegadas sem ouvir – algo que jamais fiz antes em minha carreira de editor!

Pois se, com o braço de 9,5 polegadas, dois modelos abaixo do Enterprise, o resultado foi tão avassalador, não havia motivo para adiar este upgrade.

Meu novo braço chegou, e foi imediatamente instalado no Acoustic Signature Storm, em substituição ao SME V, e como brinco: foi o massacre da serra elétrica. Elevando meu setup analógico para um outro patamar de transparência e musicalidade.

Mas, a maior surpresa ainda estava por vir, pois na entrega do Ceres, a Timeless me comunicou que haviam pego a distribuição da Origin Live, e que eles tinham interesse que testássemos o toca-discos Sovereign Mk4, justamente com o braço Enterprise de 12 polegadas, que é a indicação do fabricante para se extrair o máximo de ambos os produtos.

Foi como juntar a fome com a vontade de comer!

Junto com o Sovereign recebemos na mesma semana o pré de phono da Nagra (leia Teste 1 nesta edição), o que foi um daqueles acontecimentos raros que ocorrem uma vez em cada existência, que nos levou a passar quatro semanas escutando exclusivamente analógico, como se o digital ainda não tivesse sido criado. Nunca neste período usei tanto minha surrada máquina de lavar Sota, e nunca solicitei tantos galões do “milagroso” detergente de vinis do Maltese para deixar meus LPs em ordem para escutar neste setup!

Descrever este toca-discos não será tão complicado, pois a Origin mantém um site muito bem atualizado, o difícil será explicar a vocês o quanto o “menos é mais”, e como este conceito pode ser explorado até atingir um ponto de performance que jamais, por simples visualização do produto final, será possível imaginar que se esconde por detrás daquela falsa “simplicidade”.

O Sovereign, até antes da entrada em linha do Voyager, era o top de linha, e por isso que este já se encontra na versão Mk4 e continua sendo, em termos de custo/performance, o toca-discos mais “desejado” da empresa! As diferenças do Mk4 para o Mk3.2 são pontuais, mas de enorme importância para o deixar ainda mais perto do top de linha Voyager.

Na versão anterior, a Origin já havia modificado seu prato para um multicamadas projetado para dissipar energia de maneira mais eficaz. Nesta nova versão o prato é o mesmo com as multicamadas, mas o desacoplamento do prato ficou ainda mais eficaz em relação à base. A fonte de alimentação é ainda mais limpa do que na versão anterior, para trabalhar em altas variações de temperatura sem perda na precisão e ajuste de velocidade.

Outras características importantes são: Base de alta massa com construção em sanduíche de baixa ressonância, para um desempenho de graves limpos e com excelente extensão, corpo e energia. O desacoplamento do prato para a base é triplo. O prato de baixa ressonância e alta inércia possui maior diâmetro que os outros modelos da Origin Live. O rolamento desta versão possui maior tolerância para o menor atrito possível. O sub-chassis ultra rígido, com um único suporte de ponto central, possui um exclusivo suporte de amortecimento. Seu peso total é de 32kg, mais os quase 2,5kg do prato.

O fundador e projetista da Origin Live, Mark Baker, é um expert em toca-discos e braços que nunca trafegou pelos caminhos “habituais”, procurando sempre observar mais o peso do detalhe no todo.

Um exemplo do que um detalhe pode fazer pelo todo, é a forma da Origin encarar as questões das vibrações, a maior pedra no sapato de qualquer projeto de toca-discos. Muitos seguem a escola de isolar a base do conjunto braço e prato com molas, outros insistem no peso e rigidez dos materiais para que se tornem o mais inertes possível, mas Mark foi por um outro caminho, ao desenvolver um sub-chassi semi suspenso, construído com materiais de alta qualidade e baixa ressonância que é desacoplado do suporte que apoia o prato, e que é apoiado apenas por um ponto central. Na prática, o resultado é como se o prato estivesse suspenso sem grande contato no sub-chassi.

O prato, feito de acrílico de alta inércia, possui 3 camadas de materiais distintos, e sobre o prato há parafusos que devem ser ajustados em sentido anti horário, que irão dar a afinação precisa para se extrair o equilíbrio entre as fundamentais e seus harmônicos. É algo jamais visto ou pensado por nenhum outro fabricante – mas que na prática dão um resultado espetacular!

O rolamento em que pousa o pino central é usinado para alta precisão, com baixa tolerância. A lubrificação do eixo é fornecida com o óleo fabricado pela própria Origin.

O motor é feito com exclusividade por um fornecedor suíço, é de alta massa e tem um acabamento primoroso. Assim como a fonte de alimentação, que utiliza um transformador de grande dimensão e mantém a regulagem precisa de velocidade, que é automaticamente corrigida a cada volta do prato.

A base do braço específica para 12 polegadas é de metal maciço, mas também inerte.

O teste do braço Enterprise de 12 polegadas será publicado em uma próxima edição, pois o testamos em três toca-discos diferentes, e pelo seu altíssimo grau de compatibilidade e desempenho, merece um teste separado.

O que posso adiantar é que o Sovereign, para este teste, não poderia ter parceiro melhor, e o mesmo posso dizer para o braço Enterprise!

As cápsulas usadas no teste foram: Hana Umami Red (leia Teste 3 nesta edição), ZYX Bloom 3, e Grado Platinum série 3. Os prés de phono foram: Boulder 508, PS Audio Stellar e Nagra Phono Classic (leia Teste 1 nesta edição). O resto do sistema foi o de Referência da editora (Pré e powers Classic da Nagra). Cabos de interconexão: Sunrise Lab Quintessence Aniversário, e Dynamique Audio Apex. Cabos de força: Sunrise Lab Quintessence Aniversário, Transparent Reference G5 e Powerlink MM2.

Para o teste, e todos os ajustes necessários com cada cápsula utilizada, contamos com o serviço do nosso colaborador André
Maltese, que tem sido de vital importância para extrairmos, de todos os produtos analógicos em teste, o sumo do sumo. E sua disposição e paciência em se deslocar de São Paulo aqui à nossa sala, 70 Km distante de sua casa, no meio desta pandemia, merece um agradecimento “público”.

Como escrevi muitas linhas acima, o visual do Sovereign não faz justiça ao seu nível de performance, ainda que seja de um acabamento primoroso e seus detalhes cromados chamem muito a atenção dos apaixonados por metalurgia. Pois o que o faz ter um desempenho tão desconcertante e empolgante está no que não está à vista dos olhos, ou de quem é leigo e acha que para um toca-discos tocar corretamente basta um bom motor, um bom chassi/isolador, um prato decente e de material comprovadamente inerte, um braço e uma cápsula correta, e ouviremos toda a beleza do bom e velho vinil!

Sim, este raciocínio está correto para toca-discos honestos e feitos por fabricantes com expertise suficiente. Mas, o que separa os bons dos ótimos e os ótimos dos superlativos?

Essa pergunta já é mais difícil de responder, principalmente para quem nunca ouviu um analógico de nível superlativo “azeitado” até a última gota de possibilidade. E, muitas vezes, até os audiófilos experientes fazem suas escolhas muito mais por informações técnicas e conceitos que julgam serem os mais corretos, do que pela audição. Lembro essa questão, pois ao mostrar fotos do Origin Live para alguns audiófilos “experientes” e amantes de analógico, ao ver o produto fizeram a mesma pergunta: “E toca bem?”.

Acho que imaginaram que, para ser considerado excepcional e de nível superlativo, um toca-discos tenha que pesar 50kg, ter bases que só um estivador consiga carregar, e o prato tenha no mínimo metade do peso da base!

Ainda que 34kg já seja um peso razoável, o que impressiona no Origin é que visualmente sequer ele dá a impressão de pesar tanto! Pois seu desenho é suave, limpo e de dimensões modestas, sendo possível ser colocado em qualquer rack de dimensões normais.
Mas, no momento em que a agulha pousar no disco, todas as dúvidas dão lugar a uma atenção total, pois o que se ouvirá será muito distinto da melhor das referências que você julga serem as mais corretas.

Mas, não se engane, pois ainda falta colocar a cereja no bolo! O que difere qualquer toca-discos da Origin Live do lugar comum, é que eles dão total atenção ao equilíbrio entre as fundamentais e os harmônicos. Sem este equilíbrio, não importa o setup de cápsula /braço, ou o nível de performance do seu pré de phono, o resultado será pobre.

Quantas vezes lemos que determinado toca-discos é primoroso em precisão, tempo, transparência, mas tenha cuidado com a cápsula pois ele pode soar “sem alma”? Algo que também ouvimos de cápsulas e braços.

Para a Origin Live, o peso do toca-discos nesta questão crucial é vital, pois é ele que deve conduzir como um maestro competente os outros componentes. E quando você associa um setup completo Origin Live, alinhando adequadamente toca-discos e braço, todas as cápsulas serão beneficiadas, acredite! Justamente por este motivo que achei melhor separar o teste do braço do teste do toca-discos, ainda que o casamento entre ambos não possa ser melhorado em nenhuma hipótese.

Como eu sei? Ouvindo o braço em outros dois excelentes toca- discos.

O prato possui em sua base 12 parafusos brancos. Para transporte eles vem todos apertados. O fabricante indica que, depois de
montado o braço e tudo regulado, o consumidor gire 2/3 de uma volta no sentido anti-horário. Como sou pior que São Tomé, deixei o Maltese regular tudo, ouvimos por quase três horas, já com o Pré de Phono Classic da Nagra, ele foi embora de queixo no chão, fui preparar a janta, voltei para a sala e apertei todos os parafusos para ver que sonoridade tinha e coloquei o Friday Night in San Francisco (John McLaughlin, Al Di Meola, Paco de Lucia) faixa 1 lado A, versão 45 rpm. Os violões do Paco de Lucia (canal esquerdo) e do Al Di Meola (canal direito) soaram secos, a ponto de ficarem agressivos, tinham fundamental em excesso. Aí afrouxei 1/3 de volta, apareceram os harmônicos possibilitando ouvir a tampa dos violões, mas ainda muito seco. Afrouxei para 1/2 volta e os harmônicos finalmente apareceram, tornando a gravação muito mais correta e natural. Aí fui para a indicação do fabricante, e rodei 2/3 anti-horário, e o equilíbrio como mágica surgiu!

Incrível como não temos a ideia da falta que o equilíbrio entre fundamentais e harmônicos se faz tão importante quanto o Equilíbrio Tonal!

O que me levou a uma outra questão, que me tirou o sono por duas noites: quantas cápsulas ouvimos, avaliamos e muitas vezes descartamos por achar que é muito seca, ou pouco musical? Levando uma culpa que não é dela somente! Felizmente, as três cápsulas utilizadas no teste tiveram performance muito semelhantes em termos de assinatura sônica nos três toca-discos com o braço Entreprise de 12 polegadas. Mas a diferença em termos de performance, quando instaladas no conjunto Origin, foi muito impressionante, pois todas subiram de patamar!

Ajustado o prato, não perdi tempo e acabei de amaciar tanto a cápsula Hana Umami Red quanto o Nagra. E foram dias e noites inesquecíveis! Pois jamais ouvi meus LPs com tamanho grau de requinte e prazer.

Claro que, com diversas cápsulas, toca-discos e braços de alto nível, percebemos detalhes nunca antes ouvidos ou que não estivessem tão nítidos. Mas ouvir várias diferenças em praticamente todos os mais de 120 discos que escutamos, foi algo inédito! E não estou falando de sutilezas, e sim de detalhes que mudam nossa percepção de ouvinte, pois nos mostram “detalhes” totalmente ausentes em qualquer outro setup que tive ou testei.

Um disco que gosto muito, pela complexidade dos sintetizadores, é o LP Domino Theory do Weather Report, denso, camadas e mais camadas de sintetizadores analógicos com enorme corpo, distribuídos entre solos e cama harmônica. Que exigem do setup precisão, transparência, equilíbrio tonal e corpo precisos. Em sistemas limitados, é um disco que beira o cansativo, e necessita de um cuidado extremo com o volume, devido a variação dinâmica dos arranjos. O melhor resultado deste disco sempre foi o bom, nunca mais que isso. Tanto que sempre fui muito comedido no volume, para poder apreciar apenas a música.

Foi o segundo disco que mais escutei na primeira semana! Pois a quantidade de informação e de intencionalidade que este setup me proporcionou, foi espetacular! As camadas e mais camadas de sintetizadores, todos em seus planos, alturas, decaimentos. No volume correto da gravação, sem medo de saturar ou tornar frontalizado. Um Equilíbrio Tonal magnífico (tão difícil em outros setups, com os agudos sempre soando brilhantes no saxofone alto e nos pratos), e um corpo de acelerar os batimentos cardíacos.

Meu cérebro a cada “novo-velho” disco, pensava: então é assim que este LP sempre deveria ter soado? É um grau de revelação que nos dá uma mistura de torpor e decepção, por saber que cada um daqueles discos sempre esteve à espera de um setup à sua altura, e que certamente se eu não fosse um profissional da área, morreria sem descobrir tudo isso!

Cada disco que ouvi neste período de cinco semanas em que tive este setup analógico tão bem casado, foi uma revelação, que deixou literalmente o setup digital para escanteio.

Não quero voltar à velha e cansativa discussão do que é melhor. Mas tenho que confessar que tentar comparar ambas topologias neste patamar é um total desperdício de tempo. Pois seu cérebro não irá se sujeitar a ouvir o digital sem achar que se trata de reprodução eletrônica. Pois o corpo harmônico é algo difícil de ser subjugado. Depois de ouvir, por exemplo, os solos do baixista Scott La Faro no disco Exploration do pianista Bill Evans, ouvir este mesmo contrabaixo em CD parece piada. Ou o timbre do naipe de metais e os solos no Blue Orbit do Duke Ellington, faz o CD parecer que os instrumentos estão equalizados.

O analógico neste nível de resolução, coloca de novo o “pingo nos is” de maneira quase que cruel! E o faz de forma tão natural, e com tamanho conforto auditivo, que parece que voltamos aos anos 90, quando o digital tentava desesperadamente corrigir seus erros!
Claro que o digital andou, e muito, mas o analógico sempre levará uma enorme vantagem, pois ele só está aperfeiçoando e refinando o que já era excelente. O que não tínhamos era setups à altura do que os sulcos sempre tiveram esperando para ser mostrado.

O toca-discos mais surpreendente que testamos até o momento havia sido o Basis Debut V com braço SME Series V e a cápsula Air Tight PC-1 Supreme. Um setup analógico de alto nível. Refinado, musical e corretíssimo. Era minha maior referência em termos analógicos, tanto que nunca mais consegui ouvir com aquele mesmo prazer minha enorme coleção de LPs. E achava que ainda que o analógico não parasse de evoluir, a distância para aquele patamar, já superlativo, seria ultrapassada apenas de maneira pontual!
Ledo engano amigo leitor. Foi literalmente atropelado por este setup Origin Live e pré de phono Nagra. A diferença dos dois é de
8 pontos! O que neste nível de Estado da Arte é separar os grandes dos gigantes!

Lembro-me em minhas anotações pessoais no teste do Basis, e da cápsula PC-1 Supreme, anotar que todos os discos haviam sofrido melhoras e que apenas os tecnicamente sofríveis se beneficiaram pouco. Como sou metódico e tenho tudo precisamente anotado, ouvi um por um desses LPs, e todos, sem exceção, se beneficiaram deste grau de refinamento e precisão. A ponto de conseguir ouvir esses LPs com interesse e gosto redobrado pela qualidade artística.

Isso é um feito e tanto. E assim o leitor pode imaginar o efeito que as boas e excelentes gravações tecnicamente se beneficiam com este toca-discos! É difícil achar o tom correto para descrever essas audições, mas se temos que tentar o termo mais próximo, seria: “tocar o inalcançável”. Ou seja, ter um momento de comunhão com o que o analógico tem a oferecer que poucos, muito poucos, podem e tem condições de desfrutar.

Eu com este setup, provavelmente ouviria digital apenas para cumprir meus deveres profissionais, ou escutar gravações que só tenham em CD.

Preciso encerrar este texto dizendo mais alguma coisa?

Se você tem bala para ter um toca-discos deste nível, não perca tempo meu amigo. Pois o que ele irá lhe oferecer em troca, valerá cada centavo investido!

Nota: 112,0
AVMAG #273
Timeless Audio
contato@timeless-audio.com.br
(11) 98211.9869
Toca-Discos:
R$ 68.640
Armboard 12”:
R$ 3.610
Total:
72.250

Braço:
R$ 48.420
Adicional 12”:
R$ 3.730
Total:
R$ 52.150

Preço do conjunto:
R$ 124.400

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