Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Quando o Fernando Kawabe nos contou que iria distribuir as Wharfedale, fui um dos que o parabenizou pela iniciativa, pois essa era uma marca que não eu entendia não estar ainda oficialmente no Brasil.
Pois dentre os grandes fabricantes ingleses de caixas acústicas, percebo uma enorme coerência em todas as suas linhas e um enorme esforço para oferecer produtos com excelente relação custo/performance, que atendam desde o iniciante com uma verba restrita até o audiófilo que deseja colocar um ponto final em sua trajetória, atrás de seu sonofletor definitivo.
Já tive a oportunidade de ouvir alguns modelos da série Diamond e da linha EVO, mas meu foco era poder algum dia ouvir a Elysian 4, o modelo mais sofisticado da Wharfedale, e que teve excelentes revisões em várias mídias em todos os continentes!
Então, assim que o Kawabe nos ligou dizendo que a primeira importação havia chegado, não titubeei em solicitar essa caixa para teste. No entanto, sua chegada calhou com os dias que estive internado e, por isso, tivemos que adiar sua chegada à redação por três semanas. O que foi positivo, pois o Kawabe a deixou com um cliente que gentilmente a colocou em amaciamento por quase 30 horas. Não foi o suficiente, mas de qualquer forma ajudou a deixar tanto o tweeter AMT (Air Motion Transformer) e as duas unidades de graves de 8.5 polegadas, um pouco menos engessados!
Trata-se de uma caixa imponente, para ambientes acima de 25 metros quadrados, e que necessariamente precisará de respiro para poder mostrar suas inúmeras qualidades.
O amigo e fiel escudeiro Robério, mais uma vez fez literalmente todo o trabalho bruto, de transportar as caixas até nossa sala, desembalar e posicionar as caixas exatamente no ponto em que deixamos nossa caixa de referência, a Wilson Audio Sasha DAW, para eu fazer uma primeira audição e minhas anotações iniciais.
A Wharfedale disponibiliza a caixa em três luxuosos acabamentos: preto, branco e nogueira. Felizmente a que veio para teste foi em Nogueira (como amo caixas com acabamento de madeira!).
O gabinete possui um defletor frontal feito de HDF, e o restante do gabinete é feito de painéis de MDF, com várias camadas para controlar as ressonâncias. Internamente o gabinete de graves é isolado da unidade de médio e do tweeter.
A caixa tem 1,19 cm de altura, 40 cm de largura e 43 cm de profundidade, e cada uma pesa 50 Kg. O falante de médio de 6 polegadas tem sua própria câmera também. As três unidades (de graves e médios) usam um cone feito de uma matriz de fibra de vidro tecida, material patenteado pela Wharfedale que, segundo o fabricante, combina baixa massa com alta resistência.
A caixa possui excelentes terminais (algo raro esse padrão de qualidade nessa faixa de preço) e pode ser bi amplificada ou bi-cablada. Em vez de jumpers de metal, o fabricante disponibiliza um cabo trançado de excelente bitola e muito bem acabado.
A base é fixa na caixa, assim como os spikes, que já vêm embutidos na base. O trabalho é apenas regular os spikes, ligar as caixas no amplificador e definir sua melhor posição de escuta.
A sensibilidade é excelente (92dB), com resposta de frequência de 30Hz a 22kHz e impedância de 8 ohms (sem especificar a impedância mínima).
Para o teste utilizamos os powers Nagra Classic e HD (leia teste na edição de abril próximo) e o integrado Mark Levinson 5802 (leia Teste 2 nesta edição). Cabos de caixa: Oyaide Across 3000B, Virtual Reality Trançado, e o Dynamique Audio Apex. Pré Nagra Classic, conversor TUBE DAC, streamer Innuos ZEN MINI 3 com fonte externa (leia teste na edição de maio próximo), transporte Nagra, pré de phono Gold Note PH-1000, toca-discos Origin Live Sovereign Mk4 com braço de 12 polegadas Enterprise C Mk4, cápsula ZYX Ultimate Omega G, cabos de interconexão Sunrise Lab Quintessence Aniversário (XLR e RCA).
A impressão inicial que tive é que as primeiras 30 horas não foram suficientes para ‘soltar’ os dois extremos, pois nas minhas primeiras impressões eu anotei que os agudos estavam sem nenhum ar e com pouquíssimo decaimento. E os graves estavam absolutamente engessados, com falta de energia e também pouco deslocamento de ar.
Como o duto da caixa é apontado para baixo, pude fazer vários experimentos, com as caixas mais próximas das paredes ou bem mais distantes. O fato é que rapidamente notei que a mesma posição encontrada para a Sasha, não se mostrou adequada para a Wharfedale. Pois ficava um nítido buraco no centro do imaginário palco sonoro.
Então a primeira conclusão é que em nossa sala, a máxima distância entre elas (de tweeter a tweeter) não poderia ser maior que 3,90m (na Sasha DAW é de 4,50m). Outra conclusão é que a Wharfedale gosta de um toe-in mais voltado para o ponto de audição (quase 30 graus) e o posicionamento das caixas em relação à parede às costas é mais importante e decisivo, que das paredes laterais.
Assim, à medida que avançamos no amaciamento e os graves se soltaram, ganharam corpo, energia e extensão, fixamos as mesmas a 1,75m da parede às costas, e limitamos a abertura em 3,70m do centro de cada tweeter, e conseguimos uma excelente imagem, tanto em termos de foco, recorte, corpo, como planos (altura, largura e profundidade).
Isso já com 180 horas de queima e sem sentir que os agudos estivessem próximos da queima final. Muitos leitores têm dúvida de quando finalmente chegamos ao fim do amaciamento. No caso específico de caixas, a primeira dica é ouvir diariamente três a quatro faixas que possuam muita informação nas pontas e que, se possível, sejam gravações realizadas em salas de concerto (em que a ambiência captada na gravação seja do próprio ambiente e não reverb digital colocado na mixagem). Pois a primeira dica de que o processo está no final, é quando se nota nos agudos as diferentes ambiências de gravações distintas.
Eu utilizo, nesse caso, gravações de grandes corais e órgãos de tubo. E, para entender se os decaimentos se tornaram mais suaves e naturais, pratos que também sejam gravados em boas salas de concerto (as gravações do trio do pianista Keith Jarrett pelo selo ECM, são excelentes, principalmente ao vivo). Você pode usar até mesmo gravações de instrumentos solo, como violino, trompete, flauta, vibrafone, etc. Mas é preciso fazer esse pente fino diário, até se ter a certeza de que nada mais foi alterado.
A Wharfedale Elysian 4 levou, até à queima total, 280 horas. Daí em diante, pudemos finalmente iniciar a audição dos discos utilizados em cada um dos nossos quesitos, para fechar sua nota.
Eu gostei demais dessa caixa. Pois ela consegue ser transparente sem passar do ponto e descambar para o analítico, e tem uma assinatura sônica que nos convida a longas audições diárias!
Seus agudos jamais tendem para o brilho, sua região média soa sempre muito natural e orgânica, e seus graves têm um grau de apresentação digno de caixas custando o dobro de seu preço. Esse é um grande mérito, meu amigo, pois a Wharfedale não tem apenas porte de ‘gente grande’, ela soa como uma caixa Estado da Arte refinada e definitiva.
Os nossos leitores mais antigos sabem que procuro ‘decifrar’ todas as possibilidades para se extrair o sumo de cada produto que testamos, e quando percebo de imediato o potencial de um produto em teste, à medida que vou ouvindo os discos da Metodologia e fazendo minhas observações pessoais, vou imaginando o que poderia fazer para extrair mais.
E no caso desse teste, foi uma enorme surpresa ouvir que, mais do que bi-cablar a caixa, um jumper de melhor qualidade faria mudanças interessantes, tanto na extensão nas altas, como de maior organização entre a micro e macrodinâmica. Ao substituir o jumper original pelo da Sunrise Lab, esses dois quesitos foram substancialmente aprimorados. Então, aos futuros proprietários, recomendo que se avalie a possibilidade desse upgrade.
Para o amigo ter uma ideia, com esse upgrade a nota final no equilíbrio tonal e na dinâmica ganharam um ponto cada!
O soundstage dessa caixa é excelente para os amantes de música clássica e de grandes grupos orquestrais (como big bands e grandes corais mórmons). O foco – desde que as caixas tenham condições de respirar na sala – e o recorte são excelentes. Assim como os planos, na largura, profundidade e altura.
As texturas possuem aquele grau de qualidade que separam as boas caixas das excelentes, com enorme facilidade de se perceber a intencionalidade sem esforço nenhum adicional. Assim como a paleta de cores e os detalhes na qualidade dos músicos e de seus instrumentos.
Os transientes possuem precisão e harmonia para delinear tempo e espaço e nos fazer bater os pés constantemente com o andamento da música.
E a dinâmica, tanto a micro como a macro, é apresentada de forma exemplar, pois a Wharfedale não se intimida com grandes crescendo, trabalhando com enorme folga e sem deixar o sinal comprimido ou bidimensional (algo tão comum quando a caixa não tem ‘bainha’ para sustentar o fortíssimo).
Foi difícil ‘intimidar’ a Wharfedale em termos de macrodinâmica, acredite – o que me fez fazer três páginas em anotações ao ouvir exemplos encardidos, como a Sagração da Primavera de Stravinsky, 1812 de Tchaikovsky, ou a Sinfonia Fantástica de Berlioz. Escrevi, ao final, que ela passou com méritos nesses exemplos!
Se o amigo, como eu, não abre mão do melhor corpo harmônico captado em uma gravação, irá se sentir realizado ao ouvir que a Wharfedale nos mostra pianos em tamanhos quase reais, assim como contrabaixos, cellos, tímpanos, etc.
E a materialização do acontecimento musical (organicidade) será ‘palpável’ em gravações bem sucedidas neste quesito.
Resumindo: A Elysian 4 pode, com os pares ideais, enganar seu cérebro que não se trata de reprodução eletrônica o que estamos ouvindo!
Mas agora vem a melhor parte: todo esse ‘pacote’ de qualidades custa menos de 100 mil reais! Antes de me lançarem ao precipício, deixe-me apenas explicar que caixas com a pontuação que a Elysian 4 receberá, custam em sua maioria acima de 100 mil reais, o que a coloca em uma posição bastante privilegiada para os que buscam sua caixa Estado da Arte definitiva (e agora podem me jogar aos leões!).
Falo faz tempo que se tem um segmento que evoluiu muito nos últimos anos, foi e de caixa acústicas. A Wharfedale é uma prova, tanto com essa série top de linha como com suas séries inferiores (iremos em 2022 testar mais três modelos), que merece estar no radar de todos que desejam um upgrade de caixas.
A Elysian 4 é uma caixa digna de todos os prêmios e dos excelentes testes que já recebeu.
Para audiófilos que buscam uma solução definitiva, ela certamente atenderá a todas as expectativas (principalmente os que não abrem mão de refinamento e apresentações que nos façam esquecer serem meras reproduções eletrônicas).
Sua compatibilidade é excelente e, para quem tem salas de 25 a 40 metros quadrados, não ouvir essa caixa será indefensável! Espero que se é este seu caso, amigo leitor, não deixe de escutar, ela pode te surpreender como ocorreu comigo.
Altamente recomendada e certamente estará entre os Melhores Produtos do Ano!
Uma caixa que atende perfeitamente o audiófilo que deseja uma caixa Estado da Arte final.
Precisa respirar, e para isso 25 metros quadrados serão o mínimo necessário.
Tipo | Caixa torre de 3-Vias |
Tweeter | 1 x 27 x 90mm AMT |
Médio | 1x 6.0” (cone de matriz de fibra de vidro tecida) |
Grave | 2x 8.5” (cone de matriz de fibra de vidro tecida) |
Impedância nominal | 4Ω (compatível com 8Ω ) |
Frequências de crossover | 340Hz, 3.1kHz |
Resposta de frequência | 30Hz – 22kHz (+/-3dB) |
Sensibilidade | 92dB (2.83V @1m) |
Amplificação recomendada | 15 – 250W |
Dimensões (L x A x P) | 402 x 1188 x 432 mm |
Peso | 49.5 kg (cada) |
CAIXAS ACÚSTICAS WHARFEDALE ELYSIAN 4 | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 12,0 | |||
Soundstage | 12,0 | |||
Textura | 12,0 | |||
Transientes | 12,0 | |||
Dinâmica | 12,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 96,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
KW Hi-Fi
fernando@kwhifi.com.br
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(48) 3236.3385
R$ 85.000