Editorial: ALGUMA SEMELHANÇA ENTRE AZEITE E ‘ÓLEO DE COBRA’?

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Os objetivistas ‘ortodoxos’ costumam se referir aos audiófilos que decidem suas escolhas de cabos ouvindo-os, como adoradores de ‘óleo de cobra’. Pois, afinal, se medições não mostram diferenças entre cabos, portanto não se poderia escutar essas diferenças, apregoadas pelos audiófilos subjetivistas. Essa celeuma é tão antiga quanto discutir o sexo dos anjos! E provavelmente morrerei sem ver ambos os lados reconhecerem que não estão de lado opostos, pois tanto as medições quanto as audições são ferramentas importantes para serem utilizadas na hora de um novo upgrade. Mas o que me levou a escrever esse texto, foi a leitura de um artigo que saiu recentemente nas mídias, informando que o Ministério da Agricultura passará no próximo mês a contar com ‘sommeliers’ para descobrir se o azeite comercializado no país é de qualidade ou falsificado. E o que mais me deixou surpreso é que eu, e provavelmente todos os consumidores, acreditavam que as ferramentas que o Ministério utilizava de análise química, eram suficientes para retirar do mercado os ‘falsos’ azeites (só no ano passado 24 marcas foram retiradas do mercado). No entanto, as empresas mal intencionadas conseguiram burlar nos últimos anos essas análises químicas, levando inúmeros países a começar a fazer uso da chamada ‘análise sensorial’ (opa será que tem algo a ver com análise auditiva?). Pois ela se mostrou muito mais eficaz que a análise química em todas as etapas. Enquanto a análise química só consegue constatar a qualidade do azeite (se é virgem, extra virgem ou falsificado com o uso de diversos óleos vegetais misturados e fragrâncias artificiais), a análise sensorial permite detectar as qualidades do azeite, como aroma e gosto frutado, amargo, picante e qualidades típicas da azeitona. E também seus defeitos, como acidez e fermentação, separando o extra virgem do apenas virgem. E perceber que, quando foi adulterado, o cheiro se torna muito intenso e as fragrâncias se misturam de maneira desordenada. Os 20 sommeliers contratados irão provar e cheirar, fazendo o que as análises químicas não conseguem realizar! Eles foram treinados por dois anos, e estão aptos a sentirem as notas aromáticas de alecrim, casca de banana, alcachofra e até grama cortada – em azeites de excelente qualidade. Assim como provar no azeite gosto de terra, óleo queimado e até lubrificante. O método de análise sensorial foi desenvolvido pelo Conselho Oleícola Internacional (COI), único órgão que autoriza laboratórios ao redor do mundo a aplicá-lo.

Ao ler essa matéria e aplaudir a iniciativa, me peguei pensando, se com toda a tecnologia existente para se avaliar e certificar a qualidade do azeite, foi necessário criar equipes especializadas para a degustação, qual o problema em se fazer o mesmo com cabos e equipamentos de áudio? É realmente algo tão ’abominável’, para tamanha virulência dos objetivistas ao achar que as medições sejam suficientes para separar o ‘joio do trigo’? Acho que está na hora de todos baixarem a guarda e observarem que as medições são importantes para se definir parâmetros essenciais da qualidade de transmissão do sinal, porém isso não impede e não poderia ser motivo de tanto ódio, se eu determino o que mais me agrada ouvindo o produto em meu sistema. Afinal ninguém compra um produto de áudio para ficar apreciando a qualidade e precisão de sua onda quadrada em um osciloscópio. Compramos para ouvir nossa música preferida – e se existem os que conseguem ouvir diferenças, não vejo motivo nenhum para desdenhar ou desacreditar dessa capacidade. Se tivermos a humildade de aceitar que o outro não tem a obrigação de seguir nossos passos, e que essa diversidade é salutar ao desenvolvimento tecnológico, seremos muito mais felizes e humanos.

Nesta edição temos novidades, todas idealizadas pelo querido colaborador Christian Pruks (que anda inspirado), e de uma só fornada planejou três novas seções: Influência Vintage, em que todo mês ele conta a história de um produto que marcou época e continua sendo sonho de muitos dos nossos leitores ainda hoje. Música de Graça, sobre vídeos com boa música e bom áudio que podemos usufruir no YouTube, e Vinil do Mês, sempre uma prensagem que vale a pena garimparmos no mercado, tanto pelas qualidades técnicas como artísticas.

Espero que você aprecie essa edição, e pense a respeito do quanto somar informações técnicas e auditivas podem lhe ajudar a errar menos em seus futuros upgrades.

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