Christian Pruks
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Todo mês um LP com boa música & gravação
Gênero: Clássico / Ópera-Rock
Formatos Interessantes: Vinil Duplo Importado
Originalmente, Tommy é um tipo de ‘álbum conceito’ de hard rock, uma ópera-rock, composta, concebida, produzida e gravada pela banda britânica The Who, entre 1968 e 1969 – uma história completa com começo, meio e fim, contada atrás de suas letras.
Basicamente é a história de Tommy Walker que, após sofrer vários traumas em sua infância, busca a fuga jogando em máquinas de fliperama (pinball), atividade na qual torna-se uma sumidade e, depois, uma espécie de messias.
O disco sugerido neste artigo é uma versão, de 1972, da mesma obra para a London Symphony Orchestra e o English Chamber Choir – acompanhados de uma série interessante de vocalistas convidados – regidos pelo inglês David Measham.
Esse é um disco que, pelo nome e conceito, pode ser considerado por muitos como estranho… Eu mesmo só fiquei sabendo que ele sequer existia uns 30 anos depois de gravado, quando peguei o mesmo em mãos. E aí você se põe no lugar de terceiros, e pergunta: “você se interessaria por ouvir um disco de uma banda de hard rock tradicional tocado por uma orquestra sinfônica e coral?”. A resposta disso, por experiência, é “sim, mas com cautela” – já que inúmeras vezes se pôs uma orquestra junto com uma banda de rock com um resultado que foi, para dizer o mínimo, só para impressionar o grosso da plateia pela quantidade de músicos e fazer uma presença ‘chique’, e para impressionar uns poucos entendidos pela pobreza do arranjo… A multidão, muitas vezes, vai ao delírio. Mas eu não me impressiono por quantidade – a não ser se for bacon ou de queijo, que sempre me impressionam pela quantidade…rs…
É preciso aqui fazer uma diferenciação, nesse ‘gênero musical de nicho’. Existem as tentativas em que alguma banda (sub)utilizou orquestras sinfônicas como um ‘instrumento extra’, fazendo um monte de músicos ficarem lá tocando o mesmo acorde a música inteira, fazendo papel de ‘harmonia de teclado’. E existem as vezes em que a obra foi arranjada de maneira profunda para ser tocada por orquestra & coro, com participações de vocalistas e solistas. Este último é um tipo de trabalho imensamente mais sério – e é exatamente o caso deste disco da obra Tommy com a London Symphony.
O pai desta ideia é o produtor americano Lou Reizner, com o arranjo e orquestração pelas mãos do londrino Wil Malone – que tem, hoje em dia, a experiência de ter composto música e feito arranjo de cordas para mais de 900 discos, de artistas que incluem Ozzy Osbourne, Depeche Mode, Black Sabbath, Rod Stewart, Adele, Iron Maiden, o próprio The Who, e muitos outros.
Já Reizner teve uma longa carreira como produtor de discos e diretor da Mercury Records, tendo trabalhado com artistas como Rick Wakeman, Van der Graaf Generator, David Bowie, Rod Stewart, Quincy Jones, Gladys Knight & The Pips e Aretha Franklin.
Para a feitura desta versão de Tommy, houve um envolvimento profundo de membros do próprio The Who: o líder, vocalista, compositor e guitarrista Pete Townshend (com narração e vocais), e do vocalista principal Roger Daltrey (vocais)! E nas participações de convidados, temos: Steve Winwood, Richie Havens, Ringo Starr, Rod Stewart, o ator Richard Harris (narração), entre outros.
Uma curiosidade: lembram-se de Journey to the Centre of the Earth, de Rick Wakeman, de 1973 – álbum conceito do ex-tecladista do grupo de rock progressivo Yes? Foi um disco de enorme sucesso nos anos 70 – e é até hoje, aliás – onde Wakeman teve a ideia de um álbum inteiro de suítes sinfônicas baseadas na Viagem ao Centro da Terra, livro de ficção científica do autor francês Júlio Verne. O resultado é considerado o melhor exemplo da junção do rock com orquestra e coro, com Wakeman trabalhando em seus teclados e com banda de apoio.
Acontece que Journey to the Centre of the Earth é uma produção do mesmo Lou Reizner, com arranjos e orquestração do mesmo Wil Malone, usando a mesma London Symphony Orchestra e o English Chamber Choir, com o mesmo David Measham regendo!
Algumas grandes diferenças são: Journey to… – que é (mal) gravado ao vivo – foi um sucesso mundial maior que esta gravação de Tommy. Só que Tommy é feito com maior esmero e capricho, uma qualidade de som muito superior, e um orçamento maior.
Para quem é esse disco? Para os fãs de The Who, de sua ópera-rock Tommy, de Journey to the Centre of the Earth do Rick Wakeman, de obras orquestrais com coral e solistas, e de sua fusão com o rock/pop. E fãs de cultura pop – já que tem a participação de numerosos músicos conhecidos nos vocais! É também para os fãs de vinil bem gravado que tenha capa e encartes sensacionais!
Veja nas fotos a primeira prensagem, que vinha dentro de uma capa dura, com livreto de encarte e uma capa interna que, quando desdobrada, mostra uma máquina de pinball em relevo!
As prensagens originais europeias de Tommy, como a inglesa e a alemã, são ótimas! Acredito até que a prensagem americana da época (década de 70) mande muito bem na qualidade sonora. E, claro, uma prensagem japonesa deve ser a ‘cerejinha do bolo’ (com marshmallow). Existe uma edição de 2015 que, como dizia o Renato Aragão: “é fria!” – pois não parece nem ser de 180g, e há inúmeras reclamações sobre sua qualidade de som – e também é cara! Fuja dela!
E que a música nos siga o tempo todo, sempre!
Ouça um trecho de “Tommy”