Editorial: DOLBY ATMOS É UM AVANÇO DO ESTÉREO?

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Eu já comentei aqui, em algumas seções, minha opinião sobre o Dolby Atmos e minha experiência em ouvir gravações remasterizadas nesse processo, e o quanto odiei o resultado. Não deu grande repercussão a matéria, mas agora o produtor do Radiohead, Nigel Godrich, deu uma entrevista em um site de música e sua opinião tomou proporções gigantescas no meio musical. Seu desabafo foi em resposta à pergunta do entrevistador, do que ele achava do esforço da Apple Music em oferecer ao ouvinte o Dolby Atmos, e se ele tinha em mente remasterizar alguns trabalhos do Radiohead nessa plataforma? E sua resposta foi: “Estão empurrando coisas, e sua prioridade é apenas a tecnologia, não a música”. E elaborou de forma pormenorizada o que pensa a respeito:

“Tudo isso é um blefe, na verdade. Acho que o mono é, obviamente, limitado – e o estéreo é o ideal, na minha opinião”. E acrescentou: “Tentaram me convencer dos benefícios de remixar discos em 5.1, e eu disse ‘Ok, me mostre’. Sentei-me lá, e ele tocou para mim The Chain, e do nada atrás de minha cabeça aparece esse maldito órgão Hammond e eu pensei, ‘que diabos é isso?’ – eu levantei e disse ‘isso foi o suficiente para mim’”. Ele continua: “É fundamentalmente errado, pois essa decisão foi tomada por uma ideia ‘pseudotécnica’ em oposição a uma escolha musical – as pessoas estão empurrando as coisas baseados em tecnologia não na música”.

Pelo jeito eu não sou o único a dar minha opinião que Dolby Atmos não acrescenta absolutamente nada ao estéreo, sendo um retrocesso brutal. Pois o grande avanço do estéreo é possibilitar organizar a música o mais próximo da apresentação real, à nossa frente, e o grande mérito do hi-end é possibilitar nos integrar com a música como se ela estivesse lá a nossa frente, materializada! E ter inserções e efeitos vindos atrás de nossas cabeças, é tudo que acredito que nenhum audiófilo deseje ‘experimentar’ quando está imerso em ouvir ‘o todo’ à sua frente. Esses ‘efeitos’ são muito mais intensos que ouvir um sistema ultra transparente, que já nos tira a atenção suficientemente. Agora, imagine um órgão que deveria estar no palco, aparecer atrás de sua orelha direita! Ou o solo de guitarra ficar passeando 360 graus em volta de sua cabeça – como ouvi em uma das remasterizações!

Para mim isso não é uma imersão na música – é pirotecnia, ou melhor, uma ilusão sonora aterrorizante. Não é de hoje que a tecnologia tenta passar uma rasteira na música e impor suas descobertas. Me lembro bem a primeira vez que ouvi uma apresentação de um LP quadrifônico, na casa de um cliente do meu pai. A única faixa de música que tinha no disco de demonstração era um quarteto de cordas, onde cada um dos instrumentos estava dentro de uma das quatro caixas. O efeito não permitia ouvir a música, somente os instrumentos, e o seu cérebro desesperadamente tentando montar em sua mente aquela imagem musical. As outras faixas eram um trem dando voltas na sua cabeça, e a outra faixa que me lembro de uma avenida movimentada com trânsito em duas mãos.

Sai de lá com a certeza absoluta que não vingaria a quadrifonia. A mesma sensação tenho agora com o Dolby Atmos para substituir o estéreo!

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