Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Eis uma marca que o leitor da revista irá daqui para frente ouvir falar muito. Pois em todos os mercados que já se firmou, tornou-se o centro das atenções e de calorosas discussões nos fóruns especializados em aparelhos valvulados.
Produzidos na China, seu fundador é um audiófilo apaixonado por restauração de amplificadores e caixas acústicas da Western Eletric – e ganhou fama na Ásia pelo seu grau de conhecimento e perfeccionismo na restauração de inúmeros amplificadores, drivers e caixas dos anos 20, 30 e 40, dessa lendária marca americana.
Com sua notória habilidade, o próximo passo foi abrir uma empresa atuando no mercado como fabricante OEM para outras marcas, como Cayin, Jungson e Shengya. E o último passo foi criar sua própria marca, a Line Magnetic, focando no relançamento de grandes produtos ‘clássicos’, porém atualizados para a nova realidade de mercado.
Como escrevi no primeiro parágrafo desse teste, a cada novo mercado que a Line Magnetic aporta, rapidamente o ‘boca a boca’ se instala e muitos amantes de válvulas 300B e 845, se sentirão seduzidos pela sua relação custo/performance.
O que mais li nos fóruns internacionais, que consultei para entender de onde vinha essa ‘febre’ pela marca, foi justamente o fato dos seus produtos serem muito bem construídos e ainda assim custarem muito menos que a concorrência, e manterem um grau de performance tão alto.
Quando o Hernani da Elite Áudio, distribuidor oficial da marca no Brasil, me ofereceu o produto para teste, não imaginava o tamanho do produto e muito menos seu peso de 55 Kg!
E muito menos os detalhes de seu design lembrando os anos 30, que só vemos naqueles filmes em preto e branco de ficção científica.
Para o trabalho sujo de tirar ele do carro e instalá-lo em nossa sala, foi preciso 4 braços, muito suor e gemidos – que só quem já está fora de forma sabe grunhir. E a única plataforma em que ele coube, devido à sua altura descomunal, tamanho e peso, foi a base da Audio Concept, felizmente colocada à frente do nosso setup de Referência.
O 219IA utiliza 8 válvulas em configuração dual-mono. O estágio de pré amplificação usa duas 12AX7 seguidas por um estágio de driver duplo que utiliza duas 310A, e duas válvulas 300B para acionar o estágio final de amplificação de duas válvulas 845. Para proteger as válvulas, o Line Magnetic tem uma gaiola de ferro bastante segura e pesada – como tudo nesse integrado, rs.
Seu controle remoto é de excelente nível e acabamento, pesado (rs), com volume para cima e para baixo, e mute.
Na base em que estão as oito válvulas, existem os ajustes de polarização e os ajustes para se tirar o ‘hum’ que, dependendo das instalações elétricas e da qualidade do aterramento, podem existir.
No painel frontal temos o grande VU ao centro, para apresentação da potência debitada, além do botão seletor de entradas (3 no total), e no lado esquerdo dois VUs menores para o ajuste de polarização das válvulas. Acima desses dois pequenos VUs, tem o ajuste de polarização para selecionar as válvulas a serem ajustadas. E no canto direito temos o botão maior de volume e, abaixo dele, o botão de liga e desliga.
No painel traseiro, temos as três entradas de linha e os terminais de caixas para 4, 8 e 16 ohms, bem como a entrada IEC.
Depois de ligado, o amplificador leva 30 segundos para entrar em funcionamento.
Como o produto estava apenas com 30 horas de uso, fiz o primeiro contato com ele ligado a caixa Monitor Audio (leia Teste 3 nesta edição), ouvindo nossos discos da Cavi Records, e deixei o integrado amaciando com as caixas Harbeth (leia teste na edição de dezembro), que também estavam amaciando.
Por mais que as pessoas tentem simplificar, dizendo que amplificadores valvulados possuem uma sonoridade muito fácil de identificar, eu costumo ser bem mais cauteloso, pois dependendo da topologia (push-pull ou single-ended), quando bem projetados terão uma sonoridade bem distinta.
Como estava com a memória ainda fresca do Willsenton R8 testado em nossa edição de outubro, para mim ficou claro que colocar no mesmo pacote esses dois modelos seria injusto com ambos. Pois cada um prima por qualidades distintas.
Um primeiro exemplo: em volumes baixos – falo de audições com o volume no máximo a 60dB – o Line Magnetic soa muito mais coeso e equilibrado que o R8. Com muito melhor apresentação de microdinâmica.
Já o outro lado da dinâmica, na macro, o R8 por ter muito mais potência, tem maior folga para responder ligado em caixas com menos de 90 dB de eficiência.
Sempre haverá escolhas a serem feitas, meu amigo, não existe como contornar as escolhas. Sejam elas conscientes ou impulsivas.
Com 100 horas, a primeira caixa em que instalamos o Line Magnetic foi a JBL Classic 100 – e que casamento, meu amigo! Os 90 dB em 8 ohms da caixa foram ‘mamão com açúcar’ para os 24 Watts do Line Magnetic. Com excelente equilíbrio tonal, texturas refinadas, uma imagem tridimensional impecável, e resposta de transientes surpreendente.
A macrodinâmica, com a caixa certa, estará presente na medida e necessidade correta.
Estou vendo que no nosso Vendas & Trocas tem um par de JBL L100 Classic para vender por 25 mil reais, e ainda não foi vendido. Meu amigo, por esse preço, será muito difícil achar uma caixa de três vias superior a ela. Se você está pensando em um upgrade de caixas e possui uma sala entre 16 a 32 metros quadrados, coloque essa caixa no seu radar, pois além de tudo, com todos os integrados que testamos nos últimos seis meses, ela se destacou de maneira encantadora.
Voltando ao Line Magnetic, confesso que por mim usaria somente a L100 Classic para a realização do teste, mas como tínhamos à mão outras caixas com 90 dB de sensibilidade ou mais, acabamos por ouvi-lo também com a Elipson Heritage XLS 15 (leia Teste na edição 288), Monitor Audio Gold 300 (leia teste nesta edição) e Wharfedale EVO 4.4.
E com todas essas quatro caixas, pudemos ver o quanto este integrado é versátil e refinado.
O que mais me impressionou é que, ainda que ele tenha uma sonoridade bem quente e cativante, essas qualidades não encobrem uma transparência e naturalidade na medida certa.
O que mais admirei e me encantei com o Line Magnetic foi com instrumentos acústicos e vozes. Pois podemos nos ater aos detalhes, sem jamais nos perdermos do todo, mesmo em volumes reduzidos – o que só comprova seu impressionante silêncio de fundo e sua capacidade de organizar o acontecimento musical, entre as caixas, de maneira muito correta e coerente.
Para entender o que quero dizer com ‘organização’ entre as caixas, é preciso entender que isso só é possível se a eletrônica e a gravação, claro, tiverem uma correta apresentação de largura, altura e profundidade. Sem essa base, a organização do acontecimento musical será pobre e fatigante.
Junto a essa característica, é necessário que além de planos bem definidos, o foco, recorte e ambiência também sejam de alto nível. Pois do contrário, os solos e vozes no meio de uma orquestra soarão borrados.
O Line Magnetic, possui todas essas qualidades em alto nível!
E, por fim, a ‘cereja do bolo’ da organização musical entre as caixas: a materialização do acontecimento musical à nossa frente.
Em excelentes gravações, quando você escuta uma eletrônica com esse grau de assertividade, seu cérebro realmente se rende ao encanto. Foi aí que entendi porque a esmagadora maioria dos elogios nos fóruns internacionais, fala da capacidade sedutora de se ouvir música nesse amplificador. Sim ele é bastante sedutor, mas não cai na armadilha de soar doce demais ou letárgico.
Ao contrário, seu grau de sedução não perde o senso de responsabilidade de reproduzir a música da maneira mais correta possível dentro de seus 24 Watts.
Veja que não iniciei a avaliação falando do alicerce de nossa Metodologia – o equilíbrio tonal. E o fiz por um único propósito: saber que, como toda topologia de vácuo, o upgrade nas válvulas pode mudar o produto significativamente de patamar. Infelizmente não pude fazer essa experiência, ainda que se deseje muito ouvir o Line Magnetic com válvulas 300B e 845 de qualidade premium. Pois sei que seu equilíbrio tonal, certamente mudaria de patamar.
Com as válvulas que vieram de fábrica, não há nada de errado com este quesito. Mas em termos de decaimento nas altas, com válvulas superiores certamente teríamos a reprodução de ambiências ainda mais impressionantes, assim como na fundação da primeira oitava dos graves. Pois potência para isso, com as caixas certas, não será nenhum problema.
Outra característica que me chamou muito a atenção, foi a qualidade na reprodução do corpo dos instrumentos, uma questão que sempre vejo ser levantada nos fóruns quando discutem sobre amplificação de baixa potência, da dependência de caixas de altíssima sensibilidade (acima de 98 dB) para equilibrar a macrodinâmica e o corpo harmônico dos instrumentos. Desse problema o Line Magnetic não sofre, pois em todas as caixas utilizadas no teste, entre 88 dB e 92 dB, a apresentação do corpo harmônico foi impecável!
À medida que fomos fazendo as audições com as quatro caixas, ficou patente o quanto é preciso experimentar as opções de ouvir as caixas ligando-as nas saídas de 4, 8 ou 16 ohms, ainda que o fabricante da caixa especifique sua impedância. Na JBL (que é 4 ohms) e na Wharfedale (que é 8 ohms) o melhor resultado foi com 8 ohms. A Elipson (que é 6 ohms) teve o melhor casamento com a saída 4 ohms, assim como também a Monitor Audio Gold 300 (que é 8 ohms).
Quanto à cabos, o Line Magnetic se mostrou altamente compatível tanto com todos os cabos de força, como de interconexão e caixa. E não se mostraram nem um pouco exigentes, mostrando suas inúmeras qualidades com todos. Mas eu gostei muito do Sunrise Lab Quintessence Aniversário de força e de interconexão (RCA), com os Virtual Reality Trançado nas quatro caixas. Compatibilidade não é loteria, meu amigo, compatibilidade é acerto de projeto.
Quando um produto é muito bem desenvolvido, sem pontas soltas, a possibilidade de uso de inúmeras opções de cabos é sempre muito maior.
CONCLUSÃO
O integrado Line Magnetic 219IA merece todos os elogios de crítica e de consumidores que vem recebendo desde o seu lançamento.
Acredito que possa ser o ‘porto seguro’ para todos que desejam a sonoridade de topologias 300B e 845, de baixa potência, mas que nunca se aventuraram por esses mares, por receio ou por achar que as opções até então existentes estavam além de seu bolso.
Extremamente bem construído e com uma performance tão cativante, que certamente irá conquistar uma legião de audiófilos que desejam imprimir a suas gravações favoritas esse alto grau de sedução.
Se você é daqueles que adora, na calada da noite, ouvir seus discos enquanto o mundo adormece, sem incomodar ninguém, mas se sentia decepcionado que em baixos volumes muito se perdia da música, você vai amar o 219IA, acredite!
Com caixas com no mínimo 90 dB de eficiência, bons cabos e fontes de bom nível, você pode ser levado ao paraíso sem ter que vender a alma ao diabo, meu amigo!
PONTOS POSITIVOS
Sonoridade sedutora.
PONTOS NEGATIVOS
Apenas cuidado com a escolha das caixas, o ideal será as com sensibilidade acima de 90dB.
ESPECIFICAÇÕES
Potência de saída | 24W (Classe A Single Ended) |
Consumo de energia | 400W |
Resposta de frequência | 15Hz~35kHz (-1.5dB) |
THD | 1% (1kHz) |
Relação S/N | 87dB |
Sensibilidade de entrada | • 230 mV (Integrado) • 1000 mV (Pré-IN) |
Impedância de saída | 4Ω, 8Ω,16Ω |
Requisitos de alimentação | ~120V (60Hz) |
Dimensões (L x A x P) | 430 x 400 x 430 mm |
Válvulas | 12AX7 x2, 310A x2, 300B x2, 845 x2 |
Peso líquido | 55 kg |
AMPLIFICADOR INTEGRADO LINE MAGNETIC 219IA | ||||
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Equilíbrio Tonal | 12,0 | |||
Soundstage | 12,0 | |||
Textura | 12,0 | |||
Transientes | 12,0 | |||
Dinâmica | 11,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 13,0 | |||
Total | 96,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
Elite Sound
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