Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Ainda que esteja em recuperação da mão direita e em início de fisioterapia (serão ainda alguns meses até a recuperação plena dos movimentos dos dedos e da força na mão), tinha que colocar minhas observações no notebook, mesmo ‘catando milho’.
Meu primeiro contato com essa marca italiana de produtos hi-end ocorreu quando assisti um vídeo da feira de Milão, e conheci o belíssimo toca-discos Mediterrâneo, com sua bela mistura de madeira e metal. Descobri ali que todo o toca-discos era totalmente produzido pela própria Gold Note (inclusive seu engenhoso braço e cápsulas). Nos dias de hoje, em que a concorrência exige corte de custos, levando a produção para a Ásia, a Gold Note encontra-se na contramão desta tendência, fabricando produtos que não custam seis dígitos (como muitos dos produtos suíços e alemães).
Com a publicação em uma das edições recentes do hi-end pelo mundo de um produto da Gold Note, o distribuidor oficial para o Brasil, a Living Stereo, nos procurou oferecendo o PH-10 para teste. Claro que não iríamos recusar a oferta.
Com dimensões bem modestas (200 x 80 x 260 mm) e pesando apenas 4 kg, o PH 10 não dá muitas pistas, ao primeiro contato, de toda a sua enorme versatilidade e qualidade de áudio. Seu gabinete, com aberturas laterais, possui um design sóbrio, muito bem construído e muito prático nos ajustes todos que oferece. Seu painel frontal apresenta o selo/logomarca no canto esquerdo no alto, sua tela fica ainda do lado esquerdo, acabando quase ao centro do painel – e o único botão que comanda todas as funções encontra-se no lado direito. Nada de chaves DIP, em que o usuário necessita de uma lupa e um palito de dente para ajuste de carga e ganho, que existem em todos os pré de phono mais baratos do mercado.
Os engenheiros da Gold Note foram ousados e substituíram estes comutadores DIP por um seletor frontal, que apertando por cinco segundos coloca o pré em funcionamento, apertando de novo você seleciona nove opções de ajuste (10 Ohms a 47K Ohms) e quatro ajustes de ganho, além de três diferentes curvas de equalização mais utilizadas pela maioria dos bons prés de phono, mais a curva da Decca-London e American-Columbia, para o usuário ‘brincar’ se tiver discos dessas gravadoras em sua coleção (eu tenho centenas e usei com enorme prazer).
O fabricante disponibiliza o produto em três cores: preto, prata ou dourado. O modelo enviado foi na cor preta. Impressionei-me com a quantidade de conexões, como: dois conjuntos de entradas phono (podendo se conectar dois toca-discos ou dois braços de um só toca-discos), saídas balanceadas e RCA, tomada IEC, dois aterramentos independentes, conexão para uma fonte externa dual mono PSU-10 e uma entrada USB para futuras atualizações. Ligado à tomada, basta seguir os seguintes procedimentos para colocar o PH-10 em uso: pressione o botão por 3 a 5 segundos, ele sai de stand-by e sua tela acende. Para selecionar a opção desejada, basta pressionar o botão novamente e na tela irá aparecer, no canto do display, o que você estará ajustando. Aí você pressiona novamente e mexe para a direita ou esquerda até encontrar o ajuste desejado.
O legal é que você pode fazer tudo isso com o disco tocando, sem risco, pois ele entra em ‘mute’ até o novo ajuste escolhido estar pronto. O RIAA eu indico manter no modo universal, principalmente se você não tiver gravações da Decca ou Columbia. Agora caso você disponha de discos dessas duas gravadoras, valerá a pena ouvir e comparar. No meu caso, senti sempre uma melhora tanto no equilíbrio tonal, quanto no soundstage adequando a curva de equalização correta a cada disco, mas dependerá do nível de sua cápsula e braço para você observar ou não melhoras.
Para o teste utilizamos a cápsula Sumile, braço SME Series V, toca-discos Air Tight e os seguintes cabos: Sunrise Lab Quintessence (XLR e RCA), Sax Soul Ágata (XLR e RCA), Timeless Guarneri (RCA) e Ortofon Reference Black. Pré de linha: Audio Research REF 6 e Dan D’Agostino Momentum. Power: Hegel H30 e Audio Research VSi75SE. Cabos de força no PH-10: original de fábrica, Transparent PowerLink MM2, Timeless, e Reference SE Sunrise Labs.
O PH-10 veio praticamente lacrado (a caixa não estava, mas o aparelho não tinha funcionado nem por dez horas). Fizemos nossa primeira audição para as primeiras impressões por cerca de seis horas e gostamos muito de tudo que ouvimos. Ainda que nesta primeira audição ele tenha se comportado de maneira bastante restrita nos dois extremos, e com um palco bastante frontalizado, os timbres e a sensação de conforto auditivo se mostraram muito convincentes, mostrando ao ouvinte que ele irá proporcionar audições muito prazerosas.
Muitos prés de phono, antes de todo o amaciamento, costumam ter um caráter muito embotado (ou fechado), com pouco corpo nas baixas e uma sensação que a queima irá durar uma eternidade! Não é o caso do PH-10. A cada dia as melhoras, além de audíveis, foram se tornando empolgantes, pois com apenas cinco dias de audição (de 5 a 6 horas por dia), a transformação foi surpreendente.
Muitos dos nossos novos leitores nos questionam como observamos essas mudanças no comportamento do produto no processo de queima. É simples: nesta fase utilizamos sempre os mesmos discos, o mesmo volume, o mesmo setup de cabos e de equipamentos e, sempre que possível: no mesmo horário. Com a experiência adquirida realizando audições há mais de cinquenta anos, eu já nem anoto todas as diferenças encontradas a cada mudança no período de queima, me concentrando apenas naquelas mudanças significativas, que indicam a evolução do produto. E cápsulas, prés de phono, caixas acústicas e cabos são os produtos mais ‘esquisitos’ em termos de performance nessas primeiras 200 horas. Pois não existe uma metodologia que explique tamanha variação de um produto para outro produto similar. Com um agravante no caso de cápsulas e prés de phono: você tem obrigatoriamente que acompanhar minuto a minuto desta queima. Então, não preciso nem dizer o quanto gostei do PH-10 com a evolução de apenas uma semana.
Com 60 horas os graves já tinham aquele colchão de sustentação, peso e velocidade – ainda que o corpo parecesse um pouco tímido em relação ao nosso pré de referência. Mas, as audições de rock, blues e música eletrônica já se tornaram mais agradáveis de se ouvir! Pequenos grupos instrumentais acústicos e vozes à capela já soaram agradabilíssimos desde os primeiros cinco dias, mas grandes orquestras e música com maior variação complexa, ainda se sentiam intimidadas com a falta de alargamento do palco e a ausência de respiro no extremo alto. Aí o buraco foi mais embaixo, e foi preciso 180 horas para os agudos surgirem como em um radiante nascer do sol em uma praia do nosso lindo Nordeste. Mas, quando surgiram, mostraram a razão deste pré de phono ter recebido tantos testes tão positivos.
Seu caráter sônico prima por ser bastante realista, não querendo mostrar mais do que a gravação captou. E ainda que não tenha uma sonoridade neutra, ele possui a virtude de sempre optar por uma assinatura muito musical.
Seu equilíbrio tonal é muito correto, com excelente apresentação de toda a região média de cima/embaixo, com excelente corpo. E os extremos, ainda que não tenham o mesmo grau de refinamento da região média, possuem decaimento suave e arejamento correto. Seu soundstage foi o último quesito a estabilizar em todo o período de queima, levando 200 horas para recuar e apresentar planos mais corretos e aprimorar o foco e recorte.
Como todo produto hi-end de bom nível, a escolha certa do setup de cápsula/braço e cabos fará toda a diferença no grau de refinamento do PH-10, sendo bastante crítico tanto na escolha do cabo de força como de interconexão. Com o ganho em 6 dB, e o cabo RCA entre ele e o pré de linha, obtivemos excelente silêncio de fundo em prensagens e discos mais bem conservados. E com os cabos XLR tivemos que diminuir o ganho em 3 dB para extrair este mesmo silêncio de fundo.
Suas texturas, pelas suas características sônicas, se ajustam à assinatura do cabo de interconexão. Os melhores resultados para este quesito conseguimos com os cabos RCA da Timeless e da Ortofon. Para gravações acústicas esses dois cabos se mostraram matadores, com uma naturalidade e intencionalidade espantosas!
Ouvi todas as minhas gravações da Decca (todos os discos da Ella Fitzgerald) com a curva DECCA e esses dois cabos. O som, além de orgânico, tinha um invólucro harmônico tão rico e tão bem resolvido que só com os discos da Decca fiquei praticamente uma semana repassando um por um.
O mesmo se passou com as gravações da Columbia (desde Duke Ellington a diversas obras clássicas). Interessante que aqui o cabo Ortofon Black casou melhor que o Timeless, principalmente na apresentação dos transientes e corpo harmônico. É maravilhoso quando temos a disposição um arsenal de equipamentos a mão, cabos e um produto versátil que nos possibilita um ajuste tão preciso.
Este é o maior diferencial do Gold Note, pois em sua faixa de preço tamanha versatilidade não existe. Ele foi pensado para atender tanto o audiófilo quanto o melômano que possui uma eclética discoteca e sonha em possuir um pré que extraia dessas gravações até o âmago – e não custe um caminhão de doletas!
Visitando um fórum internacional só de produtos analógicos, alguns usuários do PH-10 já fizeram o upgrade de colocar a fonte externa, afirmando que o produto salta de performance. Eles citam justamente melhoras nos extremos, silêncio de fundo, maior recuo do palco e, consequentemente, uma apresentação de micro-dinâmica irrepreensível!
Gostaria muito de ter tido a oportunidade de ter escutado o PH-10 com sua fonte externa, pois o produto parece mesmo estar totalmente apto a render ainda mais.
De todos os prés de phono que ouvimos e testamos nos últimos seis anos, abaixo de 10 mil reais, o PH-10 é o que mais nos encantou, pois ele possui uma quantidade de recursos, versatilidade e facilidade de uso, que são inconcebíveis para esta faixa de preço. Tantos recursos assim estamos acostumados a ver em produtos custando o dobro do PH-10.
Junte-se a isso a possibilidade de aprimorar ainda mais sua performance e teremos um produto que atende a um enorme leque de usuários que clamam por um pré de phono completo e que seja um upgrade definitivo em seus sistemas analógicos.
Se você se encontra naquela situação que investiu todos os seus recursos no conjunto braço/cápsula e toca-discos, e não consegue uma solução financeiramente viável para o pré de phono, meu amigo ouça este Gold Note. Ele possui um coração de leão em um corpinho de filhote de gato.
Altamente recomendado e provavelmente Produto do Ano, digno de Selo do Editor!
Equilibrado sonicamente, com enorme quantidade de recursos e uma versatilidade impressionante para sua faixa de preço.
Pela sua performance e construção, nenhum ponto negativo.
Entradas | 2 x RCA independentes |
Filtro subsônico | 10 Hz / 36 dB oitava |
Resposta de frequência | 20 Hz – 20 KHz @ +/- 0.3 dB |
Distorção harmônica total | <0.05% MAX |
Relação Sinal / Ruído | -89 dB |
Resposta dinâmica | 105 dB |
Impedância de saída | 50 Ω |
Capacitância de entrada MM | 220 pF |
Sensibilidade de entrada | 0.1 mV MC até 7.0 mV MM |
Impedância de entrada | 9 opções selecionáveis [10 Ω, 22 Ω, 47 Ω, 100 Ω, 220 Ω, 470 Ω, 1000 Ω, 22KΩ, 47 KΩ] |
Ganho | 65 dB (MC) a 45 dB (MM) com quatro opções [-3 dB, 0 dB, +3 dB, +6 dB] |
Nível de saída de linha (fixo) | Estéreo RCA @ 2 Volts e balanceado XLR @ 4 Volts |
Alimentação | 100 V to 245 V (50 / 60 Hz) configurado de fábrica |
Consumo | 30 W (fonte linear) |
Dimensões (L x A x P) | 220 x 80 x 260 mm |
Peso | 3 Kg |
PRÉ DE PHONO GOLD NOTE PH-10 | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 11,0 | |||
Soundstage | 11,0 | |||
Textura | 13,0 | |||
Transientes | 12,0 | |||
Dinâmica | 11,5 | |||
Corpo Harmônico | 11,5 | |||
Organicidade | 11,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 93,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
Living Stereo
(11) 2592.0036 / (11) 99982.8456
lima.geremias@uol.com.br
R$ 9.000