Teste 3: CÁPSULA GRADO STATEMENT MASTER 2

Samsung é líder mundial no mercado de TVs há 13 anos consecutivos
agosto 16, 2019
Opinião: REFERENCE RECORDINGS – Um Marco em Qualidade Sonora
agosto 16, 2019


Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Puxando pela memória, não consigo lembrar em que ano testei uma cápsula Grado da linha Reference e qual modelo. Só consigo lembrar que foi em um toca-discos Rega Planar 3 com braço RB300 e era o começo do Clube do Áudio. Em 1998, talvez.

Agora que voltou ao Brasil, pelas mãos do Fernando Kawabe, já testamos o fone de ouvido Reference Series RS1E (leia o teste na edição 250) e agora apresentamos a cápsula Statement Master 2, a top dessa linha, logo abaixo da linha Reference. Nos Estados Unidos é uma cápsula de 1000 dólares, em uma faixa de preço que existem dezenas de boas opções. Então, se destacar nesta faixa é tarefa das mais difíceis.

A história da Grado Labs, que leva o nome de seu fundador Joe Grado, nasceu em 1953, no Brooklin, em Nova York. Joe Grado é o criador da cápsula de bobina móvel (MC) estéreo. Morreu em 2015, mas desde 1990 a empresa foi dirigida pelo seu sobrinho, John Grado
e, em 2013, o filho de Joe, Jonathan, tornou-se o vice-presidente de marketing da empresa.

Mas a atual Grado se tornou mundialmente conhecida pelos excepcionais fones de ouvido, que também usam madeira – as cápsulas das linhas top da Grado também sempre foram reconhecidas por serem de madeira.

A linha de cápsulas da Grado é bastante extensa, começando com a série Platinum (na faixa de 350 dólares lá fora), Sonata (600 dólares), Master 2 (1.000 dólares lá), Reference 2 (1.500 dólares) e Statement 2 (3.500 dólares).

A Statement série 2, que espero em breve poder testar, é considerada por muitos articulistas como a melhor cápsula da Grado de todos os tempos, concorrendo com cápsulas custando até três vezes este preço. Como estou pior que São Tomé, quero ouvir para crer, rs.

A Statement Master 2 também possui um corpo de madeira com a implementação de uma bobina fixa mas que, como todos as cápsulas deste fabricante, utiliza um pequeno pedaço de ferro (em vez de imã) entre as bobinas – desenvolvido por John Grado em 1953 e que ficou conhecido como Moving Iron (MI), em oposição ao Moving Magnet (MM) e também diferente do Moving Coil (MC).

Um amigo meu sempre apelidou as cápsulas da Grado de bobina híbrida. Pois como tem uma saída baixa (1,0 mv) em relação as MM, as Grado são cápsulas que precisam de um ganho de pelo menos 56 dB, se comportando muito mais como uma cápsula MC.

Então, ao decidir pela compra de uma cápsula deste fabricante se atenha ao detalhe de verificar se o seu pré de phono estará apto a ela.

O fabricante fala em 40 horas de amaciamento. O André Maltese, que mais uma vez fez a gentileza de montar a cápsula no meu braço SME V, com sua enorme experiência, me disse ser interessante no mínimo o dobro deste tempo para a cápsula realmente estabilizar.

O pré de phono foi o Golden Note (leia teste na edição 249), com seus inúmeros recursos de regulagem (quanto mais escuto este pré, mais maravilhado fico com seu custo, performance e versatilidade). Acostumado nos últimos anos com cápsulas MC de referência, como a Benz LP-S, a Air Tight PC-1 Supreme e a Transfiguration Protheus, minha curiosidade foi grande em ouvir a Grado.

O teste com a cápsula Grado Reference é tão antigo que sequer achei nos meus cadernos de anotações. E olha que procurei, por quase uma tarde, na tentativa de achar alguma dica de como as primeiras cápsulas deste fabricante com corpo de madeira soaram em meu sistema (a Grado passou a usar corpo de madeira, no início dos anos 90, justamente no lançamento da linha Reference).

Depois de três horas de instalação e ajuste fino da cápsula, sentamos eu e o André Maltese para a primeira audição. Ficamos ali escutando disco após disco, com uma região média impressionante, com timbres naturais e um convite para aquela primeira audição se estender pela noite adentro.

O André foi embora e, antes de deitar, passei alguns LPs da metodologia apenas para fazer minhas primeiras anotações. A Grado encanta pela capacidade de organizar a música entre as caixas, fazendo com que a música flua sem congestionamento ou baixa inteligibilidade.

E ainda que, nas primeiras 40 horas, falte as pontas, a naturalidade e a musicalidade nos remetem a querer apreciar, pois as virtudes já se mostram maiores que as ausências. É o tipo de cápsula que você não consegue ficar apontando as limitações, pois as qualidades saltam à nossa frente.

Corpo harmônico, além de correto, é muito preciso. Contrabaixos acústicos possuem tamanho real de contrabaixo, cantores possuem altura (se estão em pé), quartetos de cordas você consegue ouvir com prazer e ‘ver’ o tamanho dos instrumentos, e à medida que o amaciamento passou de 40 horas, as pontas foram aparecendo, sutilmente à princípio, e depois com maior rapidez.

Os graves são muito bons, com fundação, energia, deslocamento de ar, que empurrado pelo corpo harmônico correto, torna tudo muito prazeroso e verossímil. Nosso cérebro gosta do que está a ouvir, pois reconhece o conforto auditivo e a sensação do acontecimento musical estar realmente ali à nossa frente.

Os agudos, ainda que não sejam a referência das referências, não têm nada de errado. Boa velocidade, bom corpo, boa extensão. E se não são excelentes, é sempre preciso lembrar que estamos falando se uma cápsula de 1.000 dólares lá fora! E, provavelmente, as cápsulas concorrentes que tenham maior refinamento nos agudos percam em outras qualidades que a Grado têm de sobra.

Não adianta, meu amigo, nesta faixa de preço é uma questão de escolhas. Não têm jeito. Pessoalmente, prefiro mil vezes abrir mão de uma ultra extensão em cima, por um corpo e naturalidade em todo o resto do espectro audível, pois minha coleção de 6.000 LPs está recheada de gravações que tecnicamente são bem limitadas – principalmente as prensagens nacionais, em que o uso de equalização correu solto como fumo em baile funk!

É uma cápsula tão musical que, para determinados gêneros é uma das cápsulas que eu mais indicaria. Exemplos: MPB, vozes em geral (independente do estilo musical), pequenos grupos de câmara, pianos solo e música étnica. Pois a região média desta cápsula é de uma precisão e naturalidade estonteantes!

Com 80 horas, a Grado não sofreu mais nenhuma alteração, aí decidi brincar com os cabos de interconexão entre o Golden Note e nosso pré de linha. Utilizei as seguintes opções: QED Reference, Timeless Guarneri, Sunrise Lab Quintessence, Nordost Tyr 2 e Sax Soul Ágata 1.
Para o meu gosto pessoal, e para dar ainda mais ênfase à naturalidade da região média, minhas escolhas recaíram no Timeless e no Tyr 2. O Timeless reforçou a microdinâmica e os transientes, deixando o andamento e ritmo mais presentes, e o Tyr 2 reforçou as passagens do forte para o fortíssimo na macrodinâmica, e deixando as texturas ainda mais evidentes na apresentação musical.

Engana-se quem acha que uma cápsula de 1.000 dólares não mereça todos esses cuidados. Pois se o produto tem um enorme potencial, devemos explorar suas qualidades ao máximo. Ainda faria um outro teste antes de começar a fechar a nota da Grado: ouvi três diferentes cabos de força no Golden Note para ver se era possível extrair do conjunto um sumo a mais. Tirei o cabo Transparent Powerlink MM2 e coloquei o cabo original do Golden Note, e ainda utilizei o Reference SE da Sunrise Lab.

Com o cabo original do Golden Note, os agudos além de ficarem mais escuros, perderam também um pouco de corpo. Os médios ficaram todos mais frontalizados como se a música fosse bidimensional. E os graves perderam também extensão e definição.

Com o PowerLink MM2 tudo voltou ao normal, mas óbvio que não é um cabo ideal para este setup (pré de phono / cápsula). Então, a melhor solução foi, para este setup, o Reference SE da Sunrise, mais compatível em termos de preço com o conjunto.

O importante, como disse, é que esta Grado possui ‘garrafas para vender’, podendo crescer de performance à medida que o usuário realiza upgrades em seu sistema. Sendo um investimento para um longo período e não apenas uma temporada.

CONCLUSÃO

Quando comecei a compreender a assinatura sônica desta cápsula da Grado, fiquei com a sensação inicial que seria a cápsula ideal para os melômanos. Que sempre buscam uma solução mais barata com a melhor musicalidade possível!

Mas, à medida que o teste avançou e a cápsula estabilizou, vi que estava cometendo um erro de avaliação.

Esta cápsula é tão indicada para melômanos quanto para audiófilos, que desejam no seu setup analógico o máximo de prazer auditivo sem ficar analisando se falta um pouquinho disto ou daquilo. São para todos que estão famintos por achar uma solução que toque tanto seus discos surrados, como os bem conservados. Gravações tecnicamente impecáveis, como também as sofríveis.

E que nos mostre a melhor qualidade do vinil: seu corpo harmônico. Capaz de encher uma sala com o sax de John Coltrane, nos fazer pular na cadeira com os naipes da big band de Duke Ellington e nos levar a prender a respiração com o dueto entre Louis Armstrong e Ella Fitzgerald. E eu lhe garanto que isto a Grado Statement Master 2 faz com os pés nas costas!
Se esta é a cápsula que você tanto deseja, sua busca finalmente encontrou o caminho!


Pontos positivos

Musical, e de uma naturalidade sedutora.

Pontos negativos

Limitação no extremo agudo e exigência de um pré de phono com ajuste adequado para ela.


ESPECIFICAÇÕES
Saída 1mV @ 5 CMV
Resposta de freqüência controlada10-60 Khz
Separação de canalmédia 40 dB – 10-30 Khz
Carga47.000 Ohms
Indutância30 mH
Resistência72 Ohms
Capacitâncianão sensível à carga capacitiva
Massa do chassi10 gramas
Força de rastreamento1.5 – 1.9 gramas

CÁPSULA GRADO STATEMENT MASTER 2
Equilíbrio Tonal 10,0
Soundstage 10,0
Textura 11,0
Transientes 10,5
Dinâmica 10,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 10,0
Musicalidade 11,5
Total 85,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *