Opinião: REFERENCE RECORDINGS – Um Marco em Qualidade Sonora

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Na edição 224, de novembro de 2016, eu escrevi um artigo sobre a gravadora Telarc, primeiro selo de música clássica americano que gravava totalmente em digital – portanto, não só pioneiros nos EUA, como também absolutamente excelentes. Mesmo nos primórdios da gravação digital, em 1978, e mesmo a Telarc prensando seus álbuns em LPs, uma mídia célebre por ser analógica, a qualidade de gravação e musical de seus disco era, e é, impressionante. Eram LPs prensados a partir de gravações digitais feitas em 16-bit/50 kHz – pouco mais que a definição padrão CD, e muito longe do que hoje é perseguido pelo mundo do áudio hi-res.

Sim, eu sou um dos que advogam que um CD bem gravado é melhor do que um hi-res mediano. E a Telarc, com suas gravações do final da década de 1970 e da década de 1980, é prova viva que de “ser de alta resolução, ser hi-res” não é o principal e nem o maior distintivo de qualidade sonora.

Por que estou falando da Telarc? Porque, como fã de música clássica (entre outros muitos gêneros) e frequentador de salas de concerto até a cadeira pegar a forma do meu traseiro, afirmo facilmente que os dois melhores selos, as melhores gravadoras de música clássica que conheço são a Telarc e, objeto deste artigo, a também americana Reference Recordings.

O professor Keith O. Johnson

A Reference Recordings e suas gravações são fruto de um dos maiores e mais geniais engenheiros de gravação que existem. O americano Keith de Osma Johnson, conhecido como o Professor Keith O. Johnson, nascido em 1938, não apenas deixou sua marca na incrível qualidade gravação em uma carreira de mais de 150 registros de música clássica e jazz, mas também inovou técnicas de microfonação e de gravação, ganhando vários prêmios Grammy técnicos – entre outros – como a Melhor Álbum em Surround e vários de melhor engenharia de som.

Keith O. Johnson com Jack Renner, engenheiro da Telarc

O Professor Johnson, ainda em atividade, é formado em Ciências da Computação, Biologia e Música, todos pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), além de Eletrônica na Universidade de Stanford.

Dentre as várias empresas que fundou e desenvolveu, as mais importantes para os audiófilos são, claro, o selo Reference Recordings, a fabricante de amplificadores Spectral Audio, e a Pacific Microsonics – na qual, além de co-inventar o HDCD, também ficou famoso por desenvolver um ADC, um ‘Conversor Analógico para Digital’, que se tornou na época referência em estúdios de gravação de alta qualidade. Posteriormente, a Pacific Microsonics, e a patente do HDCD, foram vendidas para a Microsoft, mas Johnson continua até hoje firme e forte frente à Reference Recordings.

Não apenas fã de música – ele tem entre seus favoritos os impressionistas franceses Ravel, Debussy e Fauré – Johnson também toca instrumentos de teclado, como o piano. Além disso, sua formação musical também o permite decorar a partitura da 6ª Sinfonia de
Mahler, para poder melhor acompanhar a microfonação e a mixagem de uma gravação dessa sinfonia com a Orquestra Sinfônica de Dallas.

Como bem cabe ao devido purismo das gravações audiófilas, Johnson defende o uso do menor número possível de microfones, tanto que é contra a idéia de multi-microfonação de gravações, como se faz com a maioria das gravações comerciais há décadas. Disse ele: “A única razão para fazer isso é para compensar a falta de detalhamento de um sistema de áudio ruim. Eu não faço gravações para serem tocadas em sistemas de áudio ruins.”

Johnson começou a gravar, por hobby, na década de 1950, acumulando registros de apresentações musicais que eram, principalmente, de bandas de colégio. Diz ele que o único critério era que a música fosse interessante.

O tipo de microfone que escolheu – até hoje – para suas gravações é o omnidirecional, que dá a resposta de frequência mais plana e extensa nos dois extremos. Mas Johnson prefere pegar microfones de boas marcas e trocar seus diafragmas por outros mais leves, além de modificá-los extensamente para que tenham saída alta mas não usem pré-amplificadores. Então, o próximo elo acabou sendo desenvolver mixers que usam circuitos passivos, para minimizar ainda mais interferências e distorções. E, claro, desde os primórdios analógicos da Reference Recordings que Johnson usa seu próprio gravador de rolo, de fita magnética, totalmente projetado do zero, desde a mecânica até a parte eletrônica e as cabeças de gravação (uma das empresas fundadas pelo Professor Johnson era especializada na inovação no desenvolvimento de cabeças magnéticas de gravação).

Keith O. Johnson gravando em locação

O tipo de microfonação preferida do Professor Johnson – mesmo em gravação de grandes orquestras – é composta do uso de um par de seus microfones modificados, espaçados para criar o efeito estéreo e, dependendo do tipo de música a ser gravado e tamanho do conjunto musical, que demanda maior separação entre esses microfones do par estéreo, ele adiciona mais um microfone entre os dois, para captar o miolo e dar presença e foco nos instrumentos do meio. Essa técnica é bastante usada por outras gravadoras, como a Decca e a Telarc, em suas gravações de orquestra. Johnson ainda completa o cenário com o uso de alguns microfones estrategicamente colocados para a captação de ambiência e da reverberação da sala de concerto ou da sala de gravação.

Com o objetivo de realizar o que ele chama de “Acústica VIsual” (e nós chamamos de Ilusão de Palco), o Professor Johnson diz que muitas vezes o posicionamento desse par estéreo espaçado de microfones não é simétrico – assim ele consegue dar ênfase maior ou menor a certas partes da orquestra, ou a certos instrumentos ou grupos de instrumentos, equilibrando assim a gravação para um resultado sonoro que ele ache mais interessante.

Descontente com as limitações do formato digital em seus primórdios na década de 1970 e começo de 1980 – que, segundo ele, transformavam detalhamento e nuances em uma só massa sonora – Johnson e a Reference Recordings permaneceram analógicos até 1996, quando o Professor desenvolveu o HDCD e seu ‘Conversor Analógico para Digital’ Model Two, na Pacific Microsonics. Era, nesse ponto, também, o pioneiro nas definições superiores ao CD, no que hoje chamamos de hi-res – alta-resolução de áudio digital.

Desde a Pacific Microsonics que o Professor Johnson e a Reference Recordings passaram a gravar em digital, ou mesmo em armazenar o produto captado por seus microfones tanto em formato digital hi-res como em um de seus célebres gravadores de rolo custom, ao mesmo tempo.

Tanto que, em 2012, ao voltar a prensar no formato LP, em vinil de 200g, depois de mais de década só prensando CDs, o primeiro lançamento da Reference Recordings em vinil no século 21, a Firebird Suite e The Song of the Nightingale, do compositor russo Igor Stravinsky, com a Orquestra de Minnesota sob a regência de Eiji Oue, foi objeto de uma certa polêmica entre audiófilos puristas, pois a direção da empresa declarou que tanto masters analógicos quanto digitais estavam sendo usados para a prensagem da nova leva de vinis – o que não diminuiu em nada a qualidade final do vinil, mesmo depois de analisado pelos mais críticos. Assim como era suprema a qualidade sonora dos discos de vinil prensados pela Telarc a partir de master digital, no final da década de 1970.

Gravações recomendadas

Com um amplo catálogo, e excelentes prensagens tanto em CD quanto em vinil, a seleção de música clássica, jazz e blues da Reference Recordings pode não agradar todos os gostos musicais – mas alguns discos são obrigatórios em qualquer discoteca que quer, ao mesmo tempo, mostrar música de alta qualidade interpretativa e gravações cuja qualidade sonora irá por sistemas à prova. À seguir, algumas sugestões, tiradas do catálogo atual do site da empresa – alguns deles disponíveis tanto em LP quanto em CD.

www.referencerecordings.com

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