Teste 2: AMPLIFICADOR AIR TIGHT ATM-300 ANNIVERSARY

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Minha paixão pelos produtos deste fabricante japonês é antiga. Remonta ao tempo em que trabalhava na Audio News, ia pelo menos uma vez por mês almoçar na Liberdade e, depois do almoço, ia ver as mais recentes edições da StereoSound japonesa para conhecer as novidades. Ainda que não entendesse nada do que estava escrito, ver as propagandas e os produtos em teste era suficiente para voltar para casa imaginando como deveriam soar aqueles produtos!

Ainda vivíamos a triste reserva de mercado, então só nos restava sonhar realmente. Por mais otimista que fosse (e sempre fui), jamais poderia imaginar que poucos anos depois estaria eu testando grande parte daqueles equipamentos, que saiam todos os meses nos reluzentes anúncios da StereoSound, como também iria ter, em meu sistema de referência por dois anos, um par de monoblocos ATM-3 da Air Tight!

O mundo realmente dá muitas voltas, e me sinto um felizardo de poder, nesses 23 anos da revista, ter testado mais de 1.200 produtos (sem contar os produtos em que o teste foi abortado), possibilitando levar a você leitor nossas observações, mês a mês. Porém, o mais legal é um mês estar testando um amplificador de estado sólido de 500 Watts, e no mês seguinte ouvir um amplificador de apenas 9 Watts por canal, como este ATM-300 série especial do aniversário de 30 anos da Air Tight. Este era um sonho antigo, ouvir este amplificador já com 15 anos em linha em série especial comemorativa da empresa. Para não me alongar na história deste fabricante, sugiro a leitura dos testes do ATM-1S (edição 190) e do ATM-3 (edição 193).

A Air Tight sempre primou pelo desenvolvimento de produtos que fossem belos não só em sua sonoridade como também em sua aparência. Levando este esmero de construção aos menores detalhes, como por exemplo: a cabeça dos parafusos existentes em seus gabinetes não ficam expostas e visíveis. Parece um detalhe exagerado, mas quando você escuta um Air Tight em um setup correto, você entenderá e apreciará esse ‘pacote’ de preciosismo.

Ainda que o ATM-300 Anniversary possua 9 Watts por canal, e possa empurrar algumas caixas com 91/92 dB de sensibilidade, achei que seria necessário buscar uma caixa de maior sensibilidade, então recorremos ao Fernando Kawabe, que gentilmente nos cedeu, para teste também, as DeVore Orangutan 0/96 (o teste sairá na edição de julho próximo), o que nos permitiu um teste mais adequado para os 9 Watts do amplificador.

Minha relação com amplificadores de baixa potência se resume à audição de um amplificador da – também japonesa – Triode, de 10 Watts. E, claro, minhas audições em companhia do meu pai nos anos 60 de alguns Single Ended empurrando as lendárias caixas da Western Electric – que, confesso, não me encantavam tanto (talvez venha deste período minha dificuldade em ouvir cornetas, pois sempre me vem à memória auditiva, aquele som anasalado na região média-alta). Mas sempre me encantou a sonoridade dos amplificadores valvulados com as também lendárias válvulas WE300B, por dois motivos: sua assinatura sônica sempre natural e sua musicalidade.

A audição mais sublime que escutei da Ella Fitzgerald foi em uma topologia 300B nos anos 60. Foi ali que Ella me conquistou para sempre, tornando-se, de longe, a Cantora que mais escuto em minhas horas de lazer.

Segundo o fabricante, foi graças ao esforço da Takatsuki Electric que a Air Tight desenvolveu esta edição de aniversário, pois conseguiram ‘ressuscitar’ a lendária WE300B, e isto levou a Air Tight a fazer uma edição especial do seu power estéreo ATM-300.

Este amplificador da Air Tight adotou um sistema de feedback incomum e, segundo eles, contrário à tendência geral, que os levou a optar pelo zero feedback (nenhuma realimentação). Mas esta opção teve um preço: exigiu dos engenheiros uma revisão completa de todos os componentes, a começar pelos transformadores, capacitores e resistores, para assegurar o menor ruído de fundo e menor distorção. Na parte de gabinete, o mesmo primor de sempre, com chassis pesado para evitar qualquer tipo de ressonância e sub chassis cortado a laser feito de cobre puro e espesso.

As válvulas utilizadas são duas 300B, uma 5U4GB, duas 12BH7A e duas 12AU7A (ECC82). A distorção é de 1% (1 kHz /1 W /8 Ohms), a resposta de frequência de 25 Hz a 40 kHz (-1 dB / 1 W) e o peso de 24 Kg.

Ainda que recentemente a Air Tight tenha lançado uma nova versão, o ATM-300R, muitos fãs dos amplificadores 300B ainda preferem esta edição de aniversário, lançada em 2016. Nos fóruns internacionais, a discussão em torno de qual é melhor parece que se baseia nos detalhes e na subjetividade de cada um.

Como não escutei o ATM-300R, não posso opinar, mas fica aqui meu conselho a todos os interessados, porque a briga nos fóruns sobre qual soa melhor é grande e calorosa!
Na frente do painel do ATM-300 temos o interruptor de pressão de liga/desliga, e três pequenos botões, sendo dois de atenuação separados para o canal direito e esquerdo, e um terceiro botão para o ajuste de bias, com as posições: Operate, L e R, para o ajuste fino das 300B.

O Air Tight teve como companhia o pré da Audio Research REF 6 e o nosso pré de referência da Dan D’Agostino. Fontes digitais: sistema dCS Scarlatti, MSB Select DAC (leia Teste 1 nesta edição) e, por uma semana, o DAC e o clock dCS Vivaldi (teste em breve). Caixas acústicas: Kharma Exquisite Midi e DeVore Orangutan 0/96. Cabos de força: Reference Sunrise Lab e Transparent PowerLink MM2. Cabos de interconexão: Transparent Opus G5, Sax Soul Ágata 2 e Sunrise Lab Quintessence.

Como estou sem toca-discos e sem pré de phono, utilizamos apenas CDs para o teste. O Air Tight veio imaculado, e abrir sua caixa lacrada e montar o amplificador (trabalho gentilmente feito pelo Fernando Kawabe, já que continuo proibido de fazer força com o braço direito), me remeteu a uma viagem no tempo. Montado e devidamente ajustado, as primeiras audições foram feitas apenas para anotações, já que a DeVore também estava com menos de 20 horas de amaciamento (e ela necessita de, no mínimo, 500 horas).

Ouvir um amplificador, de baixa potência, necessita de alguns cuidados – e não estou falando de volume e sim de postura do ouvinte, que necessita entender que se trata de uma outra viagem sonora, repleta de introspecção, e não de arroubos pirotécnicos.

Então, se você é um grave dependente ou amante de volumes que façam a bainha de sua calça deslocar com a pressão sonora, esqueça e nem perca seu tempo, pois irá se decepcionar. E nada pior que a decepção de um audiófilo, pois ele sairá daquela audição soltando os cachorros pelo resto de sua existência.

Gostei muito da observação feita pelo articulista Art Dudley ao revisar este amplificador, na nova versão. Ele escreveu: “Criticar um amplificador 300B por seu baixo poder é como criticar um haiku por sua narrativa limitada”. Ou ainda: “Reclamarem por não ter uma cena de perseguição de carros no filme O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman”.

Então, meu caro amigo, sua forma de encarar um 300B é que irá determinar se será uma audição repleta ou não de prazer. O aviso foi dado.

Às vezes, quando nos propomos a sair do nosso espaço habitual, podemos nos deparar com experiências gratificantes, e ouvir um 300B pode ser uma delas. Pois quem opta por este amplificador abriu mão de uma série de quesitos que, para muitos audiófilos, são essenciais – sua busca se encontra em uma outra direção.

Meu pai dizia que, onde muitos focam o todo, alguns prestam a atenção nos detalhes. E todo bom amplificador 300B é feito para os detalhes. Se você ainda é capaz de entrar em um bosque e apreciar, sem pressa alguma, as cores, formas, texturas e cheiros, e se comover com esses alimentos para os sentidos e a alma, então você é um sério candidato a se apaixonar por um 300B, pois a magia que ele expressa é de nos apresentar aquela inflexão vocal que muda completamente nosso entendimento daquela passagem, ou o trinado do arco no violino em um longo pianíssimo, que nos leva a prender a respiração tamanho o controle do músico sobre o instrumento, ou apenas perceber o silêncio que, de tão perfeito, nos prepara para o próximo compasso.

Os excelentes 300B possuem uma luz própria – e não falo de colorações, falo de formas e texturas. E o Air Tight vai além ao exprimir um caráter sônico intenso e emotivo. A música ganha contornos únicos, em que a transparência é excelente, mas são as texturas que prevalecem sempre, proporcionando ao ouvinte uma infinita paleta de cores.

Se fizesse uma analogia com as estações do ano, este 300B da Air Tight seria a mais bela representação da luz de outono, naquele azul intenso que só enaltece a paisagem à sua volta. Em uma luz que ao mesmo tempo que é intensa, possui uma suavidade e um calor na medida certa. Este equilíbrio tão raro e tão desejado por muitos, é perfeito nos melhores 300B, e este Air Tight faz parte desta seleta legião.

Engana-se aqueles que, preconceituosamente, acham que amplificadores valvulados de baixa potência jogam suas fichas todas em uma região média molhada e sedosa. Erro grosseiro, diria meu pai! Este 300B possui agudos maravilhosos, limpos e com excelente corpo, extensão e decaimento. E na outra ponta, seus graves também são encorpados, corretos e precisos.

Seu palco, em termos de profundidade e largura, se mostrou excelente, e o silêncio entre as notas possibilitou um foco e recorte milimétricos.

A apresentação de texturas é dos deuses! Diferente de tudo que já escutamos, você ficará horas apreciando a qualidade de cada instrumento de diversos quartetos de cordas (mesmo que seja o mesmo quarteto em diversas gravações ou obras), e descobrindo como soam em diferentes salas de gravação, com diferentes microfones.

Passará a ficar mais atento à qualidade dos instrumentos e à técnica dos músicos.
Passei duas semanas só ouvindo quartetos, quintetos, e obras para violino e orquestra, com diversos solistas e diferentes orquestras. A assinatura sônica deste 300B amplia as texturas como uma potente lente de aumento, possibilitando audições inebriantes.

Diria que este Air Tight vai te conquistando aos poucos – é preciso paciência para o conhecer na intimidade, nada está explícito ou exposto de uma forma grosseira. Mas, depois de estabelecida a sedução, difícil mesmo será abandoná-la!

Os transientes, ainda que totalmente corretos, não impõe aquela precisão de desfile militar dos exércitos asiáticos, preferindo mais o andamento de uma coreografia clássica de uma obra como o Quebra Nozes: correta, precisa, mas com delicadeza e sensibilidade.
Os 300B não foram feitos para ouvir rock, diria um amigo meu baterista. Tenho que concordar com ele, mas um blues bem tocado soará belamente.

A dinâmica dependerá obviamente da sensibilidade da caixa ligada a ele. Uma DeVore soou muito mais correta nas passagens de macrodinâmica que a Kharma. Aqui, quanto maior a sensibilidade da caixa, melhor será o resultado na resposta de macro-dinâmica. Já a microdinâmica é excelente!

O corpo harmônico foi uma grande surpresa, pois eu não esperava um resultado tão bom! Corpos com os tamanhos bem corretos e bem proporcionais ao real (música ao vivo acústica, sem microfonação).

A organicidade também é muito boa, mas diria que muito mais intimista do que realista. Nada daquela materialização física à nossa frente, mas sim uma apresentação mais despojada e que nos prende pela musicalidade e não pelo realismo físico. Sua musicalidade, junto com as texturas, são o ponto mais alto deste 300B. É o tipo de apresentação para quem quer ouvir seus discos por uma outra perspectiva, livre de detalhes que nos desconcentram e atentos ao essencial.

Um amigo, também músico e amante de 300B, sempre me lembra que quando ele senta para ouvir seu sistema ele não quer se sentir no meio da orquestra (isto ele já faz todo santo dia, afinal é seu trabalho), ele quer ouvir a ideia e a execução musical, compartilhar a genialidade do compositor, do arranjador e dos músicos. Quer apenas estar ali ouvindo o que gosta sem se preocupar se poderia ser melhor a macrodinâmica daquela passagem ou se o triângulo poderia ter mais corpo e extensão! Sua viagem musical é para o âmago da concepção e não para o resultado na superfície.

Dizem que os audiófilos são todos loucos, pois pagam um preço alto para ‘experimentar’ em seus sistemas sensações para lá de subjetivas. Visto de fora, certamente esta é a conclusão mais óbvia. Mas, quando o audiófilo na sua essência é um melômano, toda esta busca torna-se muito mais objetiva. Separo muito bem o puro audiófilo do audiófilo/melômano. O audiófilo é apaixonado por equipamentos. Ainda que utilize a música para dar um rumo à sua busca, o equipamento está acima de sua paixão pela música. Este jamais terá algum interesse por um 300B.

O audiófilo/melômano está na contramão deste objetivo. Ele reconhece que um bom sistema pode proporcionar a ele ouvir seus discos de uma maneira que o leve à mais profunda imersão e concentração! Para este, um 300B é uma possibilidade que está dentro do seu campo de interesses.

Por isso que o segmento audiófilo abriga tantas tribos distintas e tão ecléticas! Na Ásia, o 300B é uma febre que já dura 50 anos! E essa ‘febre’ parece que anda a se espalhar por todos os continentes! E chega ao Brasil de maneira tímida, mas com uma legião de fãs dispostos a fazer com que os amplificadores 300B venham para ficar.

Claro que, se houver uma maior variedade de caixas de alta sensibilidade para atender esta demanda, o mercado será ainda maior.

É dar tempo, para ver o que acontece.

CONCLUSÃO

O ATM-300 Anniversary da Air Tight é um belo amplificador. Sua construção é impecável, e faz jus a comemoração de 30 anos deste fabricante japonês, que desde sua fundação nos brinda com produtos de nível superlativo.

Para quem sempre desejou possuir um 300B, mas temia pela procedência ou confiabilidade, eis uma opção que alia competência e performance como muitos poucos podem oferecer. Ligado a uma caixa de sensibilidade acima de 92dB, pode proporcionar audições inesquecíveis!

Se é isto que você tanto deseja, não perca tempo e procure fazer uma audição!


Pontos positivos

Uma assinatura sônica única, que une naturalidade e musicalidade como poucos.

Pontos negativos

Baixa potência e casamento apenas com caixas que devem ter sensibilidade acima de 92 dB.



ESPECIFICAÇÕES
Válvulas– 2x 300B
– 1x 5U4GB
– 2x 12BH7A
– 2x 12AU7A (ECC82)
Saída 8W + 8W (8 Ohms)
THD menos de 1% (6 W)
Sensibilidade de entrada 230, 300, 450 mV
Fator de amortecimento 0, 4, 6 dB – ajustável
Dimensões430 × 245 × 275 mm
Peso 24 kg

AMPLIFICADOR AIR TIGHT ATM-300 ANNIVERSARY
Equilíbrio Tonal 10,0
Soundstage 10,0
Textura 12,0
Transientes 10,0
Dinâmica 8,5
Corpo Harmônico 10,0
Organicidade 10,0
Musicalidade 13,0
Total 83,5
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA

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