MUSICIAN: Bibliografia II – ASTOR PIAZZOLLA – O TANGO NOVO

MUSICIAN – Discografia: ASTOR PIAZZOLLA – O TANGO NOVO – VOL. 17
setembro 16, 2019
MUSICIAN: Bibliografia – ASTOR PIAZZOLLA: ARGENTINO, ‘TANGUERO’ E, SOBRETUDO, MÚSICO
setembro 16, 2019


Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

COMPOSITOR

Astor Piazzolla: nascido na cidade de Mar del Plata, na Argentina, em 1921, filho de imigrantes italianos. Quatro anos depois, sua família mudou-se para Nova York, estabelecendo-se no então violento bairro de Greenwich Village. Sua educação musical começou em casa, onde ouvia os tangos tradicionais de Carlos Gardel e de Julio de Caro, assim como jazz e música clássica, principalmente a obra de Bach. Aos oito anos de idade, seu pai presenteou-lhe com um bandoneón que encontrou em uma loja de penhores da cidade. Três anos depois Piazzolla compôs seu primeiro tango, intitulado La Catinga, e logo começou a ter aulas de música com a pianista húngara Bela Wilda, que havia sido aluna de Rachmaninov, aprendendo também a tocar Bach em seu bandoneón. Em 1934, conheceu Carlos Gardel e fez uma ponta em seu filme musical El Día que me Quieras. Aos 15 anos, voltou com a família para a Argentina, onde passou a tocar em várias orquestras de tango, conhecendo o trabalho de Elvino Vardaro e sua inovadora leitura do tango, levando Piazzolla a entrar para a orquestra de Anibal Troilo, uma das mais célebres orquestras de tango de todos os tempos, da qual também tornou-se arranjador e eventual pianista. Em 1941, seguindo o aconselhamento do famoso pianista Arthur Rubinstein, começou a estudar com o eminente compositor argentino Alberto Ginastera, estudando obras de Stravinsky e Ravel e aprendendo orquestração e, depois, piano com Raúl Spivak, logo escrevendo suas primeiras peças de música clássica. Em 1944, juntou-se à orquestra de Francisco Fiorentino, onde ficou por dois anos, quando formou sua própria Orquestra Típica, onde estava livre para experimentações com o tango e para compor trilhas de filmes. Em 1950, voltou a estudar clássicos e regência com Herman Scherchen, estudando jazz e largando o bandoneón a favor da música clássica – neste período começaram a surgir as primeiras composições com o estilo único do compositor. Em 1954, recebeu uma bolsa do governo francês para ir estudar composição e contraponto com a professora Nadia Boulanger no Conservatório de Fontainebleau, onde também ficou profundamente impressionado com o trabalho do jazzista Gerry Mulligan. De volta a Buenos Aires, formou seu octeto e quebrou com a tradição do tango, da orquestra típica, indo para o puro instrumental, mesclando elementos de jazz com música de câmara, criando o ‘Nuevo Tango’. Mas, controverso na Argentina, sua fama primeiro apareceu na Europa e nos Estados Unidos. Devido ao ambiente político, sua família mudou-se novamente para Nova York em 1958, onde ele trabalhou com vários conjuntos musicais. De 1960 a 1970, de volta à Argentina, trabalhou prolificamente com várias formações de octeto e quinteto, além de trabalhos com orquestra e uma operetta. Na década de 1970, formou o Conjunto 9, de música de câmara, e após um ataque cardíaco em 1973, mudou-se para a Itália, onde compôs e gravou durante vários anos. Nesta década iniciou o Conjunto Electronico, com apresentações na Europa e na Argentina, e formou seu segundo quinteto, que o deixou famoso no mundo inteiro. Na década de 1980, compondo tanto música clássica quanto música para o quinteto Tango Nuevo, apresentou-se em várias capitais do mundo, gravando e tocando com numerosos músicos de primeiro time, tanto de clássico quanto de jazz, e participou de vários festivais, como o de Jazz de Montreal e de um concerto ao vivo no Central Park de Nova York. Em Paris, em 1990, teve uma hemorragia cerebral, que o deixou em coma, vindo a falecer em 4 de julho de 1992, em Buenos Aires, sem haver recobrado a consciência.

LINHA DO TEMPO
  • 1909 – O compositor russo Igor Stravinsky compõe o balé O Pássaro de Fogo.
  • 1918 – Falece o compositor francês Claude Debussy, em Paris. Nasce o compositor e maestro Leonard Bernstein, nos EUA.
  • 1921 – Nasce Astor Piazzolla, em Mar del Plata, na Argentina.
  • 1934 – Piazzolla conhece Carlos Gardel, que está em visita a Nova York.
  • 1937 – Pablo Picasso pinta seu famoso quadro Guernica. O compositor alemão Carl Orff compõe Carmina Burana. Falece o compositor norte-americano George Gershwin, em Los Angeles. O compositor russo Dmitri Shostakovich compõe sua Quinta Sinfonia.
  • 1953 – Piazzolla vai estudar composição e contraponto em Paris.
  • 1959 – Piazzolla compõe Adiós Nonino, em homenagem ao seu pai.
  • 1963 – Astor Piazzolla estreia seus Trés Tangos Sinfónicos.
  • 1970 – Piazzolla estreia suas Cuatro Estaciones Porteñas.
  • 1975 – Piazzolla inaugura seu Conjunto Electronico.
  • 1978 – Astor Piazzolla inicia seu segundo e mais famoso Quinteto Tango Nuevo.
  • 1983 – Estreia o Concierto para Bandoneón y Orquestra no Teatro Colón de Buenos Aires, com o Conjunto 9 e a Orquestra Filarmônica de Buenos Aires.
  • 1990 – A composição Le Grand Tango, de Piazzolla, é estreada em Nova Orleans pelo violoncelista russo Mstislav Rostropovich, para quem a obra havia sido dedicada.
  • 1992 – Após dois anos em coma, devido a uma hemorragia cerebral, Astor Piazzolla falece em Buenos Aires.
CURIOSIDADES
  • Durante seu célebre concerto no Central Park, em Nova York, em 1987, Piazzolla definiu seu ‘estranho’ instrumento musical, contando que o bandoneón foi inventado na Alemanha em 1854 para tocar música religiosa em igrejas e, eventualmente, foi parar nos prostíbulos de Buenos Aires – onde o tango nasceu – chegando, então, naquele momento, até o Central Park em Nova York.
  • Com quatro anos de idade, Piazzolla e família mudaram-se de Mar del Plata para Nova York, para o então violento bairro de Greenwich Village. Como tanto seu pai quanto sua mãe trabalhavam fora, o pequeno Piazzolla teve que aprender a cuidar de si mesmo logo cedo.
  • Carlos Gardel, um dos mais célebres compositores de tango, foi a Nova York para, entre outras coisas, rodar seu filme El Día que me Quieras. Diz a lenda que o jovem Piazzolla, de 14 anos, ajudou-o na cidade como guia e tradutor-intérprete. Ao ouvi-lo tocar o bandoneón, Gardel convidou-o para fazer parte de sua turnê. Para desespero do jovem Astor, seu pai proibiu que ele fosse. Aconteceu que, foi nessa mesma turnê que Gardel e toda sua orquestra morreram na queda de seu avião, no ano seguinte, em 1935. Piazzolla depois declarou que, se seu pai não tivesse sido tão consciencioso, ele estaria tocando harpa em vez de bandoneón.
  • Em seu começo de carreira, Piazzolla ia dormir tarde todos os dias por causa dos clubes noturnos onde se tocava o tango, mas acordava cedo para não perder nunca a orquestra sinfônica ensaiando no Teatro Colón.
  • O compositor Ginastera, mestre de Piazzolla, insistiu que ele inscrevesse sua composição Sinfonia Buenos Aires no prêmio Fabian Sevitzky, em 1953. O concerto acabou sendo com a Orquestra da Radio del Estado sob a regência do próprio Sevitzky com, no final, uma briga na plateia, porque pessoas se sentiram ofendidas com a inserção dos dois bandoneóns em uma orquestra sinfônica tradicional.
  • Quando estava em Paris estudando com a célebre Nadia Boulanger, Astor tentou esconder de sua mestre seu passado tangueiro, achando que seu futuro seria como compositor de música clássica. Porém, ao ouvir um dos tangos de Piazzolla, Boulanger imediatamente parabenizou-o e encorajou-o a seguir sua carreira no tango, dizendo que era ali que estava seu verdadeiro talento. Esse foi um momento fundamental na vida e na carreira de Piazzolla.
  • Durante seu período em Paris, já tendo composto uma série de tangos para a Orquestra de Cordas da Ópera de Paris, Piazzolla passou a tocar o bandoneón em pé, com a perna direita apoiada na cadeira e o instrumento apoiado em sua coxa direita. Até então o bandoneón era sempre tocado sentado.
  • Enquanto estava se apresentando em Porto Rico, em outubro de 1959, Piazzolla recebeu a notícia da morte de seu pai. Assim que retornou a Nova York, alguns dias depois, ficou sozinho em seu apartamento e, em menos de uma hora, escreveu um de seus tangos mais famosos, Adiós Nonino, em homenagem ao seu pai.
  • Apesar de, durante a ditadura militar argentina, de 1976 a 1983, Piazzolla estar morando na Itália, ele acabou visitando várias vezes seu País natal. Em uma dessas vezes almoçou com o ditador Jorge Rafael Videla. Quando perguntado por que aceitou o convite para almoçar, Piazzolla respondeu que Videla mandou dois homens de terno preto levando uma carta dizendo simplesmente que ele era esperado por Videla em determinada hora e local.
  • O aeroporto de sua cidade natal, Mar del Plata, hoje leva seu nome: Aeroporto Internacional Astor Piazzolla.
  • Os biógrafos e estudiosos de Piazzolla estimam que ele tenha escrito aproximadamente três mil obras, e gravado somente perto de 500 delas.


Em comemoração aos 23 anos da revista, selecionamos essa matéria da edição 200.

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