UMA CONJUNTURA RARA
outubro 16, 2019
MUSICIAN – Discografia: VOLUME 2 – ANDRÉ GERAISSATI
novembro 15, 2019


Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Se você não acredita em elo fraco em um sistema de áudio, não se preocupe, pois você não está sozinho. Na audiófilia existem aqueles que não acreditam que cabos soem diferentes, ou que ter uma elétrica dedicada e uma sala acusticamente tratada sejam mera perda de tempo e dinheiro.

Existem os que acham que um receiver toca igual a um sistema Estado da Arte, e os que qualquer sistema ajustado para a sua curva auditiva irá tocar tão bem ou melhor que um sistema de nível superlativo.

Então, apenas duvidar que um sistema sempre irá soar o elo mais fraco da cadeia, não chega a ser algo tão descomunal, como por exemplo achar que um receiver pode ter a mesma performance de um pré e power top de linha de algum fabricante com excelentes serviços prestados ao hi-end.

No entanto, ao ‘mapear’ todas essas tribos que aqui relacionei, uma coisa tem que ficar bem clara: os que não ouvem diferença alguma entre cabos, ou entre um receiver e um pré e power hi-end, são mais felizes e certamente tem uma conta bancária no azul! Pois como estão convictos que é tudo puro marketing, montam seus sistemas com um orçamento enxuto e desfrutam dos seus sistemas integralmente por toda a vida. E desdenham dos ‘malucos’ que gastam fortunas para dispor de sistemas caríssimos e ter a mesma performance que seus ‘singelos’ sistemas!

Já o sujeito que não acredita no elo fraco, ele escuta diferenças entre cabos, equipamentos e está disposto a montar o sistema de seus sonhos, mas sempre focado no setup e nunca nos detalhes como elétrica e acústica. Afinal, os sistemas evoluíram tanto que são capazes de ‘driblar’ os problemas acústicos de qualquer sala. Nada como um cabo mais ‘magro’ para segurar aquele grave retumbante que teima em soar na região dos 60Hz, ou aquele agudo brilhante que parece uma broca de dentista nos meus ouvidos nas altas, que parecem se multiplicar em minha sala com vidro em toda parede, piso frio e teto de gesso. Para este problema nos agudos, resolvo com uma fonte digital com pouca extensão nos agudos, um pré valvulado e um cabo de cobre OFC entre os equipamentos e as caixas. E se o problema persistir, parto para uma proposta radical de usar uma caixa full-range! Ele sabe que sempre haverá no mercado uma solução que contorne seu elo fraco, que se transforma em um ‘bode no meio da sala’ chamado acústica.

Se bodes podem ser domesticados, os audiófilos que acreditam que elos fracos seja uma ficção, também podem ser. Basta fazer um pente fino rigoroso e tirar todos os discos que evidenciam as deficiências do sistema.

Afinal, todo audiófilo sempre culpa a qualidade das gravações quando seu sistema não dá conta dessas gravações, não é mesmo?

Então, todos temos álibis nas mãos para justificar o injustificável.

Conheço leitores que, ao finalmente aceitarem a realidade que o elo fraco muda de lugar mas estará sempre presente (geralmente depois de anos gastando fortunas em upgrades de cabos, caixas e eletrônica), escrevem narrando sua longa odisseia e o momento em que finalmente a ‘ficha caiu’ e resolveram colocar a mão na massa e atacar o problema de frente.

Tenho testemunhos emocionados deste momento em que finalmente o sistema, sala e elétrica entraram em sintonia e a soma das partes cria um todo homogêneo, sem arestas, capaz de resgatar toda a sua coleção de discos e seu prazer de ouvir aqueles discos renegados por anos!

A maioria traduz este momento como de resgate do início da jornada pela busca do sistema dos seus sonhos, que poderia ter sido bem menos ‘penosa’ se tivessem entendido que o elo fraco está ali como nosso aliado e não inimigo a ser abatido.

Assim como a febre, é um aviso de uma infecção já sendo combatida pelo nosso organismo, o elo fraco nos possibilita perceber que cada vez que atacamos o que julgamos estar errado no nosso sistema, apenas melhoramos parcialmente o problema, este ‘sinal’ nos alerta que o problema é muito mais amplo do que o que estamos atacando.

Quantas vezes não nos animamos em trocar um cabo, ou apenas um componente do setup, como uma fonte digital, e ficamos em êxtase por alguns dias ao ouvir os CDs que mantemos como nossas referências ‘supremas’, mas ao abrir o leque e tentar ouvir os discos renegados, o problema persiste, ou até se agravou?

Como explicar este fenômeno?

Muitos simplesmente chegam à resposta que parece mais óbvia!

Realmente as gravações que continuam soando mal não estão a altura do meu sistema! Mas que resposta você se permitirá, se este mesmo CD soar muito bem na casa do seu amigo? E se o sistema dele, for semelhante ao seu, como você irá resolver esta equação? Muitos odeiam este momento.

Outros utilizam esta experiência justamente para entender o elo fraco. Pois se fizerem um ‘mea culpa’ e tiverem a humildade necessária, irão querer saber o que o amigo fez para atingir o resultado que você não conseguiu. É assim que podemos aprender com os erros dos outros em nosso próprio benefício.

Se você aceita uma dica, aqui vai: depois de 40 anos testando e montando sistemas, o menor vilão de todos em termos de elo fraco é a mídia. Meu amigo, o que as mídias ‘escondem’ até termos um sistema à altura delas, é algo que daria para escrever um livro. Estou falando tanto das mídias analógicas como as digitais.

Então continuar ‘culpando’ as mídias pelo seu sistema soar abaixo de suas expectativas não é um ‘álibi’ mais seguro como era no século passado. Os sistemas evoluíram muito, então é hora de buscar outras desculpas, se você continuar a insistir que não existe o elo fraco.

E preparar seu bolso, pois o mercado adora clientes que estão eternamente insatisfeitos à procura do pote milagroso, que com uma única poção irá passar por cima de todos os elos fracos e deixar seu sistema soando como um Estado da Arte de padrão superlativo!

Você pode ir nesta estrada por toda uma vida, mas o que observei nesse meio século em que acompanho e vivo neste mercado, é que a maioria chega em um ponto que chuta o balde e se nega a manter este hobby. Você certamente conhece muito mais de um caso à sua volta.

Então vou lhe dar um último conselho: pegue cinco discos que você gosta muito e desejaria ouvir no seu sistema. Leve-os a casa de um amigo que você reconhece que tem um sistema mais bem ajustado, fez a elétrica e acústica, e ouça-os. Se neste sistema os discos forem mais ‘palatáveis’, você terá a certeza que seu sistema precisa de mudanças. Não de mudanças de setup, mas de atitude!

Faça a elétrica e a acústica antes de sair em uma nova rodada de compras de cabos e equipamentos. E só depois de feita a lição de casa e repassado os cinco discos, se estes ainda não tocarem corretamente, será a hora de descobrir o elo fraco no sistema. Que pode ser a fonte, caixas, amplificação, cabos ou acessórios como racks ou pedestais.

Mas agora, finalmente, você criou um ‘norte’, sabe que as mudanças se farão de forma pontual e se forem na direção certa, aqueles 5 discos soarão cada vez melhor, com maior inteligibilidade, folga e conforto auditivo (como soaram na casa do amigo que tem um sistema mais bem ajustado). Você aprendeu a confiar no seu par de orelhas e aquele tão desacreditado Elo Fraco, que de vilão passou a ser sua bússola.

Às vezes o que necessitamos é apenas mudar nossa perspectiva interna e eliminar nossos pré-conceitos. Livres dessas amarras, nos permitimos ir muito mais adiante!

Como meu pai diria: “Este é um hobby para ser prazeroso – se perder o encanto, é melhor escolher um outro hobby mais barato e despretensioso”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *