Teste 3: TOCA-DISCOS ACOUSTIC SIGNATURE STORM MKII

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janeiro 16, 2020
Melhores do Ano 2019: TOCA-DISCOS
janeiro 16, 2020


Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Sempre tive um enorme interesse em ouvir e testar os toca-discos da empresa alemã Acoustic Signature, pois dos três grandes fabricantes germânicos de tocadiscos, tive para meu uso pessoal Clearaudio e Transrotor.

Parece coincidência, mas estava justamente lendo o teste do Invictus deste fabricante, quando recebi a cápsula Soundsmith Hyperion 2 e, junto, o distribuidor enviou-me, para conhecer, o Storm MkII e o braço também deste fabricante, o TA-1000.

O amigo e colaborador André Maltese já havia me falado muito bem deste fabricante de toca-discos e enfatizado sua construção e robustez! Na hierarquia deste fabricante, o Storm MkII se coloca no meio, sendo o toca-discos que já recebe todos os benefícios dos modelos superiores a ele, e com a versatilidade de upgrades na fonte, motor, base para um segundo braço, etc.

Ou seja, pode perfeitamente ser o toca-discos definitivo de qualquer audiófilo que deseje parar de investir no analógico, mas não abre mão de todos as benesses que um toca-discos Estado da Arte oferece. Sua construção é impecável, e seus 28 kg de aço nos dão a segurança de que foi feito para durar por um século!

Dos 28 kg, entre sua base para apenas um braço (pois com uma segunda base se acrescenta mais 5 kg ao peso total), 11 kg são do prato em alumínio. O prato possui oito cilindros de cor dourada que são inseridos estrategicamente para amortecer ressonâncias que venham tanto do conjunto braço/cápsula, como do motor. Estes cilindros ressonantes foram ‘batizados’ com o sugestivo nome de Silencer.

O prato também é revestido por baixo por um material de amortecimento de uso exclusivo do fabricante. O motor, externo, é alimentado pela fonte de alimentação Beta-DIG, da própria Acoustic Signature. A empresa defende que o motor precise ter força e energia inercial suficiente para atingir a velocidade adequada do prato, mas depois da velocidade estabilizada ele não pode influenciar na rotação. Portanto, o fabricante solicita, em seu manual, que o usuário antes de passar a rotação para ouvir um disco de 45 RPM, ligue em 33 RPM e deixe a rotação se estabilizar. Depois, com um toque, em apenas 4 segundos a rotação já estará estabilizada para 45 RPM.

O prato é conectado ao motor por uma excelente correia e é possível o usuário fazer os ajustes de rotação, depois de tudo devidamente instalado (braço, cápsula, distância do motor em relação ao prato, etc).

Desde que foi instalado (dois meses já se passaram), nunca houve a necessidade de reajuste fino algum. A fonte de alimentação separada é conectada primeiro ao console que fica à frente do toca disco com os botões de liga/desliga e velocidade, e depois do console um outro fio se conecta ao motor. Quando ligado, a velocidade aumenta gradativamente e uma luz vermelha fica piscando. Quando a velocidade correta foi estabilizada, a luz vermelha fica acesa direto.

A base em que vai afixado o braço é de fácil instalação e o fabricante fornece os gabaritos corretos para diversos braços, como: Rega, SME, e os TA (fabricados por eles). No entanto, é preciso que o usuário tenha espaço para trabalhar e força, para encaixar a base do braço no toca-discos. Munido da paciência necessária, entre o encaixe da base do braço e a instalação da cápsula e ajustes, se você tiver a prática necessária, levará de duas a três horas. Se você não tiver nenhuma vivência com instalação de braços e cápsulas, esqueça e contrate alguém ‘do ramo’. Pois para se ter a performance deste toca-discos, à altura do investimento feito, vale chamar um especialista. Você não correrá nenhum risco de danificar a cápsula, e terá a garantia de extrair do setup todo o seu potencial.

E que potencial meu amigo!

Para o teste utilizamos o braço SME Series V, cápsula Soundsmith Hyperion 2, cabos de braço Quintessence da Sunrise Lab (plugues DIN>XLR), pré de phono Boulder 500 e cabo XLR Ágata 2 da Sax Soul entre o Boulder e o prés Nagra HD (leia teste 1 nesta edição) e Dan D’Agostino. O restante do sistema: integrado Hegel H590, power Hegel H30 e Nagra Classic Amp (em estéreo e mono bloco). Caixas: Rockport Avior II e Wilson Audio Sasha DAW. Cabos de caixa: Dynamique Audio Halo 2 (leia teste 5 nesta edição) e Quintessence da Sunrise Lab.

A diversidade de ideias e buscas por soluções que aprimorem a performance no hi-end são uma constante. Cada fabricante tem uma resposta diferente para o mesmo problema. E a forma com que cada um aborda e apresenta soluções, faz com que o audiófilo iniciante fique absolutamente ‘tonto’ com tanta informação antagônica.

Tenho muito cuidado com o leitor que está iniciando sua trajetória, pois ele é bombardeado tão intensamente que muitos desistem no primeiro obstáculo. No mundo do analógico, então, as informações são ainda mais descabidas. Pois o jovem raciocina que somente os mais antigos audiófilos, que conviveram por décadas com o analógico, possam ajudar, e muitas vezes esses ‘anciões’ audiófilos também abandonaram o analógico com a chegada do disquinho prateado. Então seu feedback em relação ao analógico também está defasado em 40 anos! Suas referências são todas ‘vintage’, e ele cultua ainda em sua mente os toca-discos dos anos 60 e 70, como se o analógico não tivesse também mudado de século.

Como diz a garotada: “a fila anda”, e também obviamente andou para o analógico (e como andou). Por outro lado, com a volta do modismo pelos LPs, essas três últimas gerações recebem uma enorme quantidade de informação fake. Como a de que um toca-discos de 900 reais, comprado no mercado livre, irá tocar com sua limitada agulha de cerâmica todos seus LPs. É mentira meu jovem! Este toca-discos de plástico de má qualidade geral irá destruir seus LPs! E seu som será tão ruim como ouvir MP3!

Então fuja desse engodo. Junte seu suado dinheiro e compre um toca-discos decente, que tenha o mínimo necessário de qualidade como: braço que aceite upgrades de cápsulas, que possa ser ajustado decentemente e tenha solidez de construção, um toca-discos que tenha estabilidade na rotação, estabilidade e robustez mecânica, e um pré de phono silencioso e bem aterrado.

Então imagine, na parte de cima, o melômano e audiófilo que busca realizar um upgrade no seu setup analógico, a quantidade de informação desencontrada que ele recebe.

  • “O melhor é belt-drive!”, “Negativo, o direct-drive é melhor!”
  • “Pratos de metal têm problema de ressonâncias que voltam para a cápsula, o ideal são pratos de vidro ou acrílico!”
  • “Motores junto à base não prestam, precisam ser fora da base!”
  • “Braços unipivot não possuem melhor trilhagem de forma alguma!”
  • “O ideal são braços de 12 polegadas e não de 9 ou 10 polegadas!”
  • “Braços precisam de rigidez e serem maciços! Negativo, quanto mais leves e de preferência de madeira, melhor!”

Quem já não ouviu pelo menos algumas dessas frases? Quem já não travou calorosas discussões, defendendo seu ponto de vista? Eu não sei se sou mais prático por ser um articulista e estar neste meio há tanto tempo, ou se é a idade que me permitiu olhar todas essas discussões com um ‘enorme distanciamento’! Antes de mais nada, eu me pergunto: se alguma dessas ‘teorias’ são realmente corretas, e por qual razão a vencedora não prevalece? E a resposta é simples, meu caro Watson! Todas são escolhas.

Pois se prestarmos a devida atenção, existem em todas essas ‘vertentes’ projetos bons e ruins. Toca-discos que funcionam perfeitamente bem e que recebem enorme aceitação do público alvo e outros que são descartados e vistos como bizarrices.

Mas antes que algum engraçadinho queira sair pela tangente, afirmando que não existe então o certo e o errado – não caiam nesta! Pois existem sim parâmetros muito bem firmados e que possibilitaram o avanço do analógico nos últimos 20 anos como nunca antes ocorrerá!

O que precisa ficar claro é que um toca-discos de alto nível como este em teste, é que o fabricante buscou soluções para diversos problemas que são inerentes à reprodução eletrônica de contato mecânico. E são vários problemas, como: vibração, realimentação física do atrito da agulha com a parede do sulco, estabilidade de rotação, ressonância de motor, braço e agulha, ressonância das baixas frequências emitidas pelas caixas acústicas, etc. Problemas reais que, se não forem sanados, colocam por terra abaixo qualquer ‘boa intenção’.

Já testei toca discos que tentam contornar os problemas de vibração desacoplando prato e motor, com molas, suspensão a ar, até o uso de materiais exóticos e ligas exóticas nos pratos e base, para minimizar os problemas gerados por motor e braço/cápsula. E todo o problema não só é audível, como pode tornar uma audição medonha (principalmente em sistemas mais bem ajustados).

Dos toca-discos mais recentes (últimos 5 anos), a solução proposta pela Acoustic Signature para o Storm MkII, me pareceu deveras interessante. Pois ela se baseou em fazer com que o prato seja o ponto crucial a ser trabalhado. Afinal, este é a ponte entre base/motor e braço/cápsula. E conseguir isolar corretamente para que nenhum desses elementos interaja com as ressonâncias do outro, é no mínimo sensato e inteligente! Pois os 8 cilindros inseridos no prato, e batizados como Silencier, acreditem, não são apenas algo com um nome pomposo. Foi uma solução comprovada que focar no prato para impedir que as ressonâncias e vibrações de motor passem para o braço e cápsula, e vice-versa.

E como podemos constatar a veracidade desta afirmação (perguntaria eu, se fosse um leitor)? Ouvindo o Storm. Não precisa de nenhum estudo avançado de física dos elementos pesados, ou qualquer coisa semelhante. Basta ouvir.

O que o Storm trouxe de benefícios para o conjunto braço/cápsula em termos de silêncio de fundo, foi algo impressionante. Este silêncio de fundo só havíamos escutado no toca-discos da Basis (que ainda hoje é o primeiro do nosso Top Five), também com o braço SME Series V e a cápsula Air Tight PCM-1 Supreme.

E, segundo, a estabilidade inercial do conjunto prato e motor. Quando giramos um prato com o motor desligado, ele girará por um tempo, nos melhore projetos, por um bom tempo! E se encostarmos a orelha bem próximo do prato, podemos ver se ele, pelo contato metal/metal cria algum ruído de fundo. E depois de ouvirmos, basta ligar o motor e ver se algum ruído é adicionado ao prato, pela correia ou pelo eixo do motor ou o pino central que liga a base do
toca-discos ao prato.

Meu amigo o Storm é impressionantemente silencioso mecanicamente. Se você colocou a distância correta entre o motor e o prato, e a correia está com a tensão correta (nem muito esticada ou frouxa), zero de ruído! É um dos conjuntos base, motor e prato mais impressionantes que tive o prazer de testar. E estamos falando em um toca-discos intermediário, deste fabricante! Fico imaginando como se comportam e o grau de performance nos modelos mais top! Eu me daria por satisfeito em parar por aqui, pois com todas as suas possibilidades de upgrades em fontes, base para um segundo braço, ele me atende perfeitamente como articulista e melômano!

Como relatei, o Storm está em uso diário há mais de dois meses (para ser preciso, enquanto fecho este teste, já são 9 semanas e meia), e jamais tivemos que reajustar a velocidade nem em 33 ou 45 RPM. Sua precisão é cirúrgica, e a sensação de que foi feito para durar uma eternidade é cada vez mais consistente. Seu motor impressiona tanto quanto a fonte e o toca-discos pelo acabamento, o silêncio e a precisão. Subir de patamar só mesmo se o audiófilo ou melômano quiser desfrutar dos toca-discos deste fabricante em que o conceito de precisão e silêncio são levados ainda mais ao extremo. Caso contrário, garanto que o custo e performance deste modelo sejam difíceis de superar.

CONCLUSÃO

Decidir pelo upgrade final em um setup analógico, nos dias de hoje, não é uma tarefa fácil. Principalmente na faixa de preço do Storm. São centenas de opções de excelentes fabricantes. Esta é a faixa mais concorrida no mercado, e o analógico possui um outro componente muito importante, que se chama design.

Os mais velhos, possivelmente, serão mais conservadores em termos de design, preferindo opções mais tradicionais. Já os que abrem mão do design, não verão nenhum problema em partir para um toca-discos como o Storm MkII, desde que atendam a todas as suas exigências de custo e performance.

Este é um toca-discos diferenciado, com uma série de soluções muito interessantes. Não são muitos os toca-discos nesta faixa de preço que sejam tão versáteis em termos de upgrade. E este é, na minha opinião, um grande diferencial! Mas se nos concentrarmos na questão performance apenas, o leque de opções de concorrentes será ainda mais reduzido. Pois suas qualidades são muito evidentes para serem descartadas. Acredito mesmo que, para se atingir o mesmo nível de performance do Storm MkII, seja preciso se gastar um pouco mais em produtos concorrentes.

De uma construção impressionante e com soluções tão práticas para os velhos problemas de todo toca-discos, o Storm MkII é simplesmente uma proposta tentadora!

Obs: A nota final do Storm MkII foi a média entre os braços TA-1000 e o SME Series V, com a cápsula Hyperion MkII.


Pontos positivos

Extremamente bem construído e um acabamento primoroso.

Pontos negativos

Necessita de todos os cuidados com o conjunto braço / cápsula, e pré de phono.


ESPECIFICAÇÕES
MotorSíncrono, regulado eletronicamente. Sistema belt-drive
RolamentoTIDORFOLON de alta precisão
ChassisOtimizado para ressonâncias com três pés ajustáveis, liga para baixa ressonância
PratoPrato em liga usinada de 12kg, com espessura de 50mm, incorporando 8 silenciadores (Silencers). Revestimento para absorção de ressonâncias na parte inferior
Dimensões (L x P)440 x 440 mm
PesoAté 35 kg, dependendo dos extras

TOCA-DISCOS ACOUSTIC SIGNATURE STORM MkII
Equilíbrio Tonal 13,0
Soundstage 13,0
Textura 13,0
Transientes 13,0
Dinâmica 12,5
Corpo Harmônico 13,0
Organicidade 13,0
Musicalidade 13,0
Total 103,5
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADODAARTE



Performance AV Systems Ltda
(11) 5103.0033
Toca-discos: € 11.000
Braço TA-1000: € 3.800

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