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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Outro dia um leitor me fez a seguinte pergunta: “A indústria de áudio hi-end nacional tem alguma chance de se reerguer?”. Interessante que, na pergunta, o leitor coloca a questão como se algum dia tivéssemos tido uma indústria de áudio hi-end em nosso território. Muitos confundem a reserva de mercado imposta goela abaixo como um momento auspicioso da Zona Franca de Manaus, produzindo equipamentos capazes de concorrer lado a lado com os importados hi-end.

E sabemos que esta reserva foi uma enorme falácia, pois bastou 4 anos de fim de reserva de mercado, para as empresas de áudio que tiveram 100% do mercado em suas mãos por duas décadas, se desintegrarem.

Tentando responder à pergunta do leitor no contexto atual: sim, acredito que empresas nacionais de hi-end ainda irão florescer por aqui. E este processo, ainda que lento e bastante tortuoso, já se estabeleceu e continuará gerando frutos daqui em diante. Porém de forma pontual e atendendo a nichos específicos como: cabos, amplificadores, racks, condicionadores, materiais acústicos etc. Ou seja, o que já vemos no dia a dia de quem acompanha a revista, mas agora com maior volume de oferta e de empresas concorrendo entre si.

Junta-se à este pequeno grupo o engenheiro eletrônico André Luiz de Lima, que mora em Lins, no interior de São Paulo, e que atua na área há mais de 30 anos e é um apaixonado por válvulas que decidiu aplicar todo o seu conhecimento no desenvolvimento de novos produtos.

Conheci o André graças a uma ligação sua, em que se disponibilizou a escrever artigos técnicos para a revista e também oferecer em seus artigos kits de equipamentos para quem tem o hobby de montar seus amplificadores. Também se disponibilizou a fazer manutenção de aparelhos importados valvulados e ajudar os leitores no que fosse possível.

Entre esta primeira ligação e sua vinda a nossa sala de testes, com 4 produtos seus debaixo do braço, se passaram muitos meses (diria que quase 1 ano, se não me falha a memória). Na sua cabeça, ele iria apenas mostrar produtos dos quais poderiam ser disponibilizados os diagramas na revista, para os leitores comprarem os componentes e montarem.

Mas, ao ouvi-los, percebi duas coisas: eram todos bastante complexos e exigiriam dos interessados muito mais que boa vontade ou alguma afinidade com ferro de solda. E que soavam muito bem pelo que custam.

Aí propus que os quatro produtos ficassem para teste e que pudéssemos apresentá-los a vocês.

Então, nos próximos meses iremos publicar o restante, começando pelo AL-KTx2, que se mostrou o mais profícuo pelo seu custo e performance. Depois, testaremos a versão deste mesmo produto só que com as válvulas KT-88 e, posteriormente um pré-amplificador (que de tão barato e eficiente, acabei pegando para nosso uso, pensando já nos Cursos de Percepção Auditiva que em breve voltarei a ministrar) e, por último, um single ended de 15Watts por canal.

Animado com toda esta reviravolta em sua ideia inicial, o André não só aceitou minha proposta como já está desenvolvendo uma versão deste estéreo em monoblocos balanceados, como também de um novo pré para fazer par com estes monoblocos.

Como dizia meu pai: “Pessoas talentosas precisam de dois tipos de estímulos: reconhecimento e divulgação”. E a revista existe exatamente para dar este suporte a quem tem talento, garra e deseja ver seus produtos divulgados.

Não vou entrar em detalhes da topologia deste amplificador, pois além de muito técnico são dezenas de páginas descrevendo cada estágio de sua topologia. Para os apaixonados por especificações técnicas e de topologia, sugiro que entrem em contato direto com o André Luiz de Lima.

Em resumo o AL-KTx2 é um amplificador ultralinear push-pull hi-end, com estágios de saída em classe AB, que utiliza por canal um par de KT150 – válvulas que parecem ter caído no gosto da indústria hi-end e que todos os principais fabricantes estão usando (no Brasil, se não estou enganado, o André é o primeiro a utilizar).

Segundo o fabricante a potência é de 160 Watts com baixíssima distorção e uma banda larga. O que levou o André a optar pela KT150 foi seu elevado rendimento com um custo de montagem baixo, o que lhe permitiu desenvolver um amplificador estéreo de valor realmente muito competitivo com os importados.

O AL-KTx2 consiste de cinco estágios, sendo o primeiro o de pré-amplificação que utiliza um tríodo do tipo 12AU7, com uma realimentação negativa em torno de 19dB. O segundo estágio é um inversor de fase em configuração de seguidor de cátodo, que também utiliza um tríodo do tipo 12AU7. O acoplamento entre os dois estágios é direto (com nível DC). O terceiro estágio é apenas de amplificação, sendo composto por dois tríodos do tipo 12AU7 (um utilizado para cada fase do sinal: 0 e 180 graus).

O quarto estágio é um seguidor de cátodo com acoplamento em nível DC, com intuito de baixar a impedância de saída e adequá-la às KT150. O quinto e último estágio, o de potência do tipo KT150 operando em push-pull ultralinear, uma vez que suas grades g2 (screnn) estão ligadas a taps em 40% do transformador de saída através de resistores limitadores de corrente de 470 Ohms.

Esta configuração cria uma realimentação negativa do sinal, pelo qual as válvulas passam a representar um comportamento entre tríodos e pêntodos. E a sua impedância interna, bem como sua distorção de sinal, é reduzida para praticamente o valor de um tríodo.

A polarização deste estágio é feita por tensão negativa na grade de controle, através dos trimpots P1 e P2, em vez do tradicional resistor de catodo. As fontes de alta tensão dos estágios 1, 2, 3 e 4 são estabilizadas. Na placa do circuito impresso do amplificador, um circuito monitor de bias (com LED), foi implantado para facilitar o ajuste e monitoramento da corrente de polarização (bias) das quatro KT150.

Os transformadores utilizados em todos os projetos são fabricados um a um pelo próprio André. E o que me chamou mais a atenção foi o grau de detalhamento no desenho de todas as suas placas e na limpeza visual de seus circuitos (vejam fotos). O cara é um perfeccionista nos mínimos detalhes de placas e circuitos! Seus transformadores também impressionam pelo acabamento esmerado!

Agora conhecendo um pouco mais o André, diria que ele é um misto de engenheiro ortodoxo (no bom sentido) que está começando a entender como funciona a cabeça e o universo audiófilo, pois seus produtos carecem de pequenos detalhes, mas que dizem muito para o mercado hi-end.

Vamos a esses detalhes: melhorar tomada IEC, os terminais de caixas, fusível, chaves de controle e, claro, o acabamento geral, como placa da frente, grade para proteção das válvulas (principalmente em casa que ainda tem crianças em idade pré-escolar). Fazendo esta lição de casa sem onerar demasiadamente o preço, seus produtos estão prontos para entrar no mercado e agradar uma imensa legião de apaixonados por válvulas. Pois o André realmente entende e conhece o que está fazendo!

Enquanto escrevia este teste, o André me enviou desenhos e fotos do novo monobloco e do novo pré, e fiquei surpreso como ele entendeu as dicas e já colocou em prática tudo que citei que deveria ser aprimorado.

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos: nosso sistema de referência, pré Nagra HD (leia teste 1 nesta edição), pré do próprio André (desculpe não citar o modelo, mas ele não tem ainda). Caixas: Wilson Audio Ivette e Sasha DAW, Kharma Exquisite Midi, e Rockport Avior II. Cabos de caixa: Dynamique Audio Halo 2 (leia teste 5 nesta edição), e Quintessence da Sunrise Lab. Cabos de interconexão: Dynamique Halo 2 (RCA), Sunrise Lab Quintessence (RCA), e Nordost Tyr 2 (RCA). Cabos de força: Dynamique Halo 2, Sunrise Lab Quintessence, e Transparent PowerLink MM2.

O amplificador veio para nossa sala de testes com menos de 50 horas de amaciamento. Então fizemos nossa primeira audição junto com o André e sua esposa, e à noite fiz todas as anotações de nossa primeira impressão. O AL-KTx2, possui uma assinatura sônica bastante incisiva nos médios e nas altas (foi a conclusão que anotei em minhas considerações finais deste primeiro contato).

Como estava amaciando a Sasha DAW para o teste, deixei alternando entre o power valvulado e o integrado Hegel H590. Sempre ligado ao cabo de caixa e de força Halo 2 (pois também precisavam de amaciamento). Com 150 horas o AL-KTx2 voltou para teste e aí ficou.

Sua mudança foi evidente de caráter e de pujança. Ganhou corpo, os graves se tornaram presentes e as duas pontas abriram, apresentando maior extensão e bom decaimento. Mas aquela ‘magia’ e calor sedutor dos médios são realmente sua ‘impressão sonora’. Instrumentos acústicos soam encantadores neste power e o calor e naturalidade que tanto admirei nos monoblocos M160 da ARC, também estão aqui presentes. Arriscaria dizer que este encanto seja inerente às KT150 (li em muitos fóruns internacionais esta mesma conclusão).

Toda região é palpável e de enorme luxúria! Vozes possuem aquela naturalidade e calor que nos fazem esquecer das horas passando. Com 250 horas o AL-KTx2 se estabilizou integralmente e começamos a passar todos os discos da metodologia.

Seu equilíbrio tonal é muito correto (principalmente para seu preço), com excelente extensão nas altas e muito bom decaimento. Os graves, ainda que não tenham grande impetuosidade, são autoritários o suficiente para conduzir com mão de ferro todas as caixas utilizadas no teste.

Seu soundstage, possui mais largura e altura que profundidade. Porém esta falta de maior profundidade é bem compensada com o ótimo foco e recorte. No quesito textura encontramos o ponto alto do AL-KTx2 (leia a seção Opinião desta edição em que falo de discos para avaliação de texturas), no novo CD do multi-instrumentista André Mehmari, as cordas soaram de maneira realista e com uma riqueza na paleta de cores impressionante! Os amantes deste quesito de nossa Metodologia certamente ficarão surpresos como um power nesta faixa de preço nos brinda com texturas tão maravilhosas.

Os transientes, além de precisos, possuem o tempo certo em andamento e ritmo. E a dinâmica também é muito boa, tanto na micro, quanto na macro. Achei, à princípio que a micro se sairia melhor, mas depois do amaciamento o AL-KTx2 se mostrou bastante ‘à vontade’ nas passagens mais complexas do forte para o fortíssimo. O que também é surpreendente para uma topologia a válvula, nesta sua faixa de preço!

A apresentação do corpo harmônico é bastante convincente e a coerência entre o tamanho real dos instrumentos muito boa. Ouvindo uma big band, foi excelente o corpo do flautim em relação à flauta transversal, e dos trombones em relação aos trompetes. Muitos de nossos novos leitores nos perguntam se o quesito corpo harmônico em nossa Metodologia não se trata de um ‘preciosismo’ de nossa parte? Minha resposta é que, no estágio em que os produtos Estado da Arte superlativos atingiram, o corpo harmônico faz cada vez mais sentido, pois nosso cérebro para ser ‘enganado’ e ‘sentir’ aquela reprodução eletrônica de música como um acontecimento real, precisa que a apresentação dos instrumentos seja o mais próximo possível da realidade. Do contrário, ele não relaxa e não embarca nesta ‘viagem sonora’. Principalmente os audiófilos e melômanos que têm como referência a música não amplificada ao vivo.

Aos que acham besteira ou perda de tempo ter a música ao vivo como referência, na busca de seu setup ideal, podem se contentar com um contrabaixo acústico do tamanho de um cello (se não soar mais para um violão), ou um piano de cauda soar como um piano de armário. O cérebro deles não tem a menor referência de como soa um contrabaixo tocado com arco, na primeira oitava, a dois metros de distância. Ou a sensação da pressão sonora de um sax barítono a essa mesma distância.

Se ao menos tivessem o CD Timbres, começariam a ter uma ideia do que estou falando. Então, o corpo harmônico não só ganhou notoriedade para todos que buscam reproduzir corretamente em seu sistema os oito quesitos de nossa Metodologia, como é ‘peça’ essencial para aqueles que querem a materialização do acontecimento musical à sua frente. E o AL-KTx2 passa neste quesito com méritos!

A organicidade (‘ver’ o que se escuta) não dependerá exclusivamente de um só componente. Mas com seus devidos pares e em gravações soberbas, foi possível sentir o ‘gostinho’ de estar com os músicos em nossa sala de testes.

E no quesito musicalidade (a soma de todos os 7 quesitos, mais o gosto subjetivo de cada ouvinte) o AL-KTx2 se saiu muito bem.

CONCLUSÃO

Escrevam e me cobrem: o André Luiz de Lima veio para ficar neste mercado. E afirmo essa opinião por dois motivos: talento e conhecimento. E se ele mantiver esta estratégia de desenvolver produtos com este nível de performance a baixo custo, aí não tem erro! Pois a legião de novos leitores que sonham em montar seus sistemas com orçamentos baixos é enorme!

Agora posso finalmente revelar o preço deste amplificador estéreo: R$ 15.000. Menos de 4 mil dólares, por um amplificador capaz de trabalhar com uma infinidade de caixas, bem construído e com excelente performance. E sabem o preço de seu pré-amplificador, que acabei por adquirir para uso em testes e cursos? Menos de 1000 dólares!

Sua intenção é oferecer amplificadores, DACs, prés de linha e de phono, sempre com esta filosofia: o melhor custo e performance possível.

A todos os interessados, fiquem à vontade o conheçam e desfrutem de seus projetos. Garanto que muitos de vocês finalmente farão o upgrade de suas vidas!

Só posso desejar todo o sucesso do mundo para o André Luiz de Lima.


Pontos positivos

Um surpreendente power com excelente relação custo / performance.

Pontos negativos

Detalhes pontuais que precisam ser melhorados.


ESPECIFICAÇÕES
Potência de saída2x 160 W contínuos (RMS), de 20 Hz a 20 Khz
Distorção harmônica total<1% a 160 W
1,8% a 180W
<0,04% a 1W
Resposta de frequência (-3 db) 3,5 Hz a 120 KHz (0 db)
13 Hz a 30 KHz a 1 W
Impedância de entrada47 kOhms não-balanceada
Sensibilidade de entrada1 Vrms / 24 Vrms
(72 Wrms, 8 Ohms)
Fator de amortecimento>20 (damping fator)
10 dB máx10 dB máx
Entradas2 RCA não-balanceadas
Válvulas requeridas2 pares casados de KT150, 4 ECC82, 2 ECC89
Alimentação115-135 VAC 60 Hz
210-240 VAC 60 Hz
Consumo370 W nominais, 650 W máx
Polaridade de saídanão inversora
Taps de saída8 Ohms, 4 Ohms (internos)
Dimensões48 x 38 x 25 cm
Peso 25 Kg

AMPLIFICADOR AL-KTx2
Equilíbrio Tonal 11,0
Soundstage 10,0
Textura 10,5
Transientes 10,0
Dinâmica 9,5
Corpo Harmônico 10,0
Organicidade 9,5
Musicalidade 10,5
Total 81,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
DIAMANTEREFERENCIA



André Luiz de Lima
(14) 99134.0330
andrelimarodrigues@gmail.com
R$ 15.000

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