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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

De todos os Natais que guardo na memória, o que mais me recordo é o de 1970! Para um menino de 12 anos, 1970 tinha sido um ano excepcional. A Copa do Mundo, com o Brasil se consagrando tricampeão mundial, e a autorização dos pais para nos fins de semana ficar nos bailes até às 22 horas, com luz negra, rostos colados e a sensação indescritível dos primeiros beijos de língua. O que mais um pré-adolescente poderia desejar da vida? Minha mãe sempre gostou de Presépio, e ela e um dos meus irmãos sempre se encarregaram de montá-lo religiosamente na primeira semana de dezembro. O lago com a ponte e o pescador, com o peixe já no anzol, era feito com uma tampa de bolacha Tostines. A caverna, onde ficava o menino Jesus, era feita de papel que imitava pedra. Meu irmão, que tinha excelentes dotes com papel, cartolina e cola, é que fazia toda a montanha que, depois de pronta, recebia isopor picado representando a neve. A cada novo Natal o Presépio aumentava de tamanho e a quantidade de personagens e animais quase que dobrava. Em volta do Presépio os presentes eram colocados na véspera do Natal para serem abertos à meia noite. Meu pai nessas datas mantinha-se mais presente e comunicativo. A sensação é de que ele gostava tanto do Natal como da passagem de ano.

Sempre dávamos um jeito de descobrir os presentes que ganharíamos muito antes do Natal chegar, ainda que meus pais fizessem de tudo para tentar nos despistar. Geralmente quem dava com a língua (como diria minha avó) era meu pai, pois acredito que ele ficava com pena de ver nossa enorme ansiedade. Algumas semanas antes daquele Natal, meu pai chegou uma noite em casa com uma enorme caixa branca. Todos correram para ver o que se escondia naquela embalagem, que pelo suor em seu rosto e sua respiração ofegante, pesava bem mais de 30 kg! Enquanto ele pedia ajuda ao meu irmão mais velho para abrir a embalagem, toda a família se reuniu em volta do pacote como mariposas ao redor da lâmpada. Quando o objeto saiu da embalagem, pensei se tratar de um rádio gigante envolto em um gabinete de madeira. Com muito cuidado, ele colocou o produto na estante em que ficava o sistema de som, abriu a tampa de madeira e pude ver o mais estranho e enigmático produto de áudio. Na parte de cima havia um espaço para a colocação de um carretel de rolo, que passava por uma parte lacrada preta, onde logo abaixo possuía uma gaveta que abria para a colocação de uma fita cassete e, na sua lateral direita, outro buraco para a colocação de cartuchos. Na parte frontal, embaixo, havia dois pequenos VUs e potenciômetros de volume e balanço. Algo absolutamente inusitado para um garoto de 12 anos que já tinha certa familiaridade com gravadores de rolo (pois em casa já havia um gravador da Grundig com câmera de eco, que eu e meu irmão mais velho adorávamos brincar, gravando nossa voz) e gravador cassete, já que tínhamos dois da TEAC e cartucheiras, que meu pai tinha instalado em seu carro. Mas tudo em um só gabinete era a primeira vez! E para aumentar ainda mais o impacto, o produto possuía dois alto-falantes laterais, não precisando nem ser ligado ao amplificador e às caixas!

Jamais esquecerei a felicidade do meu pai ao apresentar o Akai X2000 SD para a família e mostrar todos os recursos que aquele produto que acabara de ser lançado no Japão possuía, como o de fazer cópias em alta velocidade do gravador de rolo para o cassete, ou o cartucho. O Akai X2000 SD simplesmente eclipsou aquele Natal. A cada nova descoberta dos recursos que o meu pai fazia, a alegria era compartilhada com toda a família. Foi com esse produto que a minha paixão por gravar compilações para os amigos e as namoradas começou. Ainda que na atualidade não possua nenhum gravador de rolo ou cassete, mantenho guardado até hoje mais de 300 cassetes e uns 40 rolos! Lá se encontra as ‘trilhas sonoras’ de minha infância e juventude e também parte do acervo musical do meu pai, que montava suas seleções de vozes masculinas e femininas que escutávamos todas as noites e nos fins de semana. Os hábitos da família Andrette, a partir da chegada naquele Natal do Akai X2000 SD, mudaram para sempre, pois meu pai estimulava fazermos compilações de nossos discos preferidos e, uma vez por mês, fazíamos audições noturnas compartilhando nosso gosto musical com todos. Essas reuniões sonoras familiares se estenderam até os meus dezoito anos, e quando dezembro aponta no horizonte, eu inevitavelmente me recordo que houve um Natal que me marcou para sempre.

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