Teste 5: CABOS DYNAMIQUE AUDIO HALO 2
novembro 15, 2019
Teste 4: AMPLIFICADOR AL-KTX2
novembro 15, 2019
DAC dCS ROSSINI
Fernando Andrette

Foi uma grata surpresa poder por quatro semanas, desfrutar da companhia do DAC Rossini da dCS, no momento em que também chegavam para serem amaciados os monoblocos da Audio Research: os imponentes M160. Receber, ao mesmo tempo, ‘iguarias’ tão refinadas, em tempos ainda de ‘vacas magras’, é para realmente serem apreciadas em toda sua totalidade.

Como me preocupo com a enorme legião de novos leitores (que não para de crescer a cada mês), sugiro que leiam também o Teste do CD-Player Rossini, publicado na edição Melhores do Ano 2016 (edição 226).

A linha Rossini agora é composta do CD-Player, do DAC/Clock, e de um Transporte oferecendo ao usuário a escolha de ficar com o CD-Player ou optar por Transporte e Conversor separados. No teste do CD-Player Rossini, escrevi que ele possuía o mesmo ‘DNA’ do top de linha da empresa, o sistema Vivaldi. Para que o amigo leitor entenda o que eu quis dizer, terei que voltar um pouco no tempo e detalhar a assinatura sônica do sistema Scarlatti em relação ao sistema Vivaldi, para que não paire dúvida em relação às minhas observações.

Utilizo, em nosso sistema de referência, produtos da dCS desde 2004. Minha primeira aquisição foi o CD-Player Puccini, depois realizei o primeiro upgrade com a aquisição de seu clock externo. Tive por um curto período os Paganinis, para depois saltar para o sistema Scarlatti, no qual estou até hoje (já são quase 7 anos… como o tempo voa!). Diria, sem pestanejar, que o Scarlatti foi por muito tempo a obra prima da dCS, até que seus engenheiros subiram mais alguns degraus com seu DAC Ring proprietário, e criaram o sistema Vivaldi.

Convivendo por tantos anos com os produtos dCS, e sabendo das diferenças significativas, mas, ainda pontuais, entre o Paganini e o Scarlatti, cheguei a duvidar o que os reviews internacionais citavam em um teste AxB entre Scarlatti e Vivaldi. Achei sinceramente que, talvez, houvesse um pouco de ‘empolgação’ pela beleza do design e do acabamento estonteantes do Vivaldi, e que a beleza estivesse ‘contaminando’ as observações auditivas!

Ledo engano. Ao ficar uma semana com o sistema Vivaldi em nossa sala de testes (gentileza de um amigo/leitor que estava em processo de acabamento em sua sala dedicada), vi e ouvi que as diferenças entre a nossa referência digital e o Vivaldi eram significativas! Mas, o que mais me encantou foi exatamente o grau de naturalidade e folga com que o Vivaldi resolve todas as macro-dinâmicas.

Gravações em que o meu Scarlatti quase dobra os joelhos e joga a toalha, o Vivaldi resolve com um sorriso no rosto. Com tamanho conforto auditivo, você pode literalmente escutar (se seu sistema permitir) as gravações no limite de volume em que foram mixadas. E esta possibilidade, depois do vigésimo disco, se torna simplesmente um vício em que você não quer mais abrir mão.

Resignado, após uma semana em que escutei mais de 300 discos, entreguei o equipamento a quem de direito pertencia e passei quase uma semana só escutando analógico, para não me frustrar com a vertiginosa queda que seria voltar ao meu Scarlatti.

Assim, como dizem que o que não se vê o coração não sente, as obrigações em testar os produtos que chegam a toda semana, me fizeram ligar meu sistema digital de referência e voltar a vida normal. Mas, sempre com aquela ideia fixa na cabeça: “a dCS não poderia utilizar um pouco de todos os filtros personalizados, algoritmos de mapeamento personalizados selecionáveis, e suas constantes atualizações de software e firmware, e criar um sistema mais acessível? Então imagine minha alegria quando recebi para teste o CD-Player Rossini!

Ainda que, na época, estivesse atolado de testes e com o fechamento da edição melhores do ano, abri o Rossini assim que a transportadora chegou e liguei-o imediatamente. Parecia uma criança ao abrir na noite de natal seu presente desejado por 11 meses! Minhas observações estão lá para quem desejar ler.

Gostei muito do Rossini, percebi a mesma folga que tanto admirei no sistema Vivaldi, porém (sempre um, porém), a energia distribuída com enorme autoridade nas passagens macro dinâmicas não estava lá! Perdendo até para o Scarlatti neste quesito. Fiquei por semanas pensando a respeito, e minha conclusão é que o pacote só poderia ser entregue em um sistema Rossini e não em um CD-Player.

Como gosto de acompanhar tudo que a imprensa internacional solta, li que o clock externo do CD-Player Rossini fez maravilhas justamente aonde achei que o CD Rossini ficou aquém do Scarlatti. Melhor silêncio de fundo, maior micro-dinâmica e mais degraus entre o forte e o fortíssimo. Uma luz novamente se acendeu em minha mente: e se…

E, finalmente, parte dessas elucubrações foram desvendadas, agora que tive a oportunidade de receber o DAC Rossini para teste. Com a última atualização, 2.0, do meu sistema Scarlatti, no modo dual AES/EBU pude usufruir no DAC Rossini de pegar o sinal PCM e transformar em DSD. E também pude utilizar o DAC Rossini ligado ao transporte Scarlatti e o clock Scarlatti, e comparar com o DAC Scarlatti por quatro semanas, e tirar todas as dúvidas e obter as respostas que aguardo a tanto tempo.

Mas, antes, vamos a uma descrição do que o DAC Rossini permite. O Rossini possui seis filtros PCM dCS, um filtro MQA e quatro filtros DSD – tudo projetado pela própria dCS. O filtro dCS M1 MQA, segundo o fabricante, atende integralmente todos os 16 coeficientes de filtro MQA possíveis, sem ter adaptação para compensar limitações ou erros do conversor D/A.

Ainda segundo os engenheiros da dCS, há dois aspectos na implementação MQA do dCS que são diferentes dos outros fabricantes. Se a codificação do MQA estiver ativada, todo o áudio passa pelo filtro MQA. No Rossini todos os outros dispositivos dCS (o DAC ou o streamer) determinam se uma música codificada com MQA está sendo reproduzida antes de aplicar o filtro.

Os engenheiros depois de longos testes auditivos, optaram por dar ao usuário do Rossini a possibilidade de selecionar filtros tradicionais da dCS quando ouvindo material MQA, dando ao usuário flexibilidade na escolha de qual filtro usar.

Os controles e todos os recursos do Rossini (incluindo a seleção de filtros) pode ser feito através de aplicativos dCS iOS, e este aplicativo permite que o usuário reproduza músicas de um servidor UPnP/DLNA, do Tidal ou mesmo de um pendrive conectado diretamente ao Rossini. E, para os que desejam total flexibilização, também é possível a reprodução via AirPlay e de Spotify.

As saídas analógicas do Rossini podem ser configuradas em 2V ou 6V. Eu sempre usei 6V em todos os meus dCS.

Para o teste ouvimos o transporte Scarlatti ligado em dual AES/EBU com os cabos digitais Transparent Audio Reference XL, e em uma entrada AES/EBU ligado pelo nosso cabo de referência Crystal Cable Absolute Dream.

O Heber me fez a s honras de apresentar o DAC Rossini no showroom da Ferrari tocando streaming, e foi uma das poucas vezes que comprei a ideia de até em um futuro (espero longínquo), ouvir música nesta plataforma. Claro que a praticidade é um gol de placa, afinal ter toda sua discoteca à mão, a um toque, tem um ar mágico. Mas eu sou de uma geração analógica que, a cada 20 minutos, sempre teve que se levantar para trocar o disco ou virá-lo de lado. Então levantar para trocar de CD, após uma hora de audição (ou quase isto), me parece extremamente bom para a saúde!

Os DACs melhoraram muito, certamente. A qualidade do download de alta resolução que podemos comprar também é uma mão na roda, e o Rossini se mostrou pronto a esta nova era com todo tipo de entrada digital, para atender a todas estas novas plataformas.

No entanto, meu amigo, se você ouvir um CD em Dual AES/EBU neste Rossini, o senhor entenderá onde se encontra a mais bela resolução possível de uma mídia que parece estar também em extinção! A possibilidade de você extrair o sumo do sumo de seus CDs favoritos nesta máquina é de nos fazer soltar aquele suspiro de integral satisfação e reconhecimento daquilo que os discos PCM 16/44 escondiam em suas entranhas. Falo de maior espacialidade entre os instrumentos, holografia 3D, silêncio de fundo e, principalmente, naturalidade dos timbres e vozes, e musicalidade.

É como viajar para o futuro mantendo-se no presente, apenas sua audição e seu cérebro viajam, para descobrir que todos seus CDs tinham algo a ser ouvido, tinham respostas a muitas passagens que soavam opacas ou com baixa inteligibilidade. A beleza e magia do Vivaldi se fazem presentes no DAC Rossini muito mais que no CD-Player Rossini, dando a possibilidade do consumidor ter muitas das características do Vivaldi em um pacote mais realista e condizente com nossa realidade.

DAC Scarlatti x DAC Rossini

Com a atualização 2.0 também do meu DAC, a comparação ficou muito mais honesta e verossímil em termos de observações.

A sensação, depois de uma semana inteira debruçado neste comparativo, deixou claro que a evolução alcançada pela dCS refinou a assinatura sônica desta nova geração a tal ponto que determinados quesitos ficam difíceis de serem comparados. Ainda que estejamos escutando pequenos grupos com sutis variações dinâmicas, no DAC Rossini a música sempre soa de forma mais organizada entre as caixas, com mais planos, mais silêncio entre os instrumentos e entre as notas, possibilitando um grau de imersão e inteligibilidade muito maiores.

O DAC Scarlatti, ainda (na minha opinião) só ganha no item microdinâmica. E mesmo assim em gravações de muita excelência técnica. O Scarlatti parece sempre à postos, para não vacilar quando for preciso. Nunca relaxa totalmente. Já o Rossini é o oposto: está sempre tranquilo, só colocando as garras de fora quando exigido.

Para quem sempre reclamou do ‘som digital’, esta ‘fórmula’ de inteligibilidade com total folga e naturalidade, põe por terra esta questão em definitivo.

Outra grande diferença entre os DACs foi o corpo harmônico, e a qualidade do foco e recorte dos instrumentos solistas. Neste quesito encontra-se a prova da grande evolução desta nova geração, em mostrar os instrumentos (quando corretamente captados) em seu tamanho real, com total precisão de espaço. A música se materializa à nossa frente, sem esforço e sem a sensação de reprodução eletrônica.

Outro grande avanço é que podemos, na calada da noite, escutar nossos discos em volumes realmente reduzidos sem perder o prazer e o perfeito equilíbrio tonal. Tudo estará exatamente no lugar, esteja em volume moderado ou no volume próximo da gravação.

E, por fim, a musicalidade do DAC Rossini é mais envolvente, quente, sedutora que no DAC Scarlatti, nos fazendo imediatamente lembrar do sistema Vivaldi.

CONCLUSÃO

O avanço no digital é cada vez maior e mais preciso. Lamento apenas que, justamente agora em que o digital atinge sua maturidade, as mídias físicas estejam a desaparecer. Me desculpem todos os que defendem as mídias virtuais, mas a comparação ainda não é possível – a diferença ainda é totalmente audível em um sistema digital deste nível.

E para os que desejam um sistema Estado de Arte deste nível, subjugar ou abandonar a mídia física será um erro tão grande quanto ter vendido sua coleção de LPs a preço de banana!

O DAC Rossini pertence a esta seleta geração de digitais que atingiram um grau de refinamento que permite a todos os apaixonados por música desfrutarem de seus discos com um prazer inimaginável cinco anos atrás!

Se este é seu objetivo, amigo leitor, de chegar ao nirvana sonoro, e redescobrir todos os seus CDs, sem nenhuma exceção, ouça o sistema digital com o DAC Rossini em sua sala e descubra o que significa a plenitude em inteligibilidade e a ausência total de fadiga auditiva!

E para aqueles que já estão na nova onda de streamer, um produto que atende a todos os seus anseios com enorme competência e qualidade sonora.

Nota: 100,0
AVMAG #250
Ferrari Technologies
(11) 5102.2902
US$ 57.000




SISTEMA DIGITAL MSB SELECT DAC
Fernando Andrette

Muitas vezes achamos que receber um produto de alto nível será uma das experiências mais prazerosas que um articulista pode desejar. Mas, o que ocorre se o produto em questão reposiciona todo seu padrão de referência que você tinha até aquele momento? Como enquadrar esta experiência sensorial auditiva dentro dos parâmetros de escrita utilizados mensalmente para descrever aos nossos leitores o que observamos? Felizmente, esses produtos são raríssimos, pois do contrário faltariam palavras e adjetivos muito rapidamente.

Não é fácil sair da zona de conforto e ser arremessado à uma situação que exige um reposicionamento e uma releitura de todos os signos e fórmulas utilizados para se comunicar. E nem mesmo uma metodologia consistente lhe traz segurança, ou serve de base para descrever com precisão as observações e sensações que aquele determinado produto proporcionou.

Diz um ditado popular que “Deus dá o frio conforme o cobertor”. Se for fato, oxalá esses meus 30 anos de articulista ajudem a tentar, nas próximas linhas, descrever o que o MSB Select tem de tão diferente em relação a todos os DACs por nós testados nos 23 anos da revista.

Eu tive, no início do século, um DAC da MSB que me serviu por três anos, em substituição ao meu velho Pink Triangle, que foi minha referência digital por quase uma década. Voltar no tempo fatalmente impele a lembrar o quanto o digital no final do século passado e início deste século ainda era torto! Sei que isso fere a todos que abraçaram o Compact Disc desde seu lançamento, mas desculpem-me os que assim pensam. pois o CD-Player nasceu torto e permaneceu torto por quase duas décadas e meia. E bastava um comparativo honesto e bem feito com um setup analógico para se mostrar todos os problemas que o CD carregava no seu âmago!

Corpo pequeno de todos os instrumentos, agudos incorretos, duros e com baixíssima extensão, naipes que pareciam ser constituídos de apenas dois instrumentos e graves que soavam sempre idênticos. Aqui estou falando dos primórdios, nos anos 80.

Nos anos 90, finalmente, os fabricantes de equipamentos hi-end se deram conta dos inúmeros problemas, e várias frentes foram abertas na tentativa de correção, afinal o estrago já estava feito e os discos de vinil, haviam evaporados das lojas de discos.

Na virada do século vieram os primeiros acertos, com timbres mais naturais, naipes de melhor corpo e graves com maior precisão, velocidade e corpo. Muitos fabricantes se destacaram neste esforço coletivo e citar a lista de contribuições se estenderia por mais de uma página, então não irei perder tempo com esta lista, pois posso deixar alguma empresa fora dela, o que seria deselegante. Mas estes fabricantes que conseguiram avanços consistentes são os que hoje ainda permanecem no mercado e se destacam ou no pelotão da frente ou no que vem logo abaixo.

Agora que praticamente estamos no final da segunda década do século XXI, vivemos mais um momento de transição entre a mídia física (CD e SACD) para a mídia virtual e, novamente, nos debatemos em que situação extraímos o melhor do que ouvimos. Interessante que o debate sempre foca no atual versus o novo. E, como sempre tendemos a achar que o novo sempre será melhor que o atual. Mesmo que no hi-end esta aposta se mostre sempre muito duvidosa. Já escrevi a respeito desta questão (streamer versus mídia física) na seção Opinião no mês passado, e volto aqui ao assunto.

O Streamer não levará duas décadas para se ajustar e atingir o nível que a mídia física atingiu – acho que no máximo em cinco anos estará substituindo com louvor a mídia física. Mas no momento a diferença ainda é grande e audível.

Antes que o querido amigo Christian Pruks berre, lá de Campos do Jordão, comigo, devo dizer que estamos falando de uma comparação entre mídia física versus streaming em um setup Estado da Arte.

Pois em setups Diamante (dentro de nossa metodologia) o streamer já bate tranquilamente a mídia física em termos de performance, além da praticidade. E quando comparamos as duas mídias em equipamentos como os dCS Scarlatti, Rossini e Vivaldi, ou este MSB Select, as diferenças ficam tão evidentes que abrir mão de suas CDtecas para ter tudo nas nuvens, é como comprar uma Ferrari para andar em ruas de paralelepípedo!

Nos últimos quatro meses tive a oportunidade de fazer este teste nestes quatro modelos aqui citados, e ainda que o Select e o Vivaldi sejam de um outro universo paralelo, o Scarlatti e o Rossini mostram com todas as letras as limitações do Streaming.

Vamos a elas: um palco sempre menor e nunca com a mesma sensação 3D. Corpo dos instrumentos sempre menores que na mídia física, transientes com menor precisão cirúrgica, naipes que parecem sempre terem menos instrumentos e um silêncio de fundo que torna a reprodução sempre mais para o analítico que o musical, sempre!

Para o teste, comparamos dois CDs de cada um dos quesitos da metodologia, e em nenhum o streaming sequer (nesses quatro setups) chegou perto. Mas então a pergunta que se faz é: como não percebemos essas limitações e nos empolgamos tanto com o streamer?

Tudo é uma questão de ter Referência: se não temos algo mais preciso e correto para comparar, nos acostumamos rapidamente com o que parece correto. E, claro, o apelo mais sedutor de todos: praticidade. Ter tudo à mão na tela do tablet à um toque, depois de um dia estressante, é uma vantagem e tanto. A forma com que se vendeu o CD-Player também foi semelhante: nada de ter que levantar 4 vezes para ouvir a Nona Sinfonia de Beethoven! Tudo à mão a um simples toque! Os futuristas de plantão já cantam vitória nos dizendo que a mídia física está com seus dias contados!

E os realistas como eu, sabem que não será assim. O CD-Player, assim como o vinil, permanecerá por muitos anos, mas será um nicho específico, como é hoje o vinil. Então, meus amigos, haverá fabricantes de CD-Players e transportes por pelo menos mais duas décadas, podem apostar!

E haverá fabricantes como Meridian, dCS, MSB, CH Precision, Soulution, Nagra, Audio Research e mais três dúzias de fabricantes de hi-end que disponibilizarão produtos para os que não abandonaram mídia física.

Para o teste do Select DAC da MSB, disponibilizamos de apenas três semanas, pois o produto nos foi gentilmente cedido pelo feliz leitor que, gentilmente, nos emprestou por este período, já que ele estaria viajando a negócios nessas três semanas. E, claro, graças à ajuda do Fábio Storelli da German Audio, que se deslocou dos Estados Unidos (onde ele mora atualmente), para instalar e dar todo o apoio técnico e logístico para o teste.

Ainda que o tempo tenha sido suficiente, tenho que expor minha opinião de que não considerei o teste feito de uma maneira completa. Já que o leitor que adquiriu essa oitava maravilha só comprou, no momento, o DAC com o clock e a fonte. Deixando provavelmente o Transporte e a fonte separada do Transporte para outro momento.

Então, o teste foi feito com o transporte Scarlatti da dCS acoplado ao clock da MSB. Os cabos digitais foram o AES/EBU Reference XL da Transparent, assim como o cabo de clock entre o Scarlatti e o MSB. Cabos de força, todos Transparent PowerLink MM2, e cabo de interconexão do DAC para o nosso pré de linha, Sax Soul Ágata 2 e Transparent Opus G5. Todo o resto do sistema foi nosso setup de referência.

O Select é o DAC top de linha da MSB, e é completo. Ele é constituído de três fontes de alimentação, DAC/Clock e Transporte. O usuário pode optar por comprar apenas o Clock, sem pré-amplificação, com uma fonte apenas, três versões de clock, e escolha de entradas e saídas de acordo com sua necessidade. O incrível é que a substituição de módulos ou qualquer upgrade podem ser feito pelo próprio usuário! Já que não precisa abrir o equipamento: tudo é feito pelas costas do DAC, em módulos que se encaixam perfeitamente, e não requer habilidade ou tão pouco experiência.

As peças são todas usinadas em um único bloco e o MSB é de longe o digital mais bonito que já vi em termos de design, sendo uma peça realmente digna do século XXI!

O MSB não faz upsampler, ele toca o sinal nativo e para isso seus engenheiros desenvolveram oito DACs híbridos para a reprodução de PCM e DSD nativo. O display é amplo, com boa visibilidade, mesmo a 10 metros de distância.

O botão que seleciona entrada e volume é colocado na base de cima, na parte frontal, fácil de manusear, e é um dos acionamentos mais suaves que testei. Os detalhes deste Select foram levados ao requinte do perfeccionismo. Para reduzir o nível de ruído, a fonte de energia foi separada uma somente para o DAC e outra para todo o processamento analógico. Esta preocupação se traduz no silêncio de fundo que este DAC proporciona, que descreveremos mais adiante. Por ser totalmente modular, a MSB garante que o Select não será nunca obsoleto, pois os avanços tecnológicos alcançados serão apresentados em novos módulos, possibilitando ao consumidor sempre realizar todos os mais recentes upgrades, por uma fração do preço do equipamento.

Para os amantes de streaming, a MSB desenvolveu o Pro USB, que oferece isolamento elétrico completo. Segundo o fabricante, as especificações são: até 32-bit/768 kHz, decodificação MQA, até 8x DSD e transmissão sem perda até 1KM.

O Pro USB é um adaptador USB para ProISL, que permite ao seu computador ou servidor, ligado ao Select via USB, seja sincronizado com o clock interno do Select.

Outra característica divulgada com bastante ênfase pelo fabricante é a tecnologia MSB Renderer, que utiliza um hardware interno que executa um processador A5 de baixíssimo ruído para reprodução de áudio padrão hi-end. Com as seguintes especificações: até 32-bit/768 kHz, decodificação MQA, Roon, até 4x DSD, protocolo UPnP e protocolo DLNA.

Para os audiófilos que desejam abrir mão do uso de um pré-amplificador de linha, o Select oferece um atenuador que fornece uma saída constante de baixa impedância sem nenhum circuito ativo (sem transistores, buffers ou amplificadores operacionais). Isso permite (segundo o fabricante) uma notável qualidade de áudio.

A usinagem, toda feita em CNC, utiliza uma placa de 39 kg, é feita na própria fábrica da MSB. São oito horas de usinagem, sendo 85% do alumínio removido, resultando em um produto acabado de 7,7 kg.

O fabricante especifica pelo menos 200 horas de queima. Mas diria que ainda que haja melhoras significativas em todo o espectro audível após este amaciamento, vale a pena uma audição mesmo com o Select frio, para o usuário ter uma vaga ideia do pedigree do conversor. Fizemos uma primeira impressão, para nossas anotações iniciais de praxe, que duraram para lá do habitual: 8 horas ininterruptas. Ainda que você diga a si mesmo: “Ok, estou tendo a oportunidade de testar um equipamento de nível superlativo” e se prepare para aquele histórico momento, o impacto irá te surpreender! Não tem jeito, não há como se salvaguardar de surpresas, pois trata-se de um produto que está reescrevendo a história do áudio digital com letras maiúsculas.

Então haverá um choque, e ele será catastrófico para as suas pretensões de voltar, depois, para o seu setup de referência digital, como se tudo não tivesse passado de uma inesquecível férias de verão! Este é o lado amargo da vida de articulista, o choque de realidades entre o que você pode ter e o que existe de melhor no mercado.

Já havia vivido este choque recentemente, com o teste do CH Precision, e agora ainda mal recuperado do primeiro ‘tsunami’, eis que uma onda ainda mais forte me pegou novamente. A primeira questão que nos vem à mente, assim que colocamos o primeiro disco é: “onde está aquele grau de complexidade que o seus setup quase dobrava as pernas para reproduzir no fortíssimo?”. Ou: “como este sax alto estava aí tão evidente e eu nunca tinha escutado?”. E, pior: “então a cantora não balbuciou algo inaudível, na verdade ela deu foi um rápido suspiro!!!!!”. Assim começa esta odisséia sonora do nosso mundo real, para um mundo totalmente desconhecido em matéria de detalhes, complexidade e maneira de resolver problemas e de desfazer nós.

Bem vindo ao mundo do Select DAC!

Quando digo nos Cursos de Percepção Auditiva que, quanto mais no topo, mais os detalhes se tornam cruciais, sempre existe aquele que imagina ser possível burlar esta verdade economizando no cabo ou no power ou, até, acreditando que o equipamento irá vencer as limitações acústicas e elétricas do sistema. Meu amigo, neste patamar não existe nenhum tipo de concessão. Ou tudo está correto, ou nada soará como deve e pode.

À medida que o Select foi amaciando, novas virtudes se juntaram às da primeira audição. A naturalidade dos instrumentos vai muito além da qualidade tímbrica e de fabricação – você observa desde a escolha do microfone (se foi certa ou errada), o posicionamento do microfone em relação ao instrumento, a técnica do músico e seu grau de virtuosidade (ou não) e, o mais legal: a qualidade estético/musical do engenheiro de gravação no momento da mixagem e masterização! Pois o silêncio de fundo é tão impressionante que até as informações mais submersas e sutis, que se escondem na esmagadora maioria dos setups digitais, no Select emergem. Isso proporciona ao ouvinte um prazer em compreender as virtudes dos músicos, como se fossemos testemunhas oculares do acontecido.

Mas, o pulo do gato não está no silêncio, e sim no equilíbrio entre realismo, naturalidade e silêncio. Tenho falado repetidamente da questão dos equipamentos que possuem folga para nos permitir ouvir passagens com grandes variações dinâmicas com total conforto e inteligibilidade. Inúmeros produtos atingiram esta façanha tão desejada há tanto tempo. O MSB vai um degrau acima, ao permitir todo este conforto com uma capacidade de distribuir esta energia dinâmica por toda a sala de forma tridimensional. Lembrou-me muito as audições na Sala São Paulo em apresentações com grande variação dinâmica, como o último movimento da Nona Sinfonia de Beethoven com coral e orquestra, ou a Sinfonia Fantástica de Berlioz. O Select faz uma distribuição 3D dessas obras, com enorme maestria e precisão, deixando o ouvinte num misto de espanto e surpresa absoluto. Pois esta experiência certamente ele nunca vivenciou em sua sala!

Ouvindo a Sinfonia Fantástica, o quarto e quinto movimentos, minha sala cresceu de tamanho, com os planos se alargando tanto em profundidade como em largura. Deixando os solistas com maior folga e silêncio à sua volta e um grau de inteligibilidade e corpo dos naipes, jamais antes escutado!

Pensei que este efeito fosse apenas com uma ou outra gravação mais bem produzida. Ledo engano, pois à medida que o amaciamento foi se aproximando das 200 horas, este efeito ‘fermento’ foi se tornando ainda mais prazeroso, mesmo em gravações tecnicamente mais comprimidas. E mesmo aquelas bidimensionais, em que os músicos parecem estar enfileirados para cantar o Hino Nacional, o silêncio em volta do solista se tornou evidente.

Este grau de preciosismo tem seu lado subjetivo (o emocional) e um mais evidente ainda: o objetivo.

Pois qualquer um que tenha seus discos de cabeceira, ao fazer um upgrade, percebe exatamente onde estão as melhorias e se elas são significativas para validar a escolha.

E, no Select, este lado objetivo é tão significativo e consistente que, a cada subida de degrau, ao olhar para trás a pergunta fatal é: como voltar atrás depois de viver esta experiência sonora? Tentando esquecer este dilema, coloquei na minha cabeça que o certo era viver essas três semanas intensamente e, depois, me adaptar novamente à realidade. E assim o fiz.

As noites se tornaram curtas e os dias foram utilizados da forma mais objetiva, tentando aliar revista, filhos, casa, cachorros, compromissos e as audições noturnas regadas aos melhores discos e às melhores performances possíveis.

Separei as três melhores gravações da Nona de Beethoven que possuo, as duas do Concerto para Violino e Orquestra de Tchaikovsky, e assim por diante. E deixei para ouvir todos os 100 discos da metodologia, apenas na última semana. Afinal, não poderia perder de forma alguma a possibilidade de ouvir meus discos de cabeceira, que me são tão caros, em um setup como o Select.

As lágrimas me vieram à face diversas vezes, os pelos do braços se arrepiaram dezenas e mais dezenas de vezes, e aquele suspiro de júbilo e incredulidade também! Em um determinado momento, já com data e horário para entregar este Select ao seu dono de direito, me perguntei como definir este tão espetacular DAC?

Ouvindo pela segunda vez Dindi, com André Mehmari, no disco lançado por nós na Cavi Records, me veio a resposta: Assombroso! Muitos podem achar que este termo tenha uma conotação pejorativa, pois talvez o associem com algo assustador ou horripilante. Mas, a sensação a cada audição feita neste Select foi de estarmos escutando algo impressionante, que foge do lugar comum, da zona de conforto, do habitual, ainda que seja correto e prazeroso.

Não se fica imune a um produto com tantas virtudes e todas em seu devido lugar e proporção. Nada se sobressai, nada faz sombra a outra parte também importante e, consequentemente, quem se beneficia é o ouvinte que vivencia de forma integral uma experiência auditiva de reprodução inigualável! Que, se não é fidedigna à experiência de uma audição ao vivo, tem o benefício de poder ser repetida infinitas vezes sem os ruídos de pessoas falando, celulares tocando, etc, etc… E está muito mais próxima de estarmos a metros dos músicos na sala de gravação como jamais estivemos.

Então, classificar esta experiência auditiva é uma das tarefas mais difíceis para qualquer articulista. Pois, por mais que tentemos, faltará algo que possa ser expresso de forma objetiva.

CONCLUSÃO

Ainda que não tenhamos feito este teste com um setup completo MSB, as diferenças entre nosso sistema de referência e o Select com sua fonte, foram enormes. Ter a possibilidade de algum dia repetir este teste com os quatro módulos é praticamente impossível.

Então, para ser justo tanto com a Metodologia, quanto com você leitor, deixo aqui registrado que potencialmente a nota do setup Select com seu Transporte e suas duas fontes separadas possa tranquilamente ampliar sua pontuação atual para mais três a quatro pontos. E o fechamento da nota para este teste, com o nosso transporte dCS Scarlatti, é uma nota parcial.

Para quem tem posses, e objetiva ter a referência das referências, ouvir o Select da MSB é uma das experiências mais gratificantes que se pode realizar, pois a forma com que ele reproduz a música nos faz ter a certeza que toda a nossa busca por anos a fios realmente encontrou seu porto seguro!

Nota: 106,0
AVMAG #252
German Audio
contato@germanaudio.com.br
Preço nos EUA: US$105.000
Preço no Brasil: sob consulta
(acompanha fonte e o clock Femto33)

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