Teste 3: Player de Rede dCS Network Bridge

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Juan Lourenço
revista@clubedoaudio.com.br

Na batalha dos transportes digitais, o CD-Player reinou absoluto por mais de uma década, depois vieram os computadores adaptados para áudio com arquivos ‘ripados’ de CD, geralmente em WAV e/ou compactados em FLAC e armazenados no disco rígido.

Logo ficou claro que os computadores adaptados para tocar em sistemas de alto nível não dariam conta do recado afinal. O PC ou notebook é uma ferramenta multiuso que serve para muitas coisas, inclusive para rodar música. E o maior entrave reside no que é mais importante para a maioria dos consumidores deste tipo de equipamento: maior capacidade de memória e velocidade de processamento capaz de renderizar dados em programas pesados como CAD e softwares de edição e jogos. Todo este poder de fogo seria uma benção para as aplicações audiófilas, se não viesse acompanhado de uma tonelada de ruído e calor que fatalmente terá de ser resfriado com ventoinhas e coolers, gerando ainda mais ruído – o mercado de computadores não vive de audiófilos.

Na outra ponta deste mercado de computadores está o Media Server, um produto realmente dedicado ao áudio que, nas mãos de bons projetistas, passou a preencher este abismo Laurenciano entre o CD-Player e o computador com extrema competência.

Então, uma parte das empresas de áudio hi-end voltou-se para o streaming de música, uma tecnologia nova que se deu muito bem por conta dos aparelhos smartphones. Deste mercado de Media Server surgiu o player de rede, um produto mais específico, dedicado ao streaming de música via rede Ethernet.

É curioso pensar que, quem colocou os players de rede no radar audiófilo tenha sido a Linn, uma empresa super conceituada no mercado hi-end que tem, entre outras coisas, uma legião de fãs por conta de seus toca-discos de vinil. Em 2007, a Linn lançou o revolucionário Klimax DS, o primeiro player streaming realmente sério deste novo segmento, dando aos consumidores deste nicho recém nascido um fôlego de esperança de que, um dia, poderiam finalmente aposentar o compact disc.

De lá para cá as vendas deste tipo de player só cresceram – hoje em dia quase todas as empresas de áudio hi-end têm pelo menos um aparelho deste em seu portfólio, seja na figura de um Media Server dedicado, ou incorporado em algum outro produto de sua linha.

A dCS é referência em transporte digital desde sempre. Suas máquinas são utilizadas em estúdios de gravação por todo o mundo. No áudio doméstico é considerada por muitos o supra-sumo da audiofilia moderna. Quando a dCS apresentou o Network Bridge em 2017, tomou o mercado de assalto, pois daquela plataforma que estampa o logo dCS jamais poderia sair um produto que não fosse Estado da Arte e, novamente, as esperanças seriam renovadas!

O dCS Network Bridge é um player de rede construído em um gabinete de alumínio aeroespacial usinado em torno CNC. Em termos de beleza, ele não é bonito como a linha Rossini nem é maravilhoso como a linha Vivaldi. Talvez por ele ser um produto feito para se ‘encaixar’ em qualquer sistema dCS ou de outras marcas, preferiram deixá-lo com um visual neutro, o que acabou por torná-lo sisudo e apagado, pois seu painel frontal é apenas um painel frontal, liso e sem qualquer curva. Tal sisudez é amenizada apenas por um LED azul que indica se está ligado ou não. O logo dCS fica no tampo superior do aparelho.

Com o Network Bridge é possível executar arquivos de música via internet dos principais serviços de streaming de música: Tidal, Spotify e outros, além de já estar preparado para Roon Player e de reproduzir arquivos de música direto de um disco rígido externo, pendrive, ou ligado em um NAS.

No painel traseiro, há duas saídas AES/EBU, e com elas o proprietário de um DAC e/ou upsampler dCS, pode usufruir da ligação DUAL AES que permite ao Network Bridge rodar arquivos DSD nativamente transportando o sinal em separado duplo mono até o DAC ou upsampler. Este é um recurso exclusivo da dCS e, sem dúvida, traz um benefício e tanto na otimização do sinal de áudio. Para quem utiliza DAC ou upsampler de outras marcas, apenas uma das saídas AES/EBU conduzirá o sinal até se destino. Tudo isto porque a proprietária da plataforma DSD não permite a manipulação do sinal em equipamentos que possuam dois ou mais gabinetes separados. É muito comum ver proprietários de CD/SACD-Players acostumados a ouvir seus SACD nativamente, comprar um DAC externo com resolução DSD e se frustrar ao tentar ouvir seus discos SACD, pois nesta configuração o player só permitirá ler a camada PCM da mídia física. Não se desespere, saiba que não é defeito do player ou do DAC, é apenas uma proteção da tecnologia imposta por quem detém seus direitos.

Continuando… Além da saída AES/EBU, ele possui três saídas S/PDIF, sendo uma coaxial. Entrada Ethernet, AirPlay e USB 2.0, duas entradas BNC SDIF, e uma terceira saída de word clock BNC. Sua antena interna foi projetada para controle por aplicativos e eventual uso de Wi-Fi. Não aconselho utilizar wi-fi por que a perda é gigantesca – dê preferência para ligações com cabo de rede no mínimo CAT6A, (não utilize CAT6 porque é só um 5e melhorzinho).

O Network Bridge pode reproduzir arquivos PCM de até 24-bit/384 kHz sem perdas, além de DSD64 e DSD128 em nos formatos nativo ou DoP. O clock interno do Bridge é de ótimo nível mas, novamente, se usado com um clock externo (via BNC) o ganho é absurdo!

Se tem uma coisa que a dCS faz extremamente bem é a etapa de fonte, e a do Network Bridge isola muitíssimo bem o circuito digital e de clock de quaisquer irregularidades provenientes da tensão AC, com isto os problemas de jitter são minimizados ao máximo!

Diferente de outras aplicações digitais, no áudio digital hi-end 1+1 nem sempre é igual a 2, pode ser um e meio, ou até três e meio. Uns e zeros de nada adiantam se no final a música soar sem vida, sem emoção. De nada adianta eliminar jitter como muitos aparelhos o faz e muito bem, melhorando a entrega dos pacotes de dados em uma transmissão digital, se neste processo eliminar harmônicos contidos nos dados convertidos posteriormente. Saber transformar uns e zeros em timbres e sons realistas, não é uma tarefa fácil, principalmente no topo da pirâmide onde até hoje poucos sãos os que se estabeleceram. É uma arte que poucos entendem, e menos ainda a dominam.

A dCS conseguiu dar ao Network Bridge um nível de sofisticação na apresentação musical, extremamente elegante e por um preço que não costuma ser preço dCS, pois se tem uma coisa que todo audiófilo tem como certo é que um conjunto dCS vai te fazer sorrir, mas antes vai fazer o bolso chorar. No caso do Network Bridge, não. O custo dele fica em um patamar digamos, dentro do possível, mais barato que o nosso player de referência, o Luxman D-06.

O dCS Network Bridge que veio para nós foi cedido gentilmente pelo nosso amigo e leitor Silvan Alves – a ele o nosso muito obrigado! Silvan deve ser um camarada desprendido dos bens materiais, pois o Bridge ficou conosco por mais de quinze dias! (risos). E como se não bastasse, ele nos emprestou o upsampler Vivaldi para tirarmos algumas conclusões acerca do aparelho.

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Fontes: CD-Player Luxman D-06 (apenas para comparação), DAC Hegel HD30, upsampler dCS Vivaldi. Cabos de força: Transparent MM2, Sunrise Lab Illusion Magic Scope e Quintessence Magic Scope. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Ethernet Media Link Quintessence Magic Scope (ligado na entrada da porta Ethernet do dCS antes do cabo de rede), Sunrise Lab Quintessence Magic Scope XLR e Coaxial digital, Sax Soul Cables Zafira III XLR. Cabo de caixa: Sunrise Lab Quintessence Magic Scope. Caixa acústica: Neat Ultimatum XL6.

Como o aparelho estava super amaciado, colocamos logo em teste, deixamos tocar por algumas horas apenas para a estabilização térmica e dos contatos dos cabos.

Quando retiramos o Luxman que, por sinal, estava ótimo, o salto na qualidade geral do sistema foi imediato. Parecia que o sistema todo estava engarrafado e que após ligar o dCS Bridge um grande e apertado nó tivesse se desfeito. O que mais chama atenção são os timbres, como ficam ainda mais naturais, com maior precisão e detalhes.

Outra coisa que chama a atenção é o silêncio de fundo e o silêncio em volta dos instrumentos e vozes, isto de cara melhora muito a percepção do corpo harmônico, do tamanho dos instrumentos e da presença da voz humana. As relações de distância entre cada instrumento foram elevadas a um nível que só experimentei ouvindo um transporte superlativo. Os decaimentos das notas, a ambiência e toda a beleza dos micro-detalhes estavam mais expostos ao mesmo tempo que tudo soava simples, sem fazer com que teu cérebro foque apenas naquele instrumento que eventualmente sobressaiu no decorrer da música. Tudo tem luz própria, tudo tem seu momento mágico, mas nenhum instrumento ou voz te faz cativo – o todo é privilegiado, o todo é exibido e apreciado.

A folga com que o dCS Network Bridge apresenta a música faz todo o corpo relaxar até nas passagens mais enérgicas, como a Primeira Sinfonia de Mahler ou a Nona Sinfonia de Beethoven.

Mas não se engane, amigo leitor, este relaxamento em nada tem a ver com letargia ou uma apresentação desinteressada. É folga. Daquelas que faz aquele disco que sabemos que é uma pedreira, que nos fará se segurar na poltrona aguardando o emaranhado de asperezas, estreitamento de palco e distorções mil, passarem por nós como se não conhecesse aquela gravação!

O App da dCS que gerencia o Bridge é simples e fácil de usar, mas não é dos melhores. Vira e mexe ele te faz reiniciar o app e procurar as músicas tudo de novo. Fora isso, a execução é um processo tranqüilo: sem engasgos ou perda de alguma conexão. O ideal mesmo é utilizar o Roon, pois a interface é fantástica e de quebra você fica sabendo qual música é MQA, qual é DSD ou arquivo com taxa de amostragem comum.

Embora o Bridge tenha muitas saídas digitais e todas toquem em alto nível, a que o player mais se beneficia é sem sombra de dúvida a AES/EBU. Se o seu DAC não possui tal entrada, não faz mal, o som proveniente das outras entradas é excelente, mas a AES/EBU te leva além. E não é uma questão apenas de privilegiar um padrão do outro, é que, como acontece no analógico, por questões óbvias, quase sempre o XLR leva vantagem sobre o RCA. No digital também é assim: o AES/ EBU leva vantagem sobre o BNC ou Coaxial digital.

Outra coisa que deve observar é que o Network Bridge é bastante suscetível à troca de cabos de força. Dê preferência para cabos neutros, nada de cabos quentes ou cabos que tenha uma gordurinha em algum extremo, muito menos que iluminem a região média – cabos neutros é uma ótima pedida.

Para quem ficou curioso sobre o upsampler, a dúvida era a seguinte: é sabido que, em um conjunto dCS Vivaldi ou até mesmo em um Scarlatti, o upsampler é a peça que menos trará ganho ao sistema, haja visto que o transporte em DUAL AES em conjunto com o DAC fazem um trabalho excepcional, resta pouca coisa que o upsampler possa fazer para melhorar. A pergunta que ficou martelando era se o Network Bridge se beneficiaria dos mais de cem pontos do upsampler ou se direto pelo DAC seria tão bom que não valesse tanto a pena, como acontece com o transporte. Caro leitor, a diferença é brutal! Quem tiver seu conjunto Vivaldi ou Scarlatti completo, faça o teste do upsampler dCS – irá se surpreender!

CONCLUSÃO

O player de rede dCS Network Bridge não tem a pretensão de roubar o lugar dos transportes da marca, ele está mais para um companheiro prático que estará ali para lhe dar toda a liberdade que a internet pode oferecer com a mesma qualidade e assinatura sônica característica da marca. Ele te dará mais que um bom motivo para continuar no caminho do streaming de música pela internet. Além da praticidade, ele te dará prazer ao apertar o play do seu serviço de streaming! Um player que pode muito bem se tornar a fonte principal na maioria dos sistemas hi-end espalhados pelo país, e por um preço muito mais atraente que os transportes de mídia física de mesmo patamar e até os muitos acima de seu preço.

Se em algum momento pensou que, para ter um transporte de alto nível, precisaria desembolsar um caminhão de dinheiro, e que a relação custo/performance começou a encurtar exponencialmente, ouça o dCS Network Bridge. Tenho certeza que irá te fazer repensar seus conceitos.


Pontos positivos

Gabinete construído em alumínio aeroespacial. Conexão ethernet via cabo e Wi-Fi. Pequeno e leve. App funciona muito bem. Boa quantidade de conexões, inclusive DUAL AES.

Pontos negativos

Ao deixar o app em segundo plano, o mesmo reinicia sozinho.


ESPECIFICAÇÕES
DescriçãoNetwork player / Roon endpoint
EntradasEthernet, Apple AirPlay, USB 2.0 (dados), 2x word clock (BNC)
Saídas– 2x AES/EBU (PCM até 24-bit/384 kHz ou DSD128 in DoP)
– S/PDIF RCA (PCM até 24-bit/192kHz ou DSD64 in DoP
– SDIF-2 BNC (PCM até 24-bit/96 kHz ou DSD64)
– Word-clock BNC (PCM data up to 96 kHz)
Dimensões (L x A x P)360 x 67 x 245 mm
Peso4.6kg

PLAYER DE REDE DCS NETWORK BRIDGE
Equilíbrio Tonal 12,5
Soundstage 12,0
Textura 12,5
Transientes 12,0
Dinâmica 12,0
Corpo Harmônico 12,5
Organicidade 12,0
Musicalidade 12,5
Total 98,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
Teste 3: Player de Rede dCS Network Bridge



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