Discos do Mês: JAZZ, FOLK ROCK & CLÁSSICO
maio 14, 2020
Opinião: AINDA ESTAMOS AQUI
maio 14, 2020


Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Recebemos, até o momento, 27 playlists dos nossos leitores – agradeço à todos que fizeram e por nos dar o prazer de compartilhar com todos.

Gostei muito da iniciativa de alguns de, junto com sua playlist, divulgarem o seu sistema. Seria muito legal todos enviarem a lista de equipamentos, para também poder ser compartilhada. Os que ainda não enviaram, fica aqui a sugestão.

Como estamos tentando mostrar as listas e colocar pelo menos uma faixa de cada disco, publicaremos 4 playlists por edição, junto com a nossa, para não ficar muito longo e dar a oportunidade do leitor ouvir todas.

A minha playlist continua sendo em cima do Tidal Masters, em melhor resolução, para que possa ser ouvida em sistemas ou fones de melhor qualidade. Mas recomendo a todos que, se tiverem a mídia física dessas indicações, escutarem a mídia física, só assim terão uma ideia consistente das diferenças ainda existentes entre as duas opções.

Minha primeira indicação é um box com sete discos, gravado no Village Vanguard entre os anos de 1990 e 1994, do septeto do trompetista Wynton Marsalis, chamado Selections From The Village Vanguard Box. Uma gravação obrigatória, com uma das melhores formações de todos os tempos. A primeira banda tinha a seguinte formação: Wynton Marsalis no trompete, Wessell Anderson no sax alto, Todd Williams no sax tenor, soprano e clarinete, Wycliffe Gordon no trombone, Marcus Roberts no piano, Reginald Veal no contrabaixo, e Herlin Riley na bateria. A segunda formação teve duas mudanças: entrou o pianista Eric Reed e o saxofonista e clarinetista Victor Goines. E a terceira formação entrou o baixista Ben Wolfe. Foram anos de negociação entre o agente do Wynton Marsalis e a gravadora Columbia, pois Marsalis bateu o pé que deveria sair um box, com todas as apresentações nos 4 anos, pois havia uma cronologia no repertório que se perderia se os discos fossem lançados separados. Depois de 5 longos anos, finalmente, em 12 de julho de 1999, foi lançado o box com os sete discos. Foi matéria de jornais e revistas em todo o mundo e ganhou inúmeros prêmios de melhor gravação ao vivo.

Duas coisas chamaram muito a minha atenção, assim que ouvi essas gravações, no final de 1999: o conhecimento dos dois engenheiros de gravação, Tim Geelan e Mark Wilder, pois é pedreira gravar 7 músicos em um palco tão reduzido como o do Village Vanguard e ainda por cima ter o mínimo de vazamento entre os microfones e uma captação tão precisa e realista. Em um bom sistema você é literalmente transportado para o Village Vanguard e colocado em uma mesa privilegiada à frente do palco, a menos de 7 metros de distância.

E a segunda bela surpresa é a virtuosidade de todos os participantes, músicos talentosos e com um domínio integral de seus instrumentos.

Cientes das limitações acústicas da pequena sala, e com um público muito próximo, é possível perceber o cuidado dos músicos em se fazer ouvir e passar toda a complexidade dos arranjos e solos. E se ainda é preciso mais alguma coisa para lhe convencer da obrigatoriedade de se ter este box, a escolha do repertório é simplesmente fantástica! Exigindo que cada disco seja escutado na íntegra. Ou seja um box com sete discos, perfeitos para essa longa quarentena.

Minha segunda dica foi lançada no dia 12 de abril de 2020. Conversas com Bach, um duo de piano e violino de André Mehmari e o violinista spalla da Osesp, Emmanuele Baldini. Sugiro que essa obra prima seja escutada em total solidão, em um momento em que o silêncio a sua volta seja o maior possível, e que tudo o que você mais deseje seja poder fazer uma imersão completa na música de Bach. Dê o play e ouça a faixa 1, Sonata para Violino e Baixo Contínuo. Será uma viagem inesquecível e absolutamente reconfortante, para suportarmos toda essa tensão e caos que estamos passando.

Nunca escondi minha admiração por cantoras. Indiquei muitas esses anos todos, e me orgulho de ter um ‘tino’ para descobrir cantoras em início de carreira, e que construirão uma sólida (em um mundo tão descartável e superficial). Kandace Springs, é uma das cantoras que mais tem chamado atenção pela sua versatilidade e bom gosto na escolha dos arranjos e do repertório. Interessante que ela consegue agradar tanto o jovem que só conhece gêneros como pop e hip-hop (e provavelmente sua gravadora também, com maiores vendagens) para logo depois nos presentear com um disco repleto de standards americanos como: Angel Eyes, Devil May Care, I Can’t Make You Love Me, Solitude, e Strange Fruit. Canções consagradas nas vozes de Ella, Billie Holiday, Shirley Horn e, ainda assim, Kandace consegue fazer sua ‘versão’, com enorme talento e bom gosto. Se conseguir se impor e mostrar a sua gravadora que ela pode ser muito mais que uma cantora pop, tem tudo para ter uma brilhante carreira, como Diane Reeves e Cassandra Wilson. Se você não conhece Kandace Springs, comece ouvindo este belo disco: The Women Who Raised Me.

Se tem um músico que trabalha como poucos a música étnica desde os anos 80, este músico é Joe Zawinul. Fundador, junto com o saxofonista Wayne Shorter, de uma das bandas de jazz fusion mais emblemáticas, a Weather Report, Zawinul sempre teve uma carreira solo paralela interessantíssima e profícua. Se o amigo leitor quer enveredar pelos ritmos e culturas musicais de todos os continentes, uma excelente porta de entrada é ouvindo esse trabalho Faces & Places, lançado em 2002. Sente-se confortavelmente e comece por ouvir a faixa 2, All About Simon, e terá uma perfeita ideia de como Zawinul trabalha a cultura local de cada continente, dando uma roupagem sua, que mistura jazz fusion, ritmos e naipes de metais como poucos. Na faixa 3, um saldo da África direto para o oriente, com uma pequena introdução de Tower of Silence, e depois a surpresa (e que surpresa meu amigo), não vou contar pois perderia a graça. Nesta faixa 4, quem não conhece a genialidade de Zawinul irá demorar a entender que ele grava o cantor, depois sampleia para poder utilizar em seus inúmeros teclados. E na mixagem ele mistura o cantor com suas vozes sampleadas, e o resultado é único. Nenhum outro músico trabalha com tanto esmero e refinamento as culturas musicais de todos os continentes. É sempre uma grande surpresa, acredite!

Como temos nesta edição as playlists de 4 dos nossos leitores, não vou me estender muito, indicando meu último disco para este mês – acho que todos terão material suficiente para curtir e compartilhar.

Toda vez que vem alguém a nossa sala de testes, e quer ouvir o Sistema de Referência, sempre pergunto: conhece o organista Dr. Lonnie Smith? Se a resposta for não, começo mostrando sempre uma faixa de seus discos. Um querido amigo publicitário, ao escutar Lonnie pela primeira vez, me disse: “Parece o Thelonious Monk do órgão”. Achei interessante ele associar o que estava ouvindo ao Thelonious. Para mim ele é uma mistura de Sun Ra, algo de Thelonious, Mingus e Miles Davis. Sou fã de carteirinha, pois ele possui uma assinatura única (como a que encontramos nos exímios guitarristas, que basta um acorde e já sabemos quem está tocando). Evolution, lançado em 2016, está na safra de seus mais recentes trabalhos. O que ele costuma fazer é construir uma base, geralmente em cima do órgão, bateria e guitarra base, e depois convidar músicos solistas. Já teve a fase de dois guitarristas, de uma guitarra solo e trompete, e agora parece (só parece, pois não se pode confiar muito nos caminhos de Lonnie), que ele entrou na fase de dois saxofonistas e trompete como convidados. O que mais impressiona na sua forma de tocar, é a versatilidade de sua mão esquerda no baixo, diferente, ousado e extremamente criativo. Tanto que desde a primeira nota o ouvinte não sente a menor falta de um contrabaixo, nunca! E seus solos são desconcertantes, pois ainda que tenha muita destreza e velocidade, é de uma inteligibilidade impressionante. Arrisco dizer que seu órgão Hammond B3 deva ter sido todo ‘turbinado’, pois não é comum se extrair esse grau de realismo deste instrumento. Pelo contrário, em um sistema muito bom o que mais se escuta é ruído e vibrações dos falantes na caixa do órgão.

Espero que você goste de alguma dessas indicações e o ajude a tornar essa quarentena mais suportável. Continuarei aguardando a sua playlist, pois certamente você também tem excelentes sugestões para nos passar.

Fique agora com as playlists dos nossos leitores: Paulo Wang, André Mantovani, José Vita e João Antônio Oliveira César.

PLAYLIST DE PAULO WANG

01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
PLAYLIST DE ANDRÉ MANTOVANI
01
02
03
04
05 – THE CURE – IN CONCERT

https://open.spotify.com/playlist/10CrceGmye5ILs4M70LTBx

06
07
08
09
10
PLAYLIST DE JOSÉ VITA
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
PLAYLIST DE JOÃO ANTÓNIO OLIVEIRA CÉSAR
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *