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Estou gostando de ver o número crescente de leitores que estão enviando suas playlists. Todas que chegam, a Daianne me repassa para eu dar uma olhada e conhecer um pouco melhor o gosto de cada um de vocês.

O que impressiona é que o universo musical dos nossos leitores é muito amplo e abrange diversos estilos. É uma forma de conhecer cada um de vocês, não pelas palavras e sim pela música.

Alguns até reclamam que ter que apresentar seu ‘universo musical’ com apenas dez discos é muito limitado. E eu concordo, mas se esticássemos essa lista teríamos que fazer um caderno extra mensal para atender a todos.

Também estou apreciando os que enviam sua lista de equipamos (só não estamos publicando por não termos a autorização para fazê-lo), mas é bem legal conhecer o sistema em que nossos leitores escutam seus discos preferidos. Uma tendência que parece bem clara é o número de leitores que estão investindo em excelentes fones de ouvidos, DACs e amplificadores de fones hi-end. Das mais de 150 playlists já recebidas, quase 20% só escutam música em fones hi-end! Será uma questão de espaço, barulho das grandes cidades, vizinhos ou filhos? Provavelmente, um pouco de tudo isso.

Para deixar espaço para mais cinco leitores, novamente resumirei minha playlist do mês a apenas 5 discos. E espero agradar a grande parte de vocês leitores com esses cinco discos. Não foi intencional, mas os cinco discos escolhidos, além de excelente qualidade artística, também podem ser utilizados para avaliação de vários quesitos de nossa Metodologia.

O primeiro da lista é um disco que adoro, pois são temas muito bem elaborados e executados. É um dos raros discos do trompetista de Nova York Mark Isham, conhecido muito mais por suas mais de cem trilhas sonoras para Hollywood – e ganhador de dois Oscars de melhor trilha sonora. Poucos talvez saibam, que entre uma trilha e outra, ele se apresenta com o seu quarteto nos pubs de jazz de Nova York, e também gravou quatro discos com músicos convidados. Blue Sun é um disco dos anos 80, e possui a atmosfera bem cool dos anos 60, mas com arranjos mais modernos. E o legal é que soa como uma gravação mais contemporânea. Além de excelente instrumentista, seus arranjos e composições são de extremo bom gosto e limpos. E também é um excelente engenheiro de gravação! É um disco para se escutar de uma levada só, sem pular nenhuma faixa, pois elas parecem querer contar uma história, sem imagens, apenas com acordes, solos e intervalos. Aliás, em um documentário feito para o canal Film & Arts, ele declara que em tudo que ele compõe, seja para trilha ou obras pessoais, os intervalos são a fontes de inspiração antes de desenvolver o tema e a melodia. Para um ouvinte atento, os silêncios entre as notas das obras de Isham, nos preparam para belas surpresas musicais. Com certeza todos vocês assistiram filmes em que a trilha sonora foi composta por ele. Deixarei que a curiosidade de vocês, descubram de que filmes estou falando.

A primeira vez que ouvi a cellista Inbal Segev, fiquei paralisado na cadeira. Ela toca com tamanha energia, que a sensação é que a crina do arco irá se dissolver em um minuto. E, no entanto, é tão expressiva e precisa, que nos perguntamos como pode alguém tocar com tanto esmero e emoção! Esse é um excelente disco para você entender o que acabei de descrever sobre Inbal Segev, com um repertório difícil e exigente. Eu não conhecia essa obra da compositora Anna Clyne – Dance, já para o Concerto para Cello do compositor inglês Elgar, minha referência continua sendo a gravação do Yo-Yo Ma. Mas Dance, parece ter sido escrita para Inbal Segev! A maestrina é bastante conhecida por todos os frequentadores da Sala São Paulo e OSESP: Marin Alsop, nessa gravação regendo a London Philharmonic Orchestra. Essa gravação acabou de sair do forno, pois foi lançada mundialmente no dia 6 de junho. Espero que você goste e procure outras gravações da exuberante cellista Inbal Segev.

O terceiro da lista é para levantar da cadeira e sacudir o esqueleto, da cabeça aos pés. É um disco de um baixista nigeriano, Richard Bona, que viaja o mundo buscando culturas musicais com raízes africanas. Heritage é sua viagem a Cuba, onde convidou o grupo Mandekan para participar deste encontro de dois continentes. O resultado foi primoroso, pois Bona traduziu grandes clássicos da ilha para inúmeros dialetos do continente africano, e pegou músicas do continente e deu uma roupagem caribenha. A mistura de ritmos e dialetos foi tão bem traduzida nos arranjos, que parece que todas as ‘versões’ saídas deste trabalho, são na verdade as obras originais. Parafraseando Caetano Veloso: “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”. Só não irá se levantar da cadeira para dançar ao som deste trabalho, quem tiver mais de 99 anos!

O baixista francês Renaud Garcia-Fons, além de muito admirado, conseguiu o respeito pela sua capacidade de combinar o jazz com a música oriental de maneira muito criativa. Filho de pai argelino, conviveu desde muito cedo com a cultura e a música do oriente. E soube trabalhar toda essa cultura em sua identidade musical de forma criativa e espontânea. Ainda que, em suas composições, certas modulações ou células rítmicas estejam sempre presentes, sua capacidade de trabalhar melodicamente essas ‘células’ permite que seu trabalho seja bastante diversificado e consistente. Ele se diz um repórter musical de Paris, onde viveu toda a sua vida. E descreve a vida do parisiense realmente como um repórter que pincela o cotidiano com notas musicais e não palavras. Os títulos de suas músicas traduzem perfeitamente suas ideias musicais como: Monsieur Taxi, Je Prendai le métro ou Les rues vagabondes. Algum crítico já o chamou de ‘Erik Satie moderno’. Diria que, se queres conhecer este talentoso músico, este disco – La Vie Devant Soi, é o seu cartão de visita!

E, para terminar esta playlist, e passar a bola para os nossos cinco leitores deste mês, fecho minha seleção com um disco que gosto muito – Live In London, do pianista porto-riquenho Michel Camilo. Em uma noite inspirada para uma platéia tipicamente inglesa, que parece estar tomando chá nas primeiras músicas e depois vai finalmente se animando, Michel desfila toda sua técnica exuberante em obras de enorme exigência rítmica. Seu swing é simplesmente admirável, e ele tem algo da digitação do Chucho Váldez, com o refinamento e limpeza do Rubalcaba. E, de brinde, o leitor ganha uma gravação para colocar à prova os seguintes quesitos: dinâmica, transientes, equilíbrio tonal, corpo harmônico e textura.

Até o próximo mês e se cuidem por favor!

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