Fernando Andrette
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Uma pesquisa do Deezer indicou que as pessoas param de descobrir novas músicas após os 30 anos. Para chegar à esta controversa conclusão, o Deezer pesquisou 1000 pessoas no Reino Unido, sobre os seus gostos musicais e hábitos culturais. Os resultados, com este universo de 1000 entrevistados, concluem que 60% seguem uma rotina musical padronizada, quase sempre escutando as mesmas músicas em seu playlist e, para 25% das pessoas, novas músicas fora do gêneros preferidos não são atrativas. A pesquisa também detectou que o ápice para descobrir novos gostos musicais é 24 anos. Nesta faixa etária, 75% dos entrevistados contaram que buscam cinco novos artistas por mês. Três fatores aparecem em destaque, explicando o motivo de isso acontecer. Em primeiro lugar, 19% se sentem “oprimidos” pela quantidade de escolhas disponíveis nas plataformas de música. E 16% possuem muito pouco tempo disponível para ouvir música, e 11% cuidam de crianças. Acho que os números dentro do universo pesquisado parecem corretos, mas as conclusões do resultado não me parecem convincentes, pois os três fatores que levam à conclusão da enquete são muito baixos para justificar que 60% seguem a rotina de sempre ouvirem as mesmas músicas, e que 25% que novas músicas não são atrativas o suficiente para despertar o seu interesse por novos estilos. Acho que a neurociência tem as respostas de maneira mais precisa para este comportamento. Segundo a revista de ciência Memory & Cognition, a música possui um efeito poderoso em nossa mente, sendo capaz de resgatar memórias e situações do passado de forma muito intensa. Todas as músicas que gostamos liberam dopamina, serotonina e oxitocina, que nos dão aquela intensa sensação de bem estar e felicidade. Durante a adolescência, o cérebro passa por várias transformações e regulações desses três hormônios. Então, todas as músicas que gostamos neste período estarão nos trazendo emoções por toda a vida. Outra interessante observação feita pela neurociência é que quanto às músicas com letras ou com linhas melódicas que nos encantam, existe uma chave chamada de “fase de antecipação”, onde sabemos que a parte mais “emocionante” da música ainda está por vir, liberando os três hormônios de prazer em nosso corpo. Então, à medida que você possui uma “playlist” em sua memória que lhe conta momentos agradáveis, ao comparar com músicas ou estilos desconhecidos, que não liberam esses hormônios imediatamente, você tende a não se interessar por elas. Este é o principal motivo de nosso gosto musical parecer se “solidificar” até os 30 anos. E não é falta de tempo, opressão pela quantidade de lançamentos, ou que a música feita na atualidade já não possui o mesmo padrão de qualidade do nosso tempo. E vou ainda mais longe: se ouvimos música diretamente dos nossos celulares, com os fones originais de fábrica, o que ouvimos (mesmo sendo as músicas que gostamos) é totalmente comprometido pelo desequilíbrio tonal, tanto do DAC interno do seu celular como deste fone de ouvido básico. Todos os nossos cinco sentidos precisam, durante nossa vida, serem aprimorados, caso contrário, nos acostumamos com o trivial, não deixando espaço para refinarmos e ampliarmos nossos sentidos. Agora se você realmente gosta de música e não a tem em sua vida apenas como uma “distração” ou pano de fundo para os seus afazeres, buscar este aperfeiçoamento na maneira de escutar suas músicas, se tornará um processo contínuo. E, acredite, com um DAC e um fone decente, seu interesse por descobrir novas obras e estilos musicais será parte de sua motivação existencial até o final de seus dias.