Editorial: UM MUNDO CADA VEZ MAIS MISONEÍSTA

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

A antropologia chama de “misoneísmo” um medo profundo e supersticioso do novo. Pensava-se que este fenômeno ocorreria apenas com os povos primitivos, com o contato com civilizações mais avançadas, porém verificou-se que a partir do século 19 o dito “homem civilizado” reage a ideias novas da mesma maneira, erguendo barreiras psicológicas para se proteger do choque trazido pela inovação. Todo homem que tem a coragem de ser um pioneiro em sua área de atuação é vítima desse conservadorismo inato, de parte de seus contemporâneos, e muitas vezes a história nos mostrou que esses homens não só foram ridicularizados, como alguns pagaram com a própria vida por terem a coragem de mostrar novos caminhos de conhecimento e formas de aprimorar tecnologias. Lembro quando, no colegial, meu brilhante professor de Biologia, o sr. Reginaldo, nos contou os horrores que a sociedade conservadora fez com Darwin e como os médicos reagiram as ideias de Pasteur. Como todo adolescente, sonhava com dias melhores e que, com o avanço da tecnologia e novos campos de atuação, venceríamos este grau de ignorância coletiva e entraríamos no século 21 livres de todo este atraso e estupidez! Não poderia ter me enganado tanto! Pois quanto mais penetramos neste novo século, parece que certas práticas insanas não só se estabeleceram no seio da sociedade, como parecem querer nos levar novamente para a idade média ao negar, em todas as áreas científicas, avanços que nos custaram tanto alcançar. Ter que conviver com terraplanistas, criacionistas e os que se opõe às vacinas, me remete ao pesadelo do tempo da Inquisição, em que em nome de um Deus “desumano”, homens religiosos decidiam quem deveria morrer ou viver. Nunca vi nos meus sessenta e dois anos tanta virulência e tanta estupidez e, à medida que este misoneísmo avança, todas as áreas são contaminadas sem nenhuma exceção.

Outro dia um leitor me perguntou se era verdade que o CD Player não pode ser considerado hi-end, já que sua resposta de frequência nos graves só desce até 35 Hz, e que o Streamer desce apenas à 40 Hz. Intrigado, perguntei aonde ele tinha visto essa informação e ele me respondeu que em um fórum hi end, aqui e lá fora! Depois de tranquilizá-lo, e mandar para ele nosso CD de Teste, que encartamos em nossa edição de março de 2.000 (com todas as
frequências de 20 Hz a 20 kHz), e explicar que talvez ele não consiga ouvir abaixo de 35 hz, por limitações em suas caixas acústicas e não pelo fato do CD-Player não responder, e acima de 16 kHz por limitações auditivas e não por alguma limitação no CD-Player, fiquei por alguns dias pensando o que leva um indivíduo a afirmar algo tão simples de ser provado que ele está errado? Ignorância, má fé… Ou o fato dele não ter um sistema capaz de responder abaixo de 30 Hz, que o levou a esta conclusão? Espero sinceramente que seja esta última opção. Pois ao menos os que afirmam tamanha estupidez poderão um dia se desculpar (caso tenham a capacidade e humildade de fazê-lo). É o mesmo comportamento do audiófilo que não escuta diferenças em cabos ou amplificadores, e então julga que os que escutam estão se iludindo. Eu provavelmente não estarei vivo, mas não tenho dúvida alguma que os padrões de medições irão avançar tanto nas duas próximas décadas, que teremos condições não só de medir como também entender o fenômeno que ocorre na reprodução de música eletronicamente. Assim como a nanotecnologia, a neurociência, e o estudo de metamateriais nas áreas ótica, elétrica e eletromagnética, nos darão respostas e criarão novas maneiras de avaliar e desenvolver todos esses produtos. Querem um exemplo desse admirável mundo novo? Um acordo fechado recentemente entre o fabricante de caixas acústicas KEF e o grupo AMG de Hong Kong, especializado no estudo de metamateriais, desenvolveu um absorvedor de som para gabinetes e alto-falantes. O primeiro passo foi dado com a criação de um material sintético que tem a capacidade de absorver todo o som indesejado que for irradiado da parte traseira do falante, reduzindo sua distorção e diminuindo drasticamente a necessidade de absorção nas paredes dos gabinetes de caixas acústicas. O grau de revolução que este material sintético pode fornecer, certamente reescreverá a história dos falantes neste século. Isso ocorrerá se a onda de conservadorismo insano que se instalou no mundo não atrapalhe, e os que defendem que os CD-Players não podem ser considerados produtos hi-end, não julguem que falantes devem continuar sendo construídos rigorosamente dentro dos padrões do início do século 20! Para o desconhecimento sempre existe uma solução. Porém, para a estupidez humana, nenhuma!

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