Espaço Aberto: O VINIL NÃO É PARA TODOS

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Faz tempo que venho pensando sobre este tema, de que o vinil não é a melhor opção para muitos dos nossos leitores.

E ainda que todos sejamos bombardeados com informações de que o vinil continua crescendo mais de 10% ao ano, e que nunca existiram tantas opções boas e baratas de toca-discos e cápsulas, este é um nicho do mercado hi-end muito específico, e que exige muito conhecimento, paciência e, sobretudo, tempo.

Pois tanto para garimpar discos usados, como mantê-los em bom estado de conservação, sem tempo, será jogar dinheiro fora, que poderia estar sendo investido em upgrades consistentes no sistema digital.

Então, meu primeiro conselho: se você não tem LPs e pretende começar do zero, esqueça! Só pense em se dedicar à um setup analógico se você realmente já tem uma coleção de pelo menos 100 LPs em condições de uso. E que esses discos, em sua esmagadora maioria, você não tenha em outra mídia física.

Também não acredite no que te dizem de que o LP é muito melhor que qualquer outra mídia, a não ser que você escute um sistema analógico bem ajustado e saia convencido que vale a pena se investir nessa mídia.

Aos mais jovens, se façam a seguinte pergunta: consigo conviver numa boa com cliques & plocs sem perder o prazer do que estou escutando? Ou sou daqueles em que o silêncio de fundo na música precisa ser imaculado?

Se todas as questões até aqui levantadas tiverem um sim como resposta, espere que ainda não acabei.

Você irá montar um setup analógico apenas para escutar discos comprados em sebos, ou haverá “verba” para se investir em discos novos?

Terá no meu orçamento folga suficiente para investir nos equipamentos de manutenção dos seus discos como: máquina de lavar, escovas para agulha, etc?

E a última questão, e talvez a mais importante: tem consciência de que um toca-discos mal ajustado não extrairá todo o potencial do investimento?

Já escrevi por diversas vezes que, se for para investir em um toca-discos desses comprados na Amazon, de agulha de cerâmica e braço de baixa massa, que mais parece ser feito de plástico, a única coisa que você conseguirá é destruir todos os seus discos.

E comprar esses toca-discos de entrada de 400 dólares também terá um resultado pífio.
Então, antes de sair achando que o analógico irá ser um prazer absoluto, pense muito bem na canoa em que você estará entrando, para não ser um esforço muito mais repleto de frustrações do que de prazeres.

Um bom sistema analógico, que irá conservar seus discos e lhe dar enorme prazer em todo o investimento feito, custará por volta de 10 mil reais. Isso inclui uma boa bandeja, motor para manter a velocidade correta, um bom braço (mais informações sobre a importância de um braço, leia o Opinião nesta edição) e um cápsula de alto nível. Nesse valor, não está incluso o pré de phono (caso o seu pré de linha ou amplificador integrado já não o tenha embutido).
E o mínimo de 100 LPs em bom estado, para que este investimento seja realmente justificável.

Estou tanto tempo nessa estrada e posso dizer com segurança: o número de audiófilos que conheci que mais se frustraram são os que investiram um caminhão de dinheiro em um setup analógico para, no final, escutar duas dúzias de LPs em bom estado de conservação e ter uma centena de LPs encostados em uma velha prateleira, pegando pó.

No entanto, os que conseguem seguir a risca todos os passos para se extrair o melhor dessa mídia, não abrem mão de ter um sistema anlógico de alto nível, pois ele continua sendo exuberante de se ouvir quando muito bem ajustado e com mídias bem conservadas.
Tenho LPs que estão comigo há meio século, que herdei do meu pai e que são plenamente audíveis.

É difícil colocar em palavras as emoções resgatadas nessas audições, quando vamos evoluindo nosso sistema e percebemos detalhes nunca antes ouvidos. Sem falar no ‘filme de nossas vidas’ que passam nessas audições.

Meu pai dizia que LPs maltratados diziam muito do audiófilo. Eu concordo com ele e sinceramente acho que as novas gerações terão ainda mais dificuldade de os conservar, pois é um hábito que eles não adquiriram com os mais velhos. E, daqui para frente, será pior ainda, já que nem o contato físico com a música existirá mais.

Com tantos obstáculos, não sei se muitos irão querer começar do zero e montar um sistema analógico. Mas, se depois de ver tudo que explicitei aqui, ainda tiver o interesse de se aventurar, seja bem vindo e conte conosco no que precisar.

Estamos aqui para te ajudar.

1 Comment

  1. Fabio disse:

    Gostei da matéria. Concordo com o autor: somente com bons sistemas analógicos poderemos fazer alguma comparação com aos de mídia digital. Todavia, no meu caso, mesmo que a qualidade sonora de uma configuração analógica não seja melhor que a digital, para mim “um vinil” me proporciona um prazer a mais. Não sei explicar o porquê: deve ser o saudosismo…

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