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Espaço Aberto: OU APRENDEMOS A ABSTRAIR DETERMINADAS LIMITAÇÕES OU JAMAIS ESTAREMOS SATISFEITOS COM O NOSSO SISTEMA
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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Todos nós certamente já tivemos a oportunidade de escutar um ou mais sistemas que nos encantaram, e alguns felizardos certamente adquiriram esses sistemas. Afinal, o que um sistema necessita ter para conseguir nos arrebatar do lugar comum para uma experiência que mudará definitivamente o rumo de nossa procura pelo sistema dos sonhos? Por experiência, diria que são um conjunto de detalhes e nunca algo isolado. Todos resumem essa busca em uma única palavra: musicalidade. E passamos grande parte da vida atrás desse “detalhe” que na nossa mente, quando o encontramos (se tivermos a sorte), reconheceremos instantaneamente e viveremos felizes para o resto de nossa existência, com nossos discos e nosso sistema tão desejado. Este é apenas um dos nossos primeiros enganos nesta longa trajetória, pois ainda cometeremos inúmeros se não entendermos que a “musicalidade” é um atributo que só existe se forem rigorosamente cumpridas todas as equações anteriores. E, ao listarmos todas essas etapas, certamente muitos desistirão e irão buscar outro hobby na vida (provavelmente mais barato e de menor dificuldade para ser alcançado). Um sistema que nos encanta é sempre a soma de inúmeros quesitos: o primeiro é o que determinará nossa obstinação em buscar o pote de ouro ao final do arco-íris, e chama-se “paixão pela música e não por equipamentos”. Sem essa base essencial, estaremos construindo apenas castelos de areia! Certifique-se então do quanto você realmente ama ouvir música, e o quanto ela é significativa em sua vida. Se ela for apenas um “passatempo” para seus momentos de solidão ou falta do que fazer de maior interesse, compre um bom fone de ouvido, um DAC de boa qualidade, assine Tidal ou outra plataforma de música, e não pense em gastar um centavo a mais. Agora, se a música tem importância vital na sua vida, a busca pelo sistema que reproduza seus discos de maneira que o emocione, e o tire da trivialidade do dia a dia, sua trajetória começou. Respire fundo, pois será uma jornada repleta de altos e baixos, derrotas e vitórias!

Primeiro Passo: aprender a confiar na sua audição. Para isso, é preciso treinar e treinar – ouvindo a maior quantidade possível de música ao vivo não amplificada, em salas com boa acústica, e saraus em casa de amigos, grupos de choro, amigos que toquem instrumentos de cordas, sopros, piano, etc. Quanto mais você se familiarizar com a sonoridade de cada um desses instrumentos, mais você estará exercitando sua memória auditiva de longo prazo, e maior facilidade irá ter em perceber as nuances das gravações que você aprecia, quando reproduzidas em vários sistemas.

Segundo Passo: nunca confie no ouvido do outro, por mais que você reconheça que este tenha muito mais rodagem do que você na busca do sistema perfeito.

Terceiro Passo: jamais perca tempo em se prender à um quesito da reprodução eletrônica como: palco sonoro, graves mais enérgicos, agudos doces como veludo, etc. A música é a soma de todos esses quesitos, e se nos prendermos ao detalhe, acontecerá o maior erro que todos audiófilos cometem: expurgar grande parte de nossa discoteca, já que no sistema que elegemos como o ideal, muitas gravações não atingirão o padrão desejado e serão esquecidas em uma estante por anos. Essa obsessão ao extremo pode levar o audiófilo a acabar essa jornada com apenas uma dúzia de discos para ouvir! E creiam, isso é muito fácil de ocorrer – em minha vida deparei com muitos audiófilos que acabaram assim!

Quarto Passo: entenda detalhadamente o que significa cada quesito da reprodução eletrônica, pois não são mera “retórica” – cada um dos quesitos representa uma característica da música que, juntas, nos levarão a musicalidade tão desejada. Então desconhecer esses quesitos é o mesmo que acreditar ser possível ir à Lua olhando-a através de uma luneta. Ela continuará lá, e você aqui, para sempre até o final de sua existência.

Quinto Passo: sem uma elétrica dedicada e uma acústica decente para receber um sistema de áudio hi-end, estaremos jogando nosso tempo e dinheiro fora.

Sexto Passo: se todos os anteriores forem rigorosamente realizados, a chance de você encontrar o sistema que tanto deseja aumentará exponencialmente. Essa é a parte mais deliciosa e emocionante desta caminhada.

Pois nossa confiança agora é plena, pois sabemos no que erramos até o momento e agora iniciamos o processo de correção. A cada novo upgrade, percebemos sólidas evoluções e um detalhe começa a nos chamar mais a atenção: nossos discos deixados ao ostracismo por anos a fio, começam a ser recuperados, um a um! E todos esses discos parecem terem sido “remixados” e estão sendo redescobertos com enorme emoção. Você nunca esteve tão perto da musicalidade, meu amigo, agora é manter a rota sem nenhum desvio, até que toda a sua discoteca seja inteiramente resgatada. Claro que existirão gravações tecnicamente tão limitadas que será preciso ter um cuidado extremo com o volume, mas nada que impeça de você ouvir aquele disco quando quiser.

Agora, não existe mais nada a buscar ou acrescentar, desfrute cada segundo , pois você realmente chegou lá! Ouvir um sistema que te encanta apenas pela sua musicalidade é o ápice da reprodução eletrônica, nada se compara a essa experiência. No dia que você tiver a sorte de ouvir um sistema assim, você saberá instantaneamente o que aqui relatei.

E que todos os nossos leitores cheguem lá!

1 Comment

  1. Eduardo Costa disse:

    Belas literatura, mais uma vez a saborear, pois, estou retornando a utilizar meus equipamentos: toca disco Akai, Model 246 da Gradiente, Tuner M-7 e caixas acústicas Master 99 Gradiente. Disponho ainda aproximadamente de 450 LP”s. Devo consignar que os equipamento se encontram em perfeito estado de conservação e discos, que apesar da idade 40 anos.
    A literatura que estou fazendo, reporta-me aos idos anos 1980, em que eu acompanhava a Revista Som Três. Parabéns mais uma vez, por disponibilizar essas informações.

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