Teste 3: AMPLIFICADOR INTEGRADO HEGEL H120

Teste 4: CABO ANALÓGICO FEEL DIFFERENT FDIII RCA
setembro 16, 2020
Teste 2: TOCA-DISCOS MARK LEVINSON 515
setembro 16, 2020


Juan Lourenço
revista@clubedoaudio.com.br

A Mediagear nos trouxe um exemplar do amplificador integrado Hegel H120, o substituto do Hegel Rost. Como é costume com os produtos Hegel, o seu custo/benefício é matador, e com o Rost a Hegel foi um pouco além, colocando em uma caixa minimalista um conjunto de muito bom nível com a amplificação, etapa de pré e DAC em patamares semelhantes.

Com o H120, sucessor natural do Hegel Rost, a empresa mantém a proposta iniciada com ele, adicionando pequenas melhorias ao que já era muito bom.

Seguindo o design atualizado da Hegel com o novo visor OLED, saída para fone de ouvido de 6,3 mm, e novo botão liga/desliga de acionamento rápido localizado abaixo do visor, a empresa mantém seus produtos quase que intocados, mantendo a tradição de que em time que está ganhando não se mexe.

No painel traseiro há dois pares de entradas (RCA) e um par de entradas balanceadas (XLR), e um par de saídas pré (RCA) variáveis. Qualquer uma das entradas analógicas pode ser configurada como “bypass” para home-theater. As entradas digitais começam por três óticas TosLink, uma coaxial S/PDIF, uma porta Ethernet e uma USB Tipo-B.

Os bornes de caixa são postos em U, com os negativos mais para dentro que os positivos. Não sei se, isto é, por falta de espaço interno, mas não ajuda em nada quando falamos de cabos de caixa mais rígidos.

O H120 possui duas fontes de alimentação e dois transformadores toroidais. Ou seja, a amplificação da sessão de power, com seus 75 W por canal em 8 ohms, é totalmente separada da alimentação do DAC e do pré-amplificador – algo que é visto apenas nos
amplificadores topo de linha. O fator de amortecimento de mais de 2000 já virou regra e não seria diferente no H120 já que ele também herdou a tecnologia SoundEngine2, que utiliza um “computador analógico” para inserir um sinal de correção no circuito em cada estágio de amplificação, antes que o sinal seja amplificado pelo próximo estágio, cancelando distorções.

O DAC do H120 é idêntico ao do H190, com o mesmo chip AK4490 da AKM, cercado por fontes de alimentação melhores, circuitos balanceados revisados e mais sofisticados, trazendo mais refinamento ao conjunto digital e se equiparando ao restante do aparelho. Sabemos que nos sistemas integrados modernos que possuem DAC, este é sempre o calcanhar de Aquiles, ficando alguns passos atrás da amplificação e não restando nada que o pré possa fazer a respeito. No Hegel H120, essa distância cai a níveis ínfimos, passando a ter um custo/benefício realmente atraente, pois em termos de qualidade sonora seu DAC demorará mais para se tornar obsoleto, já que está muito próximo do desempenho sonoro do conjunto analógico.

Como nem tudo são flores, e como manda o velho jargão “não existe almoço grátis”, a Hegel não apostou nas novas tendências digitais, como DSD, deixando de fora também o MQA e o acesso ao Roon como “end point”. Em minha opinião, um erro grotesco que já deveriam ter aprendido lá no lançamento do DAC HD30, que é um aparelho maravilhoso de pontuação altíssima, mas que ficou fora da lista de compras de muitos audiófilos que viram em seus concorrentes maiores possibilidades, pois estes já traziam tais recursos que a Hegel insiste em fazer de conta que é uma modinha passageira. O resultado é um aparelho formidável que só os poucos puristas do áudio, os que ligam para o resultado sonoro, e os menos preguiçosos, vão se interessar. Voltando ao H120 que também não possui tais recursos, o atrativo fica por conta do Airplay, Spotify Connect, IP Control, Control 4 e streaming via UPnP, que não é ruim quando utilizado com aplicativos como MConect ou Bubble UPnP.

O controle remoto é o mesmo que acompanha todos os produtos Hegel, mas o código de operação é diferente – apenas alguns botões são compartilhados entre os aparelhos, como os botões que comandam PC e o botão que desliga a tela.

O H120 vem configurado para desligar após 10 minutos de inatividade, ou em volumes muito baixos. É possível desativar a função de espera pressionando o botão de play PC no controle remoto por 5 segundos, acessando o menu e a função “sleep”. O volume de entrada que vem de fábrica em “20” também pode ser configurado, e assim toda vez que aparelho for ligado o volume estará na sua intensidade preferida.

COMO TOCA

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos ligados ao amplificador integrado Hegel H120. Fontes: Innuos ZENmini 3 com fonte externa, e o próprio streamer interno do H120, e o DAC Hegel HD30. Cabos de força: Transparent MM2, Sunrise Lab Illusion, e Quintessence Magic Scope. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Quintessence, e Reference Magic Scope RCA e Coaxial digital, Sax Soul Cables Zafira III XLR, Curious USB, Sunrise Lab Quintessence USB. Cabos de caixa: Sunrise Lab Quintessence, e Reference Magic Scope. Fones de ouvido: Sennheiser HD 700 e HD 800, e Grado Labs The Prestige SR125e. Caixas acústicas: Dynaudio Emit M30, Q Acoustics 3020i, e Neat Ultimatum XL6.

O Hegel H120 veio lacrado, e retirá-lo da caixa dupla é bastante fácil já que o aparelho fica apoiado em duas plataformas de espuma de polietileno. Abaixo dele fica a caixa contendo manual do proprietário, controle remoto, pilhas e cabo de alimentação.

Ao iniciar as audições, logo percebemos que este não era um Hegel como os outros com a sonoridade que estava acostumado a ouvir. Havia algo de diferente nele, que pensei ser coisa de amaciamento, mas não: após 300 horas de amaciamento confirmamos que o Hegel H120 saía um pouco do padrão dos aparelhos de entrada da marca, acrescentando algo que, no início, parecia uma pitada de calor em sua assinatura sônica, mais precisamente no médio-grave.

Com isto, a transição entre a região grave – passando pelo médio-grave – e a região média, que nos Hegels era extremamente clara, limpa e cirúrgica, quase etérea de tão cheia de harmônicos, que tomou o mercado de assalto, no H120 era mais líquida, com uma apresentação mais simplista, no bom sentido. No H120 a clareza estava lá, a folga e os timbres corretos também, mas ele trazia no equilíbrio tonal uma leitura da música mais voltada para o todo, e não era o Hegel com vozes encantadoras e transientes matadores de antes, era o Hegel que apresentava o todo de forma bastante uniforme com um relaxamento em todo o espectro auditivo. Até então conseguia isto gastando duas vezes o valor do aparelho em cabos, então comecei a revisar todos os discos que tinha à mão buscando entender aquela sonoridade.

Vieram os discos Bridges da Dianne Reeves, Below the Fold de Otis Taylor, Black Light Syndrome de Bozzio Levin Stevens, Color of Soil de Tiger Okoshi, e tantos outros discos que ajudaram a dar um sentido para aquilo que ouvíamos.

Não era um calor na região médio-grave, não se tratava de um erro no projeto ou algo do tipo. Era uma folga e uma riqueza tímbrica ainda maior em todas as regiões, que fazia com que o equilíbrio tonal não pendesse para cima como se tudo estivesse um semitom acima. Não que os Hegels tivessem esta característica, mas eles andavam no fio da navalha neste quesito. O que é fantástico para os modelos topo de linha, pois geralmente são acompanhados de cabos e fontes realmente hi-end, que custam até 3 vezes o seu valor e muita experiência de seu proprietário para sacar as necessidades do sistema e remanejar cabos, etc. Mas nos modelos mais abaixo, exigia os dois níveis do Curso de Percepção Auditiva, e mais alguns anos de bagagem, para não ficar na corda bamba e se frustrar com o aparelho, já que na audiófilia é muito fácil perder a mão e desfigurar todo o sistema.

Trocando em miúdos, com o equilíbrio tonal mais correto o aparelho fica mais amigável com cabeamentos que tenham sonoridades e filosofias de projeto diferentes. Algo semelhante ao que a tecnologia SoundEngine2 faz com caixas acústicas, ignorando um pouco de suas manias, pouco se importando com o quão pesada é a bobina de falante, controlando-a da melhor maneira possível. Este equilíbrio tonal, puxando mais para baixo, não é uma aberração, ele está presente nos equipamentos Estado da Arte alto mais modernos, fazendo com que o aparelho reaja melhor à combinações de cabos e equipamentos, dando mais folga para o streamer de áudio e fontes que tendem a sofrer de “digitalite”, como os PC Áudio que costumam ser bastante analíticos neste ponto, e de quebra ganhamos uma apresentação musical mais alinhada com as novas tendências da audiófilia, que vem buscando cada vez mais naturalidade, simplicidade (no bom sentido) na apresentação sem deixarem de ser reveladores, só que agora é o todo que chama a atenção, e não um sino na música que soa maior que um violoncelo.

Um bom exemplo é Colour to the Moon (feat. Chris Jones, Beo Brockhausen, Hans-Joerg Maucksch) onde a frequência que dá início à música em alguns sistemas soa maior que o próprio violão. No H120, a folga dele é tanta que a frequência mantém seu tamanho pequeno e assim segue até findar-se, mesmo com as variações de intensidade da mesma.

No solo de contrabaixo do disco Car Désespérée (Live), de Cécile Verny Quartet, fica bastante evidente como o H120 lida com as intencionalidades. Ele não faz concessões tirando um pouco do tamanho dos pratos para trazer a pujança do baixo, ele não tira o brilho dos assobios da Cecile para dar textura à manobra de espelho do contrabaixista, nem sacrifica a dinâmica e intensidade dos falsetes da cantora para lhe entregar um gritinho que não assusta. O mesmo se aplica ao Joe Zawinul, disco Brown Street, disco 2 faixa 1: uma pedreira e tanto com um naipe de metais vigoroso, um contrabaixo elétrico rápido e vigoroso extremamente bem digitado, mas que em meio à tantos instrumentos e um saxofone em evidência, alguns aparelhos precisam fazer alguma concessão para que o baixo elétrico não desapareça. Com o H120 não tem “mel de açúcar”: a folga e o equilíbrio tonal refinado não escondem o baixista, muito menos abala o ritmo das pausas do baterista que utiliza até o último milissegundo da pausa para soltar a baqueta na pele. Observem que no início da música, o baterista segue um ritmo mais cadenciado e as pausas são normais, mas lá pelo meio da música, quando acontece o primeiro refrão dos metais, e o baixista pega fogo, o baterista passa a dar um pelo a mais na pausa antes da batida na pele. O Rost, neste quesito dava umas bambeadas, hora dando muita ênfase para o baixista, hora ao baterista, os dois nunca ficavam cada um no seu quadrado, era como uma competição interna.

Com fones de ouvido, o H120 se mostra bastante versátil, trazendo uma boa dose de potência e controle sobre os fones da Sennheiser. Com o Grado ele foi bastante gentil em lidar com sua sensibilidade e impedância mais voltadas para smartphones. As características que se ouve nas caixas estão presentes no fone de ouvido. Velocidade e som pulsante são características marcantes. O HD 800 sentiu um pouco, em algumas passagens de música clássica, mas nada que faça perder o desejo de ouvir e querer ir guardar o fone. Já o HD 700 rodou super bem com um arejamento fantástico, timbres muito bonitos e uma precisão rítmica que dava inveja ao meu amplificador de fones de ouvido.

CONCLUSÃO

A transparência que é inerente aos aparelhos digitais, como fontes e conversores de digital para analógico (DAC), já está lá e não precisa buscar, mas fazer com que esta transparência venha acompanhada de folga, timbres e transientes, e decaimentos mais naturais, são o grande desafio para os projetistas que buscam sair do básico. E um aparelho que tem como trunfo um DAC com Streamer de música, como é o caso da maioria dos amplificadores integrados modernos, ter folga para apresentar essa transparência sem roubar a atenção da música como um todo, é de suma importância. E ter um equilíbrio tonal correto que permita ao ouvinte encarar um pouco mais da verdade contida na música é ainda mais importante nos dias de hoje.

A Hegel apresenta ao mercado nacional um aparelho de custo/benefício ímpar, que não entrega apenas um bom DAC e um streaming de música decente, ele é capaz de nos aproximar um pouco mais da verdade contida na música. Ele não é mais refinado que o H190, mas é tão correto e realista quanto, sem dúvida.


PONTOS POSITIVOS

Toca muito custando menos que seu irmão maior. Tem separação das fontes digitais das analógicas.

PONTOS NEGATIVOS

Poderia ter o DAC atualizado com as principais tendências tecnológicas do mercado.


ESPECIFICAÇÕES
Potência de saída2x 75 W em 8 Ω
Carga mínima
Entradas analógicas1x balanceada (XLR), 2x RCA
Entradas digitais1x coaxial (RCA), 3x óticas,
1x USB, 1x Ethernet
Saída de linha1x RCA variável
Resposta de frequência5 Hz à 100 kHz
Relação sinal/ruído100 dB
Crosstalk<-100 dB
Distorção<0.01% @ 50 W / 8 Ω / 1 kHz
Intermodulação<0.01% (19 kHz + 20 kHz)
Fator de amortecimento2000
Dimensões (L x A x P) (incluindo os pés)43 x 10 x 31 cm
Peso
AMPLIFICADOR INTEGRADO HEGEL H120
Equilíbrio Tonal 11,5
Soundstage 11,0
Textura 11,5
Transientes 11,0
Dinâmica 10,5
Corpo Harmônico 11,0
Organicidade 10,5
Musicalidade 11,0
Total 88,5
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADODAARTE



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