Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
O Junior, da Feel Different, foi muito gentil por, além de nos fornecer um set completo de seus cabos para teste da geração FDIII, disponibilizou também dois pares de RCA – um com plug WBT 0144 e outro com o Supra PPX – para ouvirmos se haveria diferenças entre ambos.
Como tivemos quatro meses com os cabos, foi possível fazer inúmeras observações em diversos equipamentos, além de fazer o ideal: ouvir o set completo (RCA, caixa, força, coaxial e USB). Se os importadores e fabricantes soubessem o quanto isso facilita nossa vida e possibilita testes mais criteriosos, seria excelente. Pois nem sempre os cabos enviados individualmente casam com os cabos utilizados como referência, complicando demais para serem avaliados. Ao contrário de inúmeros revisores pelo mundo, que não gostam de testar cabos, eu gosto e muito! Pois é possível (assim como caixas e componentes eletrônicos), entender o que o projetista estava buscando e a maneira com que ele procura soluções para o seu gosto pessoal.
Hoje o mercado de cabos tem duas vertentes muito claras e distintas: a do fabricante que atingiu um nível de qualidade e reconhecimento que o possibilita fazer em grande escala seus produtos, e o fabricante que têm à disposição matéria prima de qualidade, conhecimento e ousadia suficiente, para desenvolver seus produtos de forma artesanal. E ir galgando respeito e interesse pelos seus cabos, de forma gradual.
Nós, editorialmente, nunca tivemos nenhum preconceito e sempre fomos abertos a receber e testar tudo que nos é enviado. Com cabos “artesanais”, já escrevi algumas vezes que nosso cuidado é bem rigoroso, pois o fabricante tem que nos provar que consegue “replicar” o produto que nos foi enviado para teste. Caso não consiga, abortamos o teste. Já tivemos que fazer isso algumas vezes, infelizmente. Também tivemos o “dissabor” de saber pelos nossos leitores de alguns casos de produtos por nós testados, que o exemplar comprado não possuía o mesmo grau de qualidade do enviado para teste. Quando esses fatos são constatados, cortamos total relação com este fabricante, impedindo-o até de anunciar. Pois uma coisa é o fabricante “artesanal” ter dificuldade em manter a matéria prima utilizada em seu produto, já que depende de terceiros – porém neste caso, cabe ao fabricante desenvolver alternativas ou tirar aquele produto de mercado. Agora, não informar ao mercado, desculpe: isso se trata de má fé. E isso não perdoamos nunca.
Em um mundo conectado em tempo real, todas as informações (boas ou ruins), circulam instantaneamente, fazendo com que tudo seja “exposto” em um estalar dos dedos. É por isso que pedimos aos importadores de cabos que os produtos enviados sejam disponibilizados pelo maior tempo possível, assim podemos avaliá-los em todas as opções possíveis, antes de publicarmos os resultados.
Cabos dão trabalho, mas também é bastante gratificante quando pegamos exemplares com excelente performance e alta compatibilidade. Este foi o caso do cabo RCA FDlll. Assim como o cabo de caixa (leia teste na edição 265 de agosto de 2020), gostamos muito por todas as suas qualidades evidentes, alta compatibilidade e o mais importante: sua assinatura sônica ser a mesma que o de caixa. Comprovando a eficácia e consistência no desenvolvimento do projeto.
A construção do RCA FDlll é padrão industrial, não lembrando em nada que cada cabo seja feito manualmente, um a um. Mérito ao Junior pelo seu profissionalismo e perfeccionismo!
Como em toda a série, os condutores de cobre são OFC (na proporção de 99 a 89 % de pureza), prata 98%, e banho de ródio e grafeno (americano). Bitola de 5 mm, geometria de trança, e opção de conectores WBT ou Supra – ambos conectores de cobre puro, banhados com ouro e isolados com teflon. A blindagem é dupla, sendo uma com teflon. Os cabos enviados tinham 1 m de comprimento.
Depois de totalmente amaciados (200 horas), foram utilizados em conjunto ou separados para entendermos seu grau de compatibilidade com nossos cabos de referência, mas para fechamento de nota utilizamos no set completo FDlll (caixa, forca, interconexão e digital), em nosso Sistema de Referência. Quando usados juntos, buscamos utilizar os dois RCA, um entre a fonte e o pré de linha, e um entre nosso pré de referência e os powers.
Também foram utilizados nos prés da Shindo (leia Teste 1 edição de agosto de 2020), no pré da Leben (leia teste na edição de outubro de 2020), e no pré de phono da CH Precision P1 (leia Teste 1 nesta edição). Porém, a grande surpresa foi o uso do FDlll entre o toca-discos Mark Levinson (leia Teste 2 nesta edição) e os prés de phono – tanto CH Precision P1 quanto o nosso Boulder 508, com resultados impressionantes!
O RCA FDlll, seja com plug WBT ou Supra, tem um equilíbrio tonal muito correto. Nada espirra ou destoa dentro do espectro audível. Achamos que o WBT possui um “ar” a mais em termos de reprodução de ambiências, e um decaimento ainda mais extenso, mas essa diferença só foi notada em nosso Sistema de Referência e com o pré de phono P1. Nos outros prés de linha testados, e no nosso pré de phono Boulder, soaram idênticos!
Ouvindo entre o toca-discos Mark Levinson e os dois prés de phono, a beleza do foco, recorte, altura, largura e profundidade, são encantadores.
Para ouvir música clássica, não consigo imaginar um cabo de interconexão melhor (principalmente ao lembrarmos de quanto ele custa). Para o leitor ter ideia, fechamos a nota do toca-discos usando o FDlll. tamanho o grau de sinergia e refinamento.
Para sistemas analógicos Estado da Arte não imagino cabo mais adequado em sua faixa de preço. Isso fala muito do quanto ele nos impressionou.
Suas texturas são refinadas, com uma capacidade de recriar as várias paletas de cores e intensidades de forma magistral. Ouvi os cinco LPs que publiquei no Playlist deste mês com o FDlll, e ligado ao P1 tive o prazer de ouvir detalhes de texturas nunca antes percebidas! Principalmente nas percussões do LP Shakti (leia Playlist desta edição), sendo possível sentir a quantidade de energia empregada nos dedos e no abafamento da pele! Neste mesmo disco a precisão dos transientes do violão e do violino são capazes de nos levar a prestar a atenção em cada nota sem perdermos o todo, deixando o ritmo fluir em nossas mentes livremente.
Sempre lembro aos participantes do Curso de Percepção Auditiva, que os transientes precisos fazem com que o andamento seja observado simultaneamente com a melodia sem no entanto nos desviar do todo, pois se os transientes não forem precisos, sempre nossa mente é desviada para tentar entender o que foi que aconteceu.
Querem saber se os transientes do seu sistema estão corretos? Escutem o disco solo de estréia do baterista Vinnie Colaiuta, de 1994. Ele deita e rola com a mudança de andamento no meio da música, quebrando todo o ritmo. Se o seu sistema for ruim de transientes, seu cérebro dará um nó, meu amigo, literalmente! Lembro de mostrar sempre este exemplo nos Cursos, ao apresentar a importância dos transientes. Nos sistemas em que este quesito é falho, os participantes descrevem o fenômeno como um engasgo, ou como se tivesse perdido algo da passagem de tempo.
É muito elucidativo ver como os participantes reagem a esses exemplos, pois é interessante como é muito mais fácil para todos entenderem as diferenças de transientes, macrodinâmica, ambiência e corpo harmônico. E o quanto é mais difícil observar as diferenças de equilíbrio tonal e texturas. Pois esses dois quesitos dependem de referências de música ao vivo não amplificada, e por longos anos. E muitos audiófilos se negam a entender isso, achando que ouvindo música reproduzida eletronicamente em seus sistemas irão adquirir este grau de referência.
Desculpem, mas não vão!
Se o sujeito não consegue ver a diferença entre um violino e uma viola, um oboé e um corne inglês e um piano Bosendorfer e um Yamaha, não será em seu sistema que ele irá aprender e memorizar em seu hipocampo as diferenças de timbre. E sem essa referência, jamais se conseguirá ajustar corretamente sistema algum. Ninguém se torna um enólogo apenas por ter um bom olfato e paladar – o mesmo ocorre na audiofilia: seu sistema auditivo é apenas o primeiro ato, nada mais que isso.
Em termos de dinâmica, tanto a micro como a macro são apresentados de forma precisa pelo FDlll. Gostei muito do silêncio de fundo, que como no cabo de caixa permite ao ouvinte ouvir com enorme inteligibilidade as nuances mais sutis. Pode parecer bobagem, mas nosso cérebro tem uma capacidade de perceber imediatamente se o que estamos a escutar é real ou não. E se o propósito é enganar nosso cérebro em última instância, o cabo que fará essa “ponte” entre ele e o sistema, tem que ter essa qualidade. E o FDlll, cumpre com qualidade essa difícil missão.
O corpo harmônico é excelente. Isso foi comprovado em diversos LPs, tanto com pequenos grupos, como em obras sinfônicas. Com um detalhe: como o foco e recorte é exuberante, os solistas em gravação que o microfone captou com precisão o tamanho do instrumento, ficam ainda mais presentes e holográficos – o que também só aprimora ainda mais a sensação de materialização física do acontecimento musical: organicidade.
O FDlll custa menos de 1.500 dólares, e concorre com cabos importados que custam de 3.000 a 5.000 dólares! Em dias tão bicudos, este é o melhor argumento para quem necessita de um cabo Estado da Arte Superlativo para o seu sistema.
Mas ele não é apenas a melhor opção pelo seu custo. O é também pela sua performance impecável, coerente e precisa. E junte-se a este pacote tentador seu grau de compatibilidade, e os argumentos estão todos na mesa.
Se o leitor deseja ter em seu sistema Estado da Arte um cabo com essas qualidades, ouça-o.
Não tem como se desapontar, acredite!
Uma relação custo/performance difícil de bater.
Nenhum.
Condutores | Cobre 99% OFC, cobre 89% OFC, prata 98%, ródio (banho), grafeno (americano) |
Bitola | 2,5 mm |
Geometria | Trança |
Metragem padrão | 1 metro |
Conexão | WBT 0144/SUPRA PPX (Conectores de cobre puro, banhados com ouro e isolados com teflon) |
Blindagens | Duas – Sendo uma delas teflon |
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