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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

45 RPM – O APOGEU DO ANALÓGICO – Encerro essa série de playlists de LPs com cinco discos que tenho há um longo tempo, e que todos já foram apresentados ou nos Cursos de Percepção Auditiva ou em nossa sala no Hi-End Show.

As gerações pós 1984 desconhecem as diferenças sonoras existentes entre um LP de 33 RPM e essa mesma gravação em uma versão 45 RPM. Em alguns cursos eu apresentei ambas as versões e deixei que os próprios participantes tirassem suas conclusões. Interessante que quanto mais jovem o ouvinte, mais ele aprecia a versão 45 RPM, pois ele imediatamente nota que o ruído de fundo é muito mais sutil. Já as gerações que cresceram escutando LP, observam outras diferenças como sensação de tempo e ritmo ainda mais preciso, melhor escala dinâmica, etc.

Mas não pense que por ser uma prensagem 45 RPM será uma garantia que soará melhor que uma versão 33 RPM. Pois os cuidados com o LP vão muito além de aumentar a velocidade para se conseguir melhor qualidade. Pois o que irá realmente ser essencial é de onde foi extraída a master daquela prensagem. Eu já comparei prensagens que o 33 soou em tudo melhor que a versão 45. Então, para se investir em um LP de 180 gramas em 45 RPM, certifique-se de que a master utilizada seja de excelente qualidade. Se for, tenha a certeza que sempre irá soar melhor que a versão 33 em qualquer sistema analógico decente e bem ajustado!

E quando isso ocorre, meu amigo, podemos entender o fascínio ainda hoje estampado no rosto de quem escuta pela primeira vez um setup de alto nível. É simplesmente arrebatador!

Jamais apresentei qualquer um desses cinco discos e vi qualquer desapontamento ou indiferença, do jovem sem nenhuma familiaridade com LP ao audiófilo experiente.

Sei da dificuldade e os custos para se conseguir qualquer um desses discos (se em 33 RPM novo já é caro, imagine em 180 gramas / 45 rpm?), mas se tiveres a “sorte grande” de conseguir, e um sistema analógico à altura, não hesite um segundo! Pois qualquer um deles vale a pena tanto artisticamente como tecnicamente.

E ouso dizer que provavelmente serão suas referências para o ajuste de qualquer um dos quesitos de nossa Metodologia para o resto de suas vidas!

O primeiro dessa playlist é a prensagem japonesa do Assim Falou Zarathustra, de Richard Strauss, com regência de Eugene Ormandy e a Orquestra da Filadélfia. A gravação é do selo RCA Victor de 1978, que na prensagem japonesa ganhou requintes inimagináveis para os padrões ocidentais (este é um dos motivos de ainda hoje as prensagens japonesas serem disputadas a tapa e valerem peso de ouro no mercado de usados). A abertura com o órgão de tubo desta versão irá colocar o seu sistema todo em cheque, tanto em termos de resposta e sustentação das notas mais graves do órgão, como na exigência de um equilíbrio tonal perfeito para a apresentação da orquestra. Nada pode estar sobrando ou faltando, os naipes de metais são absolutamente verossímeis e com um corpo que faz qualquer sistema digital, ainda hoje, corar de vergonha! A quantidade de energia nos graves é de fazer o pelo dos braços arrepiar literalmente! E a reprodução fidedigna da ambiência da sala de gravação nos dá uma ideia exata do poder de fogo de um sistema analógico bem ajustado contra qualquer setup digital de alto nível. Eu tenho essa gravação também na versão 33 RPM, na prensagem americana (que não é nenhuma maravilha). A versão 45 RPM japonesa é simplesmente o “massacre da serra elétrica versão a laser” na mão de um orangotango faminto, rs!

O segundo LP, acredito que todo melômano e audiófilo amante de jazz tenha: Dave Brubeck Quartet – Time Out. Sou um cara com uma excelente memória visual, guardo os rostos de espanto e incredulidade na comparação de qualquer faixa deste excepcional disco com a versão digital, nos Cursos de Percepção Auditiva nível 4. No digital, o tamanho dos instrumentos é tão menor que muitos neste exemplo decidiram reiniciar sua busca por um sistema analógico e deixar o sistema digital em segundo plano. Cansei de ouvir o testemunho dos participantes, ao final do curso, de que este foi o disco que o fez entender o quanto ele havia perdido ao abrir mão de sua coleção de LPs, para se aventurar nos discos platinados, “indestrutíveis” e “superiores”! Cansei de brincar que este era o momento da cena do filme o Planeta dos Macacos, quando o protagonista vê a Estátua da Liberdade e descobre que está na Terra. Time Out tem este mesmo poder de choque de realidade. E na versão 45 RPM o choque é ainda mais intenso. É outro LP que tenho nas duas versões, e o 45 RPM come com farinha a versão 33 RPM. Os crescendos dos solos de bateria, a mão esquerda de Brubeck, possuem muito maior “realismo” e precisão na versão 45 RPM.

O terceiro LP é um velho conhecido dos nossos eventos, afinal nos últimos quatro Hi-End Shows eu encerrava a noite tocando esse disco: a famosa faixa Stimela (The Coal Train), versão ao vivo do disco Hope do músico Hugh Masekela. Claro que na versão 45 RPM. O crescendo dinâmico da abertura da bateria e percussão, que parecem que irão derreter as caixas e a eletrônica, eram de deixar os presentes paralisados e com a respiração em suspensão! Ainda hoje eu me impressiono como este LP soa bem em sistemas Estado da Arte de nível Superlativo. E não estou falando apenas desta faixa, e sim do disco todo. Um detalhe que sempre me chamou a atenção na faixa Stimela é como em alguns sistemas analógicos o chimbal soa sujo e com pouca definição. E sempre achei que era da própria gravação. Até o dia que escutei a versão 45 RPM, na qual ainda que o chimbal não soe nenhuma maravilha, ao menos tem melhor definição de corpo e mais componente agudo, para equilibrar o excesso de médio-grave. E em um setup com excelente equilíbrio tonal, torna-se muito mais palatável. Tirando esse pormenor, a captação, mixagem e masterização para uma gravação ao vivo é de alto nível. O deslocamento de ar e a energia deste disco, em todas as faixas, irá ser um teste definitivo para as pretensões de qualquer sistema que deseja ser reconhecido como Estado da Arte. Aqui não existem reféns: ou o sistema passa com méritos, ou sucumbe. Já vi muitos sistemas não suportarem os crescendo quase infinitos e darem com a língua muito antes do ápice final!

O quarto disco também é um velho conhecido de todos vocês. Para fechar a nota de Transientes é nossa maior referência há mais de duas décadas. E continua sendo essencial para entendermos e distinguirmos os produtos que atingem a nota máxima neste quesito, dos que apenas desejam este reconhecimento. Estou falando do Friday Night In San Francisco com os virtuoses: Paco De Lucia, Al Di Meola e John McLaughlin, Uso para fechar a nota especificamente a faixa 1 do lado A: Mediterranean Sundance/Rio Ancho, com o Paco de Lucia no canal esquerdo e o Al Di Meola no canal direito. É uma das gravações mais difíceis de se reproduzir decentemente. Já escutei tantas barbaridades em termos de equilíbrio tonal, corpo e transientes, que esta gravação para mim é um verdadeiro cartão de visitas. Não preciso ouvir absolutamente mais nada para saber em que patamar o sistema analógico se encontra. E algo que sempre me chamou muito a atenção, é que quando tudo está devidamente correto e perfeito, a capacidade de desvendar a intencionalidade e o grau de virtuosidade dos violonistas simplesmente “brota” à nossa frente. Caso contrário, a apresentação se torna apenas “burocrática” e nada mais. Outra informação muito importante: todas as versões que escutei até hoje digitais, são sofríveis e possuem um brilho que mostra claramente que foi utilizado alguma equalização, que destruiu a captação. Mas pode ser ainda pior: no streaming é um caso de polícia! A boa notícia: até a prensagem nacional é decente. Então em qualquer versão, se você deseja apreciar essa noite memorável, só em LP!

E finalmente uma gravação de música clássica que está entre as melhores já feitas pelo Professor Keith O. Jonhson do selo Reference Recordings. Gravado em 27 de março de 1982, no Symphony Hall em Salt Lake City. A Sinfonia Fantástica de Berlioz com regência do maestro Varujan Kojian e a Orquestra Sinfônica de Utah. É um daqueles LPs que vale a pena investir o que for necessário para ter a versão em 45 RPM. Se dê o direito de ter essa gravação, pois ela vale cada centavo investido. Em um sistema impecável, o ouvinte estará na sala de concerto com a orquestra integralmente à sua frente! É uma das experiências psicoacústicas mais impactantes que a alta fidelidade pode lhe proporcionar (se o sistema, sala e elétrica permitirem, é óbvio). Arrisco dizer que seja uma das melhores gravações de música clássica de todos os tempos. Sendo, por tamanho feito, nossa gravação de referência para fecharmos as notas dos quesitos: Textura, Macrodinâmica, Corpo Harmônico e Organicidade! O Natal está chegando, foi um ano extremamente difícil e todos merecemos ao menos um “mimo”, já que o Papai Noel faz parte do grupo de risco e já avisou que não virá este ano, rs! Então respire fundo, feche os olhos e sinta-se envolvido pelo espírito natalino, e se dê este presente. Gravações como essa nos fazem entender a razão do analógico ainda hoje ser tão emocionante e grandioso!

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