Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
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O ano de 2020 certamente marcará nossas vidas para toda nossa existência, seja de uma criança ou de um ancião. Não se passa incólume à uma experiência como essa – todos teremos cicatrizes para carregar pelo resto da vida.
Não sei se felizmente ou infelizmente, o homem tem uma enorme capacidade de “esquecer” ou de excluir de sua memória os fatos traumáticos. Por um lado, certamente que este tipo de “amortecedor” nos permite manter nossa sanidade, porém por outro lado nos faz repetir os mesmos erros, caso algo semelhante ocorra novamente.
A complexidade humana será sempre um oceano de possibilidades, teses e debates infinitos. Alguns aprendem profundamente com as diversidades, já outros simplesmente voltam aos velhos hábitos e não alteram uma vírgula em sua maneira de pensar e agir.
Dizem que o otimista apenas não tomou o tombo necessário para acabar com suas ilusões. Se este for o meu caso, eu ainda continuo mantendo minha fé inabalável no potencial humano e prefiro olhar mais para as suas virtudes do que seus erros.
E neste ano, que finalmente se encerra, tive a oportunidade de ver inúmeros fatos positivos no segmento em que atuo há tanto tempo. Já citei durante o ano alguns, mas para mim o mais significativo de todos os grandes feitos está o do ressurgimento dos projetistas nacionais de áudio hi-end! Eles parecem estar se multiplicando vertiginosamente pelos quatro cantos deste país, e isso é muito salutar!
Pois este movimento ganhou força no momento certo, com todas as condições favoráveis, se olharmos para o horizonte e não para o próprio umbigo.
Arrisco cravar que os próximos anos serão auspiciosos para os projetistas brasileiros e eles irão conquistar uma significativa parcela do mercado. Em meio a uma epidemia que paralisou o planeta, nossos projetistas não se intimidaram e colocaram seus produtos à disposição do consumidor em um momento que o dólar quase bateu nos seis reais!
Presenciei, nesses 12 meses de caos, uma paralisação quase que total de produtos importados, enquanto que, para minha surpresa, nossos leitores nos comunicaram mensalmente de seus novos upgrades, de cabos, caixas, fones, eletrônicos – na sua grande maioria fabricados aqui no Brasil.
O número de projetistas brasileiros que entraram em contato conosco, falando de seus planos para os próximos meses e de sua intenção de enviar seus produtos para teste, nunca foi tão intenso! E dos produtos que já testamos, a safra que virá pela frente é muito impressionante.
Não poderíamos fechar este ano sem testar o toca-discos da Timeless Audio, o primeiro modelo Ceres (em homenagem a este planeta anão do nosso sistema solar).
Mas antes de falar objetivamente deste lindo toca-discos, quero compartilhar a história do desenvolvimento deste belo projeto, pois foi feito a muitas mãos. Mãos de especialistas nessa área e, acima de tudo, pessoas apaixonadas pelo vinil. O CEO da Timeless, o Giovani, tem uma excelente capacidade de descobrir e reunir talentos em prol de um objetivo.
Neste novo modelo de desenvolvimento, a Timeless reuniu especialistas, cada um em sua área de expertise, para compor equipes de desenvolvimento de inúmeros novos produtos. O toca-discos se junta aos racks e cabos da Timeless, mas já no forno, além de um segundo toca-discos já em desenvolvimento, tem um DAC, um amplificador integrado, um power single-ended e uma série de caixas acústicas.
O projeto inicial do toca-discos Timeless foi idealizado pelo arquiteto e empresário Robson Moser, leitor de longa data da revista. Seu contato com toca-discos se deu na mais tenra infância, com um Thorens dos anos 50 que seu avô trouxe da Alemanha. Cresceu em uma família de músicos, com avó violinista e a mãe violonista. Aos 11 anos montou sua primeira caixa acústica e, logo em seguida, comprou seu primeiro toca-discos.
Ao se tornar sócio do Clube do Áudio em 1998, diz ele que sua visão da forma de reproduzir música eletronicamente mudou para sempre. Fascinado com este universo na reprodução musical de qualidade, em 2008 decidiu montar seu próprio toca-discos. Foram alguns anos de ensaio, estudo e pesquisa, até que conheceu de perto o trabalho de Mark Baker da Origin Live, e este encontro acabou por fortalecer sua ideia de construir toca-discos no Brasil.
Em 2017, o Moser conheceu o Giovanni e a amizade propiciou o início de uma parceria para o desenvolvimento do primeiro toca-discos da Timeless. O projeto original foi minuciosamente estudado para que problemas comuns de toca-discos fossem solucionados ainda na prancheta. O Giovanni apresentou ao Robson Moser uma série de novos materiais, mostrando as vantagens do uso de Matriz Composta Fenólica (usada nos racks da Timeless) em relação ao MDF laqueado.
O HPB (High-Pressured Phenolic Board) possui propriedades cuja densidade é tão alta quanto o alumínio, mas com uma “timbragem”, com uma assinatura sônica similar às madeiras nobres. Definida essa etapa, foram agregados ao projeto mais três especialistas: o engenheiro mecânico Billy Silveira, profundo conhecedor de materiais e técnicas de usinagem de precisão. O técnico Fernando Yanaguita, especialista em materiais compostos e montagem e operação de corte a laser e CNC e com enorme habilidade em marcenaria e construção de gabinetes de caixa acústica. E o nosso amigo André Maltese, um dos mais experientes e promissores profissionais na área de áudio analógico, que contribuiu no ajuste fino e soluções do projeto.
Por mais que as fotos deste teste tenham sido feitas por um profissional em fotografia, as imagens não fazem justiça à beleza que é olhar de perto este toca-discos. São tantos detalhes e um design tão impressionante, que um amante de toca-discos perderá mais de uma hora para “saborear” tanto requinte.
Não houve ninguém que esteve na nossa Sala, nos dois meses que o Timeless ficou em teste, que não se admirou com sua performance e design. É tão original e diferente de tudo que já se fez em termos de toca-discos hi-end por este mundo afora, que conhecê-lo vale a pena!
Duas pessoas que viram e ouviram o Timeless, antes mesmo de chegar ao mercado, já fecharam sua compra. Ouso dizer que seu sucesso será retumbante, pois sua relação custo/performance é espetacular!
Mas, vamos, por partes.
O prato escolhido de média massa, pesa 7 kg. É feito em HPB com 43 mm de espessura. O HPB, por ser um material composto de alta densidade, feito de centenas de camadas de fibra de celulose e resina fenólica, confere uma estrutura com características anisotrópicas, fazendo com que a propagação da onda sonora confira ao timbre maior uniformidade e neutralidade, se comparado a materiais sólidos (como alumínio, vidro ou acrílico). O prato do Ceres é produzido em máquina CNC de alta precisão.
Você verá nas fotos uns desenhos geométricos em cima dos pratos. Este material funciona como uma ventosa fazendo com que o LP seja sugado, o que melhora audivelmente sua apresentação dos transientes (falarei disso adiante).
A estrutura do Ceres consiste em dois “layers”: o superior onde se assenta o prato e os dois braços (se o cliente quiser), e o inferior onde estão os pés do toca-discos. Essas duas plataformas são acopladas por um sistema de 18 esferas de cristal e 3 ressonadores intermediários em formato triangular. Foram testados diversos materiais para as esferas e ressonadores, incluindo materiais elastoméricos e materiais de alta absorção. Entretanto, após testes auditivos, as esferas se mostraram mais adequadas, pelo fato delas ao invés de absorverem as vibrações externas, as transferirem o mais rápido possível, com o mínimo de reflexões. As plataformas funcionam como uma espécie de diodo difusor, onde as micro vibrações são transferidas somente em um sentido, com o mais baixo índice de reflexão.
A plataforma superior é feita do mesmo material do prato, entretanto parte dele possui camada dupla (30 mm) unida com parafusos de inox presos com alto torque, com cera de abelha entre as camadas, criando uma estrutura composta extremamente rígida, estável e com absorção controlada.
O armboard padrão do Ceres permite a montagem de braços de 9 a 12 polegadas, além da montagem de dois braços, se assim o consumidor desejar. Podem ser braços da Rega, Pro-Ject, Linn, Clearaudio, Jelco, SME ou Origin Live. Para outros braços, podem ser fabricados armboards específicos sob encomenda.
Uma bela sacada da Timeless é que o conjunto do eixo é invertido, de maneira a posicionar o centro de rolagem do prato o mais próximo possível à altura da agulha. A principal vantagem é minimizar a amplitude das vibrações espúrias. Este eixo trabalha por funcionamento hidrodinâmico: um canal, desenvolvido e calculado em formato de espiral, transporta o fluido de lubrificação para cima ao mesmo tempo em que este, por ação da gravidade, desce vagarosamente, garantindo sempre uma total lubrificação do eixo.
Na parte superior do eixo, encontra-se uma esfera de safira, que apoia o prato sob uma placa de PTFE. O resultado é um eixo com um baixíssimo nível de atrito dinâmico e alta rigidez, para uma reprodução precisa.
O desacoplamento do Ceres da prateleira do rack é feito por spikes de inox apoiados em pucks de HPB com assentos de borracha. Estes spikes permitem regulagem fina de altura, para um nivelamento perfeito.
O motor e o controlador é de ultra baixa vibração, alta precisão e torque em baixa rotação, fabricado na Suíça. Este motor é montado em um gabinete separado de alta massa (aproximado 3 kg), acoplado à um sistema de suspensão para minimizar as vibrações transferidas para a correia. O controle de velocidade de alta precisão fica em um gabinete separado com dois circuitos independentes que controlam a rotação 33,33 e 45 RPM. Um sensor monitora as mais sutis variações na demanda da corrente, decorrentes de variações de rotação, compensando.
O resultado é um nível de vibração extremamente baixo e um wow & flutter tão baixo como dos mais renomados toca-discos de referência Estado da Arte disponíveis no mercado.
O consumidor, que quiser, poderá pedir o Timeless Audio Ceres já com o braço da Origin Live (a Timeless é o distribuidor oficial da marca para o Brasil). Eles foram escolhidos pelo seu casamento e sinergia com o Ceres.
Para o desenvolvimento do projeto foram utilizados vários toca-discos para os testes comparativos e auditivos. Foram eles: Oracle Delphi com braço SME Series V, Avid Diva II SP com SME Series V, e Clearaudio Master Reference com TT2.
As cápsulas mais usadas no desenvolvimento foram: Soundsmith Carmen e Paua, Benz-Micro Wood e Glider, Koetsu Black, Transfiguration Axia, Miyajima Shilabe, e Ortofon Red.
Para o nosso teste utilizamos o braço Origin Live modelo Encounter MK3C, e as seguintes cápsulas: Benz Wood, Soundsmith Hyperion 2, e Hana ML. O pré de phono foi o Boulder 508 e os cabos XLR: Dynamique Audio Zenith 2, e Sunrise Lab Quintessence.
A performance do braço Origin Live foi tão impressionante com as três cápsulas, que resolvi depois colocá-lo no nosso toca-discos de referência, o Acoustic Signature Storm, com as três cápsulas para ver o quanto daquela performance magnífica se repetiria no Storm. O resultado foi tão avassalador que em breve sairá o teste do braço e, depois de mais de uma década usando braço SME como minha referência, acabei por realizar um upgrade para um Origin Live de 12 polegadas (sonho em maturação há muito tempo). Nas primeiras edições do próximo ano contarei minhas observações.
Quando você se depara com fontes analógicas de alto nível, duas coisas de imediato chamam a atenção: a fluidez com que a música soa (como se ela tivesse passado por um processo de descongestionamento), e a capacidade de observar detalhes que muitas vezes passam despercebidos. Essas observações foram tão intensas que demorei para entender se este alto nível era do Timeless ou do braço, ou da sinergia de ambos.
Resposta que só veio quando consegui colocar o Origin no Storm. A diferença de preço entre o Timeless para o Storm é muito grande.
O Timeless custa menos de um terço do Storm. No entanto, com o mesmo setup de braço Origin, as mesmas cápsulas, cabos e pré de phono, essa diferença fica apenas nos detalhes. Este é o maior feito deste belo toca-discos, saber que você pode economizar em toca-discos e investir mais no conjunto braço / cápsula, pois o Timeless tem inúmeras “garrafas para vender”. O que o torna a melhor relação custo / performance em um toca-discos Estado da Arte que se pode comprar.
E vou além, pois estamos falando de um investimento definitivo Estado da Arte. Em que à medida que você realiza upgrade de cápsula e braço ele irá acompanhar.
Com três cápsulas de níveis tão distintos, é surpreendente o grau de compatibilidade / sinergia do setup completo. O que significa isso? Que a grande maioria já se sentiria realizado com uma cápsula como a Wood em termos de musicalidade e equilíbrio tonal, mas que salta de patamar substancialmente se tiver possibilidade de um upgrade no braço (de um Rega para este Origin Live, que é a primeira opção que a Timeless oferece no pacote completo) e na cápsula (indo para uma Hana ML por exemplo).
Com a Hana ML o nível de realismo e conforto auditivo é absoluto! O mais exigente audiófilo, experiente com grandes setups analógicos de referência, terá que dar o braço a torcer pelo grau de coerência e resultado.
É admirável o que este setup ofereceu de beleza, musicalidade e conforto auditivo. Foram dias e mais dias de prazer auditivo e não de compromisso em fazer e anotar observações para compartilhar com o amigo leitor.
Cansei de me ver ouvindo o disco todo, depois de fazer as anotações da faixa utilizada, pois era impossível ouvir apenas aquela faixa específica.
Quando você se depara com um produto em teste com este grau de prazer e magia, você quer que o mundo lá fora simplesmente o esqueça! Muitos de vocês sabem perfeitamente o que estou dizendo.
A Hyperion 2, em relação à Hana, trouxe mais detalhamento, precisão e também as virtudes e defeitos de cada gravação. Este é um preço que se paga quando queremos o céu (é preciso não se ter vertigem de alturas tão intensas).
O Origin Live no Storm deixou ainda mais evidente as diferenças entre a Hana e a Soundsmith, e natural que assim seja pois, como falei, o Timeless custa um terço do Storm. O que provou o quanto este braço “intermediário” da Origin Live é estupendo!
O que impressiona no Timeless é sua engenharia, seu silêncio, precisão, e sua capacidade de transmitir a música sem artefatos “espúrios” de vibração externa ou variação de velocidade. Você convive com aquela robustez e se certifica que o Ceres foi feito para durar décadas sem o menor vestígio de pane.
Além de, como já escrevi, encher os olhos com sua beleza, que tira o toca-discos de preço intermediário do lugar comum de uma base de MDF envernizada, um prato de alumínio, vidro ou acrílico.
Com o Timeless, o consumidor pode sonhar voos mais ousados e ter como recompensa saber que gastou o necessário apenas para ter um toca-discos definitivo Estado da Arte que deixa uma dezena de toca-discos muito mais caros em situação constrangedora (para ser elegante).
Quem não sonhou em ter um toca-discos definitivo por menos de 20 mil reais (sem o braço), desenvolvido para ter um grau de compatibilidade e um esmero de construção só visto em toca-discos muito mais caro?
Com um design luxuoso e um grau de requinte que, antes, para adquirir este pacote, você gastaria no mínimo 10 mil dólares!
Pois então imagine poder ter este pacote (Timeless, Origin Live e Hana ML), por menos de 40 mil reais! E você não precisa começar com este pacote. Pode perfeitamente iniciar com um conjunto cápsula/braço mais modesto e ir galgando aos poucos, saboreando cada avanço, sem nunca mais ter que trocar o toca-discos.
Este é o grande apelo e trunfo deste toca-discos: oferecer a oportunidade de você ter um setup analógico com o melhor custo/performance da atualidade. Ele é a barganha analógica Estado da Arte desta terceira década que se inicia.
Pode cravar: seu sucesso irá ecoar por muitos e muitos anos. Pois tal feito não ocorre todos os dias!
O toca-discos Estado da arte definitivo para quem tem um orçamento apertado.
Absolutamente nenhum.
A nota foi a média das três cápsulas usadas com o braço da Origin Live.
TOCA-DISCOS TIMELESS AUDIO CERES | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 12,0 | |||
Soundstage | 12,0 | |||
Textura | 13,0 | |||
Transientes | 13,0 | |||
Dinâmica | 12,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 13,0 | |||
Total | 99,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
Timeless Audio
(11) 98211.9869
Toca-discos: R$ 18.820
Braço: R$ 13.700
Toca-discos + Braço: R$ 29.980 (8% off)