Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
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Se você não pode se opor, junte-se a eles. Essa é uma solução usada em vários campos de batalha, como nos negócios, nos esportes e na política. E por mais resistente que alguém seja à uma ideia, ou a uma tendência, é melhor saber a hora de depor as armas do que ser visto como aquele ’conservador’ ranzinza!
Eu já vivi essa situação antes, e na minha mente foi logo ali, e não precisos 30 anos atrás! Quando levei até onde foi possível minha resistência em adquirir meu primeiro CD-Player. Fato que só fiz por obrigações profissionais, já que as resenhas que escrevia de música na Audio News deixaram de ser enviadas pelas gravadoras em LP, e passaram a ser entregues apenas em CD.
Não desejo ser o último ‘Don Quixote’ e repetir o mesmo erro, já que os fatos estão aí para não deixar dúvidas que o streaming venceu e, daqui para frente, ou você aceita essa nova realidade, ou estará fadado a não desfrutar de milhares de gravações que jamais irão sair em mídia física!
Então, minha peregrinação por este novo formato começou exatamente no final do ano passado, quando tive acesso a alguns servidores de música e streamer. Os que nos acompanham regularmente, sabem claramente da minha posição em relação à qualidade final desta nova plataforma. E deixo claro, sem firulas, que ainda não chegou lá, quando comparado diretamente com qualquer mídia física (fita de rolo, vinil ou CD), mas que caminha a passos muito mais largos e seguros do que o CD, para muito em breve chegar lá – é muito mais fácil quando já se conhece o caminho das pedras, então certamente não irá por caminhos erráticos por duas décadas, como foi o CD.
Sendo notório o quanto algumas empresas que desenvolvem servidores de música hi-end, estão seguros do estágio que se encontram.
Os nossos leitores têm muitas dúvidas do quanto investir em um servidor de música ou streamer, e essa é uma questão que envolve muitos lados. O que tenho dito é: não se desfaça de sua mídia física e, se for necessário abrir mão do CD-Player ou transporte, invista em uma servidor de música que consiga ripar seus discos com a melhor fidelidade possível.
E lembre-se: mantenha o melhor DAC possível, ainda que o servidor de música possua um DAC interno de boa qualidade.
A outra questão essencial: invista no melhor cabo digital entre seu servidor e seu DAC. Independente do cabo ser USB, coaxial ou ótico. E se tiver que ripar todos seus CDs, certifique-se que a qualidade não o deixará frustrado. Pois ouvir um disco de referência que não soa mais como você ouvia, é frustrante demais (algo que creio ser inconcebível para grande parte de nossos leitores).
Outras perguntas que me fazem: o que acho ainda tão distante da mídia física? Depende da mídia. Se for a digital, os pontos fracos do streamer são: textura, soundstage, corpo e, nos mais modestos, equilíbrio tonal. Em comparação com as mídias analógicas, aí o buraco é mais embaixo ainda.
Então, para mim, ele não me atende satisfatoriamente nem para uso pessoal e muito menos para uso profissional. Tanto que consigo ouvir ele no nosso Sistema de Referência, no máximo por 2 ou 3 horas. E somente para conhecer novas gravações, nunca para ouvir algo que eu tenha em mídia física. Acho que deixei ’explícita’ a minha opinião pessoal em relação aos servidores de música, mas isso não me isenta de testá-los e apreciar as evoluções consistentes alcançadas recentemente.
O Servidor de Música Innuos Zen Mk3, de todos que tive acesso neste ano, é o que mais me surpreendeu (principalmente a qualidade das cópias dos CDs, dos rips) e ele traz enormes melhorias na reprodução de streaming em relação aos outros testes já publicados.
A Innuos é um fabricante relativamente novo. Fundada em 2009 por Nuno Vitorino e Amelia Santos, é uma empresa que mantém um pé no Reino Unido, onde os produtos são concebidos, e o outro pé em Portugal, onde são fabricados. Não sei como ficou essa logística com a saída do Reino Unido da União Europeia, mas me parece que nada foi alterado.
O conceito da empresa sempre foi oferecer streaming de música digital em sistemas de áudio hi-end. E, como todo começo tem uma história, a de Nuno Vitorino foi que ele montou seu primeiro servidor de música em sua garagem, mostrou aos amigos, parentes, ofereceu no eBay, e vendeu mais de 200 unidades em apenas seis meses! Este foi o ‘sólido’ pontapé inicial na carreira deste promissor projetista, com uma mente muito aberta e capaz de encontrar soluções onde os outros veem obstáculos.
A Innuos, no momento, possui quatro produtos: o Zen Mini, Zenith Mk3, Zen Mk3, e o topo de linha, o modelo Statement.
O produto que mais vi comentários entusiasmados nos fóruns internacionais, foi o Zen Mk3, pois parece ser, de todos os quatro produtos, o que possui melhor relação custo/performance. Dizer que é uma unanimidade é um risco desnecessário (principalmente nos dias atuais em que as pessoas andam com os nervos à flor da pele), mas é de longe o produto mais comentado e elogiado e, antes da pandemia, o queridinho dos eventos de áudio internacional, presentes em dezenas de salas de demonstração. Então foi fácil definir o primeiro Innuos que gostaria de testar aqui no Brasil.
Em termos de recursos, o consumidor pode começar com a versão inicial, de 1 TB, e ir realizando upgrades no HD até chegar a
3 TB, se desejar ou necessitar. Todos os produtos Innuos possuem apenas saídas USB e de rede, para que o consumidor possa usar um DAC com entrada USB, e portas Ethernet duplas com transformadores de isolamento para filtrar ruídos e melhorar a qualidade de som. Uma porta é utilizada para os dados de entrada e a outra para os streamers conectados. Você pode, por exemplo, ignorar seu roteador e conectar um streamer adicional diretamente ao Zen, por meio de uma segunda entrada Ethernet que oferece (segundo o fabricante) um sinal mais silencioso quando comparado a uma conexão direta do roteador.
Com um gabinete modesto, mas muito bem acabado, o Zen não será a ’menina dos olhos’ de nenhum setup – até entrar em operação e mostrar suas virtudes!
Se você não abre mão de uma tela LCD no seu music server, esqueça o Innuos, mas se sua essencial preocupação é confiabilidade e performance, este é um produto a ser considerado em qualquer linha de frente.
O novo Zen Mk3 teve muitas mudanças em relação à versão anterior. Agora ele utiliza uma nova fonte de alimentação linear com reguladores de ruído ultrabaixo (40uV), pés anti-vibração assimétricos, memória de 4GB para reprodução, e 8GB de RAM total. O Zen Mk3 carrega sua música diretamente para a memória para a reprodução, não sendo necessário conectar o disco rígido. Com isso, a Innuos afirma que a qualidade do som é ainda melhor (fato que concordamos integralmente).
O Zen Mk3 pode ser conectado ao seu roteador wireless ou diretamente via cabo. Depois de definida essa etapa, você só precisa entrar no “my.innuos.com” em seu smatphone ou navegador desktop, para acessar o painel de controle Innuos. Você terá uma enorme quantidade de opções para incluir: uma interface para ripar seus CDs, seleção de modo, rotina de backup e importação de arquivos de música.
Caso você não tenha o Roon (nossa mais veemente escolha para quem vai utilizar qualquer modelo da Innuos), você também pode usar o aplicativo iPeng 9, que funcionará com iPhone, iPad ou iPod touch. Ou o aplicativo Squeezer, para telefones Android, que é gratuito.
Utilizamos durante todo o teste as plataformas Qobuz e Tidal. E, depois de programado, o Zen Mk3 se conectou sem nenhum problema, sendo fácil de navegar e tendo tudo à mão sempre. Para o comparativo entre o disco ripado e as mídias originais físicas, copiei todos os discos utilizados na nossa Metodologia de Testes, mais uma coleção de 20 DSDs (incluindo os dois lançados pela CAVI Records: André Mehmari e André Geraissati). Também utilizei algumas produções musicais do meu filho, armazenadas em seu notebook em 24-bit / 96 kHz, para ouvir passando pelo Zen e diretamente ligado ao TUBE DAC da Nagra.
Tivemos a oportunidade de ficar por dois meses com o Zen Mk3, o que nos deu tempo de folga para ouvir muita música em todas as formas permitidas por este servidor de música.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Nosso Sistema de Referência (na maior parte do tempo), os integrados Hegel H390, e Sunrise Lab V8 SS. Cabos USB: Dynamique Zenith Mk2, e Quintessence da Sunrise Lab. Caixas acústicas: Wilson Audio Sasha DAW, Elipson Legacy 3230, e Q Acoustics Concept 300. Cabos de força no Innuos: Transparent PowerLink MM2, G5 Reference, e Sunrise Lab Quintessence. Cabos de caixa: Dynamique Apex, Sunrise Lab Quintessence, e Feel Different FDIII.
Como escrevi no último Espaço Aberto, edição de dezembro, é inegável o universo que temos acesso ao assinar uma plataforma como Tidal, e descobrir uma infinidade de excelentes gravações. Neste momento, minha coleção pessoal no Tidal é de 976 discos. Alguns realmente espetaculares artisticamente. E foi por essa coleção de excelentes gravações que iniciamos nossas observações.
Como não vi em lugar algum sugestão de tempo de amaciamento, resolvi começar por ouvir sem fazer nenhum tipo de anotação inicial. Comparando apenas o Zen Mk3 com os mais recentes concorrentes que tive a oportunidade de escutar em nossa sala. A diferença do Zen Mk3 para os dois Cambridges que testei é um sistema solar inteiro! Trata-se de outra louça – não há nenhum tipo de comparação possível.
As pontas tem muito maior arejamento, o equilíbrio tonal pode ser considerado corretíssimo e, com isso, temos uma apresentação de texturas muito mais próximas do que apreciamos nas mídias físicas. A primeira diferença foi tão imediata, que consegui escutá-lo por quase 4 horas sem perda de interesse ou resquício de fadiga auditiva. E nessa primeira audição, os discos escolhidos foram todos pela qualidade artística e não técnica.
Animado, comecei o segundo dia com inúmeras gravações do selo ACT (leia Playlist da edição de dezembro). Separei 20 discos e os escutei na íntegra. Como tenho apenas 4 CDs em mídia física deste selo, procurei no Tidal essas gravações para fazer um aXb no final do dia.
Fiquei surpreso como o Zen Mk3 consegue resolver um problema por mim citado em todos os music server que já escutei ou testei: a sensação de um som sempre mais bidimensional. Mesmo em gravações em que este quesito é uma referência em termos de largura, profundidade e altura.
Pela primeira vez, os instrumentos tinham um foco, recorte e planos corretos e muito mais próximos da mídia física. O que privilegia enormemente o conforto auditivo e faz com que o nosso cérebro relaxe e aprecie os detalhes. Realmente o padrão de qualidade das gravações do selo ACT são de muito alto nível! Se você deseja gravações de alto nível artístico e técnico, vale a pena conhecer este selo!
No final do dia, fiz a ’a prova dos nove’: ouvi primeiro o streaming dos 4 discos que tenho em mídia física da ACT, e depois coloquei o CD. Continua sendo uma covardia, amigo leitor. Em resumo, diria que com o streaming estamos ouvindo os músicos a uma distância que não nos permite interagir com o acontecimento musical. É tudo ‘plasticamente’ correto, nada que desabone, mas quando se troca para a mídia física, os músicos estão lá, à nossa frente materializados, respirando conosco no mesmo ambiente.
Um grande amigo que coloquei esses 4 exemplos para ouvir nas duas versões, sintetizou bem – para ele o streaming é apenas o espectro físico, sem a materialização. Achei perfeito, pois é o que falta para o seu cérebro deixar de ficar em dúvida e fazer a imersão final!
Curioso com as diferenças, ripei os quatro discos, para mais adiante voltar a fazer o mesmo comparativo.
Como sou extremamente metódico e cuidadoso com a aplicação da Metodologia, trabalhei minha curiosidade e deixei essa etapa para a fase derradeira de notas.
Em termos gerais, a performance do streaming nos oito quesitos de nossa Metodologia foi excelente, pois se mostrou um equipamento Estado da Arte de muito bom nível. E arrisco dizer que certamente atenderá a todas as expectativas de 80% de nossos leitores.
E se tivesse que escolher um Servidor de Música neste momento, para poder ser nossa referência de teste para futuros servidores, eu ficaria com este Zen Mk3 sem pestanejar. Pois seu custo/performance é excelente.
Mas, como nossas referências musicais são todas mídias físicas, prefiro investir menos em um bom servidor e melhorar outros componentes do sistema que acho mais primordiais. Como receberemos em breve o Zen Mini com fonte externa para teste, se ele me atender como servidor para reproduzir minha coleção pessoal, será este o investimento em streaming para 2021. Pois uma coisa é certa, não dá para adiar por mais tempo este investimento, tanto pela seção Playlist mensal, como para estar atualizado com os lançamentos musicais só existentes nesta plataforma.
Então, amigo leitor, no final teremos a nota do Zen como reprodutor de streaming e como leitor de mídia física copiada no seu HD interno.
Depois de três semanas curtindo minha coleção pessoal, e ‘pescando’ mais algumas preciosidades para escutar no Zen Mk3, passei a ouvir os discos da nossa Metodologia e os produzidos por nós. Afinal são gravações que conheço em detalhes.
Fiquei surpreso com a qualidade e fidelidade do rip. Aqui, nessas condições, se você não tiver como fazer um aXb, você se dará por satisfeito. E não achará nenhum problema em conviver com toda sua coleção ripada pelo Zen Mk3. As diferenças são bem menores que ouvindo a versão streaming. Existem? Sim, mas agora estamos falando de detalhes, como quando comparamos, em um sistema muito bem ajustado e sinérgico, cabos de caixa ou powers do mesmo padrão.
O que aqui buscamos, nesse caso, é entender as diferentes assinaturas sônicas e não diferenças entre o certo e o errado (este é um tema que ainda terei que abordar neste ano, pois muitos ainda teimam em achar que em áudio não existe certo ou errado – trataremos deste assunto em algum Opinião neste ano).
Então, a atenção precisa ser redobrada, pois muitas diferenças estão no domínio da ’sutileza’. Mas, em um sistema correto, serão perceptíveis, em todos os quesitos da Metodologia. Peguemos o Água de Beber, do Genuinamente Brasileiro vol 2. A moringa e o violão atrás das seis vozes que estavam à frente (a mais de 2 metros à frente): na mídia física este maior arejamento entre as vozes (uma ao lado da outra) é muito mais bem recortado, e o silêncio em volta de cada voz e dos dois instrumentos acompanhantes, muito mais bem delineado em termos de espaço físico. No Zen Mk3, este silêncio e o arejamento é menor – sem, no entanto, comprometer o foco, recorte e planos.
Vamos ao quesito Textura, nesta mesma faixa. As cordas de nylon do violão são muito mais naturais e precisas na mídia física, assim como os ataques na moringa, feitos com o anel no dedo indicativo da mão direita do músico (viu como é essencial estar presente na gravação para poder ter os detalhes dos detalhes?). O mesmo ocorre com as inflexões das três vozes femininas e masculinas, sendo mais precisas, orgânicas na mídia física.
Não vou me estender pelas 100 faixas utilizadas para fechar as notas de cada quesito, mas um último exemplo se faz necessário, que é nossa gravação DSD do Lachrimae do André Mehmari. Uso muito a faixa 12 para o fechamento de nota do equilíbrio tonal e transientes. Tem uma nota em que ele usa a técnica de dobrar os dedos para atacar a nota. Aliás, uma nota na última oitava da mão direita, o que mostra escancaradamente a qualidade de resposta de transiente como também o equilíbrio tonal nos agudos (novamente um exemplo de certo ou errado no áudio, que tantos ignoram). Já ouvi inúmeras barbaridades neste exemplo, que só ele daria para escrever dois artigos da seção Opinião.
Em sistemas com transientes ‘flácidos’, parece que ele ataca a nota com displicência, ou menor intencionalidade. Enquanto que em sistemas com resposta de transientes corretos, o sujeito que estiver sonolento dará um pulo na cadeira e acordará imediatamente. E, quanto ao agudo, já vi sistemas caríssimos reproduzirem essa nota como se o piano fosse de vidro e o martelo da tecla não tivesse feltro algum. Ou seja, de doer o tímpano esquerdo (pois essa nota soa dentro da caixa esquerda, pois pusemos a posição real que o piano estava na sala de gravação, com a mão direita, as teclas agudas, mais próxima fisicamente do ouvinte – estes detalhes de ‘real time’ e posição física dos instrumentos na sala de gravação, fazem toda a diferença para que seu cérebro acredite não ser mais reprodução eletrônica). No Zen Mk3, felizmente esses erros não ocorreram, o que se mostrou diferente da mídia física foi apenas no ataque do transiente e um nadinha a menos de extensão no decaimento da nota.
Mas, som de vidro ou flacidez? Nenhuma possibilidade!
O Zen Mk3 é um excelente servidor de música, e o seu pacote entrega absolutamente tudo que se propõe.
Para os que decidiram trilhar essa estrada e abrir mão de qualquer mídia física, não conhecer este Innuos será um erro imperdoável, e que pode levá-los a lamentar posteriormente.
Como todo produto hi-end de ponta, exige cuidados como cabos, instalação, assinar o Roon para ter a melhor performance possível, e um DAC de alto nível. É o melhor servidor de música que testamos até o momento e pode atender perfeitamente o usuário que deseja descomplicar seu sistema, deixando-o mais minimalista sem perder o padrão de qualidade já alcançado.
Como toda nova topologia tecnológica, a briga será cada vez mais acirrada, então os fabricantes que no momento despontam em termos de confiabilidade, praticidade e performance, devem ser colocados como as melhores opções em qualquer lista.
Altamente recomendado, principalmente aos que decidiram abrir mão de suas mídias físicas. O Zen Mk3 irá preservar suas gravações de maneira muito competente!
Para os leitores ainda com muitas dúvidas a respeito da plataforma Roon, pedi a um querido amigo, estudioso, usuário e apaixonado por tecnologia digital, que fizesse um artigo didático explicando as vantagens do Roon. Achei melhor colocar o texto do Antônio Buarque em um box à parte.
Acho essencial a todos que pretendem entrar neste ’admirável mundo novo’, a leitura, pois certamente ele irá tirar muitas dúvidas que muitos possam ter.
Antônio Buarque
Nos dias atuais, muito se tem falado sobre servidores de música em formato digital. Parece, de fato, que são o futuro do nosso hobby, com o potencial de simplificar nossa forma de ouvir música, colocando praticamente todas as músicas na ponta dos nossos dedos.
Porém, ainda vemos muitas dúvidas e confusões sobre esses servidores e sua forma de implementação. Vamos nos dedicar, então, a uma breve introdução a esse maravilhoso mundo.
O primeiro passo parece ser a descrição da topologia, do arranjo adotado pelos servidores de áudio. A partir da compreensão dessa topologia, todos os demais conceitos e características dos servidores ficaram mais simples.
Para falar da topologia, devemos ter em conta as quatro tarefas que existem em um servidor de áudio. Aqui, um primeiro aviso: tarefas não são sinônimo de equipamentos. Cada equipamento pode desempenhar uma ou mais tarefas. E essa talvez a maior fonte de confusões. Mas vamos lá. As quatro tarefas são:
a) armazenamento – armazena a música, no formato apropriado para o leitor;
b) leitor (servidor) de música – extrai a música do armazenamento e a transforma no formato apropriado para ser entregue para a próxima etapa;
c) transporte – constitui a interface com a próxima etapa da cadeia de reprodução (por interface aqui queremos dizer todos os componentes utilizados para tal conexão, como transistor, transformadores, conversores de formato (SPDIF, SDIF, USB, TOSLINK, I2S), relógios e a conexão propriamente dita); e
d) controle – controla as funções de armazenamento, leitura e transporte.
Veja que essas quatro tarefas estão presentes claramente nos cd-players (e em alguma medida nos toca-discos). O que ocorre no mundo do servidor de áudio é que sua compreensão ganha maior proeminência. Quer ver?
No CD-player: armazenamento é executado pelo CD; leitor é o laser que extrai a música do CD; transporte é a interface que conecta o CD player ao DAC (caso esse seja externo), ou ao pré-amplificador (caso do CD player tenha DAC interno). E o controle é o controle remoto que possibilita controlarmos todo esse conjunto no nosso sofá. Simples, não?
No servidor de música digital não é diferente. Veja:
a) armazenamento – executa a tarefa de armazenar os arquivos das músicas, no formato apropriado (com compressão ou sem compressão), e entregá-los ao servidor quando requisitados. O armazenamento pode ser em um disco rígido de um computador, em um servidor remoto (“nuvem”) ou em um aparelho dedicado exclusivamente a isso (normalmente chamado de Network Attached Storage – NAS). Note que, como essa tarefa se resume a guardar e entregar os arquivos, costuma ter baixo impacto na qualidade de som. O primordial é que os arquivos mantenham-se íntegros e sejam entregues ao servidor na velocidade adequada para evitar interrupções na reprodução;
b) leitor (também chamado de servidor, porque “serve” a música ao transporte) de música – essa tarefa consiste em requisitar o arquivo de música desejado, recebê-lo, executar tarefas de tratamento digital do sinal (DSP), tais como alterar a frequência de amostragem (sampling rate), a resolução em bits (bit depth), aplicar equalizações, alterar o formato digital, tudo conforme necessário e demandado pelo usuário, e entregar o arquivo finalizado para o transporte, na velocidade adequada. O servidor de música certamente tem bastante impacto na qualidade de som, especialmente quando se ativam as funções de tratamento digital do sinal;
c) transporte (também chamado de streamer ou endpoint) – essa tarefa consiste em receber o arquivo já tratado pelo servidor e repassá-los para o DAC. É no transporte em que se encontra a interface digital com o DAC (seja USB ou spdif nos seus mais diferentes formatos). Também é no transporte que se encontram os chamados “clocks” de áudio, tão importante para minimizar o “jitter”, ou os erros de tempo nos arquivos transmitidos para o DAC. Desnecessário dizer que o transporte é a tarefa com maior impacto na qualidade de som;
d) controle – é o método pelo qual as funções do transporte (iniciar, parar, interromper, pular para frente ou para trás, aumentar ou diminuir o volume), e as funções do servidor (tratamento digital do sinal) são controladas pelo usuário. Interessante notar que o controle não interfere no caminho do áudio. O sinal não passa por ele. Sua filosofia é funcionar como o controle remoto de uma televisão, sem interferência nenhuma. O que importa para o controle é a organização das funções, de modo a que o usuário encontre suas músicas da forma o mais fácil possível (a única exceção é quando o aplicativo de controle funciona como servidor para os serviços de streaming – Tidal, Qobuz. Mas, nesse caso, deixou de ser controle puro, e reuniu, no mesmo software, as tarefas de servidor e controle).
Agora, por que a importância de sabermos essas quatro tarefas? Porque a qualidade da reprodução está intimamente ligada às características do aparelho que executa cada uma dessas tarefas, especialmente as tarefas de leitura e transporte.
De fato, o primeiro passo do áudio em arquivos digitais foi transformar o computador doméstico no aparelho que executa essas quatro tarefas. O armazenamento era no HD. O leitor era um software de música, como Windows media player, itunes ou foobar2000. O transporte era a interface USB ou spdif da placa-mãe. E o controle era o próprio teclado ou mouse.
Porém, logo se percebeu que esse não é o arranjo ótimo para qualidade de som. Da mesma forma em que o DAC foi retirado do toca-cd, para receber maior investimento e qualidade, a indústria começou a separar algumas tarefas, criando aparelhos dedicados.
E, atualmente, existem soluções de mercado que separam todas as quatro tarefas, e existem soluções que unificam parte delas, mas já com um conceito de otimização para áudio.
Antes de examinarmos essas soluções, uma outra premissa técnica é necessária: o conceito de protocolo de comunicação.
O protocolo é o padrão utilizado para dois aparelhos possam “conversar” entre si. Existem inúmeros protocolos, tais como LAN, Bluetooth, HDMI, SPDIF, USB. E, em 2008, foi publicado o protocolo denominado UPnP (Universal Plug ‘n Play). Esse protocolo foi uma tentativa da indústria da informática de construir um formato padrão para comunicação de aparelhos conectados em rede (impressoras, aparelhos de áudio e vídeo etc.). Todos os equipamentos que adotam esse protocolo são capazes de “encontrar-se” na rede automaticamente, e comunicar-se, transmitindo pacotes de dados entre si.
Para o mundo do áudio, o UPnP foi e ainda é muito relevante, permitindo que aparelhos de fabricante diferentes interajam.
A partir desses conceitos, cria-se a topologia mais comum, em que se utiliza:
A grande vantagem é a flexibilidade. O usuário não está restrito a uma determinada marca ou fabricante. E a grande desvantagem é exatamente essa. A enorme flexibilidade impede que se construa um padrão de qualidade rígido e específico. Os grandes fabricantes normalmente investem muito no transporte, mas podem sofrer com a qualidade do servidor. E o usuário pode sofrer com a qualidade dos programas ou aplicativos utilizados para controle.
A partir daí, existem iniciativas da indústria para otimizar todas essas partes, e buscar evitar ao máximo as desvantagens. Tratemos de duas delas: o Roon e o Innuos. Cada uma delas mereceria um exame específico, tantas são suas funções e possibilidades. Mas aqui vamos apenas examinar sua utilização em conjunto, de modo a dela obter o máximo em qualidade de som.
O Innuos é uma marca que se dedica a construção de servidores de áudio digital que tem por filosofia permitir unir 3 das 4 funções em um único equipamento. Ainda que seja possível utilizar o Innuos só como leitor (servidor), ou só como transporte (streamer), o seu design é otimizado para ser utilizado como armazenamento, servidor e transporte. Apenas o controle estará em um outro equipamento (comumente um tablet ou mesmo um smartphone). O Innuos pode ser utilizado com outros equipamentos e controles no protocolo UPnP, ou com o Roon.
Já o Roon é um software que se afasta do padrão UPnP para oferecer uma melhor experiência para o usuário. O Roon desenha o seu próprio leitor-servidor (Roon Server), o seu próprio software de transporte (Roon Advanced Audio Transport – RAAT) e o seu próprio controle, de modo a melhor gerenciar a biblioteca de músicas do usuário. Note que o Roon fornece seu software de transporte para os fabricantes implementarem em seus aparelhos-transporte (esses são os aparelhos Roon Ready, como os MSB, dCS, Cambridge, Sonore, Lumin, Aurender, PSAudio e tantos outros).
Agora, como o Innuos e o Roon funcionam em conjunto? Simples. O Innuos utiliza o software do Roon como leitor (servidor) e como transporte, permitindo ao usuário também utilizar o software do Roon como controle, para sua melhor experiência. O Roon ainda tem uma função que permite utilizar o servidor do Roon mas o software de transporte da própria Innuos.
Essa opção, em caráter de experiência, ou seja, sem suporte, funciona a partir da simulação de o Roon ser um aparelho com a tecnologia “squeezebox”. Essa é uma tecnologia mais antiga, desenvolvida pela Logitech, e já transferida para o domínio público. Ao simular ser um aparelho “squeezebox”, o Innuos consegue implementar o seu próprio software de transporte, evitando o Roon. A vantagem é que o Innuos consegue carregar o arquivo todo da música em sua memória RAM, de alta performance, e fica imune a qualquer atraso por parte do armazenamento (opção que o software da Roon não permite), facilitando a sincronização do transporte com os seus “clocks”. Em princípio, essa opção apresenta qualidade de som superior, porém com a desvantagem de ser opção em caráter de experiência, ou seja, sujeita a falhas.
Por fim: como funcionam os serviços de streaming (Tidal, Qobuz e Spotify)?
Os serviços de streaming podem ser descritos a partir daquelas 4 tarefas. Mas a distribuição das tarefas muda conforme a utilização. Assim: quando se utiliza o aplicativo para celular, ouvindo diretamente no celular: o armazenamento dos arquivos está em serviços remotos; e o aplicativo faz as funções de leitor (servidor), transporte e controle. Agora, é possível separar o transporte, por exemplo. Isso acontece quando se utiliza a função Spotify Connect, ou a conexão UPnP do Tidal ou Qobuz.
Também, o Tidal e o Qobuz permitem que outros fabricantes transformem seus serviços em puro armazenamento. É o que ocorre quando se utiliza o Roon, ou aplicativos como bubbleupnp ou mconnect. Nesse caso, o Roon ou o aplicativo se conecta à base de dados do serviço de streaming, e executa as demais funções. Nesse caso, a biblioteca desses serviços é, na verdade, um grande disco rígido “em nuvem”.
Em suma: para entender o mundo do áudio em arquivos digitais é muito útil ter em conta as quatro tarefas aqui descritas (armazenamento, leitor (servidor), transporte e controle). E quando for utilizar qualquer das soluções disponíveis no mercado, o usuário deveria se perguntar: estou utilizando a melhor solução tecnológica para cada uma dessas tarefas, otimizando a qualidade de áudio e a facilidade de uso? A resposta a essa pergunta é o que fará avançar o estado da arte.
Um servidor de música hi-end de excelente performance.
Os que não abrem mão de uma tela LCD , irão achar o produto sem graça esteticamente.
Saída digital | • USB 2.0 (Class 2, DoP, DSD nativo e MQA) • Ports Ethernet |
Ethernet | 2x RJ45 (Bridged Gigabit Ethernet) |
USB | 1x USB 2.0 (DAC), 1x USB 3.0 (Backup) |
CD | Red Book |
Compatibilidade de discos | CD, CD-R, CD-RW |
Formato armazenado nos CDs | FLAC (zero compressão), WAV |
Formatos suportados para streaming e reprodução | WAV, AIFF, FLAC, ALAC, AAC, MP3, MQA (com DACs que tenham suporte MQA) |
Taxas de amostragem | 44.1 kHz, 48 kHz, 88.2 kHz, 96 kHz, 176.4 KHz. 192 kHz, 352.8 KHz, 384 KHz, até DSD128 via DoP, DSD nativo em DACs selecionados |
Bit Depths | 16-bit, 24-bit, 32-bit |
Interface web | Web Browsers do iOS, Android (4.0 e acima), ou browser atualizados em Windows e OSX |
Móvel | App para iPhone/iPad, Android e para Windows 10 |
Drive de CD/DVD | TEAC Slot-loading drive |
Hard Disk | TB WD Red HDD |
CPU | Intel Quad Core N4200 |
Memória | 8GB DDR3 Low-Voltage RAM (4GB dedicado à reprodução) |
UPnP/DLNA | Servidor UPnP integrado |
Serviços de Streaming | Qobuz, Spotify Connect, Tidal, Internet Radio |
Compatibilidade Roon | Roon Core e Roon Bridge |
Tempo médio para ripar um CD | 5 minutos |
CD Metadata | FreeDB, MusicBrainz, Discogs, GD3 |
Sistemas de música compatíveis | • Sonos Multi-room Wireless Music System • Equipamentos com compatibilidade DLNA/UPnP • DACs USB (padrão Audio Class 2) • DACs USB com suporte a DSD através de protocolo DoP • DACs USB com suporte a DSD Nativo |
Rede | • Conexão Internet com acesso à metadata quando armazenar CDs, Internet Radio, Serviços de Streaming e atualizações de software • Roteador de rede com uma porta Ethernet livre • A assinatura é necessária para alguns serviços de streaming como Spotify, Qobuz e Tidal |
Apps recomendados (apenas conexão USB) | iPeng 9 (iOS), OrangeSqueeze (Android), Squeeze Control (Windows 10) |
Alimentação | 115V/230 V AC (fonte interna Dual-Linear) |
Consumo | 12 W (ocioso), 15 W (pico) |
Dimensões (L x A x P) | |
Peso |
SERVIDOR DE MÚSICA INNUOS ZEN MK3 (COMO STREAMING) | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 12,0 | |||
Soundstage | 10,0 | |||
Textura | 10,0 | |||
Transientes | 11,0 | |||
Dinâmica | 11,0 | |||
Corpo Harmônico | 11,0 | |||
Organicidade | 11,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 88,0 |
SERVIDOR DE MÚSICA INNUOS ZEN MK3 (COMO SERVIDOR DE MÚSICA) | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 13,0 | |||
Soundstage | 12,0 | |||
Textura | 12,0 | |||
Transientes | 12,0 | |||
Dinâmica | 11,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 13,0 | |||
Total | 97,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
German Audio
contato@germanaudio.com.br
R$ 24.650
1 Comments
Como obter (comprar) as gravações da CAVI em DSD??
Lacrimae me interessa demais neste formato (não tenho mais SACD mas sim DAC compatível com DSD)