Opinião: ISOLAMENTO DE CAIXAS – UM ETERNO PROBLEMA

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Este é um assunto recorrente nas páginas da revista, desde o primeiro ano de vida desta publicação. As abordagens foram diversas, desde artigos mostrando a importância dos spikes para diminuir o problema, até o uso de plataformas específicas e pisos bem feitos.

O problema é que todos esses cuidados são posteriores à definição, compra e instalação das caixas acústicas. Então a primeira dica, e a mais importante é: levar em consideração, além da assinatura sônica da caixa, também sua estrutura e os cuidados do fabricante com a construção do gabinete. Principalmente se estivermos falando de colunas e de tamanho razoável (de médio para grande).

Hoje sabemos que não é nenhum problema medir o som de baixas frequências irradiados por uma caixa acústica, e como este som se comporta dentro do gabinete, e externamente, depois de irradiado. Tanto que desde que o problema e suas consequências passaram a ser mensurado de maneira prática, dezenas de acessórios foram desenvolvidos na tentativa de neutralizar ou ao menos minimizar seus efeitos ruins.

O problema pode ser tão intenso que é bastante comum observar diferenças significativas de mais de 10 ms de reverberação do gabinete da caixa em frequências mais graves. Alterando por completo o equilíbrio tonal da caixa, sem falar no acréscimo de até 6 dB nos harmônicos em salas acusticamente não tratadas.

Se o amigo leitor achar que sua caixa acústica é muita boa em termos de isolamento de baixas frequências, sugiro uma avaliação minuciosa colocando uma gravação com órgão de tubo, e passando o ouvido grudado no gabinete de cima até embaixo. Garanto que você ficará surpreso como a falta de homogeneidade do gabinete em diferentes pontos.

E também vale a pena colocar a mão em volta da caixa (escutando a mesma gravação de um órgão de tubo) para entender se o spike original da caixa é plenamente satisfatório ou não.
O importante é que o volume da gravação não passe nos fortíssimos de 90 dB, e em média fique entre 70 e 80 dB.
Alguns modelos utilizam o gabinete da caixa como um instrumento musical, vibrando propositalmente, então nesses casos o grau de isolamento certamente do gabinete será muito menor. Se for este seu caso, sugiro apenas a segunda parte da avaliação de medição da vibração: a que passa para o piso e o quanto esse isolamento é eficiente ou não.

Varifoot – Hi-Fi Experience

A primeira parte consiste em observarmos como os graves se comportam em termos de inteligibilidade, corpo, sustentação e decaimento. E como ouvimos este grave quando avaliamos o som do gabinete da caixa. Com isolamentos bem feitos, o gabinete terá a mesma vibração em todos os pontos medidos. Em gabinetes mais modestos, será assustador ver o comportamento das vibrações em pontos diferentes. Muito mais dramático que fazer e observar a sonoridade quando batemos com o nó dos dedos na caixa (hábito que tenho desde os oito anos de idade), é colocar o ouvido encostado na caixa enquanto reproduzimos o órgão de tubo.

A esmagadora maioria dos gabinetes tem partes mais bem isoladas e outras completamente ressonantes. Para o leigo isso pode até ser o menor dos problemas, pois o que esperamos é sempre escutar o conjunto (falante/crossover e gabinete) de nossas caixas, mas quanto menos eficiente for o gabinete e seus spikes, maior o risco de coloração. Traduzindo para os leigos, essa coloração altera o equilíbrio tonal, a inteligibilidade e em casos mais dramáticos, cria aquela sensação na primeira fundamental da caixa de ter um grave de uma nota só!

Agora imagine essa coloração aliada à uma sala não tratada, e teremos a tempestade perfeita! Interessante que achamos que contornado o problema da acústica resolveremos o problema definitivamente e, muitas vezes, conseguimos corrigir o excesso de grave, mas o grau de inteligibilidade e o equilíbrio tonal se mantém. O que leva muitos audiófilos a se frustrarem e acharem que todo o dinheiro gasto no tratamento acústico foi jogado fora.

The Pedestal Isolation Pod – Wilson Audio

Lembra que eu sempre falo em meus artigos de não perder o foco no elo fraco? Pois bem, resolvemos o principal, mas não o secundário, que é a questão de isolamento de gabinete e dos spikes corretos para a caixa tipo coluna.

Acredite, spikes e bases corretas para pisos ruins, podem fazer milagres ou estragar ainda mais o que buscamos corrigir.

Se objetivamente conseguimos medir o grau de isolamento de uma caixa, precisamos entender, auditivamente, como essas colorações agem no equilíbrio tonal e na inteligibilidade. Muitas vezes, em minhas consultorias, observo que o cliente nem escuta as vibrações que muitas vezes suas caixas fazem em determinadas frequências. Sendo as mais audíveis justamente as que soam no segundo e terceiro harmônico da fundamental mais grave da caixa.

Às vezes isso ocorre pelo uso de moedas embaixo de spikes que não estão solidamente assentados. É preciso lembrar que pisos são irregulares, e muitas vezes é preciso de tempos em tempos ir lá e ajustar os spikes novamente.

Avaliar a qualidade do spike tanto em desenho como em qualidade do material é bem interessante. Já vi verdadeiros “milagres” na troca de um spike por outro com um design mais “inteligente” e de um material mais adequado ao peso da caixa.

Outro problema de difícil solução são os tapetes grossos, em que o usuário opta por usar spikes sem ponta. Os graves quase sempre perdem definição e a borda da fundamental fica sempre mais indefinida. Nesses casos é preferível o uso de uma moeda entre o tapete e o spike de ponta.

E se os pisos são desses carpetes de madeira? Essa é uma pergunta constante que recebo de nosso leitores. A solução é uma plataforma dedicada para as caixas. De outra maneira, o usuário jamais terá graves firmes e o isolamento perfeito caixa/piso.

Na nossa Sala de Referência, o piso base de concreto tem 30 cm antes da colocação do piso de acabamento. Claro que este diâmetro de concreto é um exagero para um consumidor, mas não para uma sala que já recebeu caixas para teste que pesavam 300 kg cada uma! Tudo foi planejado para condições extremas. O mesmo ocorreu com as armadilhas de grave, que foram sintonizadas prevendo caixas que desçam à 18 Hz! Ainda não recebemos nenhuma caixa com essa resposta, mas estamos perto desse dia chegar!

Isoacoustics Aperta 200 Isolation Speaker Stands

Voltando aos pisos ruins, existem vários materiais que podem sem utilizados na produção dessas plataformas. Eu nos últimos 20 anos testei inúmeras, e posso garantir que não existe uma plataforma para todas as caixas. Tudo irá depender da assinatura sônica da caixa. Exemplo: para uma caixa que tenha baixa coloração de gabinete, não será adequada uma plataforma de pedra, por exemplo – pois tenderá a deixar os graves ainda mais secos e comer os harmônicos. Neste caso, algum material como madeira ou um composto de materiais poderá ser a melhor opção.

Já vi leitores dando seu testemunho de plataformas feitas com acrílico – mas minha experiência com este tipo de material para plataforma de caixas foi negativa sonicamente. Mas como isso não é uma arte exata, talvez caixas em que o gabinete soe como um instrumento acústico, pode ser que funcionem. Pois o acrílico tende a secar (muito menos que pedras) a fundamental, então em alguns casos pontuais pode ser que funcionem, quando os graves parecem ligeiramente mais cheios do que deveriam, e se tenha o desejo apenas de pontualmente aliviar essa coloração.

Townshend Seismic Isolation Podiums

Chapas de ferro podem ser necessárias para caixas com mais de 200 kg, mas novamente pode ser uma faca de dois gumes. Pois pode isolar bem do piso irregular, porém pode trazer colorações em outras regiões como, no médio-grave. Vi isso ocorrer algumas vezes com caixas bem distintas, então minha recomendação é que se tenha cuidado, pois é um material pesado e difícil de manipular.

E, por fim, uma última dica: sei que muitos de vocês levam muito à sério nossas dicas e têm o costume de experienciar tudo que aqui escrevemos. Mesmo que sua caixa, no teste de ouvido do gabinete, ele soe muito vivo e colorido, antes de sair detonando com ela, respire fundo e ouça como ela soa em termos de equilíbrio tonal, inteligibilidade e definição das duas primeiras oitavas. Gravações de órgão de tubo são muito críticas para qualquer bom sistema bem ajustado. Então se certifique que escolheu uma gravação com excelente captação e mixagem.

Se ocorrerem os problemas aqui citados, comece por avaliar posicionamento da caixa em relação às paredes, pois muitas vezes um novo posicionamento corrige esses dBs a mais de coloração. E se, ainda assim, o problema continuar, pense seriamente no tratamento acústico tão adiado, antes de sair trocando a caixa, piso, spikes, plataformas, etc. Pois, como disse, é preciso manter o foco e, antes de qualquer atitude, descobrir os elos fracos.

Acústica é mais importante que isolamento de caixa ou qualidade de gabinete da mesma. Agora, se o tratamento já foi feito e os problemas de inteligibilidade e equilíbrio tonal se mantém, todas essas dicas serão de suma importância para um diagnóstico mais preciso de suas caixas.

Boa sorte! E que em 2021 possamos resgatar o que ficou em 2019!

É o que desejo a todos vocês e seus familiares!

1 Comment

  1. luiz coelho disse:

    excelente matéria….muito bom ter esclarecimentos sobre acustica das caixas acusticas. tenho aqui no meus sistema um sistema stereo receiver onkyo tx 8050 e duas caixas acusticas intinity p363 e tenho duvidas sobre a necessidade de spikes. obrigado pelos esclarecimentos

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