Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Introduzir um novo modelo em uma série que é uma referência no mercado de áudio hi-end, como foi por uma década com os modelos HD 600 e HD 650, é um desafio e tanto.
Mas a Sennheiser sabe muito bem o que faz, e sentiu em 2017 que estava na hora de mostrar que os avanços obtidos no HD 800 deveriam ser também oferecidos em uma nova geração da série 600.
Tive o HD 650 por um bom par de anos, antes de ir para o HD 800, e sentia que a distância entre ambos era muito grande (o que dirá então para o HD 600). Mas, ainda assim, o DNA Sennheiser fica evidente em ambos com algumas horas de audição com um bom amplificador de fone.
O interessante da série 600 é que, ou o audiófilo ama sua sonoridade e construção, ou a abomina. Raramente presenciei, com outros fones, posições tão “demarcadas”. O que eu sempre questionei aos que nunca deram uma “boa chance” para a série 600, é que não dá para querer os benefícios e a qualidade da série 800 pelo preço que custa a linha 600.
Esqueça “preço Brasil”, em que tudo é exorbitantemente fora da realidade. O produto em teste custa menos de 500 dólares lá fora, e aqui no Mercado Livre é vendido acima de 4000 reais! Como diria o Caetano Veloso: “Alguma coisa está fora da ordem”. E está mesmo, ou melhor, sempre esteve, e enquanto este país for fechado ao mundo (não precisa ter uma reserva de mercado, basta ter alíquotas exorbitantes) para fazer o trabalho sujo e ainda assim não ser criticado pela OMC (Organização Mundial do Comércio).
Não sei se viverei para ver este país ter alíquotas de importação justas, para se acabar de vez com o contrabando e as falsificações indecentes vendidas nos camelôs das cidades.
Mas esse não é o meu trabalho, então voltemos ao HD 660S, em termos estéticos as mudanças foram bastante pontuais. Continua sendo um fone confortável, com quase toda estrutura de plástico (mas que nunca tive nenhum problema de trinca ou quebra de alguma parte). Aos que atacam ele ser de plástico, gostaria de lembrar que este é um dos motivos dele ser leve e permitir audições mais prolongadas.
Como todo fone, os cuidados precisam ser redobrados com relação à almofada, pois de tempos em tempos será preciso trocá-las (principalmente os que vivem deixando o HD 660S, pegando sol ou fora de sua embalagem).
Li também que muitos consumidores reclamam que o cabos de 3 metros ser difícil de colocar de novo na embalagem (um consumidor até usou o termo “rebelde” para reclamar do cabo), e pensei com os meus botões: se este consumidor um dia tiver um fone Grado, ele enlouquece, rs).
Outras reclamações dos “orelhudos” é que o diâmetro da espuma poderia ser maior para que parte das orelhas não fiquem sobrando para fora. Eu fiquei olhando as espumas do HD 660S e achei que para isso ocorrer a orelha terá que ser realmente grande!
O HD 660S vem com dois cabos, um com a terminação de ¼, e o outro é um cabo 4,4 mm balanceado. No pacote a Sennheiser também inclui um adaptador de 1/4 para cabo de 3,5mm. Segundo o fabricante, a impedância é de 150 ohms e a sensibilidade de 104dB, e resposta de 10Hz a 41kHz.
A única mudança visual digna de nota é que saiu o cinza chumbo da série 600, e agora o preto fosco é que irá prevalecer.
Para o teste, utilizamos nosso amplificador de fone que está incluso no pré de linha do Nagra Classic. O fone já veio integralmente amaciado, com mais de 500 horas de uso. O que nos facilitou enormemente, pois só tivemos o trabalho de selecionar as faixas para avaliação de cada um dos quesitos da Metodologia.
Por ser um fone aberto, é sempre importante o usuário levar em conta o ambiente à sua volta, pois ele pode realmente incomodar as pessoas à volta! Então, se este for seu caso, pense nas consequências na calada da noite enquanto os outros dormem, o volume que você irá utilizar para escutar suas músicas.
Uma reclamação recorrente que sempre escutei na série 600 era ter pouco grave. E tenho que concordar que no HD 600 esta limitação era mais evidente, que no HD 650 melhorou “sutilmente”. E agora no HD 660S?
Bem, se o amigo for um rato de informação como eu, e ler quatro a cinco testes, ficará mais confuso que bêbado no cemitério! Pois li resenhas desancando os graves e revisões elogiando os graves do HD 660S. Em quem acreditar? Quem tem maior credibilidade e conhecimento para dizer se tem ou se falta? Eu só posso lhe dizer como eu separo o “joio do trigo”: vejo atentamente os equipamentos que o revisor tem ou usou, e principalmente as músicas utilizadas para a avaliação auditiva. Aí eu consigo ter um norte razoável.
Um dos caras que desancou os graves, teve a sutileza de afirmar que “falta sub grave” no fone! UAU! Imagino quais sejam seus fones de referência para avaliar graves, pois se me oferecerem um fone que reproduz “subgraves” eu nem coloco na cabeça!
Outro escreveu que os graves eram tímidos e sem dinâmica. Aí fui olhar a lista de discos dos dois “formadores de opinião”, e fui ouvir suas referências. O do sub grave utiliza gravações eletrônicas e o famoso “bate estaca” em todas as gravações citadas. Ele jamais deveria perder seu tempo com um fone Sennheiser. E o outro é um pouco mais “comedido”, mas suas referências pop são altamente turbinadas e comprimidas.
Detalhe: ambos também criticaram os agudos, afirmando que falta “brilho” e “clareza”! Bem, meu amigo, se estes são os caras que irão lhe orientar na compra só seu futuro fone, não leia mais uma linha deste teste, pois tudo que observei vai na contramão do que eles observaram e escreveram.
Os graves não são de um HD 800, ou de um Classic Meze. Mas são melhores que as versões da série 600 anteriores, com uma melhor extensão e sustentação (principalmente na reprodução de órgão de tubo, que deixou nítido esta melhora) e mais peso e definição a partir dos 60Hz, que é onde se define o médio-grave no primeiro, segundo e terceiro harmônico!
Com isso, o HD 660S deu um passo significativo à frente.
Os médios, como em todos os fones da série HD 600, são excelentes. Transparência, recuperação de micro detalhes, planos e uma facilidade de organizar os naipes de forma magistral.
O amigo leitor quer saber quanto os médios de seu fone de ouvido são bons? Ouça corais à capela bem gravados, sejam os grandes corais russos ou de música sacra. Nos crescendos é que o bicho pega. Se seu fone separar os naipes com precisão, possibilitando acompanhar todas as vozes sem perder o todo, creia que seu fone passará em qualquer teste.
E os agudos que os revisores citados disseram que faltava “brilho”, felizmente estão certíssimos! Esta “falta de brilho” é que faz do HD 660S um fone com excelente equilíbrio tonal nas altas. O amigo poderá ouvir flautins, pratos, trompete com surdina, pianos, violinos com o melhor conforto auditivo possível!
Também ouvi críticas à dinâmica do fone. Não sei o que os críticos imaginam ser uma boa dinâmica para um fone hi-end, mas eu diria que o HD 660S cumpre com méritos as passagens do forte para o fortíssimo como todos os bons fones hi-end desta categoria.
E outra crítica que li (esta por mais de um revisor) é que o soundstage não é bom! Bem, aqui somos a única revista que aboliu este quesito da Metodologia de fones, pois em fone nenhum o soundstage é bom. Desculpem, a música não foi gravada para tocar em volta da nossa cabeça, ou o cantor aparecer na ponta do meu nariz. Essa discussão eu já tinha na revista Audio News, quando fui convidado para ser jurado do primeiro campeonato de som automotivo hi-end no Brasil. Foi tão constrangedor dar nota para um item que não existe nos carros que jurei a mim mesmo, nunca mais passar por aquilo!
Fone de ouvido é a mesma coisa. O soundstage necessita de arejamento, espaço, corpo harmônico, silêncio em volta de cada instrumento. Isso não existe nem na acústica de um carro e muito menos em um fone de ouvido!
O HD 660S é um passo muito consistente à frente em sua série. Em um nicho tão disputado como o de fones na faixa de 500 dólares, muitas concessões tiveram que ser feitas em termos de acabamento e tecnologia.
Mas o importante, na minha opinião, é que algumas limitações foram resolvidas e o colocam mais perto da série 800 que todos os seus antecessores.
E isso é bom? Para quem busca um fone de ouvido hi-end nesta faixa de preço, certamente que sim.
E o que mais prezo neste avanço que o aproximou do HD 800, foi seu conforto auditivo! Algo tão essencial e tão relegado a segundo plano, por quem nunca ouviu um fone hi-end equilibrado.
Se o sujeito quer furar os tímpanos e perder sua audição aos 40 anos, existem baciada de opções para lhe deixar surdo! Mas se o sujeito quer apenas ouvir suas músicas com conforto e prazer, o HD 660S faz parte deste grupo, que felizmente ainda é significativo.
Então, meu amigo, se é um fone desse “perfil” que estás procurando, escute-o com a atenção que ele merece.
Um fone hi-end de entrada muito bem planejado.
Por ser um fone tipo aberto, necessita de cuidados na regulagem de volume para não incomodar as pessoas em volta.
Tipo | Dinâmico / Over-ear |
Tipo de fone de ouvido | Aberto |
Cabo destacável | Sim |
Cor principal | Preto |
Material | Velour |
Resistência | 150 Ohms |
Resposta de frequência | 10 a 41.000 Hz |
Distorção harmônica | <0,04% |
Pressão sonora (SPL) | 104 dB |
Garantia | 12 meses |
Plugue | 3.5 + adaptador 6.3 mm |
Peso | 260 g |
FONE DE OUVIDO SENNHEISER HD 660S | ||||
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Conforto Auditivo | 8,0 | |||
Ergonomia / Construção | 8,0 | |||
Equilíbrio Tonal | 9,0 | |||
Textura | 9,0 | |||
Transientes | 10,0 | |||
Dinâmica | 9,0 | |||
Organicidade | 9,0 | |||
Musicalidade | 9,0 | |||
Total | 71,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
Sennheiser
(11) 3136.0171
R$ 4.071
1 Comments
Acabei de receber meu Sennheiser hd 660s. Quatro vezes mais caro que meu akg k702. Resumindo, gostaria de não ter acreditado em avaliações de sites. Muito barulhento. Acaba encobrindo os detalhes mais sutis das músicas. Eu já tenho o outro barulhento hd 560s. Bom para aprender. Continuar para o hd 800s??? Nunca mesmo. Obrigado.