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Berg’s Violin Concerto, Seven Early Songs, & Three Pieces for Orchestra - San Francisco Symphony

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Agradeço aos leitores que finalmente se manifestaram para me dizer o que estão achando das playlists das últimas edições.
É reconfortante saber que está valendo a pena sair do lugar comum, e que muitos de vocês estão apreciando ouvir obras que, ainda que causem no primeiro momento um certo ‘estranhamento’, são ‘palatáveis’.

Sim, se tem algo que é extremamente fantástico nessas plataformas de música, como o Tidal e o Qobuz, é nos darem a oportunidade de conhecer trabalhos que antes seria impossível de descobrir.

Já que tive o ‘aval’ de vocês, vou continuar nessa empreitada de apresentar obras que merecem nosso tempo e apreciação.

1- BERG: VIOLIN CONCERTO, SEVEN EARLY SONGS & THREE PIECES FOR ORCHESTRA
OUÇA BERG: VIOLIN CONCERTO, SEVEN EARLY SONGS & THREE PIECES FOR ORCHESTRA, NO TIDAL.

O primeiro disco deste mês é do compositor austríaco Alban Berg (nascido em 9 de fevereiro de 1885 em Viena, de origem judaica), que foi gravado entre 2015 e 2018, com a orquestra sinfônica de San Francisco com a regência de Michael Tilson Thomas e o violinista Gil Shaham.

Neste disco, o ouvinte desfrutará do concerto para violino de 1935, as obras para soprano, piano e orquestra de 1905-1908, e peças para orquestra compostas entre 1913 e 1929 – dando a oportunidade ao ouvinte que não conhece este compositor, de ter uma ideia consistente de sua genialidade.

Outro enorme ‘chamariz’ para este disco é que ele foi masterizado em 24-bit/192 kHz (e em MQA). E realmente é audível a qualidade desta gravação, realizada na sala de concertos San Francisco Davies Symphony Hall (considerada uma das melhores salas de concerto do mundo).

A vida de Alban Berg daria um belo romance. Ele foi intitulado, após sua morte, como o criador da música dramática moderna. Seu pai fora, em Viena, um vendedor de livros muito respeitado que morreu antes de Berg completar 16 anos. Foi uma adolescência muito difícil e que só ganhou um novo rumo depois que Berg iniciou seus estudos musicais com Arnold Schoenberg.

Antes de decidir que queria ser compositor, Berg trabalhava em um escritório de contabilidade do governo e, em 1906, graças a uma modesta herança de seu pai falecido, conseguiu se dedicar em tempo integral aos estudos com Schoenberg. Em 1911 casou-se e, com a crise da Primeira Guerra Mundial, teve que servir no exército austríaco. Como possuía uma saúde muito debilitada com crises respiratórias agudas e crônicas, conseguiu ficar longe dos campos de batalha, fazendo serviços burocráticos em Viena.

O Concerto para Violino e Orquestra deste disco, teve sua premiére póstuma, pois foi proibido de ser executado durante a ascensão de Hitler na Alemanha, por ser considerado uma obra ultrapassada e ‘melancólica’.

Algumas de suas obras escritas só sobreviveram ao nazismo graças ao trabalho de amigos e alunos, que enterraram em Viena, em um esconderijo secreto, suas principais partituras.

Além das três obras deste disco excepcional, se você se interessar eu indico também: o Quarteto de Cordas op.3 (1910) e a Suíte Lírica para Quarteto de Cordas (está uma obra já inteiramente dodecafônica, que pode assustar a maioria de vocês), que nos dá um panorama completo de sua exuberante formação musical e sua inspirada veia poética.

Sugiro que, se o amigo leitor tiver um grande ‘desconforto’, que inicie as audições pela faixa 3 – Early Songs, composta para soprano, piano e orquestra. E, como um vinho raro, aprecie sem pressa.

Agora, se você for um leitor aberto a experimentações de todos os gêneros, ouça de cara a faixa 1 – Concerto para Violino e Orquestra.

ARCOLUZ – RENAUD GARCIA-FONS (COM KIKO RUIZ & NEGRITO TRASANTE), NO TIDAL.
2- ARCOLUZ – RENAUD GARCIA-FONS (COM KIKO RUIZ & NEGRITO TRASANTE)

Este disco foi lançado em novembro de 2020. E para os leitores que nos acompanham há pelo menos mais de um ano, já leram aqui mesmo indicações dos trabalhos do baixista francês Renaud Garcia-Fons, um músico que adora explorar novas sonoridades com parcerias em todos os continentes.

O mais impressionante deste baixista é como explora o seu contrabaixo acústico, fazendo-o muitas vezes soar como um cello ou quase um violino, graças à sua impressionante técnica de uso do arco.

Neste trabalho ao vivo ele se uniu ao violonista flamenco Kiko Ruiz e ao percussionista Negrito Trasante, e das sete faixas, quatro foram compostas para este show ao vivo.

Se você ainda não conhece este grande baixista francês, este é sem dúvida um belo cartão de visitas e dará uma ideia exata do grau de virtuosidade dos três músicos envolvidos neste trabalho.

É um disco para ouvir do começo ao fim, sem levantar da cadeira.

OUÇA BRANFORD MARSALIS QUARTET – COLTRANE´S A LOVE SUPREME – LIVE IN AMSTERDAM, NO TIDAL.
3- BRANFORD MARSALIS QUARTET – COLTRANE´S A LOVE SUPREME – LIVE IN AMSTERDAM

Lançado em 2015, eu só vim me interessar em ouvir este trabalho com real interesse no começo da pandemia, em 2020, quando revi meu ‘preconceito’ de achar que nada poderia soar melhor que o original, principalmente se tratando do gênio John Coltrane, que está entre os meus músicos preferidos de todos os tempos.

Como, às vezes, conseguimos ser estúpidos em nossas conclusões, e assim perdemos a chance de rever valores ultrapassados e olhar a vida sem regras idiotas. Compartilho essa minha ‘deficiência’ publicamente, para que o leitor possa ver o quanto somos ‘conservadores’ em temas que deveriam ser completamente livres de amarras.

E o que me fez mudar de ‘rota’, e ouvir com o devido interesse e ‘boa vontade’ este maravilhoso trabalho do irmão do Wynton Marsalis, foi sua interpretação da obra prima A Love Supreme, e só depois de extasiado ao término dos quase 50 minutos, entender que Branford Marsalis fez a mais singela e honesta homenagem a Coltrane, que não tenho dúvida aprovaria com enorme louvor a homenagem.

Se você, como eu, adora Coltrane, não deixe de escutar este lindo disco, e de ‘bônus’ você irá se deliciar com a qualidade técnica de tirar o fôlego!

Branford Marsalis Quartet

OUÇA LIVE IN THEATER AKZENT – NENAD VAZILIC – COM WOLFGANG PUSCHNIG, BOJAN Z E JARROD CAGWIN, NO TIDAL.
4- LIVE IN THEATER AKZENT – NENAD VAZILIC (SAXOFONES) – COM WOLFGANG PUSCHNIG (PIANISTA), BOJAN Z (CONTRABAIXO) E JARROD CAGWIN (BATERISTA E PERCUSSIONISTA)

Assim como temos escutado, estarrecidos, uma dezena de equipamentos de áudio hi-end que começam a chegar ao ocidente, fabricados nas antigas repúblicas da União Soviética, muitos excelentes grupos de jazz finalmente podem ser apreciados mundialmente, vindos desta lado do planeta.

O que chama a atenção é que muitos desses grupos sequer possuem um nome ou um líder, para que possamos identificar e memorizar seus trabalhos.

Este é um belo exemplo que o Tidal me sugeriu escutar, em uma de minhas minuciosas procuras por trabalhos de músicos
desconhecidos. Não faço a menor ideia de como cheguei a essa gravação, mas felizmente parei para ouvir e fiquei impressionado com três coisas: a qualidade dos músicos, as composições, e a qualidade técnica, principalmente por ser um disco gravado ao vivo.

Não me pergunte a origem dos músicos (só sei que tocam há alguns anos juntos, com turnês pela Hungria, Polônia, Eslováquia, Ucrânia, etc.) e que participam de discos de outros músicos destes países. Foi tudo que descobri. Mas o trabalho é realmente muito bom, e fica nítido que estão há muitos anos na estrada tocando juntos, pois a sinergia do quarteto é excelente!

Se você se interessa em conhecer ‘vertentes’ de todos os gêneros, acho que, como eu, você irá se surpreender.

Bem vou parar por aqui este mês, e espero que continue contando com o feedback de vocês para ter uma ‘bússola’ de que estradas trilhar, pois se depender do meu faro, tenho enorme chance de errar feio, pois estou cada vez mais ‘animado’ a explorar rotas nunca antes por mim navegadas.

Então não me abandonem, sim?

1 Comments

  1. Marco Antonio Palma disse:

    Obrigado pelas dicas,vou ouvir as três obras,abraços!

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