Teste 1: AMPLIFICADOR INTEGRADO BOULDER 866

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Começar o teste lembrando do quanto os amplificadores integrados evoluíram nessa última década, é como chover no molhado! Ainda assim, é preciso.

Pois muitos leitores são céticos, e muitos outros que estão apenas iniciando sua jornada, são bombardeados com tantas informações desencontradas, que vale a pena lembrá-los (ou seria alertá-los?), que um bom integrado pode fazer sua felicidade vir muito antes do que ele esperava.

Eu, assim como das caixas bookshelf, sou fã de integrados. Afinal aprendi, na prática, que em muitas situações o menos pode ser realmente mais. E em todas as oportunidades que tenho em minhas consultorias, de indicar integrados, eu não hesito um segundo!
E não pensem que minha tentativa de convencimento seja o velho e surrado tema de ‘menos um cabo de força e um cabo de interconexão’ (ainda que tanto para o bolso, quanto para a instalação, seja um consistente argumento), e sim pelo fato de que muitos integrados de ponta irão atender perfeitamente, seja o iniciante, como o audiófilo rodado.

Basta uma consulta ao nosso top five para observar o nível de pontuação dos mais recentes integrados, e fazer uma conta rápida ‘de padaria’, para perceber o quanto se torna imbatível a relação custo/performance de um integrado, versus um pré e power.

Eu não gosto de profetizar, mas tenho a convicção de que a barreira dos 100 pontos para os integrados esteja bem perto de ser quebrada. E quando isso ocorrer, ficará ainda mais difícil defender os prés e powers até 100 pontos de que sejam uma melhor solução.
O integrado Boulder 866 é um excelente integrado, e antes de descrevê-lo, gostaria de lembrar a todos os nossos leitores, que assim como todos os prés e powers Estado da Arte possuem sua assinatura sônica, o mesmo obviamente ocorre também com os
integrados Estado da Arte. E descobrir se essa ‘assinatura’ lhe agrada e é o que você procura, é essencial ouvir antes de sair gastando seu suado dinheiro.

Aqui tentamos, de forma exaustiva e minuciosa, mostrar o que observamos ao colocar o produto em teste com o maior número de equipamentos disponível naquele momento, e fechar a pontuação apenas quando ele é confrontado com o nosso Sistema de Referência.

O que percebi ao longo destes últimos três anos, é que os fabricantes de integrados de ponta estão optando por entregar ao consumidor pacotes completos com DAC, Streamer e alguns até com pré de phono. Vejo nessa estratégia dois lados: o bom é de facilitar a vida do consumidor, e o ruim é os recursos não estarem no mesmo nível de performance. Então é preciso avaliar criteriosamente as notas separadas (como amplificador, DAC, Streamer, etc.), para ver se atendem a suas expectativas.

Ou simplesmente (se for possível), comprar apenas o integrado pelo seu nível de performance.

Deste fabricante, testamos apenas o primeiro integrado, já fora de linha há um bom tempo, e o pré de phono 508 que tive como minha referência por três anos. E, claro, ouvi em alguns eventos e na casa de leitores, alguns prés e powers.

A Boulder é conhecida e reconhecida por ser uma empresa ‘verticalizada’, que procura ter domínio integral em todas as etapas de produção, e que não abre mão de pesquisar ‘fora da caixinha’ para desenvolver soluções que fogem à regra (um exemplo: seus DACs).
O 866 é um classe AB, com streaming, DAC (opcional), com três entradas analógicas XLR, entradas digitais Ethernet, USB (4), AES/EBU, Toslink e Wi-Fi. Seu DAC aceita PCM até 32/384, e DSD até 128. Todos os arquivos são submetidos a upsampling e oversampling à 192 kHz. A potência máxima contínua de saída é de 200Watts em 8 ohms, e 400Watts em 4 ohms. com potência de pico de 700 Watts em 2 ohms. Com peso de 24.5kg, é todo feito em alumínio anodizado prateado.

Seu design é totalmente diferenciado, com sua frente chanfrada que permite uma visão de sua grande tela até 10 metros de distância. Seu painel, tirando a tela à direita, é bastante minimalista, com apenas quatro botões grandes (que possuem a função de: aumentar e diminuir o volume, mute e standby/ligado).

No painel traseiro, temos as três entradas analógicas, todas XLR – o que pode ser um problema para os que tem um pré de phono RCA, que neste caso terão que usar um adaptador RCA para XLR, e a própria Boulder tem esses adaptadores (o meu 508 veio inclusive com um par) – os terminais de caixa tipo borboleta e o arsenal de entradas digitais na versão com DAC ao centro do painel.

Segundo o fabricante, o 866 tem a mesma técnica de aterramento que existe no seu power top de linha, o 3050, e que essa implementação faz toda a diferença na performance final.

Quanto ao chip utilizado no DAC, a Boulder fala muito pouco e sem nenhuma pista de como seja produzido. A única informação disponível que tivemos é que: “Em vez de deixar o DAC fazer a computação, fazemos nossa própria matemática DSP e, em seguida, alimentamos esses dados para o chip DAC. Sempre enviamos o mesmo tipo de dados para o DAC, independentemente do tipo de arquivo que esteja sendo usado. Se existisse um chip DAC superior à nossa solução, usaríamos ele – mas ainda não encontramos um que suporte a reprodução de DSD 64 e 128”.

Para instalar o Roon, e o próprio programa da Boulder para Streamer, contei com a ajuda do Heber da Ferrari. E depois de tudo devidamente ligado, foi só colocá-lo para amaciamento.

O arsenal de caixas que pudemos colocar com o Boulder foi realmente grande: JBL Classic 82, Elipson Legacy 3210, Elac Reference Debut 52, Estelon YB, e Wilson Sasha DAW. Para avaliar o DAC, utilizei o transporte da Nagra CD, através do cabo AES/EBU Absolute Dream da Crystal Cable. Os cabos de caixa foram: o Virtual Reality Trançado, o Oyaide Across 3000 B, e o Apex da Dynamique Audio. Cabos de força: Quintessence Aniversário da Sunrise Lab, e Transparent PowerLink MM2. Pré de phono: Gold Note PH-1000. Cabos de interconexão: Dynamique Apex, e Sunrise Lab Quintessence XLR.

Como todos os integrados que disponibilizam ‘pacotes’ as notas serão, na conclusão, separadas, na tentativa de ajudar o nosso leitor a entender o nível de cada proposta.

O Boulder necessita de pelo menos 200 horas de queima, para o amplificador, o DAC e o Streamer. Sua sonoridade irá mudar sutilmente do instante que é acionado, até a queima final. O que muda de forma audível é a qualidade do soundstage (largura, altura e profundidade) e o corpo harmônico. Em termos de equilíbrio tonal, transientes, textura, micro e macro, ele já sai tocando em excelente nível. O que é bom para o usuário já ir de cara aproveitando suas virtudes!

Antes de descrever suas qualidades, em todos os quesitos da Metodologia, o que mais chama a atenção é sua ‘autoridade’ em dirigir qualquer uma das caixas que tínhamos à disposição. Ele realmente possui folga suficiente, permitindo mesmo em passagens complexas com grande variação dinâmica que o ouvinte não perca o fio da meada. O que o coloca naquele grupo de integrados que não teme grandes desafios e nem tampouco escolhe gêneros musicais em que se sairá melhor.

Seu equilíbrio tonal é muito correto, com excelente extensão nas duas pontas, com arejamento nas altas suficiente para nos mostrar detalhes de ambiências e decaimentos corretos. Os graves possuem fundação precisa nas fundamentais, com bom corpo e deslocamento de ar. A região média é bastante transparente sem, no entanto, jogar mais luz que o que foi captado e mixado.

Ou seja, nada de pirotecnia onde não foi colocado.

Ele me lembrou muito a assinatura sônica do pré de phono, pelo seu grau de acerto no equilíbrio, entre neutralidade e transparência.
Seu soundstage, em termos de largura, altura e profundidade, é muito bom, principalmente em gravações de música clássica, em que os planos são retratados de maneira correta com bom foco e recorte. O silêncio de fundo certamente ajuda na composição desta ‘imagem’ sonora.

As texturas serão muito dependentes do sistema ligado à ele e, principalmente, das caixas e dos cabos. Gostei mais das texturas quando o 866 estava ligado às Elac e às JBL (das caixas mais de entrada) do que com a Elipson. E com o cabo Trançado de caixa da Virtual Reality.

Já com a Estelon YB e a Sasha DAW, as texturas estavam muito mais próximas do que escuto em nosso Sistema de Referência – se bem que é totalmente injusta essa comparação em termos de preço e performance, e faço apenas para que o leitor tenha a ideia do que o Boulder deverá ter como um par de caixas, em que o equilíbrio tonal seja mais para o neutro quente.

A resposta de transientes é espetacular! Todos os exemplos que utilizamos para fechar as notas deste quesito, o 866 passou com total mérito. O amante de ritmo/tempo irá se esbaldar com a performance deste integrado!

A dinâmica também foi de alto nível. Tanto a microdinâmica (aqui novamente mérito do silêncio de fundo), como a macro, graças a sua excelente folga e autoridade sobre as caixas utilizadas.

No quesito corpo harmônico, o comprador deste integrado terá que ter paciência e aguardar a queima total, pois nas primeiras 200 horas ele irá soar um pouco magro. Mas, depois de queimado, ele ganha corpo e as diferenças entre os instrumentos em termos de tamanho se revelam muito boas. Os melhores exemplos para saber que o corpo harmônico chegou lá, são gravações de piano solo e duos de contrabaixo e celo. Esses exemplos, quando bem captados, são matadores para se tirar a prova dos nove deste quesito. Claro que o ideal para avaliação de corpo harmônico será o uso de colunas e não de caixas bookshelf. Ainda que em boas bookshelfs, este quesito tenha nos últimos anos melhorado significativamente.

A materialização física do acontecimento musical (organicidade), quando utilizamos o analógico e o digital de referência, foi uma ‘pêra doce’! Mostrando que o integrado realmente é um excelente Estado da Arte.

E, por fim, a musicalidade dependerá mais dos seus pares (fontes analógica e digital), cabos e caixas. Minha dica: parceiros que primam pelo melhor equilíbrio possível entre neutralidade e naturalidade.

Como DAC, foi uma grande surpresa ver que se encontra no mesmo nível do amplificador. Gostei muito da forma com que o DAC
interno codifica o sinal, de maneira limpa, equilibrada, sem pirotecnia, ainda que todo o sinal passe por upsampling. Comparando com o nosso DAC de referência, o que falta ao DAC interno do 866 é uma maior folga e realismo. É ainda audível aquela ‘digitalização’ inerente nos DACs mais modestos, mas sem comprometer o prazer em ouvir a música. E vale a pena lembrar que falamos novamente de um comparativo desproporcional em termos de preço e performance. E que só fazemos para poder pontuar o produto em teste de maneira correta e justa!

Quanto ao Streamer, ele se encontra em um degrau abaixo do DAC, mas ainda assim – quando ligado à rede e não wi-fi – é muito bom. Minhas restrições, como todo Streamer, são em relação ao soundstage, que sempre é menos profundo do que deveria. E o corpo harmônico é sempre menor. Mas não pensem que os outros integrados tenham descoberto a solução para o problema.

CONCLUSÃO

O Boulder 866 é uma das melhores soluções de integrados atuais. Feito por um fabricante com grande experiência em produtos de ponta, e que disponibiliza uma solução integrada para quem necessita de ‘tudo em um’. Se você se enquadra nesse perfil, minha sugestão é que você o ouça em seu sistema.


PONTOS POSITIVOS

Um integrado de alto nível de construção e performance.

PONTOS NEGATIVOS

Somente entradas XLR.


ESPECIFICAÇÕES
Entradas3 pares balanceados analógicos XLR
Entradas digitaisEthernet, USB x 4, AES3 (adaptável para S/PDIF), Toslink (ótica), WiFi
SaídasBornes de 6 mm
Potência Contínua em 8 OHMS200 W por canal
Potência de Pico em 8 OHMS250 W por canal
Potência Contínua em 4 OHMS400 W por canal
Potência de Pico em 4 OHMS400 W por canal
Potência de Pico em 2 OHMS700 W por canal
Distorção harmônica total0.01%
Impedância de entrada100 kOhms, balanceada
Ganho analógico máximo40.4 dB
Resposta de frequência0.015 Hz – 150 kHz
Resposta de frequência em -3dB20-20.000 Hz (0.00, -0.04 dB)
Alimentação100V, 120V, 240V (50-60 Hz)
Consumo1.000 W max
Dimensões (L x A x P)44 x 19 x 39 cm
Peso24.5 kg
Dimensões embalado (L x A x P)61 x 36 x 59 cm
Peso embalado29 kg
AMPLIFICADOR INTEGRADO BOULDER 866 (como streamer)
Equilíbrio Tonal 11,0
Soundstage 10,0
Textura 11,0
Transientes 11,0
Dinâmica 10,0
Corpo Harmônico 10,0
Organicidade 10,0
Musicalidade 11,0
Total 84,0
AMPLIFICADOR INTEGRADO BOULDER 866 (como DAC)
Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 12,0
Textura 12,0
Transientes 13,0
Dinâmica 11,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 12,0
Total 96,0
AMPLIFICADOR INTEGRADO BOULDER 866 (como integrado)
Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 12,0
Textura 12,0
Transientes 13,0
Dinâmica 11,5
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 12,5
Total 97,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADODAARTE



Ferrari Technologies
www.ferraritechnologies.com.br
(11) 99471.1477
Boulder 866 sem Streaming DAC
US$ 20.400
Boulder 866 com Streaming DAC
US$ 23.000

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