Música de Graça: TINY DESK (HOME) CONCERTS – NPR MUSIC (PARTE IV)

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Música de graça mensalmente na Internet ao alcance dos nossos dedos!

O YouTube, que todos nós acessamos gratuitamente todos dias, contém muito conteúdo interessante para o melômano, em todos os gêneros! São vídeos de música ao vivo, com qualidade pelo menos decente de imagem e som, de apresentações feitas para TV ou para canais do próprio YouTube – um material de divulgação para os músicos! Só ao vivo você percebe o verdadeiro entrosamento entre os músicos, sua linguagem corporal e suas verdadeiras capacidades!

COMO OUVIR

Basta qualquer computador ou smartphone, onde eles podem ser escutados com bons fones de ouvido – ou mesmo conectando os próprios ao DAC de nosso sistema de som, fisicamente, por wi-fi, por Chromecast ou por Bluetooth. Uma segunda opção, mais difundida hoje em dia, é assistir esse conteúdo em uma TV tipo smart, no aplicativo do YouTube, e conectar a saída ótica de áudio digital dela ao sistema de som, de home-theater ou mesmo à uma soundbar.

O QUE É A SÉRIE TINY (HOME) CONCERTS

A NPR (National Public Radio) dos EUA, entidade sem fins lucrativos, que tem um extenso conteúdo musical, também produz desde 2008 uma série de vídeos de pequenos shows ao vivo – de aproximadamente 20 minutos – chamados Tiny Desk Concerts, gravados em um escritório. E, durante a pandemia, os vídeos passaram a ser gravados nas instalações dos próprios artistas, recebendo a alcunha expandida de ‘Tiny Desk (Home) Concerts’.

Segue aqui a 4a. Parte da série Tiny Concerts, com mais algumas apresentações interessantes selecionadas:

Renaud Garcia-Fons: Tiny Desk Concert (16 min – World Music /Jazz)

Garcia-Fons é, provavelmente, um dos mais ‘únicos’ baixistas acústicos em atividade hoje. Acompanho sua carreira e discografia (ainda que de maneira errática) desde que o saudoso Eduardo de Lima da Audiopax me apresentou seu CD Oriental Bass, mais de uma década atrás. Aliás, pouco tempo depois, descobri que já tinha um disco onde ele tocava: Les Cargos, da L’Orchestre de Contrebasses (onde ele ficou de 1987 à 1993) – um grupo francês formado na década de 80, que teve várias formações, sempre de seis contrabaixistas acústicos virtuoses, em um trabalho totalmente autoral.

Com a maioria de seu trabalho em formato solo, como líder de um pequeno grupo (acordeon, bateria e baixo), ou em colaborações –
como com o tunisiano Dhafer Youssef, com o saxofonista italiano Gianluigi Trovesi, com o guitarrista de jazz francês Nguyên Lê, e até com orquestras sinfônicas – Renaud Garcia-Fons nasceu em Paris em 1962, e começou a respirar música na tenra idade, tocando piano ao 5 anos, violão clássico aos 8, e depois da adolescência dedicada ao rock, chegou ao contrabaixo aos 16 anos de idade. Chamado de “O Paganini do Contrabaixo”, Garcia-Fons iniciou seus estudos formais de música, e aprendeu sua técnica de arco, com François Rabbath, no Conservatório de Paris, sendo que seu ‘DNA musical’ se estende desde a música clássica e o jazz, até à world music e o flamenco. Sua carreira, além do L’Orchestre de Contrebasses, começou na banda do trompetista Roger Guérin, e depois na Orchestre National de Jazz, sob a batuta de Claude Barthélemy – antes de partir para sua carreira solo, e colaborações, que perfazem quase 30 discos!

Para quem é esse vídeo? Para todos os fãs de world music (principalmente com as influências sonoras da Península Ibérica), jazz e neo-clássico. Para todos os fãs incondicionais de contrabaixo acústico, tocado com total maestria, em uma multitude de técnicas e de maneira bastante dinâmica. Música de altíssima qualidade que, certamente, terá seu nome registrado na história da música!

Esse pocket show solo, de 2012, foi gravado no escritório da National Public Radio, em Washington, capital dos EUA – na mesa da personalidade do rádio Bob Boilen, apresentador do programa sobre música nova All Songs Considered, que é o precursor espiritual e prático do Tiny Desk Concerts. As faixas tocadas são: Aqa Jan, do disco Entremundo (Enja Records, 2004), e Hacía Compostela e Rock Wandering, ambas do álbum Solo – The Marcevol Concert (Enja Records, 2012), ambos disponíveis nas principais plataformas de streaming.

Omar Sosa & Paolo Fresu: Tiny Desk Concert (16 min – Jazz)

O trabalho do trompetista italiano Paolo Fresu me é bastante conhecido, com excelentes credenciais em gravações para selos tradicionais de jazz moderno, como os alemães ACT e ECM, o Soul Note, e o tradicionalíssimo Blue Note, tanto em trabalhos solo como em colaborações – entre elas a pianista Carla Bley, o pianista e compositor Uri Caine e o guitarrista Ralph Towner.

O pianista cubano de jazz latino, Omar Sosa, teve seu período mais produtivo morando na Califórnia, e hoje está estabelecido em Barcelona, na Espanha. Sua discografia ultrapassa 30 títulos – a maioria lançados por seu selo próprio: Otá Records – e que incluem duas colaborações com o trompetista Paolo Fresu, uma em 2012 e outra em 2016. Sua longa carreira, de mais de 30 anos de estrada, lhe trouxe também 4 indicações para o Grammy de melhor Jazz Latino, assim como o prêmio de melhor álbum de jazz (Ceremony) no Independent Music Awards, em 2011.

Para quem é esse vídeo? Para todos os fãs de jazz intimista, de jazz latino e cubano, de trompete moderno – em um trabalho bonito, melódico e de extremo bom gosto!

Este pocket show, de 2013, também é dos originais do programa, ainda gravados no escritório do radialista Bob Boilen, na National Public Radio, em Washington DC, EUA. As faixas tocadas são: Alma, e S’inguldu, ambas originalmente do disco de estúdio Alma (pelo selo Otá Records, 2012), e que está disponível nas plataformas de streaming.

Ólafur Arnalds: Tiny Desk Concert (16 min – Neo-Clássico / Experimental)

Ólafur Arnalds faz um som cheio de texturas, às vezes um pouco sincopado, muito atmosférico e sonhador – comandando dois pianos acústicos (modificados) através de um teclado MIDI (por um sistema chamado de Stratus), acompanhado por dois violinos, uma viola, um cello, e uma percussão eletrônica que muitas vezes é quase imperceptível. É uma mistura de música eletrônica com acústica – em alguns momentos é quase minimalista. E muitas vezes essa sonoridade é ligada, como gênero, diretamente à ‘trilhas sonoras’ – devido ao amplo trabalho de Arnalds (e outros expoentes do gênero) em trilhas de séries de TV.

Vários músicos surgiram nos anos mais recentes, fazendo essa mistura ‘ambiental’ de eletrônico e clássico, como o alemão Max Richter. Mas é da Islândia que parecem vir mais expoentes do mesmo tipo de sonoridade, como Jóhann Jóhannsson, Örvar Smárason, Árstíðir, Gabríel Ólafs, Tóti Guðnason, Valgeir Sigurðsson, entre outros…

A sonoridade de Arnalds recebe um bocado de rótulos – e, como eu já disse antes, quanto mais rótulos, mais fácil é de entender trabalhos que não se encaixam nos gêneros mais usuais. O som de Ólafur Arnalds é, portanto: clássico, eletrônico, ambient, new age, sazonal (?), independente, alternativo, jazz, avant-garde e neo-clássico. É provável que, mesmo assim, isso não explique o que está para ser ouvido. Ólafur Arnalds é um islandês vegetariano que mora na Indonésia, e que três quartos de seus compositores favoritos são de música clássica (Chopin, Arvo Pärt e Shostakovich), e o quarto é David Lang, fundador do grupo minimalista neo-clássico Bang on a Can.

Na época em que esse vídeo foi gravado, Arnalds estava começando a usar os Pianos Stratus, criados em conjunto com o desenvolvedor e compositor Halldor Eldjarn. São dois pianos acústicos mecanizados, controlados por um teclado sintetizador MIDI. Cada vez que uma nota é tocada, os pianos tocam duas outras notas diferentes, criando sequências melódicas e harmonias inesperadas.

Os músicos presentes neste vídeo são: Ólafur Arnalds (teclados), Viktor Arnason (violino), Unnur Jónsdóttir (cello), Katie Hyun (violino), Karl James Pestka (viola), e Manu Delago (percussão).

Para quem é esse vídeo? Para todos os fãs de música eletrônica estilo ambient, para os fãs de trilhas sonoras de séries de TV modernas, para os que gostam de mistura de eletrônico com clássico, e de minimalismo neoclássico.

É mais uma gravação pré-pandemia, feita no escritório da NPR. As faixas tocadas são: Árbakkinn do álbum Island Songs (Mercury, 2016), Unfold e Saman do álbum re:member (Decca, 2018), e Doria, também de Island Songs (Mercury, 2016) – todos disponíveis nas plataformas de streaming de música.

Bom junho, e música sempre!

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