Christian Pruks
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Mais uma moda é trazida ao mainstream (e o ser humano adora uma moda): é a tal da música ‘Lo-FI’ – Low Fidelity, baixa fidelidade, conceito tão velho quanto o Hi-Fi, mas que agora caiu nas graças do marketing online. Não é algo que chega a atingir facilmente os audiófilos, mas pode pegar alguns melômanos desavisados, aqui e ali – apesar de que eu duvido muito.
Para mim é igual a miojo com salsicha: ninguém da face da terra olha para um prato de capeletti quatro-queijos, ou um filé à parmegiana, e diz “humm, hoje prefiro um miojo com salsicha”… Ninguém acha que ter qualidade inferior é algo interessante – ninguém, claro, que tenha um mínimo de senso. Mas, não é só disso que constitui-se essa moda, essa vertente – tem mais…
A tal música Lo-Fi (auto-explicativa qualitativamente) foi trazida ‘de volta à baila’ durante a pandemia, por músicos sem grana para produzir e gravar suas obras em estúdios, que têm que gravar em casa onde, ‘supostamente’, eles têm uma qualidade de gravação inferior – mas eu conheço equipamentos de gravação caseiros, mesmo para músicos com orçamento limitado, e não é ‘necessário’ produzir qualidade sonora inferior, não com os equipamentos de hoje.
Ou seja, a história da parte baixa da fidelidade é conversa mole para boi dormir, é papo de marketing de criadores de modinhas – lembrem-se que tem gente que anda na rua com uma máquina de escrever mecânica de baixo do braço, e existe um acessório para smartphones que é um handset de telefone analógico antigo – tem até um vermelho, como nos Orelhões antigos! Se eu vejo alguém na rua usando um desses ‘telefones’, eu acho que eu passo mal de rir! rs…
Voltando ao Lo-Fi, é uma música com uma característica de ‘leveza’ e ‘calma’, dizem os especialistas, feita para tocar continuamente de pano de fundo, para pessoas se concentrarem no trabalho ou no estudo, ou mesmo para relaxar. Alguns fazem um paralelo com os tais Binaural Beats (que o Fernando Andrette já mencionou aqui na revista), os quais induziriam estados semelhantes ao de drogas (o que, na verdade, é metade ficção e metade papo ‘new age’ esotérico).
Antes que digam “pronto, lá vem aquele gordo ranzinza da revista com seu mau humor”, deixe-me dizer algumas outras características declaradas dessa ‘música’ Low-Fi: trazem propositalmente coisas como notas ‘mal tocadas’, com interferência de ‘ruídos de ambiente’, com ‘imperfeições de gravação’ – como sinais de áudio degradados, ruído de fita e de disco de vinil. Suas formações musicais procuram incitar emoções positivas como nostalgia, além do estado de relaxamento.
O que eu vejo nos Beats e, principalmente, nesse Lo-Fi ‘novo’, é uma diminuição da música, uma degradação dela, da relevância e importância dela, jogando-a abaixo da música de elevador. Como se fosse uma obrigatoriedade, por princípio, de fazer, prover e apoiar música de menor qualidade – nem que seja só por atribuir à ela menor valor e importância.
A alcunha ‘Lo-Fi’ é seu pior aspecto. Me soa como, propositalmente, por uma placa em um restaurante escrito ‘Comida Ruim’ – mas especificando o intuito de apenas de prover algo para impedir que as pessoas passem fome, e cobrar por isso.
Mais uma ideia ruim em um universo onde parece que as pessoas sistematicamente procuram eliminar a ideia, o conceito de ‘Qualidade’ por subvertê-lo, invertendo ou mesmo eliminando valores.
E não é absolutamente necessário. Para nada. Porque já existe um bocado de música criada ao longo de séculos, que permite o mesmo resultado – ou até melhor – de concentração, de relaxamento, de pano de fundo. E essa música que já existe, sendo bem gravada e bem reproduzida, surte esse efeito melhor, de maneira superior, trazendo ao ouvinte, mesmo como pano de fundo, qualidades inerentes àquela música e seus instrumentos.
A modinha não é necessária, como acontece quase sempre…