Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Fiquei impressionado com o número de leitores que ainda não possuem uma elétrica dedicada para seu sistema de áudio e vídeo (leia nesta edição a enquete preliminar da pesquisa que postamos na Edição de Aniversário). Praticamente metade dos leitores ainda pluga seu sistema na parede sem saber se a fase utilizada é a mesma utilizada para geladeira, máquina de lavar e outros eletrodomésticos com motor da casa.
E pelo número de respostas do uso de condicionadores (maior que o número de salas com elétrica dedicada), fica patente que muitos acreditam que ligar o condicionador na parede e depois plugar os equipamentos no condicionador, tenha resolvido o problema de sujeira na rede.
Infelizmente a solução não é tão simples assim. E por mais que o condicionador escolhido filtre as impurezas existentes na rede, esse mesmo condicionador teria, em muito, seu trabalho facilitado se ele pudesse ter uma instalação elétrica exclusiva para o sistema.
E existem excelentes soluções para isso ser feito e, acredite, o resultado pode ser tão bom quanto realizar um upgrade em todo o sistema.
Aqui na revista falamos da importância de uma elétrica dedicada desde 1998! Sim, com apenas dois anos, já escrevíamos artigos referentes a como montar sua elétrica e os benefícios para o sistema, assim como em 1999, com a primeira turma do nosso Curso de Percepção Auditiva, nomeamos que 50% do resultado obtido advém de tratamento acústico e elétrico.
Ou seja, se você fizer essa primeira parte da lição de casa, você já andou metade do caminho!
E ainda assim, duas décadas e meia depois, vimos que apenas metade dos nossos leitores fizeram a lição de casa (tanto na elétrica, como na acústica). E, ao levantar os dados da pesquisa com quase dois mil participantes, fiquei aqui pensando com os meus botões: o que impede o leitor de compreender a importância de fazer a elétrica e a acústica de sua sala, se os benefícios são imediatos? E o ajudará a economizar muito em grana em futuros upgrades de caixas, eletrônica e acessórios!
Não se tem como burlar essas duas etapas – seu sistema sempre irá soar o elo mais fraco e sala e elétrica costumam ser dois elos fracos, pois nenhuma construção, por mais moderna que seja, possui uma elétrica dedicada para uma sala de áudio e vídeo. E, muito menos, possui salas com dimensões ideais para sistemas de áudio estéreo ou multicanal! Sem falar nas construções modernas, com suas paredes de gesso e piso frio.
Nas primeiras turmas dos Cursos, eu fazia a analogia com comprar uma Ferrari para andar em ruas de paralelepípedo. Os participantes achavam graça, mas é o mesmo que colocar um sistema de algumas centenas de milhares de dólares ligado à tomada da parede na mesma fase em que está o elevador do prédio em que eu moro, ou se o aterramento do prédio não tem manutenção há décadas!
O melhor sistema do mundo, em situações como essa, irá soar abaixo de um sistema modesto instalado em uma boa elétrica.
Como tudo que escrevo na revista, primeiro eu aplico na prática. Em 1997, no segundo ano da revista, fiz minha primeira elétrica dedicada. Para tanto, trouxe da caixa de força da entrada do apartamento em que morava, 18 metros de cabo Pirelli Cordplast flexível de 6mm. Na época a discussão era entre se usar fio flexível ou rígido – comprei os dois e ouvi cada um deles por um mês, e para o meu sistema da época, o flexível deu um equilíbrio tonal ao sistema muito superior. E publiquei o primeiro artigo falando das melhorias com uma elétrica dedicada, com melhor silêncio de fundo, melhor resposta nos transientes e maior extensão e decaimento nos agudos.
Muitos leitores se animaram com o resultado e houve uma procura intensa por cabo Pirelli Cordplast para uso em elétrica e na fabricação de cabos de caixa e de força.
Em 2000, fiz o segundo upgrade na elétrica, agora usando um cabo importado que um engenheiro elétrico muito amigo do meu pai trouxe de uma viagem à Europa. Era um cabo utilizado na instalação de emissoras de Rádio e TV, de cobre OFC.
Consegui que ele me comprasse 20 metros! E o resultado foi impressionante! Pois além de estabelecer um novo patamar sobre o que o Cordplast havia obtido, ampliou os benefícios com um palco muito mais amplo em termos de largura e profundidade.
Foi aí que começou minha briga para se ter no mercado um cabo para elétrica de preço razoável com cobre OFC, pois o resultado era realmente muito animador. Até que, quando mudei em 2008 para São Roque, com uma sala dedicada, pudemos usar desde a entrada da rua até a sala (com quase 50 metros de distância), o cabo de elétrica da Logical Cables, modelo Power Clean. E da chave seccionadora Siemens, instalada dentro da sala, até a tomada principal do sistema, usamos 8 metros de um cabo da Furutech (que 10 metros custava o dobro dos 50 metros do Power Clean).
Mas os resultados compensaram todo o investimento. Fiquei sem mexer na instalação elétrica até o ano passado, quando tive que fazer uma manutenção no meu aterramento, e o Ulisses da Sunrise me disse que tinha um cabo dedicado de elétrica saindo do forno, e se eu não gostaria de conhecê-lo. Era o momento exato para fazer testes, já que com a manutenção do aterramento, eu iria parar os testes por um mês!
Combinei com o Ulisses e o Juan de levar seu cabo por fora do conduíte, para facilitar um aXb com o Furutech. Usando este artifício, foram necessários 16 metros do novo cabo da Sunrise, pois ele teve que correr pelo lado oposto da porta de entrada, praticamente dando a volta na sala inteira.
Porém, antes de contar os resultados, deixem-me falar um pouco das características do cabo.
O cabo dedicado para elétrica da Sunrise utiliza um total de seis condutores, sendo dois por polo. Cada condutor contém 17 fios de bitola de 0,43 de diâmetro de cobre sólido com 6N de pureza, em encordoamento classe 4 assimétrico e geometria concêntrica proprietária da Sunrise Lab. Para desacoplar os fios internos da capa PP, e reduzir o amortecimento geral, foram adicionadas duas películas enroladas em sentidos opostos uma da outra, com baixo coeficiente de atrito, criando assim um dissipador mecânico que restringe as vibrações internas do cabo quando energizado.
Após inúmeros testes com diversos sistemas de áudio distintos, a Sunrise Lab chegou à conclusão que a bitola total ideal de cada polo seria de 5mm2, porém isto gerava um problema bastante conhecido pela audiofilia: o ‘efeito skin’. Fenômeno observado em
condutores filiformes, quando esses são percorridos por corrente alternada. Esse efeito é provocado por um campo magnético devido à constante mudança de sentido das cargas elétricas, que faz com que a densidade de corrente se concentre na periferia do condutor, diminuindo a densidade de corrente presente no seu interior, gerando perdas ôhmicas que ocorrem em decorrência do efeito.
Esse efeito, auditivamente, causa um som letárgico e que concentra as variações dinâmicas na região média, resultando em tamanhos de corpo dos instrumentos e vozes ainda mais distantes da realidade da gravação, além de muitas vezes ocasionar asperezas e agressividade em passagens com grande variação dinâmica. E quanto maior a bitola do cabo, mais o efeito se faz presente.
Feitas essas observações em campo, com o protótipo inicial (nas quais eu também participei, ficando com o primeiro protótipo por duas semanas no sistema), o Ulisses percebeu que eliminar este efeito é impossível, então a Sunrise optou por dividir a bitola geral dos condutores em dois cabos, por polos, contornando o problema.
Colocarei, no encerramento deste teste, a ficha técnica.
Ainda que no primeiro protótipo alguns dos efeitos observados em campo pelo Ulisses, tenham ocorrido em nosso Sistema de Referência (só que em menor intensidade, já que o sistema possui grande folga macrodinâmica), era notório que os transientes, em algumas frequências específicas, sofriam de uma ligeira letargia, sim. Mas já foi possível observar que algumas qualidades já eram por demais evidentes, como um silêncio de fundo impressionante e uma capacidade das notas brotarem à sua frente, livres de qualquer sensação de elemento eletrônico entre o sistema e o ouvinte.
E relatei a ele e ao Juan minha surpresa em ver o potencial que este cabo de elétrica atingiria, resolvendo as limitações.
Os meses passaram, e eis que no começo deste ano, no período de minha recuperação, eles instalaram a versão final, aprovada pelo Ulisses, e já em pleno funcionamento na casa de alguns clientes da Sunrise.
Diria, amigo leitor, que foi um dos upgrades mais significativos que realizei em nossa sala de teste. Pois ele permitiu que os produtos em teste, e nosso Sistema de Referência, se comportem livres de qualquer tipo de sujeira que esteja na rede. E desde que a CPFL mudou toda a fiação de cobre para alumínio aqui na região, que eu lamentava o quanto de sujeira, antes inexistente, foi se acumulando.
Tanto que por diversas vezes fui ’tentado’ a voltar a pensar no uso de um condicionador, para tentar limpar a rede que, de forma intermitente, hora injeta ruído nas altas, e hora nas baixas. E de pouco adiantou a manutenção do aterramento, pois esses ruídos intermitentes somem por dias e de repente se instalam por um dia todo.
O cabo de elétrica da Sunrise não fez o milagre de eliminar o problema (é um cabo e não um condicionador), mas trouxe a beleza de ouvir os produtos em teste em sua plenitude de performance.
O palco é muito mais tridimensional, graças ao seu silêncio de fundo, como escrevi. O acontecimento musical brota deste silêncio, de maneira muito semelhante como ouvimos na sala de gravação com os músicos. É de uma beleza psicoacústica relevante, que só quem já teve o prazer de viver essa experiência sabe do que estou falando.
Algo parecido (mas não do mesmo naipe, pois as pessoas estão sempre tagarelando), é o momento em que os músicos fazem a afinação final de seus instrumentos no palco, e somos puxados pela atenção para aqueles sons misturados.
Resumindo: com esse cabo na nossa elétrica, tudo parece mais refinado. Tudo mesmo! Os equipamentos utilizados nele, podem mostrar o seu melhor, pois ele não irá interferir no equilíbrio tonal dos mesmos.
Para a Revista, não poderia haver cabo de elétrica melhor!
CONCLUSÃO
Claro que, pelo seu preço por metro, talvez ele não seja ideal para todos vocês.
Mas, para aqueles que possuem uma sala dedicada e um sistema Estado da Arte ou caminhando em direção a esse objetivo, só posso recomendar enfaticamente essa opção!
Aqui ele veio para testes, e ficou! Desbancando um Furutech top de linha que hoje, se estivesse em linha, custaria de oito a dez vezes o valor do metro do Sunrise Lab!
PONTOS POSITIVOS
Construção e performance impressionante.
PONTOS NEGATIVOS
Absolutamente nada.
ESPECIFICAÇÕES
Cabo condutor em capa PP anti-chama com película de desacoplamento anti-vibração |
Aplicação em instalações elétricas dedicadas ao áudio e vídeo hi-end |
Cor externa cinza ou azul |
Cor dos fios internos polarizados 2x azul, 2x verde, 2x preto – em conformidade com a norma NBR 5410. Não é recomendável utilizar apenas um condutor por polo |
Diâmetro externo de 13,2 mm |
Capacidade de corrente total de 40A |
Seção de cada via de 5 mm², sendo que cada uma das 3 vias é dividida em 2 condutores independentes com 2,5mm² |
Encordoamento classe 4 assimétrico |
Condutor cobre OFC |
Comprimento máximo da bobina de 50 metros |
Sunrise Lab
ulisses@sunriselab.com.br
(11) 5594.8172
R$ 250 (o metro)