Teste 3: CAIXAS ACÚSTICAS WHARFEDALE DENTON 85TH ANNIVERSARY

Teste 4: CABOS DE FORÇA TRANSPARENT AUDIO XLPC2 & OPUS G6
agosto 5, 2022
Teste 2: TOCA-DISCOS THORENS TD 1610
agosto 5, 2022

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Para mim não é nenhuma novidade receber caixas acústicas com design vintage e encontrar componentes atualizados. Foi assim com as duas caixas da série Classic da JBL (L100 e L82), agora a Denton em comemoração aos 85 anos da Wharfedale, e a Elipson Heritage XLS 15 (teste edição de setembro).

Essa é uma tendência que veio para ficar, e eu não tenho absolutamente nada contra, desde que o ‘pacote’ não soe como uma vintage original dos anos 70/80, é óbvio!

Um leitor me perguntou se eu ouvi a L100 original ao lado da nova? Ainda não consegui, mas o querido amigo Henrique Bozzo (colaborador da revista) tem um par da L100 original e marcamos um dia de fazer essa audição. Acho que vai ser muito interessante, pois conheço inúmeros leitores que aguardam essa comparação. Assim que fizermos, publicarei nossas impressões.

Antes de publicar esse teste da Denton 85, vasculhei o mercado em busca da versão 80 anos, para ter uma ideia das modificações feitas no novo modelo, mas não consegui.

Então terei que confiar nos revisores que tiveram essa possibilidade, e nos fóruns que têm dezenas de relatos de usuários que compraram ambas, ou conviveram com as duas por um bom período.

Pelo que li, as diferenças entre as duas edições comemorativas vão muito além de mudanças pontuais. Pois o gabinete da 85 Anos é maior, para abrigar o novo falante de kevlar de 6,5 polegadas (contra o de 5” da 80 Anos) o que melhorou, segundo o fabricante, a sensibilidade da caixa. Já o tweeter de 25 mm ainda é de tecido e com um imã de ferrite, mas com uma grade frontal protetora, inexistente na 80 Anos.

Com uma melhor sensibilidade, a nova Denton precisa de apenas 40 Watts para se sentir à vontade em salas de até 16 metros quadrados. Mas o que mais admirei na nova versão foram os detalhes e a qualidade do gabinete, algo surpreendente para sua faixa de preço!

Trata-se de um gabinete de 9 kg, feito de folheado real de madeira, com 34 cm de altura, 24 cm de largura e 27 cm de profundidade. Não sendo uma caixa para ficar em uma estante de livros, ou em qualquer prateleira grudada na parede. Ela necessita, e merece, um bom pedestal para mostrar todos os seus encantos sonoros!

Outra diferença na nova versão é que o tweeter agora está deslocado para o lado (espelhado), para deixar claro se o ouvinte prefere ambos virados ‘para dentro’, ou ‘para fora’ (em todas as condições e salas que ouvimos, a caixa sempre soou melhor com os tweeter ‘para fora’).

Com eles abertos, o foco, recorte e planos, foram audivelmente superiores.

A tela, por ser um design vintage, é difícil de tirar, e o fabricante e inúmeros usuários preferem ouvir a caixa com a tela. Diria que essa escolha depende muito mais do setup do que das caixas, pois se o sistema tiver uma tendência a soar com brilho nas altas, a tela será um alento.

Mas se o sistema tiver um equilíbrio tonal correto, com extensão sem brilho nas altas, pode-se perfeitamente ouvir as Denton 85 Anos, sem as telas).

Sempre me pergunto a razão das pessoas ‘definirem’ algo como verdade, sem nunca questionar se a conclusão atingida não é
apenas para uma determinada situação específica. Aí o consumidor lê duas ou três opiniões definindo que a Denton 85 é para ser tocada com a tela, e nem escuta como a caixa soaria sem ela.

O importante é que mesmo com a tela, em uma eletrônica de alto nível, os agudos possuem excelente extensão e decaimento. Então, se depois de ler este teste, decidir comprar essa belezura, fique à vontade para decidir se a ouvirá com ou sem a tela.

O essencial é: cuidado ao retirar a tela, pois só com a ajuda de uma espátula (sem ser de metal) que você conseguirá retirar a mesma sem marcar o canto da caixa. OK?

Recado dado, sigamos em frente. A beleza da Denton 85 Anos também está nos terminais banhados a ouro com jumpers de qualidade para o uso de biamplificação. E, em volta dos terminais, encontra-se uma placa comemorativa – em dourado – da caixa, e os dois pequenos dutos acima da placa.

A sensibilidade é de 88 dB, impedância nominal de 4 ohms (mínima de 3,8 ohms), resposta de frequência de 40 Hz a 20 kHz (+/- 3dB), e corte de transição para o tweeter em 3,1 kHz.

Utilizamos dois integrados para o teste da Denton 85: o Krell K-300i (leia teste na edição de julho), e o Sunrise Lab 20th
Anniversary (leia Teste 1 nesta edição). O streamer utilizado foi o Innuos ZENmini Mk3, e o DAC dCS Bartok 2.0 (leia teste na edição de setembro). Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado (leia teste na edição 271), e Oyaide Across 300B (leia teste na edição 283). Sistema analógico: toca-discos Thorens TD 1601 (leia Teste 2 nesta edição) e pré de phono Sunrise Lab M2.

A caixa veio lacrada, o que demandou uma audição preliminar ‘básica’, apenas com os discos da Cavi Records, e imediatamente a enviamos para a ‘sala de tortura’ por 100 horas iniciais. Ela vai precisar de tempo meu amigo, caso contrário você acabará achando que ela possui excelentes graves para o seu tamanho e excesso de agudos. Li em um teste, em que o revisor amou a caixa, mas achou que o agudo tende a ‘brilhar’ sem o uso da tela – discordo totalmente, pois o tweeter desta caixa precisa no mínimo de 150 horas para soar equilibrado, e também depende do amaciamento do falante de médio-grave, que responde de 40 Hz a 3,1 kHz, amaciar plenamente para haver o ‘encaixe’ do equilíbrio tonal.

Além é claro de uma eletrônica com a mesma assinatura sônica ou pelo menos com um grau de refinamento e neutralidade, para não impor ‘responsabilidades’ que não são da caixa.

Aliás, isso daria um bom tema para a seção Opinião: ‘De quem é a responsabilidade na cadeia sonora?’ – quem sabe um dia arrumo tempo para tratar dessa questão. Pois o que vejo de caixa levando a ‘fama’ do que não fez, é grande!

A Denton 85 estabilizou mesmo com 180 horas. Aí, para a ‘prova dos nove’, arranquei finalmente sua tela para ver se havia algum resquício de brilho no tweeter, e com ambos os integrados e cabos de caixa, os agudos se comportaram corretamente nas 80 faixas utilizadas na Metodologia.

E quando ouvimos as mesmas faixas com a tela, obviamente perdemos a precisão de ambiência e decaimento, nada mais.
A Denton, em nossa sala de home com 12 metros quadrados, gostou de ficar a pelo menos 1m da parede às costas dela, e o mais distante possível entre elas (as deixamos a 2,40m de tweeter à tweeter) e com um ângulo para o centro na audição de 20 graus. Nessa posição, obtivemos excelente foco, recorte e planos, dignos das melhores books que já avaliamos, sendo muitas delas o dobro ou o triplo de seu preço.

Sua assinatura sônica está bem mais para o quente do que para o neutro, e se isso é bom ou mau, só você pode dizer, meu amigo. Da minha parte, prefiro mil vezes essa característica do que a ‘neutra’, nessa faixa de preço.

E, antes que seja apedrejado em praça pública, deixe-me me defender. Provavelmente a eletrônica ligada a ela será mais modesta em termos de valor e performance. Portanto, gravações ruins terão uma tendência a soarem piores do que são. Então, optar por uma book para uma sala pequena, em que iremos sentar a no máximo 2,5 m das caixas, será um bálsamo para os nossos ouvidos.

E o fato de ser uma caixa com maior ‘condescendência’ com gravações tecnicamente ruins, é uma ótima medida! Agora, se você puder ligar essas caixas com algum dos integrados que usamos, meu amigo, ela te levará ao céu, acredite! Pois elas têm qualidades que as colocam em pé de igualdade com books custando até o dobro do seu preço.

São equilibradas tonalmente, possuem uma finesse na apresentação das texturas, um soundstage digno das melhores books, independente do preço. Têm tempo e ritmo contagiantes, corpo harmônico surpreendente para o seu tamanho, uma microdinâmica detalhada e uma macro desafiadora para o seu tamanho.

O equilíbrio tonal, como já escrevi, possui agudos com excelente extensão, decaimento suave, velocidade e corpo, para a reprodução de pratos, metais, etc, corretamente.

A região média soa íntegra, com naturalidade nos seduzindo instantaneamente. E os graves, se não tem a imponência da JBL L82 Classic, são suficientemente corretos para dar peso e corpo aos graves e médios-graves.

Em um bom pedestal, que a mantenha com o tweeter uns centímetros acima dos ouvidos, e corretamente posicionada, apresentará foco, recorte e planos com precisão cirúrgica! E se o ouvinte achar que os agudos passam do ponto, ele ainda tem o recurso de não tirar a tela, e ainda assim o foco e recorte serão satisfatórios.

As texturas são, como disse, sedutoras, pois expressam com fidelidade as intencionalidades e qualidades dos instrumentos, da gravação e dos músicos.

Os transientes, nos exemplos utilizados na Metodologia como o Uakti e o André Geraissati, foram reproduzidos de forma precisa, conservando o tempo, andamento e ritmo de maneira precisa!

Certamente a micro dinâmica será melhor apresentada sem a tela, mas se o ouvinte preferir manter a mesma, perderá apenas as passagens mais sutis.

E a macro, surpreende por não tentar fazer o impossível, se limitando a mostrar com clareza os crescendos – o que é um exemplo a ser seguido por muitos fabricantes de caixas bookshelf.

Se você deseja, nas passagens macro, maior deslocamento de ar e peso, mas seu espaço é reduzido para uma coluna, a única book recente que testamos que traz essa façanha é a JBL L82 Classic. Porém, a Classic não tem as virtudes de textura ou condescendência com gravações tecnicamente limitadas que a Denton 85! Sempre é uma questão de escolhas, meu amigo, principalmente nessa faixa de preço.

O corpo harmônico, ainda que não seja próximo do tamanho real dos instrumentos, é muito coerente ao manter as proporções dentro de sua limitação de tamanho. Em algumas excelentes gravações deste quesito, surpreende, pois consegue nos deixar claro as distinções entre o corpo de um sax barítono de um contralto, ou de contrabaixo e um cello.

E quanto à materialização física, a Denton foi surpreendentemente bem com vozes. Algumas, como do tenor José Cura, no CD Anhelo, e a divina Ella Fitzgerald, quase enganaram meu cérebro!

CONCLUSÃO

Em todas as consultorias diárias que presto a vocês leitores, sempre me deparo com muitos audiófilos que possuem uma enorme resistência a caixas bookshelf, sempre as tratando como produtos de ‘menor qualidade’. A esses, costumo dar meu testemunho de que essa ‘visão’ está profundamente equivocada, nos dias de hoje.

Pois em salas adequadas, elas podem ser a cereja do bolo. Evitando gastos com tratamento acústico, com amplificadores de maior potência, e trazendo muitos benefícios, como um soundstage muito mais correto, com ajustes de posicionamento simples e, o mais importante: um grau de imersão na música muito mais difícil de conseguir com colunas em salas sem tratamento acústico.

E se formos observar a realidade das grandes cidades, com espaços cada vez mais reduzidos, ou o audiófilo parte para uma book ou acabará tendo que abrir mão e usar apenas fones de ouvido. Eu com meu alto grau de fadiga com fones, teria que procurar outro hobby se só me restasse essa opção!

As books evoluíram muito caro leitor, e se sua referência ainda são as books da virada de século, precisa urgentemente escutar os novos modelos de vários fabricantes!

Se você deseja uma book com design dos anos 60/70, mas que deixem os convidados com o queixo caído ao escutarem, ouça com muito critério a Denton 85th Anniversary. Existem dezenas de testemunhos nos fóruns internacionais do impacto que essa caixa causou em suas vidas e em seus ‘preconceitos’.

Ela possui uma sonoridade rica, quente e atualizada com qualquer estilo musical.

Só tem um ‘entrave’, precisa de um integrado refinado e com excelente equilíbrio tonal, para mostrar todos seus atributos. Claro que não precisa ser nenhum dos dois integrados que usamos no teste, mas um integrado de entrada que também tenha uma assinatura sônica semelhante – o Leak Stereo 130, que está em teste é uma opção (teste na edição de outubro).

Mas claro que existem mais opções no mercado – é uma questão de garimpar e ouvir sem pressa.

Se você deseja uma book com essas qualidades que eu descrevi pormenorizadamente no teste acima, a Denton 85 precisa estar em sua lista de escuta!


PONTOS POSITIVOS

Uma musicalidade sedutora e versátil.

PONTOS NEGATIVOS

Deve-se evitar excitar incorretamente os agudos da caixa com cabos ou eletrônica brilhante.


ESPECIFICAÇÕES

TipoBass reflex / 2 vias / bookshelf
Driver de graves6.5”(165 mm) black woven Kevlar cone
Driver de agudos1”(25 mm) soft dome
Sensibilidade (2.0V @ 1m)88 dB
Amplificação recomendada20-120 W
SPL máximo95 dB
Impedância nominal4 Ω
Impedância mínima3.8 Ω
Resposta de frequência (+/-3dB)45 Hz ~ 20 kHz
Extensão de graves (-6 dB)40 Hz
Frequência de corte3.1 kHz
Volume do gabinete13.5 L
Dimensões (L x A x P)240 x 340 x 275 (+12) mm
Peso9.0 kg / cada
CAIXAS ACÚSTICAS WHARFEDALE DENTON 85TH ANNIVERSARY
Equilíbrio Tonal 10,5
Soundstage 10,0
Textura 11,0
Transientes 10,0
Dinâmica 9,5
Corpo Harmônico 10,0
Organicidade 10,0
Musicalidade 11,0
Total 82,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADODAARTE



KW Hi-Fi
fernando@kwhifi.com.br
(48) 98418.2801
R$ 7.615

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