Editorial: O QUE FAZ VOCÊ GOSTAR TANTO DESTE HOBBY?

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Essa é uma pergunta recorrente, que ouvi a minha vida toda. E, por muitos anos, elucubrei inúmeras maneiras de tentar ser sucinto em minha resposta, na esperança de explicar com precisão o motivo da música ser parte tão essencial na minha vida. Algumas pessoas até aceitaram meus argumentos, mas a maioria sempre achou que para ouvir música, não é necessário investir tanto tempo e dinheiro. Demorei para entender a tênue linha que separa o audiófilo e ‘aparelhófilo’ do melômano, e o quanto para as pessoas ‘avessas’ à essa realidade, saber quanto determinados sistemas podem custar, as demovem de abraçar esse hobby (ainda que sejam apaixonados também pela música). Então, com o passar dos anos, eu mudei completamente minha maneira de responder a essa pergunta, e passei a usar os mesmos argumentos práticos que desenvolvi para apresentar nossos dois primeiros discos à imprensa (Genuinamente Brasileiro vol. 1 e vol. 2). E percebi que demonstrar corretamente, vale mais que mil palavras! Lembro de uma longa entrevista que dei ao Caderno 2 do Estadão, no lançamento do Tom Jobim, e coloquei a jornalista para sentar e ouvir o disco e fui lhe apresentando o que em um sistema hi-end seria possível ouvir de nuances, que um sistema hi-fi compacto não mostraria. Mostrei em um sistema da Sharp, a faixa 5 – Água de Beber, e pedi que ela me dissesse de onde vinham as três vozes masculinas e as três vozes femininas e também perguntei se ela poderia me dizer se os cantores estavam sentados ou em pé na hora da gravação. O sistema da Sharp não teve dificuldade em mostrar como os músicos estavam perfilados na gravação, porém se estavam sentados ou em pé, nesse sistema não foi possível dizer. Aí coloquei em um sistema hi-end, e imediatamente ela foi tecendo suas observações (que se mostraram muito pontuais e corretas), do que ouvia – e conseguiu apontar cada cantor em sua exata posição, altura e até afirmar a distância do percussionista e do violonista em relação às vozes. A cada faixa, ela foi detalhando suas observações e se encantando com a possibilidade de ver o que estava ouvindo! Esse é o único argumento que atualmente utilizo quando a fatídica pergunta me é feita: eu gosto de apreciar a música vendo o que os músicos fizeram – sem a contribuição de imagem – e esse fenômeno também é conhecido como intencionalidade! E apresento alguns exemplos contundentes o suficiente para despertar o ‘melômano’ que todos nós somos. Quando lançamos os Genuinamente Brasileiro Vol.1 e 2 (final do século 20), não tínhamos as opções de equipamentos mais acessíveis que temos hoje, então ao terminar essas apresentações, sempre ouvia a última frase em tom de lamento: “pena ser tão caro”! Hoje a realidade é outra, e consigo fazer demonstrações com sistemas muito mais simples e baratos, algo inimaginável uma década atrás! É por isso que mantenho a convicção de que o hi-end ainda tem um presente e futuro promissores. Pois enquanto houver pessoas apaixonadas pela música, a maneira mais intensa de desfrutar esse prazer é reproduzir a música em um sistema de alta qualidade. E quando falo em ‘alta qualidade’, não estou querendo dizer sistemas que custam o preço de uma casa, e sim, sistemas corretos, coerentes e sinérgicos, que podemos ir montando aos poucos dentro de nosso orçamento (por mais que ele seja limitado), com seminovos em excelente estado de conservação. Tenho inúmeros amigos que possuem sistemas modestos, e que aprenderam a extrair o sumo do sumo de seus setups e, consequentemente, ampliaram exponencialmente sua coleção de discos (seja em mídia física ou streamer) e estão satisfeitos com o que conseguiram dentro de seus orçamentos reduzidos. O que todos temos que ter em mente é não subverter a ordem das coisas: um sistema de áudio de qualidade tem como único objetivo ampliar nosso prazer em ouvir música, e nunca ao contrário! Se, nessa longa trajetória, não nos deixarmos cair na tentação de virar ‘aparelhófilo’, nunca correremos o risco de colocar a música em segundo plano.

Esse é o único objetivo que ainda faz desse hobby algo maravilhoso de se viver e compartilhar!

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