Existe uma coisa que divide um pouco os audiófilos – e isso não deveria acontecer de maneira a causar problemas.
A audiófilia, que é o interesse em equipamentos de áudio com ênfase na reprodução de música com a melhor qualidade possível, é um hobby que demanda bastante dedicação e estudo, e trabalho, e empenho. Mas existem os que se frustram com isso, abandonando o hobby pelo trabalho que ele dá, e por não terem tempo.
Ora, conheço vários audiófilos que gostam de ter sistemas de alta qualidade para ouvir suas músicas preferidas, e simplesmente não querem ficar fuçando em seus equipamentos e, sim, querem apenas ouvir música. Esses podem muito bem por um sistema para funcionar a contento, por si mesmos ou com ajuda de vários profissionais disponíveis no mercado, e não ficar mais fuçando nele.
O que une ambos? A necessidade de tirar o melhor som de seus (caros) equipamentos de som. Para esses – portanto, para todos – servem as dicas deste texto.
Quais as ferramentas principais a serem usadas aqui, no diagnóstico e na avaliação dos resultados? Gravações de boa qualidade que você conheça muito bem, e seus ouvidos!
Mas, lembre-se: faça uma coisa de cada vez – uma mudança de cada vez – para acompanhar, perceber e entender cada mudança, e cada efeito que elas fazem. Tudo aqui é válido para equipamentos de todas as categorias de preços, velhos, novos, vintage, feitos em casa, microsystems e afins.
Posicionamento de Caixas & de Sistema:
Como eu já cheguei a dizer antes, o maior de todos os erros que uma pessoa comete com um sistema de áudio, aquele que mais prejudica seu som, aquele mais faz você perder qualidade sonora, é o mau posicionamento de caixas.
O que eu vejo, na Internet, de gente que enfia as caixas na parede, e que não fazem o toe-in (que é a angulação de cada caixa na direção do ouvinte), não tá no gibi!
E, amigos, não existe nada na face da terra que irá corrigir a falta de um posicionamento, na base do milagre ou da tecnologia. Ainda não tem! As poucas soluções tipo DSP ou ‘correção de sala’, criam alterações, distorções de timbre, corpo harmônico, textura, fase, e até ataque e velocidade, descaracterizando muito o som e não realmente resolvendo nada. E não adianta achar que nessa hora um equalizador irá ajudar, porque usar ele seria só pensar em ‘mais’ ou em ‘menos’ (pensamento quantitativo) em vez de pensar em ‘melhor’ ou ‘pior’ (pensamento qualitativo, de qualidade). É ‘melhor grave’ que precisa ter, e não ‘mais grave’. Uma analogia com comida – fácil de todo mundo entender – é que o quantitativo diria que um cheeseburger é ‘melhor’ porque é ‘maior’, e isso é o pensamento mais fácil e mais simplista, enquanto que o qualitativo diria que o queijo precisa ser de melhor qualidade, que a carne precisa ser de melhor qualidade. Ser qualitativo dá trabalho! Mas é só assim que se alcança resultados. Só com esse tipo de pensamento e conhecimento é que fica bom.
Para se ter uma ideia, um posicionamento melhor de caixas não só provê uma ilusão de palco, como também dá um equilíbrio tonal correto, como também dá descongestionamento do som e mais inteligibilidade – e com tudo isso vem uma conexão emocional muito maior sua com a música, para dizer o mínimo!
Ao longo dos anos, já li sobre e assisti dezenas de vídeos que tratam de posicionamento de caixas acústicas em salas de audição. Tem ‘metodologias’ verdadeiramente amalucadas, e outras extremamente simplistas. E tem algumas desnecessariamente técnicas.
Não encontrei até hoje uma que seja utilizável e reproduzível, e que substitua a ‘tentativa e erro’ e que dê resultados sem o uso dos ouvidos e da experimentação. A única coisa que me ensinou sobre posicionamento de caixas foi: passar anos posicionando dezenas e dezenas de pares de caixas acústicas em dezenas de ambientes. E a única ferramenta que funciona chama-se: ‘ouvido crítico com discernimento’!
O que eu posso passar são dicas de como atingir posições básicas – e dicas que são gerais:
1- Evite salas assimétricas: onde as paredes de cada lado das caixas não fiquem equidistantes delas, ou que seja cada lado de um material diferente – como vidro de uma lado e parede nua do outro, ou tem parede de um lado e é completamente aberto (para outro cômodo) do outro. Vejam bem: sei que muitas vezes isso é inevitável para quem não tem sala dedicada, ou tem um sistema mais simples em uma sala menor. Mas seria melhor se fossem iguais dos dois lados. Ou seja, há exceções – mas se seguir a regra, ajuda mais.
Por exemplo, em uma sala onde há uma parede nua ou janela de um lado, e uma distância muito maior do outro, entende-se que o lado da janela aplicará uma reflexão de médios e agudos mais ‘cedo’ e mais forte, deixando tudo desequilibrado. Então põe-se uma cortina grossa nessa janela, diminuindo essa reflexão (veja, isso é uma espécie de gambiarra, mas significa fazer ajustes para tentar tirar o melhor daquilo que se tem em mãos).
2- Não ponha as caixas em cantos. E nem rente às paredes laterais. E nem rente à parede ao fundo delas. Simplesmente não faça isso. O resultado é um palco péssimo, sem profundidade, todo embolado, e um equilíbrio tonal inexistente. Para esta regra, não existem exceções – simples assim. Caixas foram inventadas para haver respiro, espaço entre elas e qualquer outra coisa ou móvel.
3- Evite deixar que racks ou equipamentos fiquem entre as caixas no mesmo nivelamento delas, especialmente na altura do tweeter. Isso tende a prejudicar seriamente a imagem da ilusão de palco (que é atingida em grande parte pela interação da dispersão de médios e agudos entre uma caixa e outra). Aqui também não existem exceções. Quer que fique bom? Então que o seu rack seja baixo, ou que fique mais para trás, perto ou encostado na parede ao fundo, nunca paralelo vertical e horizontalmente às caixas e entre elas.
4- Ideal que a sala seja retangular, com o sistema sendo colocado na parte mais estreita do retângulo. É normal que a distância entre uma caixa e outra seja de 1.80m a 2m, sendo que caixas bookshelf (que interagem menos umas com as outras do que uma caixa torre) ficam em 1,80m ou até um pouquinho menos, dependendo se a sala for muito pequena – e menos que isso, o palco começa a ficar comprometido e o som embolado. Caixas tipo torre, dependendo do tamanho da sala e do tamanho das caixas, podem chegar a ficar até mais distantes que 2m uma da outra. A distância entre as caixas e a parede lateral tem que ser de, pelo menos, 50cm. As caixas devem ser postas a 80cm mínimo da parede às costas delas (torres muitas vezes precisam de mais do que isso, e bookshelfs podem chegar a apenas 60cm ou um pouquinho menos). Exceções? Salas podem ser muito diferentes, e as possibilidades de posicionamento em salas que sejam multitarefa – que incluam convivência com a família, TV, cachorros, gaiolas, crianças – necessitam do uso do bom senso, de tentar se ater o melhor possível às regras e dicas. As caixas ‘falam’ com o ambiente, elas interagem com a sala, sempre. Então a posição delas é ‘para a sala’, não ‘para o ouvinte’.
5- A posição do ouvinte é, portanto, ideal que seja em triângulo equilátero com as caixas. Ou seja, se as caixas estiverem com 2m de distância entre elas, você senta a dois metros de distância delas, equidistante, em triângulo. Exceção? Tem caixas que tocam melhor se você diminuir essa distância entre você e elas – e tem caixas que tocam melhor se você se afastar um pouco mais. Quanto é esse pouco? Em 2m, aproxime (ou afaste) não mais do que 20cm.
6- Toe-in – é a angulação das caixas em direção ao ouvinte, para dentro. Você gira as caixas um pouco para dentro, em direção ao ouvinte, mas não tanto que elas fiquem faceando você. E tenha certeza que os ângulos estejam iguais entre as caixas, mas obviamente espelhados. Não há regra de ângulo que se aplique a todos os modelos de caixas, então isso requer um pouco de experimentação. Cansei de ver fotos de salas e sistemas, até em propagandas, com as caixas viradas totalmente para frente, retinhas. Bom, em 99% das caixas fabricadas deste lado da Via Láctea, isso não dá foco no palco, não se ‘materializam’ os instrumentos no espaço entre as caixas.
Dica de Ouro: Sendo isso tudo regras básicas – um ponto de partida – passa a ser necessária a experimentação, tentativa e erro, até obter o som descongestionado, com foco, com equilíbrio entre as frequências.
Um Mínimo de Acústica:
Atingir um equilíbrio tonal de qualidade sem uma sala no mínimo ‘equilibrada’ de acústica, é bastante improvável. Porque, sim, existe o aspecto de ‘qualidade’ do equilíbrio tonal – não basta que as frequências sejam ‘reguladas’.
E aqui é outro aspecto em que a ‘correção de sala’ não te ajuda – as alterações teriam que ser extremamente complexas para compensar problemas de reflexão nos médios e agudos, seria quase equivalente a ‘desfazer ovos mexidos’…rs! E nos graves, ocorre o mesmo problema do posicionamento de caixas errado, onde os sistemas de correção de sala mexeriam na intensidade dos graves, atrapalhando a relação deles com os médios e agudos e, portanto, estragando o equilíbrio tonal. Além disso, o sistema de ‘correção de sala’ promove o secamento dos graves, descaracterizando o timbre e o corpo harmônico, só para começar. Sistemas de correção de sala são bons para home-theater, onde não existe referência sonora para efeitos sonoros e explosões (pelo menos a maioria das pessoas, felizmente, nunca testemunhou uma explosão ao vivo!).
Então, o que fazer?
Vamos pensar em uma sala comum de apartamento ‘pequeno’ ou ‘médio’ normalmente encontrado no Brasil – que é onde alguém mora sozinho (ou um casal, ou um casal com um filho). Geralmente tem piso de madeira ou piso-frio (que são reflexivos) sem tapete, muitas paredes vivas (que são reflexivas) sem quadros nem tapeçarias, e poucos móveis. Talvez uma estante bem esparsa sem quase nada nela, além de objetos de decoração, uma mesa de centro de vidro (reflexiva), um sofá e um par de cadeiras. E corredores e cozinha reflexivos em continuidade a isso tudo. Acusticamente péssimo, com agudos e médios-agudos gritalhões e de timbre ruim, som embolado, magro e feio – muita reverberação, e um ‘ladrão’ de graves: o janelão. E esse ladrão é ainda pior porque o que uma sala dessas normalmente acomoda são caixas bookshelf, cuja performance de graves sempre foi seu aspecto mais crítico.
(E aqui um parêntese: se você tem um subwoofer, não o ponha no canto e não o ponha no rack onde suas vibrações não fazem bem aos outros aparelhos. Use-o minimamente afastado da parede, e ponha algum tipo de prateleira embaixo dele, desacoplada do chão com spikes ou algum outro tipo de antivibratório – seu grave vai ficar mais limpo e definido, e os vizinhos vão agradecer porque os graves vão trafegar menos pela estrutura do prédio, e eles vão ter menos obrigação de gostar do seu gosto musical)
Qual é o mínimo que possa ser feito? Essa é a pergunta crítica, porque apesar de ser um dos grandes objetivos de todo audiófilo ter uma sala dedicada, a maioria não tem e não pode ter. E essa maioria também não está usufruindo de seus sistemas – simples ou não – de forma satisfatória.
Como melhorar, então? Existem dois grandes aspectos, básicos, à acústica: primeiras reflexões, e perda ou excesso de graves. Este último é bastante melhorado somente com o posicionamento das caixas – com a regulagem de sua posição mais perto ou longe da parede. Claro que os graves ‘mudam’ quando se ajusta os agudos, já que é uma questão psicoacústica, onde os graves podem ser percebidos mais altos, maiores e mais fortes simplesmente se você diminuir os agudos ao limpá-los e regulá-los.
Primeiras reflexões: essas vêm do teto – nada a fazer aqui que seja prático no caso em pauta. Elas também vão bater na sua mesinha de centro de vidro (ou de outro material reflexivo) – tire mesinha, não há outra solução. Aí as reflexões vão bater no chão – ponha um tapete que fique centralizado a meio caminho entre você e as caixas. As reflexões também vão bater nas paredes ou janelas laterais às caixas – uma cortina mais grossa na janela, e uma estante bem abastecida de livros e afins do outro lado (ou outro tipo de móvel que não seja latentemente reflexivo).
Tapetes, cortinas, tapeçarias, quadros que não sejam com frente de acrílico ou vidro, estantes com discos e livros, outros tipos de móveis – tudo isso ajuda nas reflexões, que é bom que sejam amortecidas um pouco em todas as paredes vivas (nuas) que existirem na sala.
Parede às costas do ouvinte: essencial que essa parede seja amortecida, que se diminua a reflexão dela – e, se possível, que ela seja afastada das suas costas um pouco.
E, se existir uma TV na parede atrás das caixas, cobrir a tela da TV com um pano grosso ou cobertor quando se estiver ouvindo música e ela não estiver sendo utilizada – isso é legal, pois essa reflexão não faz bem ao som. Se houver uma parede nua nessa mesma posição, pense em algo não reflexivo, como uma tapeçaria.
Tapeçarias, como você pode ver, são amigas dos audiófilos. Penso até em abrir o Clube do Audiófilo Tapeceiro.. rs!
Um Mínimo de Elétrica:
Horários de pico, como quando todo mundo no quarteirão ou no bairro está preparando o jantar, está tomando banho etc, ou quando tem escritórios ou indústrias perto, são os horários onde o bairro está consumindo mais energia e a tensão elétrica da instalação pode ficar mais baixa. Esses horários também têm uma rede elétrica mais ‘suja’, já que a quantidade simultânea de aparelhos, computadores, condicionadores de ar, motores elétricos, máquinas de lavar roupa, de secar roupa, de lavar louça etc, deixam um bocado de interferência na sua rede elétrica – e isso significa pior desempenho de seu equipamento e pior qualidade som. Em outros horários, como fora do horário comercial e mais tarde à noite, o desempenho sonoro de um sistema de áudio é melhor.
Ideal que não haja uma quantidade de coisas ligadas na mesma tomada de seu sistema – e isso inclui um monte de equipamentos que não estão sendo usados (inclusive os em stand-by), carregadores de celular, fontes de telefone sem fio, fontes de modems e de roteadores de internet. Quanto mais coisa ligada, mais interferência. Aliás, melhor seria se o ramal de energia que vem do quadro até o seu sistema, não fosse compartilhado com a cozinha, com ar condicionado, etc.
Se você não pode ter uma instalação elétrica dedicada para seu sistema, pode pôr uma tomada de melhor qualidade na parede, como uma ‘hospital grade’ importada – o custo não é alto. Deve verificar se a instalação está com a polaridade certa, porque isso influi bastante. Pode usar, para ligação de todos os equipamentos, uma extensão da melhor qualidade que conseguir adquirir – evite extensões que tenham filtro de linha embutido ou sistema de proteção, pois estes influem negativamente no som. Se a extensão ou extensões que forem usadas tiverem um botão de liga e desliga, é até melhor – assim você pode desligar a extensão cheia de coisas ligadas interferindo, quando for ouvir música, e desligar a extensão que alimenta o seu sistema, quando não estiver ouvindo-o, por segurança.
Pode ser interessante, caso sua instalação elétrica tenha aterramento, verificar se o mesmo está em bom estado e não está contaminado ou sofrendo interferências. Nem todo aterramento é bom.
Prateleiras Mais Firmes Longe de Vibrações:
Prateleiras ou racks ocos, fininhos, que dão má sustentação aos equipamentos e que vibram, não são uma boa ideia.
Evite a todo custo por as caixas de som no mesmo móvel que os equipamentos, pois essas vibrações não fazem bem ao som. E também porque, como você vai precisar fazer um distanciamento das caixas da parede, e um ajuste fino em seu posicionamento, vai precisar que as caixas estejam em pedestais apropriados (caso sejam tipo bookshelf). Quanto mais firmes forem os pedestais, melhor.
Amortecimento de Racks & Pedestais:
Racks e prateleiras vibram, e isso é nocivo ao som. Pés ou spikes embaixo do rack, são totalmente válidos, assim como embaixo dos equipamentos (com critério, ou seja, analisando se seus efeitos não sejam mais malignos do que benignos). Amortecer as prateleiras do rack, por baixo, com betume ou algum tipo de borracha, também é válido.
Pedestais de caixas bookshelf, vibram. Muito. E isso ‘suja’ o som, além de poder o pedestal ‘cantar’ junto com a música! Usar spikes embaixo dos pedestais é essencial, para ajudar a dissipação dessas vibrações. Em pedestais que são feitos de tubos ocos de metal – que fazem um barulho de sino se você bater neles com o nó dos dedos – é uma boa ideia desmontar a parte de cima desses e encher os tubos com pedrisco de aquário (aquele de peixes ornamentais). Tem gente que enche de areia – mas já vi esse tipo de areia vazar por baixo do pedestal, e ela teria que ser posta dentro do mesmo depois que se tivesse certeza de que está seca, o que dá ainda mais trabalho.
Para spikes (do rack e das caixas) não marcarem o chão de madeira ou de piso-frio de sua sala, muitos já vêm com ‘moedinhas’ para essa proteção. Mas você pode usar moedas de verdade mesmo – o que ‘valorizaria’ seu sistema.. rs!
Uma dica: cole feltro autoadesivo embaixo das moedinhas, o que ajuda muito a arrastar o conjunto pedestal/caixas, para o ajuste fino de seu posicionamento.
Caixas tipo torre costumam vir de fábrica com tais spikes – mas, às vezes, sem moedinhas.
Reaperto dos Parafusos dos Falantes das Caixas, de Racks & Pedestais:
Difícil acontecer dos parafusos dos falantes das caixas afrouxarem – mas pode acontecer com caixas que já têm alguns anos, foram usadas intensivamente ou transportadas várias vezes – então reapertá-los é uma boa ideia. Mas faça isso com calma e critério, e sem usar muita força, apenas para ter certeza de que estão firmes.
O reaperto dos parafusos dos pedestais e do rack (quando este tiver parafusos), é sempre bom fazer. Essa firmeza ajuda muito nas vibrações e ressonâncias indesejáveis. Você pode, às vezes, não ouvir a vibração em si, mas saiba que ela está alterando a sonoridade de seu sistema.
Nivelamento de Toca-Discos & Caixas:
O nivelamento do seu toca-discos de vinil – caso use um – é absolutamente essencial para sua correta e melhor performance. Muitos toca-discos têm a possibilidade fácil de ajustar o nivelamento pelos pés. Mas tem outros que simplesmente não têm esse recurso, então é preciso ser criativo para nivelá-lo. Desnecessário dizer que o toca-discos é o maior beneficiário de uma prateleira firme, pesada e livre de vibrações e ressonâncias o quanto for possível.
Nivelamento de Caixas: essencial que as caixas estejam, ambas, no mesmo nível – em posicionamento simétrico – e que os tweeters da caixa estejam posicionados o mais próximo possível da altura de seus ouvidos, quando você estiver sentado ouvindo música no triângulo equilátero. Isso é a regra básica, mas tem caixas que tocam igualmente bem estando com os tweeters um pouco abaixo da altura dos seus ouvidos.
Dica interessante: muitas caixas, principalmente tipo bookshelf, dão uma resposta de médio-agudo e agudo mais limpa, e um médio-grave mais cheio, se você erguer alguns centímetros a parte da frente delas com algum tipo de calço (ou seja, ‘tombar’ um pouco as caixas para trás). Isso se dá, principalmente, por causa da diminuição da reflexão dos médios-agudos e agudos no piso – entre outros fatores.
Aquecimento do Sistema:
A maioria das pessoas têm pouco tempo por dia para ouvir música. Se, por exemplo, eu chego em casa às 19hs, e vou pôr em ordem algumas coisas, tomar um banho e providenciar jantar, eu chego e já ligo o sistema. Porque um amplificador transistor demora meia-hora para começar a tocar direito e de maneira estável, e um valvulado pode demorar pelo menos uma hora! Você não vai querer desperdiçar uma hora das poucas que você tem para ouvir música reproduzida com alta qualidade sonora, vai?
Organização de Cabos:
Cabos que carregam energia, enrolados com cabos que carregam sinal de áudio (seja ele analógico ou digital), é algo que pode resultar em aumento de ruído de fundo em seu sistema, além de outras perdas. É bom manter seus cabos organizados, mas manipular eles o menos possível.
Limpeza & Reaperto de Conexões de Cabos:
Contatos de cabos – ou seja, os plugues – e onde eles vão atrás dos aparelhos, pegam gordura, poeira e oxidam. Isso é normal. Mas é preciso periodicamente desligar esses cabos, limpá-los bem com álcool isopropílico e com líquido de limpeza de contatos, fazer o mesmo com os plugues atrás dos aparelhos, e verificar se a conexão de todos está firme e fazendo bom contato elétrico. Isso provê uma melhora grande no som.
E, por fim, a pergunta: ‘Tweaks prontos’ ou acessórios? Sim ou Não?
‘Tweak’ significa ‘ajuste’ – que, nesse sentido, é tudo que aqui foi sugerido. O que eu chamo de ‘tweaks prontos’, os acessórios que abundam no mercado, são dezenas e dezenas de tipos de anti-vibratórios para pôr em cima, do lado, embaixo, dentro e atrás de todo tipo de aparelho ou cabo, condicionadores e filtros (dos simples aos mais complexos) de energia elétrica de vários tipos e valores diferentes, de sinal analógico, de sinal digital, de aterramento, etc. São os bloqueadores de interferências eletromagnéticas e de radiofrequência, os sprays antiestáticos, a pintura na borda dos CDs (essa é velha – e daqui a pouco já vai ter gente que nunca viu um CD), e vários outros acessórios, muitos ‘esotéricos’.
O problema com esses aí é que quase sempre seus efeitos ‘positivos’ são acompanhados por efeitos ‘negativos’. É uma troca – e nem sempre a troca é interessante. Pode acontecer perda de dinâmica, diminuição de corpo harmônico (secando o som e deixando-o irreal e ‘de plástico’), alteração de timbre ou de equilíbrio tonal e, com muita frequência: perda de velocidade, o que deixa o som um pouco letárgico, altera transientes e perde clareza na intencionalidade.
Então porque são muito procurados e aceitos em sistemas? Porque eles têm efeito nesses sistemas que possuem problemas pontuais de desequilíbrio tonal, de congestionamento sonoro, ruído de fundo etc. Acontece que muitos dos problemas são melhor resolvidos com bom casamento entre os componentes e correto setup. E o ‘bom casamento’ raramente acontece usando uma caixa reveladora com um amplificador apagado, por exemplo, pois isso seria ‘puxar piano para banquinho’, e uma enormidade de audiófilos fazem isso – é como ficar alternadamente pondo ‘mais sal’ e ‘mais água’ no molho do macarrão, e depois de um tempo você terá sopa de macarrão, e uma não muito boa. Batemos sempre na tecla do equilíbrio tonal porque quem o priorizar terá melhor qualidade de som, menos problemas de setup, e gastará menos tanto em curto como em longo prazo!
Algumas coisas são reais, outras coisas são ‘óleo de cobra’ – não vou entrar nesse mérito agora, principalmente depois de ver um sujeito por uma ‘pedra de cristal rosa’ sobre o transformador do amplificador dele, e perceber diferenças. Sabe porquê? Porque o peso sobre o transformador diminui a vibração dele, e isso irá alterar o som! Nada a ver com ‘cristal cor de rosa’, porque inúmeras pedras farão o mesmo serviço. Vale fazer? Eu não faria e não recomendo, porque a sensação de ‘limpeza’ que vier porque ser resultado de secura ao ‘matar alguns harmônicos’, e perda musical não considero que valha a pena, nunca – e porque acho uma temeridade alguém abrir um aparelho para pôr uma pedra dentro. Ou mesmo por uma pedra fora.
Porque, meus amigos, a ideia que vai lhes trazer um som melhor, não é a de perder uma coisa para melhorar outra. Não é a de ‘desentortar a banana’. Não é a de ‘puxar o piano pro banquinho’. A ideia, como nos ajustes ‘válidos’ que eu cito nesta matéria, é a de procurar montar o sistema mais equilibrado possível, mais correto possível, e fazer ajustes finos dele, procurando a menor perda.
E alguns fatores são extremamente Reais em sua influência em um sistema, como por exemplo:
Vibração e ressonância, são muito Reais – por isso racks e prateleiras estáveis, por isso não pôr o seu som no MDF fininho e oco do móvel de design promovido pelo decorador e aprovado pela esposa (sinto muito, não vai ser fácil assim…).
Cabos, também, são Reais na medida em que, sim, eles afetam o som e, sim dá para perceber que eles afetam, que cada um soa de maneira diferente e cabe ao audiófilo procurar os mais adequados e compatíveis com seu sistema. Mas, por que não sugeri acima os
cabos como ajuste fino de sistema? Porque muita gente os usa como um ‘equalizador’, pondo cabos reveladores em sistemas apagados, etc – como se alternando entre ‘comer muito sal’ e tomar o remédio de pressão alta – achando que o mundo é um elástico. Não use cabos para ‘acertar’ o seu sistema, use cabos equilibrados e corretos com amplificadores e players e caixas que sejam equilibrados e corretos, e chegará mais próximo do nirvana sonoro. Porque, afinal, a música é equilibrada e correta.
Um sistema ‘acertado’, redondo, correto e equilibrado não precisa de acessórios. E os acessórios não vão fazer com que um sistema desequilibrado se torne equilibrado sem promover perdas qualitativas. ‘Qualitativo’ não é ‘Quantitativo’ – é preciso pensar em ‘melhor’, não em ‘mais’.
Existem mais dicas e tweaks? Sim, claro, sempre tem muito mais. A questão é que muita coisa é pontual, para equipamentos ou tipos de equipamento específicos, ou situações específicas dentro de um setup. Ou seja, não teriam aplicação mais ‘generalizada’ – não ajudariam o maior número de pessoas – portanto não vale a pena serem exploradas aqui.
Por hoje é só, pessoal…