Christian Pruks
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Todo mês um LP com boa música & gravação
Gênero: Trilha Sonora / Orquestral
Formatos Interessantes: Vinil Importado / Nacional
Desde a tenra idade eu sempre tive um gosto profundo por música clássica – principalmente a orquestral – clara influência de meu pai, que absorvia esse gênero musical mais que uma esponja absorve água.
Tendo como preferidos os formatos de Sinfonia e de Poemas Sinfônicos (e de Concertos para Piano e Violino) – formas que fazem profunda utilização de uma grande orquestra, usualmente de todos seus naipes – natural que um moleque ficasse fascinado com a grandiosa trilha sonora de filmes de aventura e ficção, como O Buraco Negro e Jornada nas Estrelas – O Filme, ambos de 1979.
Já ouvi dizerem que a tal trilha sonora grandiosa e apoteótica, que faz parte da história como se fosse mais um personagem, nasceu com Star Wars em 1977, pelas mãos visionárias do compositor John Williams, e de seu diretor George Lucas. Talvez em uma escala realmente maior, isso seja verdade, mas a trilha já influenciava enormemente o filme desde o Robin Hood de Errol Flynn em 1938 – trilha do austríaco Erich Korngold, em quem John Williams se inspirou até dizer chega.
É fato – para mim, pelo menos – que uma das coisas mais impactantes de Star Wars é sua trilha sonora, e esse impacto começa logo no primeiro acorde, assim que o logotipo do filme aparece na tela, fazendo você grudar na cadeira e respirar fundo, como se estivesse indo fazer parte daquela aventura intergaláctica. E, quer saber? Você está! Tire a música de uma infinidade de impactantes e imersivas aventuras cinematográficas, de um monte de ‘filmão’, e você entenderá.
Então, quem já viaja na música desse tipo de filme, facilmente é cliente para comprar os discos de suas trilhas e, além de recordar as sensações do filme, também acaba aprendendo a apreciar algumas trilhas que funcionam fora da tela – que funcionam simplesmente como boa música. A trilha sonora do filme O Segredo do Abismo, de 1989, do diretor americano James Cameron, é um desses casos.
Um amigo que já se foi há muitos anos, costumava dizer que Hollywood tinha estragado o cinema com seus filmes grandiosos de aventura e ficção científica, que o bom eram os filmes de atores de diálogos, filmes baseados em livros e os filmes de arte, que imperavam até uma boa parte dos anos 70. Mas, veja bem, ele tinha um poster de Star Wars que ocupava a parede inteira do escritório dele, e já tinha assistido dezenas de vezes o filme! Ele sabia e entendia que o cinema havia mudado, e que não necessariamente isso era ruim. Hoje você pode usufruir de cinema de diversão, e pode usufruir do cinema ‘cabeça’ – pode usufruir do que quiser! E, para mim, cinema sempre foi ‘diversão’ – principalmente isso, e eu me divirto com uma infinidade de gêneros cinematográficos, de várias décadas.
Um desses filmes é o excelentemente bem bolado, produzido e dirigido O Segredo do Abismo (The Abyss), onde uma equipe de especialistas em resgate submarino, procura chegar, em uma parte bem funda do Atlântico, à um submarino americano que afundou – e chegar lá antes do russos! Acontece que eles acabam encontrando algo muito inesperado no fundo do mar…
A trilha acompanha o crescendo do suspense e da aventura do filme – que é impecavelmente conduzido pelo diretor James Cameron (de filmes como Titanic, Aliens e Exterminador do Futuro). O escolhido para compor a música foi Alan Silvestri, um novaiorquino que estudou no Berklee College of Music em Boston. Silvestri começou sua carreira musical como baterista e, depois, guitarrista de rock, chegando a Hollywood na década de 70.
Começando a compor trilha para pequenos filmes, e para a TV, como a célebre série CHiPs – cujo estilo era completamente jazzístico – Silvestri conheceu o diretor Robert Zemeckis. E, desde 1984 até hoje, todas as trilhas instrumentais de todos os filmes de Zemeckis são dele, inclusive célebres melodias como de De Volta Para o Futuro, e Forrest Gump – ou seja, desde grandiosas aventuras, até melodias calmas e líricas.
A trilha de O Segredo do Abismo é, em parte, isso: uma primeira metade lírica, calma e melódica, indo de encontro ao crescendo da ação e suspense, e à ficção científica da boa! Inclui bastante percussão e um bom acompanhamento de sintetizadores, mas é em sua maioria feita pela – e tendo como base – a orquestra de trilhas de filmes da 20th Century Fox.
E, acreditem: tudo isso com uma excelente qualidade de gravação!
Como acontece com enorme frequência, não há informações sobre a técnica de gravação desta trilha. Discos de orquestra são gravados em auditórios, em salas de concerto, onde essas orquestras geralmente se apresentam – mas discos de trilha sonora orquestral são gravados em grandes salas de estúdio, onde a acústica é mais seca (reverbera menos), pois o intuito é que trilha, quando for ser aplicada no filme, não tenha uma identidade própria de reverberação e ambiência. Mas isso não significa nada ruim, principalmente quando a captação é muito bem feita, e é pouco alterada durante seu processo de mixagem e masterização – como é o caso deste disco.
A gravadora Varese Sarabande – especializada em trilhas de filmes – foi uma das primeiras a fazer gravações digitais de boa qualidade, assim como o fato desta ser uma trilha de um filme comercial mais de 10 anos depois do advento da gravação digital. Esses dois fatos mostram a grande chance deste disco ter sido gravado e mixado em digital, para depois ser prensado em LP… Sua qualidade serve como mais uma pista de que existem muitos bons discos de vinil feitos de máster digital – e que isso não é fim do mundo.
Para quem é esse disco? Para todos os fãs de trilhas orquestrais de filmes – principalmente os de aventura e ficção científica. E, pela qualidade da composição e execução, a música de O Segredo do Abismo pode ser curtida bastante sem nem a pessoa sequer saber que há um filme associado à ela.
A prensagem nacional – brasileira mesmo – deste disco, é impressionante em matéria de qualidade sonora! Claro que, uma prensagem americana ou, melhor ainda, alemã, irão trazer um ‘algo mais’. Pena que não consegui achar referência alguma de que esse disco tenha sido prensado em vinil no Japão…
Bom novembro! E sempre com música!