Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Nossos leitores mais antigos irão se lembrar que a Harbeth já esteve no Brasil entre 2000 e 2003, e depois saiu sem nenhum importador mostrar interesse em sua volta.
Até que, no meio da pandemia, o Fernando Kawabe me disse que assim que a produção da Harbeth se normalizasse, ele estaria trazendo novamente a marca. E ele cumpriu a promessa, e nos disponibilizou para testes o modelo logo abaixo da top, a Super HL5plus XD.
Fundada em 1977 pelo engenheiro HD Harwood, que havia acabado de deixar o departamento de pesquisa da BBC decidindo que iria produzir monitores de alto desempenho. E utilizaria em seus monitores o polipropileno, um material para cone de falantes com um timbre muito correto, leve e de enorme durabilidade. A BBC, ouvindo seu primeiro protótipo, concedeu a ele uma parceria para a compra de seus monitores, pois constataram que o seu novo falante era muito mais eficiente, preciso e com menor coloração que os falantes de cone de papel dopado que todos os fabricantes que forneciam monitores para a BBC utilizavam.
Nos mais de 40 anos da empresa, muitas melhorias foram feitas, mas o que se mantém como no início da companhia são seus gabinetes e o design retrô, muito semelhantes aos designs originais.
O modelo SHL5plus XD é uma caixa de 3 vias, mas que na verdade utiliza dois tweeters e um falante de médios-graves de 200mm. O primeiro tweeter responde até 14kHz, sendo este um ferrofluido de 25 mm, e o segundo um super tweeter de 20 mm que responde até 20kHz.
Segundo o fabricante, a caixa responde de 40 Hz a 20 kHz (+- 3 dB), tem uma impedância de 6 ohms, sensibilidade de 86 dB, pesa apenas 15.8 Kg, mesmo com uma dimensão considerável de 63.5 cm de altura, 32.2 cm de largura e 30 cm de profundidade.
Alan Shaw, o diretor técnico e atual dono da Harbeth, utilizou no novo modelo SHL5plus XD, o seu mais recente driver patenteado para graves e médios, o Radial2, com 7.9 polegadas. Cada falante é construído à mão na própria fábrica na Inglaterra, depois são medidos, e casados antes de receberem seu gabinete e irem para a bancada de testes auditivos, antes de serem considerados finalizados para envio aos clientes.
Pense em uma empresa totalmente verticalizada – essa é a filosofia da Harbeth, desde sua fundação.
Seu gabinete de excelente acabamento será certamente olhado com desdém por quem procura brilho em frisos ou um design slim com fundo arredondado e mais estreito que a frente, tão em moda na atualidade. Ao contrário, a Harbeth mantém a tradição como a realeza britânica, em que nada será alterado se se mostrou eficiente e capaz de acompanhar as evoluções existentes, sem mudar a forma.
Então, se você leitor for adepto da ‘aparência’ acima do conteúdo, esqueça este teste. Pois as caixas Harbeth não abrem mão de sua filosofia, e é por isso mesmo que seus gabinetes parecem estar na contra mão do que se prega em termos de inércia, para se matar colorações espúrias. Como um instrumento musical, os gabinetes da Harbeth soam com a música, fazendo uso de amortecimento interno apenas em locais pontuais, e que sejam críticos em termos de coloração.
E até mesmo os parafusos existentes no primeiro modelo ainda estão em uso na traseira do gabinete.
Quanto às regras vigentes nos sonofletores modernos, a Harbeth viola todas elas, como por exemplo: o teste do nó de dedos para ouvir o grau de amortecimento da caixa – ainda que ao fazer o teste é possível notar a eficiência do material de amortecimento colocado internamente, que não deixa a caixa ressonar, soando com um decaimento muito rápido, porém sem soar completamente seco ou morto. Ou a ideia de que, para se ter um excelente soundstage em termos de largura, profundidade e altura, o ideal seja um gabinete fino com curvatura nas paredes laterais – a Harbeth é literalmente um caixote, e suas dimensões exigem um suporte específico, com a altura certa para que o primeiro tweeter esteja na altura do ouvido, e não o super tweeter ou o falante de médios/graves. Não tente burlar essa regra, pois você irá perder muito do encanto desses monitores!
Agora, se você sempre desejou ouvir um monitor em seu sistema, que possua refinamento suficiente para lhe apresentar a música como ela foi produzida, sem, no entanto, soar frio ou transparente em demasia, eu o aconselho a ouvir uma caixa Harbeth.
Elas visualmente parecem ‘despretensiosas’, e certamente são caras. Se você for daqueles em que a racionalidade é o que bate o martelo em toda decisão para futuros upgrades, certamente as Harbeth não farão parte de sua lista Top 5 de caixas a serem ouvidas.
E ainda assim, eu lhe digo: Ouça!
Pois você não só pode ser surpreendido, como se encantar com tudo que ela tem a lhe dizer, sobre monitores feitos sob medida para nos deixar frente a frente com a música, e nada mais entre ela e você. Sei que esse argumento já foi utilizado à exaustão para te convencer, tanto por fabricantes, como por revisores críticos de áudio, e entendo que você tenha criado até uma ‘resistência’ a esse tipo de argumentação. No entanto, eu vou insistir para que você o faça, ao menos por curiosidade e até mesmo para discordar de minha opinião.
Agora, se o fizer em condições satisfatórias, meu amigo, será difícil não a colocar naquela lista de possíveis candidatas a um futuro upgrade!
Para o teste utilizamos os amplificadores: integrados Line Magnetic modelo 219IA, Willsenton R8, e Sunrise Lab V8 Aniversário, power Gold Note PA-10, e Pré e Power Nagra Classic. Fontes analógicas: toca-discos SME Synergy (leia Teste 1 nesta edição) e Origin Live (nosso Setup de Referência). Fontes digitais: Transporte Roksan Atessa, Transporte Nagra, Transporte dCS Bartok, e DACs Nagra TUBE DAC e dCS Rossini Apex. Cabos de caixa: Sunrise Lab Aniversário, Virtual Reality Trançado, e Dynamique Audio Apex.
Enquanto aguardava a produção do pedestal pelo fabricante de racks e pedestais Sabiá, deixei a Harbeth amaciando no pedestal da Magis. Como disse, à altura da caixa é essencial para um perfeito soundstage, mas como era apenas amaciamento deixei a caixa em queima por 150 horas nessa condição, sendo que a cada 50 horas eu sentava para ouvir a evolução do amaciamento. É uma caixa que precisa de pelo menos 150 horas, sendo que a partir das 200 horas não notei absolutamente mais nenhuma mudança.
Quando você a coloca, saindo do zero, você terá uma região média aberta, com falta de extensão em ambas as pontas. Sendo que o super tweeter precisará de pelo menos 150 horas para abrir por completo.
Incomoda ir ouvindo desde o início? Não, mas para os mais apressados ficará sempre aquela ‘pulga atrás da orelha’: será mesmo que vai chegar lá? Eu conheço bem a insegurança audiófila, e sei o quanto coça as mãos para mostrar aos amigos o novo upgrade. E por mais que você repita aos amigos: falta amaciamento, a maioria sai sempre com uma opinião formada dessas audições (e sabemos muito bem o estrago que essas opiniões apressadas podem fazer). Então mantenha a calma, e confie. É uma caixa que requer paciência na queima, paciência no posicionamento e precisa de pares de seu nível para brilhar.
O que ela tem de positivo é que seu grau de compatibilidade é enorme. Adorei ela tanto com o R8 como com o V8, e o power da Gold Note PA-10. Todos os três com assinaturas sônicas tão distintas, e que a Harbeth soube ‘interpretar’ com maestria cada um desses pares. Os excelentes monitores tendem a desempenhar esse papel sem dificuldade alguma – dando ‘voz’ às qualidades e limitações da eletrônica que você colocar.
Ainda que sua sensibilidade não seja alta, com esses amplificadores a Harbeth se sentiu muito à vontade.
Seu equilíbrio tonal é extremamente correto e com enorme folga com gravações tecnicamente ruins. E com as boas e excelentes, será um deleite auditivo. Seus graves são impressionantes, tanto em peso como velocidade e deslocamento de ar (perdendo apenas para a JBL L100 Classic, que utilizam woofers de 12 polegadas). Em uma sala entre 18 a 35 metros quadrados, não creio que o usuário sentirá falta de grave (a não ser que ele seja um ‘grave dependente’). Diria que seus 40Hz são suficientes para a maioria das gravações e estilos musicais.
Mas é sua região média que nos faz suspirar, e se render ao grau de refinamento, detalhe e apresentação dos instrumentos e vozes! Com texturas inebriantes, e de um grau de refinamento e realismo, a Harbeth nos coloca a menos de um metro do acontecimento musical. Arrisco dizer que esse grau de realismo na apresentação de texturas, só ouvi em caixas muito mais caras que a Harbeth (coloque o triplo do valor pelo menos).
E os agudos – depois do super tweeter completamente amaciado – seu decaimento, extensão e ambiência, são excelentes! O encaixe entre a região média-alta e o primeiro tweeter é perfeito, sem nenhum pico ou vale audível, o que permite mesmo em passagens com enorme quantidade de instrumentos, um grau de inteligibilidade pleno. Isso é fundamental para qualquer monitor de alto nível: inteligibilidade.
No entanto, manter esse grau de inteligibilidade com conforto auditivo é o problema. E nesse quesito a Harbeth é uma consistente referência a todos que desejem fabricar monitores hi-end.
Os transientes são impecáveis, tanto em termos de tempo, como em andamento e marcação de ritmo. Ouvi inúmeras gravações encardidas em variação de ritmo, em que muitas caixas parecem ‘engasgar’ para reproduzir, e a Harbeth fez com maestria e vivacidade contagiante!
A dinâmica é apresentada com autoridade e folga, tanto a micro, como a macro. Claro que haverá sempre a limitação física dos falantes, mas nos volumes corretos e com a capacidade do amplificador aceitar a demanda de fortes variações dinâmicas, a Harbeth não se intimida. E quanto à micro, é um dos monitores mais fidedignos que escutei nos últimos anos. Tanto que se tivesse a oportunidade de voltar a gravar, seria certamente o monitor que utilizaria para mixar o trabalho!
O soundstage dependerá e muito do uso correto do pedestal especificado pela própria Harbeth (em termos de altura). A Sabiá gentilmente nos forneceu esse pedestal, e acredito que seja uma excelente opção aos futuros compradores dessa marca de caixas.
Pois bem, o usuário precisará se munir de paciência, para estabelecer a melhor posição delas em sua sala. Para começar, uma dica: pouquíssimo toe-in – se o fizer, no máximo 15 graus para o ponto de audição. O que esses monitores necessitam é de arejamento à sua volta. Pois como um instrumento musical, elas ‘respiram’, e essa característica exige que elas estejam afastadas pelo menos 50 cm das paredes laterais e 1 metro da parede às costas.
Se você pesquisar vídeos no YouTube, irá perceber que em todo vídeo deste fabricante, quando está soando bem, as caixas estão mais afastadas das paredes (principalmente esse modelo, e a top de linha, pelas suas dimensões). Então, antes de ouvir essas lindas caixas, veja se você terá um ambiente favorável para lhe dar o que ela necessita. Pois esse arejamento irá determinar o primor na resposta do palco sonoro, foco, recorte, planos e ambiência. Dando as condições favoráveis mínimas, ela irá brilhar também nesse quesito!
Quanto ao corpo harmônico, o tamanho dos instrumentos captados na gravação, não será problema para esse monitor.
Tem o tamanho exato de um contrabaixo? Claro que não, mas pelas suas dimensões está muito mais próximo de uma coluna do que de uma bookshelf, o que lhe garante uma posição de destaque neste quesito, semelhante à da JBL L100 Classic.
E a materialização física do acontecimento musical em nossa sala? Sua apresentação de organicidade é primorosa! Se o ouvinte tiver se excedido nas taças de vinho, sugiro não ficar andando entre os músicos, para não tropeçar, rs! Falando sério, não tem como não se encantar com a reprodução do acontecimento musical à nossa frente com essa Harbeth!
Acho que consegui dar pistas consistentes de como extrair o melhor desse belo monitor hi-end.
Mas falta a cereja do bolo: sua musicalidade! Sua capacidade de expressar o âmago musical beira o sublime! Não por ser hiper precisa na recriação de detalhes, mas sim pela sua ‘interpretação’ do todo, como só escutamos em uma apresentação ao vivo, com todas as imperfeições humanas na execução musical. Se você é um fã do hiper realismo, esqueça essa caixa.
Mas se você deseja audições mais ‘humanizadas’, em que se ouça as limitações técnicas da gravação, junto com a virtuosidade de um solista, sem jamais se queixar da qualidade técnica da gravação, essa Harbeth precisa ser ouvida com atenção.
Pois o que mais escuto de reclamação de leitores, é o quanto se perde o interesse em escutar gravações tecnicamente limitadas, ainda que a música seja excelente. Essa ‘receita’ de equilibrar entre o tecnicamente equivocado e a música bem executada, a Harbeth faz com enorme maestria!
CONCLUSÃO
Acho que no parágrafo anterior já sintetizei e fiz a defesa da melhor maneira possível das qualidades dessa impressionante caixa.
A única coisa que gostaria de dizer para finalizar, é que teria esse monitor para fazer minhas gravações sem sequer pensar em uma segunda opção! E ter um monitor hi-end desse naipe em nosso sistema é um privilégio!
PONTOS POSITIVOS
Um monitor hi-end de alto nível.
PONTOS NEGATIVOS
Pedestal sob medida e posicionamento na sala são críticos.
ESPECIFICAÇÕES
Tipo | 3-vias, dutada |
Drivers | • Médio-grave de 200mm (8 polegadas) Harbeth RADIAL2 • Tweeter de 25mm domo com ferrofluido • Super tweeter de 20mm domo |
Resposta de frequência | 40Hz – 20kHz (±3dB) |
Impedância | 6 ohms |
Sensibilidade | 86dB (2.83V/1m) |
Sugestão de amplificação | A partir de 25W/canal |
Potência máxima | 150W |
Dimensões | 635 x 322 x 300 mm (+12mm para bornes e tela) |
Bornes | Harbeth de 4mm |
Peso | 15.8kg cada (sem embalagem) |
Pedestais necessários | Otimizados para elevar os tweeters à altura dos ouvidos |
Embalagem | Individual por caixa – em papelão |
Cor da tela | Preta |
CAIXA HARBETH SHL5PLUS XD | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 12,0 | |||
Soundstage | 11,0 | |||
Textura | 12,0 | |||
Transientes | 12,0 | |||
Dinâmica | 11,0 | |||
Corpo Harmônico | 11,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 93,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
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