Vinil do Mês: CARL ORFF – CARMINA BURANA – ATLANTA SYMPHONY (TELARC, 1981)

Influência Vintage: AMPLIFICADOR INTEGRADO SANSUI AU-999
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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Todo mês um LP com boa música & gravação

Gênero: Clássico Orquestral

Formatos Interessantes: Vinil Importado Duplo

Eu cresci em uma casa onde a música que era ouvida diariamente, era a música chamada de clássica, ou erudita – mais a orquestral, ou seja, a tocada por orquestra, e menos a música ‘de câmara’ que é tocada por pequenos conjuntos de instrumentistas, como duos, quartetos, sextetos e octetos, etc. Fui educado com esse tipo de música, e tive que ir buscar Beatles, rock progressivo e música eletrônica sozinho, a partir da adolescência, como é bastante normal.

Meu pai era um aficionado e um colecionador de discos, e era também audiófilo em todos os sentidos, observando conceitos e ideias que eram consideradas alienígenas para outras pessoas (e ainda são para algumas! rs…). Quando eu tinha uns cinco anos de idade, meu pai notou que eu ouvia música quase compulsivamente (a música que ele ouvia), e me deu uma vitrolinha Philips vermelha, portátil, e disse para eu escolher dois discos. Um foi a Quarta Sinfonia de Tchaikovsky com a Filarmônica de Berlim regida por Herbert von Karajan, e o outro foi Carmina Burana, de Carl Orff, com a Orquestra da Rádio de Leipzig sob a regência de Herbert Kegel.

Desnecessário dizer que uma das minhas obras preferidas até hoje é Carmina Burana, especialmente pelas mãos do grande regente Robert Shaw, frente à Sinfônica de Atlanta, com o Coro Sinfônico de Atlanta, o Coro de Meninos de Atlanta, o barítono Hakan Hagegard, a soprano Judith Blegen, e o tenor William Brown – no disco da Telarc que dá título a este artigo.

Para quem tinha (ou tem) um sistema com caixas de bom tamanho, e bem regulado para a música clássica, ouvir os LPs da Telarc é um acontecimento que quase pede bolo com guaraná – e com certeza vale chamar os amigos – e a gente chamava! Não é à toa que eu falo, há anos, que as duas melhores gravações de música orquestral, as mais realistas e detalhadas, e dinâmicas, com texturas e transientes, etc, são as da Telarc (do brilhante engenheiro Jack Renner) e as da Reference Recordings (do brilhante engenheiro Prof. Keith O. Johnson) – ambas empresas americanas, gravando com orquestras americanas, em salas de concerto de primeiríssima qualidade. Já ouvi críticas a orquestras americanas, em favor a orquestras europeias, e realmente não admito esse tipo de bairrismo, e grandes regentes europeus foram totalmente ativos na formação da sonoridade da música clássica e das orquestras sinfônicas americanas, assim como um dos grandes maestros de todos os tempos declarou que os metais da Sinfônica de Chicago eram os melhores do mundo nas décadas de 60 e 70.

Bem na virada da década de 70 para 80, quando a Telarc começou com suas gravações – todas digitais, aliás, para desespero daqueles que acham que no áudio existe um ‘mocinho versus vilão’, um ‘analógico versus digital’ – era possível encontrar muitos dos LPs importados da Telarc (só existem importados) em lojas especializadas nesse estilo de música em São Paulo, como a Bruno Blois e a Brenno Rossi.

Carmina Burana é uma obra que divide opiniões entre os aficionados de clássicos. Conheço várias pessoas que detestam a obra, assim como muitos que a adoram. É preciso ter, claro, um gosto especial pelo estilo – pois existem muitas pessoas que gostam de clássicos mais calmos, ou são aficionados especificamente de música de câmara ou Barroco. E Carmina Burana é o oposto dessas.

É uma cantata, em estilo clássico moderno, século 20, em 25 movimentos, para orquestra sinfônica, coro sinfônico, coro infantil, e vozes solistas – finalizada pelo compositor alemão Carl Orff na segunda metade da década de 1930, e estreada na Ópera de Frankfurt em 1937. É baseada em 254 poemas irreverentes, satíricos e até profanos, escritos nos séculos 11, 12 e 13, tratando de sorte, riqueza, alegria e prazeres carnais. A obra de Orff é cantada em três línguas antigas: latim, francês antigo, e alto-alemão médio. É uma das obras mais populares do século 20 e tem como sua força motriz o ritmo e intensidade dramática.

Por ter sido prensado em vinil duplo – para garantir maior qualidade sonora e maior dinâmica com sulcos mais largos e mais fundos – este LP traz também, no quarto lado, a Metamorfose Sinfônica (1943), em quatro movimentos para orquestra, do alemão Paul Hindemith.

O compositor Carl Orff nasceu em 1895 em Munique, Alemanha, de uma família influente na região da Bavária. Começou estudando música na Academia de Música de Munique, depois serviu no exército durante a Primeira Guerra Mundial. Como pedagogo, criou o Método Orff de ensino de música usando percussão e canto, fundando a Guenther School em 1925, onde dedicou-se à educação musical infantil até seu falecimento, em 1982.

O regente americano Robert Shaw nasceu na Califórnia em 1916, de um pai reverendo e uma mãe cantora lírica, e começou cantando no coro e, depois, organizando e regendo coros. Em 1941 fundou o Collegiate Chorale, também chamado de MasterVoices, que poucos anos depois cantou nem uma apresentação da Nona Sinfonia de Beethoven com a Orquestra Sinfônica da NBC, sob regência do célebre maestro italiano Arturo Toscanini – que declarou: “Em Robert Shaw encontrei finalmente o maestro que eu estava procurando”. E Shaw acabou preparando coros para a Sinfônica da NBC e para Toscanini por quase uma década. Depois de dirigir a Sinfônica de San Diego, e ser assistente de George Szell na Orquestra de Cleveland, Shaw foi diretor da Sinfônica de Atlanta de 67 a 88, onde fundou o Coro Sinfônico de Atlanta, e gravou vários discos para a Telarc Records. Robert Shaw faleceu em 1999, aos 82 anos.

A Sinfônica de Atlanta começou como Orquestra Jovem de Atlanta em 1945, e fez sua primeira gravação em 1975. A associação com a Telarc começou em 1978, com Robert Shaw, e continuou sob a regência de Yoel Levi até 2010 – resultando em 26 Prêmios Grammy! O conjunto também gravou com seu próprio selo, o ASO Media, e com a Deutsche Grammophon e o extinto selo Pro Arte.

A americana Telarc Records, fundada pelo engenheiro de gravação Jack Renner e o produtor Robert Woods, fez uma de suas primeiras gravações especiais em 1978, com o recém projetado gravador digital SoundStream – que havia sido demonstrado desde 1976 com resolução de 16-bit/37kHz. Mas, depois, Renner pediu que algumas melhorias fossem feitas, para chegar aonde a Telarc queria chegar em matéria de padrão de qualidade. Então, em 1978, o SoundStream passou a ser o padrão da gravadora, uma das pioneiras no formato digital nos EUA, e passava a gravar em quatro canais 16-bits-linear/50kHz, com resposta de frequência de 0Hz à 21kHz, e registrando em um gravador de dados de medição da Honeywell, de fita magnética de 1 polegada. O mesmo sistema reproduzindo, convertendo de digital para analógico, registrava no acetato para a prensagem dos discos de vinil.

Para quem é esse disco? Para todos os fãs de música clássica, e fãs da obra Carmina Burana. E especialmente para fãs de gravações intensamente realistas em relação ao que acontece em uma boa sala de concerto, principalmente quanto às variações dinâmicas e ao impacto, tamanho e energia de uma orquestra. Quem já ouviu uma boa orquestra ao vivo, sabe do que eu estou falando.

Esse disco, em vinil, saiu primeiro em 1981, em duas prensagens americanas (afinal a empresa é americana), e uma prensagem alemã – e eu diria que qualquer uma dessas três edições é perfeitamente boa, ótima até, pois já tive prensagens Telarc tanto americanas como europeias, e já que são feitas com vinil de alta qualidade, e grande esmero técnico, nunca consegui diferenciar os dois tipos em matéria de qualidade sonora, e nem mesmo de capa. Existe uma prensagem europeia de 2007, não especificada se é de 180g ou 200g (as originais das décadas de 70 e 80 são todas de 160g). E a última prensagem que saiu foi em 2018, alemã, está com um adesivo ostensivamente dizendo “Telarc 180-Gram”. Eu nunca ouvi uma dessas prensagens recentes do selo, mas as antigas são todas sensacionais!

Ouça um trecho de “O Fortuna”, no YouTube

Bom dezembro & Boas Festas!

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