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SACD-PLAYER DAC & STREAMER MARK LEVINSON No.5101

Fernando Andrette

Eu dei uma ‘fuçada’ na pesquisa que postamos na Edição de Aniversário – 284, e em um universo de quase 1500 respostas que já recebemos, há uma tendência que parece solidificada: 50% dos nossos leitores já optaram pelo streamer como sua principal fonte para reproduzir música.

E a outra metade se divide entre fonte analógica e digital, o que mostra como o leitor da revista está sendo mais cauteloso em abrir mão de suas mídias físicas, e embarcar de vez no armazenamento de seus discos nas nuvens!

Acho que essa tendência é irreversível (principalmente entre os leitores mais jovens), mas que sofre maior resistência à medida que o leitor com mais idade não quer cair no erro que cometeu, ao vender sua coleção de LPs por centavos de dólares nos anos noventa!

Então, produtos como o Mark Levinson Nº 5101 são perfeitos para essa fase de transição, em que queremos experimentar o novo sem abrir mão de nossa mídia física (o que soará como música divina para metade dos nossos leitores que querem desfrutar de todas as mídias disponíveis no momento).

O que mais me impressionou no novo 5101, é ele custar menos da metade do 519, o CD-Player de Referência da Mark Levinson, e ainda assim ter o nível de construção, acabamento, versatilidade e performance tão próximo da linha acima! O que faz deste 5101 um ‘Melhor Compra’, em qualquer parâmetro racional que utilizemos para a escolha de um CD-Player com DAC e streamer de alto nível.

Claro que, para o tornar tão competitivo, algumas mudanças teriam que ser feitas, mas a ‘identidade’ que está presente na marca desde os anos oitenta, com um gabinete anodizado preto com um painel frontal arredondado, em destaques prateados e LEDs vermelhos que nos permitem ver os comandos a distância. Para baratear custos, a gaveta de carregamento por slot suporta formatos de discos como: SACD, CD-A, CD-R e CD-RW.

Ele é montado contra choque, em uma unidade de aço, com uma blindagem para redução de ruído elétrico e mecânico. Basta encostar o CD para ele ser ‘sugado’ de maneira segura e com baixo ruído operacional.

O DAC interno é o Precision Link II proprietário, baseado no chip ESS Sabre ES9026PRO de 32-bit, com circuito especial de eliminação de jitter. Ele pode processar arquivos: FLAC, WAV, AIFF, OGG, MP3, AAC e WMA – de até 24-bit/192kHz em PCM, ou DSD128. Existem ainda sete opções de filtros para PCM, e quatro para DSD.

O 5101 também possui uma saída analógica, semelhante à existente nos integrados 5802 e 5805. Segundo o fabricante, os ganhos não são os mesmos utilizados nos integrados.

Cada canal (segundo o fabricante), é construído em torno de estágio de ganho único discreto, acoplado direto e balanceado, fazendo uso de um buffer de tensão proprietário. Segundo os engenheiros, foi feito um longo estudo para manter o nível de ruído o mais baixo possível com o uso de cinco fontes de alimentação individuais apenas para o chip DAC, além de outras quatro (duas por canal), para o fornecimento de energia para o estágio de saída analógica. Uma fonte de alimentação chaveada fornece energia para o drive SACD e todos os circuitos digitais, enquanto outra fonte de alimentação linear, com um transformador toroidal e retificadores Schottky de baixo ruído, fornece energia para os circuitos analógicos.

As fotos mostrando o 5101 por dentro, não fazem justiça ao nível de qualidade de construção e limpeza de todas as etapas do circuito. Mostrando que, mesmo na linha de entrada, os produtos Mark Levinson seguem o mesmo alto padrão da série de Referência.

Seu arsenal de entradas digitais é enorme, como: coaxial, ótica, S/PDIF ou USB (senti falta apenas de uma entrada AES/EBU, para poder usar o melhor cabo digital que dispomos como Referência). Há duas saídas analógicas (RCA e XLR) e saídas digitais (S/PDIF, coaxial e ótica).

Para o uso do streamer, o usuário pode optar pela entrada de rede Ethernet e pelo Wi-Fi (para essa opção é fornecida uma antena para ser conectada ao painel traseiro). A Mark Levinson disponibiliza dois aplicativos: o MusicLife da Harman, que fornece navegação de conteúdo em serviços de streaming (Tidal, QoBuz, Spotify, etc), e o 5Kontrol para quem possui outros equipamentos Mark Levinson no sistema.

Eu penei um pouco para me adaptar ao MusicLife via Android, mas depois de algumas tentativas e erros, entendi a sua ‘lógica’ (estou tão acostumado a ter que usar plataformas tão distintas, que acho que já estou me familiarizando com cada uma delas).

Como todo produto deste fabricante, toda vez que é ligado, ele passa por um padrão de autoteste, antes de ser liberado para uso. E se não for acionado logo após ter sido ligado, ele entra em modo de espera e um LED vermelho ficará piscando como um ’vagalume’.

Para o teste, utilizamos os integrados Arcam SA30 (leia teste na edição 284), Krell 300i (teste na edição 286), Stereo 130 da Leak (teste em 288), e Sunrise Lab V8 Anniversary (teste em 287). Caixas acústicas: Wharfedale Elysium 4 (leia teste edição 281), JBL L82 Classic (leia teste edição 281), Wilson Audio Sasha DAW, Estelon YB Mk2 e JBL L100 Classic (leia Teste 2 na edição 285). Cabos de força: Virtual Reality série Trançado, Sunrise Lab 20th Anniversary (leia teste na edição 284), e Transparent PowerLink MM2. Cabos digitais: USB Anniversary da Sunrise Lab, Kubala Sosna Revelation. Coaxial: 20th Anniversary da Sunrise Lab, e Virtual Reality.

Para o teste, como sempre fazemos em produtos que na verdade possuem um pacote de opções, foi separar no final as notas avaliando-o como CD-Player, DAC e streamer. O que demanda mais tempo de teste, mas permite dar ao nosso leitor uma radiografia do potencial do produto em cada frente de atuação.

O 5101 veio lacrado, o que necessitou de quase 300 horas para amaciarmos (100 horas para o CD-Player, 100 horas para o DAC, e 80 horas para o streamer). A boa notícia é que, como CD-Player o usuário, já poderá ir amaciando, ouvindo com prazer o produto.

Sua assinatura sônica, além de correta, é encantadora, pois está muito mais para o lado da naturalidade e musicalidade, do que para o da transparência e analítico.

Fizemos a primeira audição, para as anotações iniciais, apenas com os discos da CAVI (SACD e CD), e muitas informações preliminares foram feitas, principalmente com o CD Timbres e os dois Genuinamente Brasileiro. Pois não é comum um CD-Player sair da embalagem apresentando esse grau de graciosidade na reprodução de texturas, ambiência e transientes. No CD Timbres, anotei: “excelente nível de diferença entre os três microfones, demonstrando o enorme potencial que aparenta ter esse produto”.

Também não passou incólume a capacidade do 5101 de mostrar a ambiência das salas maior e menor do Teatro Alfa (algo difícil nos players sem amaciamento, por estarem um pouco engessados nas altas quando são colocados para as primeiras horas de audição).

Feito esse primeiro contato, deixei por 100 horas o CD-Player, junto com o integrado Krell 300i e a caixa JBL L100 Classic. Aliás, esse setup proporcionou audições memoráveis no teste em conjunto e na avaliação separada de cada um. O que fez com que, no maior tempo de teste, eu alternasse entre o Krell e o Arcam, para ver como a assinatura sônica do Mark Levinson se comportava com integrados distintos.

É muito bom quando dispomos de um arsenal de eletrônicos e caixas para a realização dos testes, pois isso deixa as avaliações muito mais consistentes e precisas. Gostaria muito que o mercado brasileiro voltasse à normalidade, e pudéssemos ter à disposição mais produtos para fechamento dos testes.

Todos ganhamos se isso ocorrer!

Com 100 horas, ficou claro que poderíamos começar a audição das 80 faixas da Metodologia, e aí me veio a ideia de revezar a avaliação de cada quesito, tocando a mesma faixa no nosso transporte de referência Nagra, e ver se haveria diferenças importantes entre o transporte interno do 5101 e um transporte de alto nível externo. Deu muito mais trabalho, mas pudemos constatar que o DAC do 5101 realmente faz um trabalho impressionante, e ele é a razão deste Mark Levinson soar tão bem. Sendo que, com o transporte da Nagra, permitiu observarmos o grau de silêncio e refinamento do DAC interno da Mark Levinson!

Sei que muitos de vocês podem pensar que um transporte interno fará um trabalho melhor e mais preciso que o uso de um transporte externo, que ainda por cima precisará de um cabo digital para ser acoplado ao DAC, e que, portanto, não deve haver melhorias que possam fazer sentido. Mas quando falamos de transportes de nível superlativo, e DACs de alto nível, garanto que essa experiência deve no mínimo ser levada em consideração.

No nosso caso, a maior diferença ocorreu na reprodução das faixas dos quesitos Soundstage e Corpo Harmônico. Aqui as diferenças foram muito mais que audíveis, foram ‘palpáveis’. Mas, claro que ninguém em sã consciência investirá em um transporte externo custando quatro vezes mais que o CD-Player, e nem foi por isso que fizemos essa experiência auditiva. E sim para saber o nível do DAC interno do 5101. E posso garantir que ele realmente é excelente!

Com 200 horas, ouvimos novamente as 80 faixas, e algo havia melhorado ainda mais: quando não entendemos muito bem o grau de mudanças, costumamos compactar nossas impressões e nomeá-las, para que se tornem mais plausíveis a nós mesmos. Eu costumo aplicar termos como: ‘maior organização nos planos’, ‘arejamento e silêncio bem mais recortado na apresentação dos solistas’, ‘refinamento’ e ‘inteligibilidade’.

Eu tenho minhas ‘palavras-chave’ pessoais, mas por temer que não sejam o suficiente para explanar minhas observações, procuro ser o mais didático que consigo (como ainda não recebi reclamações, acredito que estejam funcionando).

Pois bem, com 200 horas a grande alteração ocorreu exatamente na organização dos planos, com o silêncio de fundo elevando o grau de inteligibilidade tanto da micro como das passagens com fortes alterações dinâmicas, como também do silêncio em volta dos solistas, que permitem um maior refinamento na apresentação e claro: maior conforto auditivo!

Para os leigos ou os com pouca experiência com produtos Estado da Arte, geralmente a palavra chave para explicar essa ‘agradabilidade sonora’ cai no famoso pacote de Musicalidade. Ok, deixemos que assim seja por mais um ciclo, mas lembre-se que Musicalidade é a soma dos nossos sete quesitos, de forma homogênea e coerente.

E por mais que o 5101 se esforce por ser o mais integral e coeso, seu melhor grau de ‘Musicalidade’ ainda será com gravações de maior qualidade técnica. Ainda que ele tenha folga suficiente para nos brindar, em gravações tecnicamente limitadas, com audições sem constrangimento ou vontade de trocar de disco. Mas para que isso ocorra, seus pares deverão estar no mesmo grau de patamar técnico em que ele se encontra.

Seu equilíbrio tonal é excelente, pois ele permite que o ouvinte tenha extensão e decaimento precisos nas duas pontas, e uma região média rica e natural!

Como eu consigo ouvir essas qualidades (vários leitores me perguntam)? Ouvindo seus discos com um bom equilíbrio tonal em volumes moderados (se sua sala de audição permitir é claro).

Quer um ótimo exemplo para realizar o teste se o equilíbrio tonal de seu sistema está correto? Ouça (em 78 dB de pico) o Quarto Movimento da Quinta Sinfonia de Mahler – se o equilíbrio tonal e as extensões forem corretas, você não fará o menor esforço para escutar tudo!

Parece ‘pêra doce’, não é verdade? Eu sei pois já vi o sorriso no canto da boca de muitos de vocês! Mas não é – acredite – exigirá muito de seu sistema, e já vi centenas de audiófilos jogarem a culpa na gravação, para não conseguir o resultado exigido.

E também já vi inúmeras aberrações ao reproduzir este movimento, com os graves saltando sem definição à frente dos violinos e violas, como tiros.

Nos crescendos, em que os naipes de cordas se inflamam sutilmente, em sistemas com pouco arejamento, os violinos parecem ricochetear em paredes imaginárias claustrofóbicas!

Faça, amigo leitor, e tire essa dúvida a respeito do equilíbrio tonal de seu setup!

O soundstage do 5101 é de alto nível, com apresentação de focos e recortes precisos. Os planos também são retratados com excelente altura, largura e profundidade. Deixando o ouvinte extasiado com gravações que tenham captado perfeitamente a ambiência do local da gravação.

Suas texturas, graças ao excelente equilíbrio tonal, nos permitem apreciar toda paleta de cores de todos os instrumentos, e ainda entender o grau de intencionalidade de cada obra.

Seus transientes são muito precisos, e com ótimo senso de tempo e ritmo. A música jamais parecerá letárgica ou desinteressante.

Sua macrodinâmica possui expressividade e escala suficientes para nos fazer sorrir, quando esperamos sustos programados. Mas não será o suficiente aos que querem deslocamento de ar capaz de movimentar a bainha de suas calças!

Já a micro-dinâmica, graças ao seu ótimo silêncio de fundo, nos permite ouvir todos os mais sutis detalhes existentes na captação.

O corpo harmônico, pessoalmente eu gostaria que fosse um pouco mais coeso (mas ficou claro que a questão é o leitor e não o DAC, pois no nosso transporte externo, essa coesão veio sem limitações), mas não se pode ter tudo nessa faixa de preço, acredite.

Mas não pense que é ruim, pois não é! A questão é que ‘o problema do bom é o excelente’, e tivemos a chance de experimentar o excelente. Mas, sem essa referência, garanto que 90% de vocês se darão por satisfeito com este quesito, acreditem!

Mas nosso trabalho é esmiuçar, não é?

Quanto à materialização física do acontecimento musical, o 5101 o fará em todas as excelentes gravações, sem nenhum esforço adicional, para o seu deleite diário!

CONCLUSÃO

Eis um produto que pode atender a uma enorme legião de audiófilos que não estão dispostos a abrir mão de sua mídia física, mas sabem que inúmeras gravações daqui para frente somente em streamer poderão ser apreciadas.

Então, o jeito é investir o mínimo possível e extrair de um único pacote o melhor resultado possível. E, na linha de frente, esse produto é o Mark Levinson Nº 5101 – tenha certeza disso!

Seu nível de qualidade é excepcional e irá satisfazer 90% dos nossos leitores, dos mais exigentes aos mais céticos. Pois, como CD-Player ele além de tocar SACD e CD divinamente, possui um excelente DAC e streamer que se encontram no mesmo patamar dos existentes e de ponta oferecidos ao mercado.

Se a Mark Levinson melhorar sua plataforma streamer para deixar mais fácil e compatível com Android, tenho certeza que será uma opção ainda mais relevante.

Só posso indicar de maneira consistente, a todos que querem manter sua coleção de CDs e SACDs, para ouvirem atentamente o Nº 5101.

Pois ele vai lhe surpreender, como nos surpreendeu!

SACD-PLAYER DAC & STREAMER MARK LEVINSON No.5101 (COMO streamer)Nota: 81,0
SACD-PLAYER DAC & STREAMER MARK LEVINSON No.5101 (COMO cd-player)Nota: 93,0
SACD-PLAYER DAC & STREAMER MARK LEVINSON No.5101 (COMO dac)Nota: 95,0
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DCS BARTÓK DAC

Fernando Andrette

As empresas que se encontram no topo por muito tempo, como a empresa inglesa dCS, precisam estar sempre atentas às tendências de mercado e, lógico, aos avanços de seus principais concorrentes, para poderem se manter atualizadas e dando as cartas.

Tive por muitos anos produtos da dCS, e usamos seus conversores em nossos discos lançados pela CAVI Records, então me sinto à vontade, e com aquele olhar de curiosidade e expectativa, cada vez que essa empresa lança uma nova geração de produtos.

E dessa vez a dCS inovou ao apresentar de maneira sequenciada evoluções ‘consistentes’ em toda sua linha, começando pelo Bartók, passando pelo Rossini e até o Vivaldi.

E como conhecemos e testamos a geração anterior do Rossini e do Vivaldi, nosso interesse ao receber o novo Bartók, foi grande. Pois ainda que seja o DAC de entrada da dCS, o Bartók, já se encontra em um patamar de performance muito elevado!

Gosto sempre de lembrar de, e acredito que já tenha compartilhado com vocês, um YouTuber que se vangloriava de só testar DACs de até 5 mil dólares e sempre afirmava que gastar mais com um DAC, era como jogar dinheiro fora.

Todo mês ele vinha com o DAC mais ‘impressionante’ que já tinha escutado e fechava seus vídeos lembrando que nada poderia tocar melhor que aquilo! Até que o distribuidor, na América do Norte, lhe emprestou a versão anterior do Bartók e ele simplesmente caiu em si e viu o tamanho da ‘arapuca’ que tinha criado ao ser o porta voz de que DACs caros não poderiam soar melhores.

Vi esse equívoco tantas vezes por tantos anos, que já nem me espanto, quando finalmente o sujeito entende que não é todo produto caro que realmente terá uma performance superior, mas que existem sim produtos caros que podem soar de maneira superlativa! Essa é uma velha discussão, e não pense você audiófilo que tem menos de quarenta anos, que ela começou neste século. Pois nos anos 70/80, essas questões já alimentavam as rodas de discussões de audiófilos, e também haviam os objetivistas (tarados pelas especificações técnicas dos equipamentos japoneses e pelo surgimento do CD-Player), os subjetivistas, e os audiófilos abonados e os não tão abonados.

Eu sempre digo (e essa frase não é minha), que o desgosto do bom é o ótimo, e a desgraça do ótimo é o excelente!
E por mais que os objetivistas xiitas berrem que é tudo ‘óleo de cobra’, e ‘placebo’, milhares de audiófilos e melômanos diariamente escutam melhoras significativas em cada upgrade feito de maneira inteligente e consistente. Então, a caravana passa, e os cães ladram – sempre foi assim e sempre será!

O colega do YouTube ao menos teve a dignidade de postar um vídeo assumindo seus equívocos e ficando com o Bartók como sua nova Referência (que agora certamente deve estar trocando por essa nova versão).

O que me impressionou neste novo Bartók foi que a dCS compreendeu que existe uma fatia enorme do mercado que busca uma solução final para o seu setup digital, que tenha um alto grau de performance, mas ao mesmo tempo torne seu sistema mais minimalista e objetivo.

Por isso que a dCS, ao lançar o novo Bartók o considerou como um componente múltiplo, ao oferecer no mesmo produto um DAC upscaling, um pré-amplificador, um streamer de música e amplificador de fone de ouvido. Em um gabinete padrão dCS, que inclui o Ring DAC da própria empresa (plataforma de processamento digital e arquitetura clock), pesando quase 18 kg, o Bartók possui uma interface de streaming que suporta todos os principais codecs lossless, com DSD nos formatos nativos e via DoP, e a interface de rede pode realizar decodificação e renderização MQA completa. A reprodução pode ser gerenciada pelo aplicativo Mosaic tanto para iOS como para Android, ou pela opção Roon.

Seu gabinete é em alumínio usinado, nas opções prata ou preto, e possui painéis de amortecimento acústico internos, tanto para reduzir vibrações externas quanto interferências eletromagnéticas.

Sua construção, como de todos os produtos da dCS, é impressionante – como por exemplo a regulação de fonte em vários estágios, que empregam transformadores de rede duplos para isolar o circuito DAC dos outros circuitos internos do streaming, do pré de linha e do amplificador de fones.

Seu painel frontal é sóbrio, mas extremamente funcional, com uma aparência muito organizada. À direita temos a tela de alta resolução, com pequenos botões na sequência da tela, com os comandos de menu, filtro, entrada, saída e mute. Duas saídas de fone de ouvido e um botão de volume à esquerda do painel.

No painel traseiro temos as conexões para saída de áudio RCA e XLR, e as entradas digitais S/PDIF (coaxial e TosLink), AES-EBU e USB para quem quiser utilizar computador ou alguma unidade NAS. Além de uma entrada de rede (Ethernet), bem como uma entrada para um Clock Externo.

A entrada AES é dupla, para poder aceitar dados SACD criptografados de um transporte também da dCS, com DSD comutável e upscaling.

Outro importante diferencial de todo produto dCS, é sua capacidade de atualização via CD, USB ou download, aumentando em muito sua vida útil à medida que o fabricante lance atualizações.

O cuidado no desenvolvimento do amplificador de fone de ouvido do Bartók, mostra o grau de preciosismo do fabricante, ao possibilitar um estágio de saída analógico em classe A através de suas saídas balanceadas e não balanceadas, para fones de ouvido de baixa e alta impedância, buscando atender a enorme oferta de modelos existente neste universo de fones de ouvido, independente do grau de eficiência e impedância de cada modelo.

O uso do amplificador de fone é bastante simples e eficiente, pois o usuário só precisa escolher a saída de linha e ajustar os níveis de volume ou o controle de volume pelo celular através do app Mosaic (sem a necessidade de um amplificador separado). E ainda escolher quatro configurações de ganho ajustável para maior comodidade e máximo desempenho do seu fone de ouvido. O estágio de saída classe A usa um design transistor totalmente discreto, junto com sua própria fonte de alimentação dedicada.

A dCS dá ao consumidor a possibilidade de comprar o Bartók com ou sem esse amplificador de fone (lá fora com o ele o Bartok fica aproximadamente 3 mil dólares mais caro). Eu recomendo vir com essa opção, para os que desejam um excelente amplificador de fone e querem ‘simplificar o seu sistema’.

O novo Bartók vem com a atualização do aplicativo Mosaic, um software proprietário da dCS que permite navegar e reproduzir música de qualquer dispositivo. Segundo o fabricante, o Mosaic reproduz várias fontes em uma única interface, acessando qualquer plataforma de música existente, e pode usá-lo para ajustar as configurações do equipamento.
Nós usamos o aplicativo tanto para ouvir Tidal como QoBuz, via um celular Android.

E por fim, vou abordar o maior diferencial deste fabricante em relação à concorrência, e que colocou a dCS como referência em DACs superlativos por mais de três décadas ininterruptas: o Ring DAC, que foi desenvolvido pelos engenheiros da empresa e que não utiliza nenhum chip de DAC pronto para uso (como a maioria dos fabricantes usa).

O Ring DAC utiliza em seu processamento de 1 e 0, uma rede de FPGAs (Field Programmable Gate Arrays), que executa software dCS proprietário que cuida tanto da conversão digital para o analógico, bem como da filtragem digital. E por isso a possibilidade de atualização dele por meio de firmware.

Quanto à performance sonora e os benefícios do Ring DAC, em comparação com as topologias de DACs de ladder ou R-2R, a única maneira de você decidir qual lhe agrada mais será ouvindo todas as três opções. O que posso lhe garantir é que existem diferenças audíveis e que podem sim ser observadas por todos.

E outro ‘pulo do gato’ deste fabricante, é o fato de utilizar clock osciladores de cristal de quartzo com base em descobertas feitas no aprimoramento do Ring DAC. O novo Bartók utiliza a arquitetura de master clock do dCS Vivaldi.

Ao longo dos anos, a dCS defende que seus clocks ajudam a garantir a perfeita sincronia para reduzir drasticamente a ocorrência de Jitter e, assim corrigir distorções de tempo na reprodução de um sinal de áudio no domínio digital e que podem degradar a qualidade final do que ouvimos no domínio analógico. E ainda que o master clock interno do Bartók tenha sido aprimorado, o fabricante afirma que um clock externo dCS pode ainda elevar o nível final de performance do produto.

Para o teste, a Ferrari nos emprestou o novo transporte Vivaldi, dois cabos AES/EBU geração 6 da Transparent Audio, e dois cabos Opus G6 de força.

Ou seja: o Bartók teve todas as regalias possíveis para mostrar todo seu enorme potencial.

O resto do sistema foi o de Referência com o pré Classic Nagra, powers HD também da Nagra e, por alguns dias, também usamos o transporte da Nagra para ver como o Bartók se comporta com um transporte diferente.

A caixa utilizada para o fechamento da nota foi a Estelon X Diamond Mk2. Os cabos de interconexão foram XLR Apex da Dynamique Audio, e também usamos o cabo digital AES/EBU Absolute Dream da Crystal Cable.

O Bartok nos foi enviado com pouco mais de 12 horas de amaciamento, levando-nos a fazer uma rápida audição para registrar as primeiras impressões e, depois, o colocamos diretamente em queima por 80 horas, tocando streaming ligado à caixa Wharfedale Evo 4.4 com o integrado Sunrise Lab V8 edição de aniversário (leia teste na edição 287).

Vale a pena lembrar que todo primeiro contato, para as observações iniciais, é feito com nossos discos e com o transporte Vivaldi e os dois cabos AES/EBU da Transparent. Pudemos ouvir os nossos dois discos SACD da CAVI Records: André Geraissati – Canto das Águas, e o Lacrimae do André Mehmari. E ficou claro nessa primeira impressão o quanto esse novo Bartók evoluiu e avançou sobre o antigo Rossini.

Impressionante o grau de refinamento, e algo que sentia falta na geração anterior: maior folga e relaxamento. Essa é uma questão na qual eu bato faz pelo menos três anos, sobre o avanço dos novos digitais, que conseguiram deixar o som mais relaxado sem perder autoridade quando necessário.

Uso a analogia da faca ‘o tempo todo entre os dentes’, ou do cão de guarda que nunca descansa. A mim este grau excessivo de tensão colocado sobre a música foi cada vez mais me incomodando, a ponto de rever todo nosso setup de Referência e mudar de rumo totalmente. Pois não quero que a música que escuto em meus raros momentos de lazer, tenha esse grau de tensionamento, e por isso que sempre optei nessas horas por ouvir analógico e nunca digital, ainda que levantar a cada 20 minutos para virar o disco muitas vezes se mostrou impraticável, pois nos momentos de lazer os familiares a todo instante nos requisitam, e muitas vezes ao voltar a sala o disco já havia acabado, rs…

Então, ao primeiro contato com o novo Bartók, observar de cara essa ‘mudança’ de rumo, foi uma bela surpresa. Mas tinha uma outra ainda maior a ser ouvida: seu streamer!

UAU! Que susto que tive ao ver que o Bartók carrega embaixo de seu capô um impressionante streamer, que me fez pela segunda vez (o outro que realizou essa façanha foi o Innuos Statement), ouvir streaming com prazer e não apenas por obrigação para escrever o Playlist ou conhecer novas gravações. Diria que, pelo pacote que o Bartók oferece, é a opção mais inteligente para quem deseja um DAC definitivo com um streamer no mesmo padrão de performance!

Agora, imagine esse pacote podendo ser ampliado com o amplificador de fone opcional, mais um pré de linha! Torna-se um matador de gigantes, sem dúvida alguma!

Difícil, puxando pela memória, imaginar um pacote tão coeso e eficiente como este.

Acho que a dCS acertou em cheio ao disponibilizar em seu portfólio, um produto com tantas qualidades e um pouco mais acessível em termos monetários.

Com 92 horas de queima, o Bartok se mostrou apto a iniciarmos a avaliação auditiva. E o que mais ficou evidente foi a característica inicial, do relaxamento sem perda de autoridade. Para me certificar que esta era realmente sua maior diferença aos modelos anteriores deste fabricante, ouvi de uma só levada: o Concerto para Percussão & Orquestra do compositor húngaro Béla Bartók, seguido pelo seu Concerto para Piano & Orquestra, pela Sagração da Primavera de Stravinsky, e a Sinfonia Fantástica de Berlioz – todos na íntegra.

E realmente o Bartók se mostrou seguro e capaz de uma macrodinâmica precisa e pontual nos fortíssimos, voltando ao relaxamento nos pianíssimos. Meu amigo, só ouvindo para entender o quanto esse ‘equilíbrio’ dinâmico é essencial, pois a música ao vivo soa exatamente assim, e não ao contrário (com músicos tensos como se estivessem a ter sobressaltos a qualquer momento).

E com isso seu cérebro também relaxa e imerge no acontecimento musical, sem sobressaltos não existentes na partitura.

Quando mostro essa qualidade aos que nunca tiveram o prazer de ouvir seus sistemas soarem assim, muitos estranham os primeiros acordes (mesmo em discos que eles trouxeram para escutar), mas que à medida que o conforto acústico da sala se torna aconchegante, eles entendem a proposta e passam a observar nuances que não eram comuns em suas audições. Por isso que muitos se assustam com o volume com que mostro cada disco. Não é um volume pré determinado por mim, e sim o volume em que o disco foi mixado. E esse ajuste só é possível quando o sistema possui tanto autoridade para suportar os fortíssimos, quanto os pianíssimos como foram captados, mixados e masterizados.

Quer o melhor exemplo do mundo? Tenho dois: Bolero de Ravel e Os Planetas – Marte de Holst! Defina o volume correto em seu sistema para ouvir do pianíssimo ao fortíssimo sem blefar (diminuindo o volume quando a obra chegar no seu ápice), se seu sistema suportar sem mudança de volume, sem o sinal endurecer e os fortíssimos virarem uma massa sonora, parabéns pois seu sistema possui qualidade com autoridade.

Mas não se engane e nem se iluda meu amigo, pois um sistema sem essa qualidade de autoridade e relaxamento, jamais atingirá esse grau de performance.

E aí voltamos sempre ao velho e batido álibi usado no mercado audiófilo: ‘a gravação que não é boa, por isso tudo complicou no fortíssimo!’. Eu tenho uma dúzia de excelentes gravações dessas duas obras, para provar que isso não procede.

E o Bartók saiu-se divinamente nos dois exemplos acima citados para avaliar a micro e macrodinâmica.

E aqui temos outra questão relevante que é avaliar o quanto transientes, soundstage (foco, recorte e planos) e equilíbrio tonal são corretos, para que não prejudique a macrodinâmica. Esse que é o ‘nó’ da questão – inúmeros audiófilos buscam soluções para o seu sistema de forma pontual, buscando aquilo que os satisfaz sonoramente, esquecendo que a música é a soma de suas características, nuances e qualidades.

Não dá para desejar a melhor macrodinâmica, se o soundstage for pobre, pois a macro dinâmica para ser reproduzida de maneira satisfatória, o foco, recorte, ambiência e planos precisa ser impecável! Assim como os transientes e, claro: o equilíbrio tonal!

Sem método, meu amigo não existe resultado consistente. Pode passar uma vida batendo na mesma tecla, e não irá chegar ao resultado tão desejado. E a indústria de áudio hi-end sabe disso, e usa a falta de método para vender o novo sempre, para milhares de audiófilos sempre insatisfeitos com a performance de seus sistemas.

Eu, nos meus 64 anos de vida, vi inúmeros audiófilos que estavam com seus sistemas quase que totalmente coerentes, coesos, corretos e com um potencial de sinergia excelente, faltando apenas o último ajuste fino para se chegar lá!

E o que fizeram?

Por desejarem uma qualidade específica acima das outras, botaram tudo a perder.

Essas pessoas, se tivessem compreendido em sua busca que método é a bússola que necessitam para avançar consistentemente para a etapa final, teríamos centenas de sistemas bem ajustados para ouvir, apreciar e aprender com o acerto dos outros, para o ajuste de nossos sistemas.

Isso traria uma nova potencialidade de negócios ao mercado, pois não conheço quem ama a música e não se emocione ao ouvir seus discos de referência em um sistema correto.

E não estou falando que para se atingir esse estágio de reprodução sonora, seja imprescindível equipamentos superlativos, e sim que esses produtos são como faróis que podem nos guiar por águas turvas e mostrar o nível no qual produtos hi-end de ponta podem chegar!

O novo dCS Bartók é um desses novos faróis, que nos indicam que com ele em um sistema no mesmo nível, o grau de performance será pleno. Tanto para os que ainda utilizam mídia física, quanto para os que aderiram plenamente ao streamer.

Se me perguntarem o que mais me surpreendeu no Bartók? Sem dúvida alguma, foi seu streamer. Como já disse, tenho muitas questões ainda sem respostas em relação a essa plataforma. Em comparação direta com a mídia CD, nenhum streamer soou ainda superior, falta mostrar ao meu cérebro que não se trata mais de reprodução eletrônica (o mesmo que ocorria com os CD-Players até o fim do século 20) – o corpo, as ambiências, planos, ainda não chegaram lá.

Mas, no entanto, o streamer do Bartók, nas melhores gravações, conseguiu me fazer relaxar e apreciar a música sem fazer eu me perder nos detalhes. Esse é o primeiro passo para reconhecer que o caminho está assertivo.

Como eu escrevo há anos: nosso cérebro não se engana nunca, ele está apto a reconhecer a diferença de uma dezena de sons tocados, mas, no entanto, sem se perder. Quando o nosso interesse se fixa no todo e não nas partes, quando você consegue essa ‘façanha’ em um sistema em que você escuta aquela música que conhece detalhadamente, e a música se forma em seu cérebro em sua totalidade, pare e se atenha, pois esse sistema vale a pena ser avaliado com profundidade.

E o streamer em geral, a mim ainda apresenta muito mais os detalhes, como a qualidade final da gravação, ou a falta de quesitos importantes como os que disse acima, que não me deixam ouvir apenas a música.

E nas excelentes gravações (tanto reproduzido no Tidal como no QoBuz) no Bartók, consegui esse grau de atenção. O que mostra que o streamer como fonte irá chegar lá (só não me pergunte em quanto tempo, pois não tenho bola de cristal, rs).

CONCLUSÃO

Sei que com o dólar acima de 5 reais, tudo se torna imensamente caro e quase que proibitivo aos audiófilos brasileiros.

Mas imagine que você tenha um sistema Estado da Arte, e que seja do período de vários módulos separados, com seus cabos de força, interconexão, digitais, etc. E deseja simplificar e atualizar esse sistema. O Bartók deve ser levado em conta, pois ele o permitirá vender todas as peças sobressalentes e ter um DAC com streamer, e um pré de linha, e amplificador de fone, se desejar, por um valor bastante razoável.

Em termos de performance, não há o que dizer – não vi nenhum ponto negativo, pois nem mesmo com um transporte diferente seu nível sonoro caiu. Mostrando que seu grau de compatibilidade com outros transportes é bom.

Se você está propenso a se desfazer de suas mídias físicas (se já não fez), mas deseja uma performance de alto nível para streaming, essa escolha fica ainda mais interessante.

E se você não possui uma sala tratada acusticamente, e partiu para um fone hi-end, aí meu amigo o Bartók se torna uma opção de ‘primeiro na fila’!

Acho que esse produto será, nos próximos anos, o carro chefe de vendas da dCS, tanto para atender a audiófilos rodados, como aqueles que possuem um método coerente de avaliação para suas escolhas.

Altamente recomendado!

DCS BARTÓK DAC (como streamer)Nota: 101,0
DCS BARTÓK DAC (como dac)Nota: 103,0
AVMAG #288
Ferrari Technologies

info@ferraritechnologies.com.br
(11) 98369-3001 / 99471-1477
US$ 26.950

DAC / TRANSPORTE / CLOCK DCS ROSSINI APEX

Fernando Andrette

Não é frequente recebermos, na sequência, as novidades dos fabricantes, ainda mais de produtos de ponta que custam milhares de dólares. Tivemos essa oportunidade com os produtos da Nagra, e agora com os novos dCS.

Claro que, com produtos desse naipe, o tempo de avaliação tem que ser reduzido, pois são equipamentos já vendidos e seus donos devem contar os segundos para recebê-los. Então tivemos exatamente três semanas para amaciar e escutar o setup completo Rossini Apex constituído do Transporte, DAC e Clock.

Inspirado na série Vivaldi Apex, o novo Rossini possui a mesma estética e beleza da série top, e sua performance é infinitamente superior ao modelo anterior por nós testado. Como todo produto dCS, os detalhes de construção e acabamento são impecáveis. O gabinete utiliza alumínio aeroespacial com propriedades acústicas comprovadas, e todo o painel interno possui amortecimento acústico para reduzir a vibração mecânica e os interferências magnéticas.

O novo hardware do projeto Apex Ring DAC é, na verdade, uma nova placa de circuito reconfigurada. A arquitetura Ring DAC consiste em uma matriz de resistores, com um barramento de regulação de tensão e buffer de estágio de ganho.

Para muitos estudiosos dos meandros digitais, pode até parecer que visualmente o Ring DAC seja semelhante a um Ladder DAC. Mas, segundo a dCS, o principal diferencial do Ring DAC está em suas fontes de corrente de igual valor, que passou a ser denominado de arquitetura DAC de ponderação unitária.

Outro grande diferencial é o uso de 48 fontes de corrente dentro da placa, sendo que todas essas fontes produzem uma quantidade igual de corrente. O programa desenvolvido e patenteado pelo fabricante do Ring DAC, permite que as fontes sejam ligadas e desligadas de tal maneira que qualquer erro de valor dos componentes seja calculado ao longo do tempo sem perdas. Consequentemente, o mesmo bit no Ring DAC pode dar uma saída alta, baixa e um meio termo entre essas duas possibilidades, ao contrário de uma topologia Ladder DAC onde só existem duas opções sempre (alta ou baixa).

Segundo o fabricante, esse grau de refinamento no processamento traz enormes benefícios, pois remove quase que na totalidade a distorção linear de sinal que é muito perceptível aos nossos ouvidos.

Feita a lição de casa de reavaliar todo o Ring DAC, e os pontos que poderiam ser aprimorados, os engenheiros da dCS modificaram a fonte de referência que alimenta a placa de circuito. O segundo passo foi refazer os filtros, o terceiro passo o estágio de saída Ring DAC responsável pelo armazenamento em buffer dos sinais analógicos gerados no Ring DAC foi totalmente redesenhado. O quarto passo foi a substituição de transistores individuais na placa de circuito, refazendo a simetria e linearidade de componentes. Depois de todas essas profundas modificações, o novo Ring DAC Apex passou por uma bancada de avaliação para se ter certeza que as mudanças haviam sido realmente consistentes.

Para o teste, utilizamos o setup Rossini de duas maneiras: primeiro utilizando o DAC Rossini com sua saída analógica ligada diretamente nos powers Nagra HD e, posteriormente, passando pelo nosso pré de linha Nagra Classic.

Também utilizamos, apenas para avaliar o comportamento do DAC Rossini Apex sem seu par ‘familiar’, ligado ao nosso Transporte Nagra, com o cabo AES/EBU Dynamique Apex (leia Teste 4 na edição 290).

O sistema para fechamento de nota foi o de Referência, com cabos de interconexão, caixa e força Dynamique Audio Apex e Transparent Audio digital entre o Clock e o Rossini Transporte e DAC.

E também o setup Rossini Apex nos ajudou no fechamento da nota da caixa Monitor Audio (veja Teste 3 na edição 290).

Acho que, desde o dCS Elgar nos anos 90, testamos todos os produtos desse fabricante Inglês, e tivemos por mais de uma década CD-Player Puccini com Clock externo, depois o Paganini e, por último, o setup Scarlatti (sem o upsampler externo). Acredito estar bastante familiarizado com os produtos dCS, tanto em termos de confiabilidade – se bem cuidados, feitos para durar uma vida – como pelo seu nível de performance.

E quando a dCS realiza algum novo upgrade, esse será para colocar a empresa ainda mais em evidência no mercado de referência hi-end.

Para o teste, recorri mais uma vez aos meus cadernos de anotação, para saber o que de mais importante observei no teste do DAC Rossini, e os detalhes que observei em determinadas faixas utilizadas naquele teste. Alguns leitores mais atentos já me questionaram se existe alguma valia nessas anotações, sendo que a probabilidade de upgrades no nosso Sistema de Referência é constante. E não existe memória de longo prazo tão precisa.

O que uso nesses casos, em que todo o setup é diferente, são os nossos fones de ouvido – e somente as gravações da Cavi Records, na tentativa de simplificar o entendimento das alterações mais significativas. No entanto, quando as mudanças são muito significativas (como nesse caso), o trabalho de identificação das melhorias fica muito mais fácil.
Arrisco dizer que o novo Rossini Apex está muito mais próximo de um Vivaldi como jamais esteve! E no caso específico de seu streamer, está no mesmo patamar, já que esse é o mesmo em ambos os modelos.

Afirmo que os engenheiros da dCS foram inteiramente assertivos na reavaliação do Ring DAC, pois as melhorias são todas audíveis. E o que mais me chamou a atenção foi o grau de realismo que agora existe nas apresentações.

Nenhum DAC Estado da Arte que testamos nesses últimos três anos tem esse grau de realismo. E só existe uma maneira de se avançar nesse quesito: refinando todos os outros quesitos de forma homogênea! E foi exatamente isso que os engenheiros da dCS conseguiram.

Seu ‘novo’ equilíbrio tonal é impressionante, pois se deu de forma harmoniosa, ampliando a extensão em ambas as pontas sem, no entanto, comprometer a naturalidade.

Seus graves parecem ser mais precisos nas fundamentais e mais ricos em todo o invólucro harmônico. Levando o ouvinte a perceber com muito mais riqueza os detalhes de digitação, a qualidade do instrumento e dos músicos. Os contrabaixos, bumbo de bateria, percussão, órgão de tubo, piano, contrafagote, sax barítono ganham uma riqueza harmônica desconcertante e, consequentemente, mais ‘realista’.

A região média, pelo seu impressionante silêncio de fundo, brota com maior intensidade sem, no entanto, se tornarem mais evidentes do que o resto, elevando o grau de materialização dos solistas, com uma ‘aura’ de silêncio de fundo à sua volta, que nos faz sentir sua presença física de forma mais ‘realista’.

E os agudos, possuem um decaimento tão correto, que na famosa faixa 13 do CD da Shirley Horn – aqui comentada centenas de vezes em verso e prosa – são ainda mais inteligíveis, tornando a resposta ainda mais ‘realista’.

Acho que o leitor já entendeu o maior diferencial da nova linha Apex da dCS, certo? Só que as melhorias vão muito além do excepcional equilíbrio tonal, pois seu soundstage também foi imensamente favorecido com as melhorias implantadas. E com isso os audiófilos ‘tarados’ por palco sonoro, foco, recorte e reprodução de ambiência, se sentirão extasiados ao ouvirem o que o DAC Rossini e seus parceiros são capazes de fazer.

Ouvir obras sinfônicas neste setup é, finalmente, dar a mão à palmatória e entender que neste quesito o digital emparelhou definitivamente ao analógico de alto nível. Os planos são apresentados com total precisão, se o engenheiro de som foi feliz na distribuição dos microfones em relação a acústica da sala e a posição dos naipes da orquestra. Você ouvirá tudo organizado em seus devidos planos, sem aquele inconveniente dos metais em suas passagens macro pularem para cima dos contrabaixos, ou o coral ocupar o lugar do naipe de sopro de madeiras e violas. Os solistas ocupam literalmente seu espaço físico sem nenhuma sensação de borramento ou do acompanhamento encobrir o solo.

Escutar a História de Um Soldado de Igor Stravinski no Rossini Apex é memorável.

As texturas podem ser descritas como precisas, refinadas e ao mesmo tempo desconcertantes. Se, para análise desse quesito, o amigo for fã como eu de quartetos de cordas, prepare-se, pois a paleta de cores terá uma riqueza inebriante e as intencionalidades ganham um ar de requinte que não é comum de se observar no digital.

As texturas são literalmente ‘palpáveis’ e ao alcance do nosso olhar, tanto quanto da audição. Acho que esse efeito se dá em grande parte pela exuberância de seu foco e recorte, mas para eu ter certeza disso, precisaria ter ficado muito mais tempo com esse setup para entender como o Rossini Apex faz esse ‘truque’ ser tão ‘real’.

Os transientes poderiam também, nesse caso, ser chamados de ter ‘realismo intenso’. Pois em nenhuma gravação haverá a sensação de algo letárgico ou fora do compasso. Ouvi uma dúzia de bateristas de diversas escolas e períodos, apenas para apreciar a técnica e a maneira como o Rossini Apex nos envolve e nos mantém atentos a todos os detalhes.

Costumo sempre lembrar, em nossos Cursos de Percepção Auditiva, que nosso cérebro, quando os transientes não são corretos e precisos, perde o interesse no que ouvimos muito rápido. No Rossini Apex, não haverá essa oportunidade nunca, pois andamento, ritmo e tempo são ‘realistas’ demais para perdermos algum detalhe.

E aí chegamos na macrodinâmica, o Calcanhar de Aquiles de todos os sistemas. Algo que falo há muitos anos é que eu percebo claramente uma mudança de rumo do mercado de áudio hi-end, que passou o final do século 20 buscando a melhor macrodinâmica na reprodução eletrônica hi-end, que muitas vezes foi confundida com o pró-áudio na potência de seus amplificadores e no desenho das caixas acústicas, e que nesse século, parece ter recobrado a ‘razão’ e estar buscando o aprimoramento do refinamento e musicalidade.

Eu cheguei a escrever que alguns amplificadores e setups digitais me passavam a impressão de estar sempre com a faca nos dentes, mesmo quando a música não exigia essa postura. E ter um sistema de alto nível que nunca ‘relaxa’, traz como consequência uma fadiga auditiva permanente. E que, felizmente, alguns projetistas já entenderam que esse caminho da ‘faca nos dentes’ não teria saída, e passaram a investir no refinamento com folga.

E posso afirmar, ao ouvir os novos dCS Bartok e Rossini Apex, que eles também estão surfando nessa nova onda. No entanto, não pensem que isso significa abandonar a busca pela melhor reprodução de macrodinâmica possível dentro das limitações (principalmente das caixas acústicas), mas sim só fazer uso dessa energia quando a partitura assim determinar.

Essa nova ‘cultura’ tem levado muitos audiófilos acostumados com sistemas hi-end mais ‘nervosos’, ao ouvir suas referências em macrodinâmica nesses sistemas recentes e achar que está faltando algo. Eles não conseguem perceber que a folga conseguida deixou essas passagens com muito maior inteligibilidade e conforto auditivo, pois na sua mente eles esperam aquele impacto assustador que nos faz perder os detalhes. E só vão entender as vantagens quando começam a observar que a macrodinâmica não precisa endurecer o sinal, borrar a informação e nos fazer perder o ‘todo’ para apenas ouvir o ‘susto’.

O ideal para se perceber essa mudança de conceito em reproduzir a macrodinâmica, certamente será ouvindo obras complexas clássicas. Mas você também pode observar em outros estilos como rock, pop e blues, porém sem a mesma riqueza de detalhes, ao ouvir um rufar de tímpanos acompanhado dos metais nos fortíssimos.

Mas, quando o audiófilo percebe que agora não predomina apenas uma massa sonora, e que dentro desse fortíssimo ele consegue escutar os naipes de metais, a afinação dos tímpanos, e que é possível ouvir com precisão a escala de crescimento da dinâmica, ele não vai querer voltar atrás, acredite.

Tenho feito essa experiência com nossas visitas, e todos sempre nos fazem a mesma pergunta: “Andrette, é esse volume que você escuta sempre”? E eu sempre respondo: “Escuto sempre no volume da gravação, nunca acima”. E observo a reação de cada um deles, nos crescendos dinâmicos, e como eles reagem à folga com que essas passagens são feitas e como, ainda assim, no fortíssimo não é preciso gritar para se comunicar na sala.

E depois de duas horas, pergunto a eles se ouve fadiga auditiva. A resposta é sempre um ‘não’ bastante consistente.
O Rossini Apex, ainda mais que o novo Bartok, pertence a essa nova linhagem de digitais em que a folga predomina sobre a tensão e, com isso, as audições ficam ainda mais prazerosas e ‘realistas’.

E sua microdinâmica é de se tirar o chapéu! Ouvi detalhes em todas as gravações que jamais escutei em nenhum outro digital Estado da Arte até o momento!

O corpo harmônico do novo Rossini é o mais próximo que escutei de um analógico. Chegou lá? Quase. Falta realmente muito pouco para a reprodução do corpo harmônico ser similar ao analógico. Mas se você já abandonou há muito tempo o analógico, posso te dizer que ao conviver com o Rossini Apex por um tempo, você vai estranhar o corpo de outros digitais e irá achá-los esqueléticos.

E chegamos ao quesito Organicidade, que nada mais é que a materialização física do acontecimento musical em nossa sala de audição. E muitos de vocês podem estar se perguntando: “Realismo não é o mesmo que Organicidade?”.

Sim e não. Pois a Organicidade em nossa Metodologia apenas descreve o grau de materialização de boas gravações conseguem. Ou seja, é muito mais mérito do engenheiro de gravação do que dos sistemas. Quem participou dos nossos Cursos, irá lembrar que a partir de sistemas diamante, a materialização do acontecimento musical em gravações bem feitas já ocorre, levando nosso cérebro a relaxar e quase acreditar ter sido transportado para o evento.

É claro que essa sensação vai se ampliando à medida que evoluímos rumo ao Estado da Arte. Mas o realismo aqui enfaticamente descrito do novo Rossini Apex, vai além do quesito Organicidade, pois ele consegue esse ‘efeito’ também em gravações medianas tecnicamente. E o faz, acredito eu, pela sua capacidade de refinar o sinal a um grau que os concorrentes terão que correr atrás se não quiserem ficar comendo poeira. Pois, independentemente do nível técnico da gravação, tudo nele soa mais real, consistente, envolvente e coerente. Fazendo com que a música reproduzida digitalmente pule de patamar.

Interessante ressaltar que, ao usar o pré existente nele, esse grau de realismo não foi tão evidente, então eu aconselho aos futuros pretendentes deste impressionante DAC, que não abram mão de um excelente pré de linha. Pois se tivesse apenas testado o setup Rossini Apex, minhas conclusões não seriam tão contundentes, e sua nota final seria pelo menos 4 pontos a menos.

E não posso fechar esse teste sem falar da outra grande surpresa: a qualidade do seu streamer interno. Se já havia ficado impressionado com a qualidade do streamer do Bartok 2.0, faltam adjetivos para descrever o quanto me impressionou o desse Rossini. Resumirei dizendo que foi a primeira vez que o streamer se aproximou de maneira ‘perigosa’ do CD, como nunca antes escutei!

CONCLUSÃO

Claro que um setup como esse é absolutamente proibitivo para 99% dos mortais.

Mas para o 1% com uma sólida situação financeira resolvida, que esteja buscando seu setup digital definitivo (afinal toda linha Rossini e Vivaldi é passível de upgrades para a nova geração Apex e, claro, para futuros upgrades pós Apex), não ouvir esse setup estará cometendo um grave erro.

E se você é daqueles audiófilos que precisa de argumentos puramente racionais para definir seus upgrades, o que posso lhe dizer é que se trata de um pacote sem contra indicação nenhuma – se estiver financeiramente ao seu alcance, é claro.

Integralmente recomendado!

DCS ROSSINI APEX (COMO STREAMER)Nota: 102,0
dCS Rossini apex (DAC, TRANSPORTE & CLOCK)Nota: 110,0
AVMAG #290
Ferrari Technologies

info@ferraritechnologies.com.br
(11) 98369-3001 / 99471-1477
RTT (Transporte CD/SACD) – US$ 42,400
RDC Apex (Streamer/DAC) – US$ 52,400
RCK (Dual Clock) – US$ 16,400
Desconto pela compra do conjunto: 5%

DAC REFERENCE DA MSB TECHNOLOGY

Fernando Andrette

Ouvir um DAC de referência e descrevê-lo para os leitores, é sempre uma tarefa que exige muita paciência e um certo didatismo, para não se cair na ‘vala’ comum de uma série de adjetivos ou jargões tão utilizados no meio audiófilo.

Sem contar que muitos que estão iniciando sua trajetória neste hobby, costumam ter inúmeras dúvidas e receio de estarem colocando os pés pelas mãos. É natural que assim seja, e todos passamos por momentos de muitas dúvidas e aquela sensação que querem nos fazer gastar mais do que realmente precisamos.

Tenho a impressão que caixas acústicas, DACs e amplificadores de fones de ouvido, são os produtos com mais testes, tanto nas mídias físicas como virtuais, e se formos levar em consideração tudo o que é falado ou escrito, provavelmente desistiremos desse hobby.

Eu acompanhava até recentemente dois youtubers especialistas em DACs, jovens ainda (acho que ambos nem chegaram ainda aos 30 anos), e que naquele entusiasmo ‘testosterônico’, afirmavam em seus vídeos que gastar mais que 2 mil dólares em DACs, era uma tremenda ‘roubada’. Sendo que um deles afirmava ser impossível ouvir diferenças entre DACs considerados de entrada e DACs de até 5 mil dólares!

O outro era um pouco mais comedido, mas de vez enquanto tinha seus arroubos em anunciar ser o DAC por ele escolhido o melhor que o dinheiro poderia comprar para qualquer setup!

Aquele que não escuta diferenças, continua fazendo seus vídeos feliz da vida e mantendo uma plateia fiel aos seus princípios. Já o segundo, viveu feliz com sua última descoberta (se não me engano um DAC de quase 3 mil dólares), até ouvir um DAC de nível superlativo, e fazer seu ‘mea culpa’ em um vídeo longo, em que ele descreve as diferenças ‘enormes e audíveis’ (palavras dele), entre sua referência e o DAC da dCS Bartok.

Eu já vi essa cena tantas vezes ao longo dos últimos 50 anos, que o máximo que faço nessas situações é sorrir e ficar feliz pelo fato do cara descobrir que não só as diferenças existem, como são audíveis, quando colocadas em um setup do mesmo nível de performance.

Como diria meu pai: “o problema do bom é o excelente”, sempre foi assim e sempre será!

Mas cada um pode achar o que bem quiser, e ninguém tem nada a ver com isso, porém quando me torno uma pessoa pública e compartilho minhas convicções, tudo muda de figura. Pois a desinformação, o equívoco e a falta de critério, pode fazer um estrago e tanto na cabeça dos que estão iniciando essa trajetória. E aí, meu amigo, desculpe, mas não existe perdão! Você é sim responsável por tudo que diz e escreve.

Todos (menos os objetivistas ortodoxos, claro), sabemos que o CD-Player foi lançado com uma série de limitações, que deveriam ter sido corrigidas antes dele ser apresentado ao mercado. E os audiófilos e melômanos foram justamente os que alertaram o mundo que existia algo de muito ‘torto’ com o CD. Seu equilíbrio tonal era inferior a um bom tape-deck hi-end, e ficava a léguas de distância do LP.

Lembro dos engenheiros tentando explicar a genialidade da relação sinal/ruído, ou sua praticidade e durabilidade, e que se calavam quando conseguiam ouvir como os discos platinados soavam duros nas altas, magro na região média-grave, e com um corpo harmônico ridículo!

Felizmente os fabricantes de equipamentos hi-end arregaçaram as mangas, e foram atrás dos problemas. E que baita problema meu amigo, pois era impossível resolver em uma só cartada as limitações mais audíveis. Passou-se a primeira década após o lançamento, tentando ‘amaciar’ aqueles agudos vitrificados e dar um pouco mais de naturalidade aos timbres.

Eu já estava na Audio News neste período, e pude observar que as melhores soluções vieram degrau a degrau, nada de saltos que pudesse dar um ânimo e afirmar que se poderia ‘consertar’ tamanho erro.

Aí o leitor, que comprou a ideia desde o primeiro instante, deve estar achando que estou, além de exagerando os defeitos, dramatizando algo para ele e para milhões que acharam fantástico ter mais de 60 minutos de música, sem ter que levantar da cadeira para ficar virando disco.

A indústria de consumo é muito inteligente ao desviar dos problemas, e mirar e bater na praticidade de suas novas conquistas tecnológicas (é só olhar o streamer, que vai além, ao oferecer milhões de gravações, com uma performance inferior ao CD, que é armazenado nas nuvens, sem lembrar o consumidor que em uma tempestade solar, tudo pode estar perdido). E daí? Quem se interessa por riscos, se tudo está indo de vento em popa?

Voltando ao disco platinado, as melhorias mais consistentes começaram a ocorrer finalmente na virada do século. Aí se deu um salto significativo e, hoje, posso afirmar sem correr nenhum risco, de que estamos no ápice dessa nova etapa do CD. E esse ‘grande salto’ ocorreu graças a empresas de ponta que não se curvaram aos enormes desafios iniciais de uma tecnologia semi acabada, lançada ao consumidor com pompas de ser ‘o grande salto na indústria fonográfica’.

E a MSB Technology está neste seleto grupo de empresas que mostrou ser possível aprimorar e corrigir as limitações iniciais. Sugiro que os leitores releiam o teste do MSB Select (edição 252), pois lá existem informações que ajudam a entender o quanto o modelo Reference ‘herdou’ do top de linha, e o quanto ele se aproxima em termos de performance, com a vantagem de custar bem menos.

A MSB possui uma política de fidelidade muito importante, permitindo atualizações constantes à medida que elas sejam colocadas à disposição do mercado. Seus produtos são primorosamente construídos e passam a impressão que foram feitos para durar um século!

E a MSB, ao lançar o Reference DAC, o tornou totalmente compatível com todos os módulos Select DAC, permitindo oferecer ao usuário módulos universais, assim como a atualização do software. Pois empresas de ponta sabem que o áudio digital continua avançando e topologias podem ficar rapidamente obsoletas.

O Reference está equipado com a mais recente tecnologia Hybrid DAC da MSB, e a grande diferença (inclusive para se baratear custos) entre o Select e o Reference é que, ao contrário do design de oito módulos, o Reference utiliza quatro módulos. Essa topologia híbrida permite reconfigurar o módulo para acomodar tanto PCM como DSD nativo.

O que mais gostei, além do design de ambos MSB, foi o display de fácil leitura, mesmo a distâncias superiores a 4m (meu caso), o display é montado no próprio gabinete CNC e separado do DAC, para total isolamento elétrico e evitar qualquer tipo de interferência (parece um detalhe extremo, mas que certamente foi pensado para aprimorar ainda mais sua performance final).

Outro detalhe importante está na fonte de alimentação limpa. Com um design estudado, o Reference tem uma fonte para o DAC e outra totalmente isolada para toda a parte analógica. E a MSB permite que se faça um importante upgrade em termos de performance, utilizando uma segunda fonte para o modo Mono Power base, para um ruído elétrico ainda mais baixo.

Todos os módulos MSB foram projetados para sofrerem upgrades caso o usuário deseje, e com isso os módulos de entrada e saída são todos substituíveis pelo consumidor.

Talvez o módulo de que mais a MSB se orgulha, seja o módulo de saída que oferece um pré amplificador com controle de volume passivo, de impedância constante, de ponta.

A MSB possui em sua linha DACs, transporte, dois powers (um estéreo e um monobloco), e não possui em seu portfólio nenhum pré de linha, pois ela recomenda justamente se usar esse módulo base diretamente ligado a seus powers (assim que foram apresentados tanto na feira Axpona como na de Munique).

Esse módulo que substitui o pré de linha é ajustado individualmente para maior equilíbrio tonal. Mas, além desse pré de linha, é possível através de novos módulos colocar entradas analógicas adicionais, saídas secundárias isoladas e saídas analógicas extras.

O gabinete, assim como o do Select, é uma placa de alumínio ‘Kaiser Select Precision Plate’ usinada na própria oficina da MSB em máquina CNC. Todo o processo leva mais de quatro horas de usinagem, com 60% do alumínio removido. O belo acabamento é anodizado em prata ou preto fosco. E os pés também são usinados na própria MSB.

O modelo enviado para teste veio com o módulo Base, o que permitiu ouvir o Reference como pré de linha, ligado tanto aos monoblocos Nagra HD, como aos Classics. O transporte utilizado foi o da Nagra, e o streamer o Innuos ZENmini Mk3.

O cabo de força foi o PowerLink MM2 da Transparent e o Kubala Sosna Realization. Cabo digital coaxial Absolute Dream da Crystal Cables, e USB Kubala Sosna Realization e Sunrise Labs Anniversary. A caixa utilizada para o fechamento da nota foi a Estelon X Diamond MkII.

Como o teste do Select foi feito com um sistema totalmente diferente, eu apenas busquei minhas anotações mais pessoais – quando ainda não estou fechando a nota de nem um quesito e sim apenas apreciando o produto antes das considerações finais.

Posso garantir que o ‘DNA’ é o mesmo do Select, com aquela enorme sensação de conforto auditivo, que o digital sempre ‘clamou’ e que agora finalmente existe!

Os leitores curiosos sempre me pedem para explicar o que exatamente ouviremos em um setup superlativo ou em um componente desse naipe. Muitos têm uma mente ‘fértil’ (rs), e imaginam um verdadeiro show de pirotecnia em sua sala de audição. Para esses, sinto dizer que nada do que não esteja na gravação irá aparecer. E muito menos haverão ‘colorações’ que deixem o som mais quente ou ‘ao gosto’ do freguês. O caminho é outro, a viagem é muito mais insinuosa e o resultado é integralmente de qualidade, e não de quantidade.

Sem entender essa diferença entre qualitativo e quantitativo, que muitos não compreendem a beleza que existe entre um bom sistema totalmente ajustado e um excelente, e julga ser apenas marketing para se vender o mais caro.

O que digo a todos os leitores é para não perderem essa oportunidade, e se assegurem que o setup esteja realmente à altura do prometido, e ouçam seus discos (por mais que os apresentados sejam artística e tecnicamente de bom nível). Pois para podermos perceber diferenças, temos que ouvir gravações que conhecemos bem e apreciamos muito!

O primeiro impacto será percebido como uma primeira onda, que eu chamo da organização do palco entre as caixas.

Tanto em termos de recorte, foco, planos e silêncio em volta de cada solista. Em DACs como o Reference da MSB, o grau de organização e apresentação é tão minuciosamente detalhado, que paramos de buscar o que está no fundo do palco ou que está dobrado em uníssono com algum outro instrumento. Tudo se apresenta com tamanha materialização à nossa frente, que paramos de ouvir partes para desfrutar somente do todo.

Essa primeira onda é inebriante, pois permite que seu cérebro relaxe e se prepare para a segunda onda, que é justamente esquecer de se ater à reprodução das frequências (como está o agudo? Como se comporta o médio? Os graves estão corretos?), simplesmente o que se ouve é o que o engenheiro captou, gravou, mixou e masterizou.

Aí ocorre o fenômeno que falo tanto nos nossos cursos, das memórias de longo prazo armazenadas em nosso hipocampo, que voltam à nossa mente, nos mostrando como aquele instrumento que estamos ouvindo reproduzido eletronicamente soa ao vivo, sem amplificação. E no Reference, o equilíbrio tonal nas gravações que se teve o cuidado de não equalizar ou comprimir, soam com esse graus de naturalidade e ‘espontaneidade’.

Sim, meu amigo, o som brota do silêncio com uma precisão não-mecânica. Sabe quando estamos em uma sala de concerto, ouvimos as primeiras notas e buscamos saber de onde estão vindo ou que instrumento está tocando? O MSB soa assim, com esse grau de leveza sem perder a autoridade, com precisão sem deixar de ser confortável.

Todos que tiverem a oportunidade de ouvir em um setup superlativo essas duas primeiras ondas, estarão em condições de experimentar a terceira onda – a da intencionalidade – que só sistemas ultra afinados conseguem reproduzir.

Texturas que nos fazem reconhecer a qualidade do instrumento e a técnica do instrumentista. E, claro, a escolha do engenheiro no microfone utilizado.

Tente, em um bom sistema bem ajustado, observar essas informações e perceberá que se torna muito mais difícil (leia o exemplo que dei no playlist de junho, ao ouvir os 12 violinos Stradivarius no streamer e no CD). É preciso um DAC superlativo para se escutar esses detalhes.

Agora, só você pode dizer se este é o nível de qualidade que busca, ou se suas expectativas são menores. Mas, não julgue quem busca esse nível de refinamento, nem tão pouco faça chacota ou duvide que existe esse grau de reprodução sonora. Muitas vezes buscamos respostas para nossas sensações nos lugares errados.

Cansei de ouvir, nos corredores do Hi-End Show, leitores me pegando pelo braço e contando de sua experiência em determinada sala em que ao ouvir determinada música, a vontade era de sair dançando e outras, ao ouvir a mesma faixa, não havia essa vontade. Bem-vindo à resposta de transientes corretos!

O MSB Reference é deste time, em que os transientes o farão bater os pés (se for um sujeito mais tímido como eu) ou sair dançando, como se estivesse em um show ao vivo, expondo toda a adrenalina contida. Nada soará letárgico ou desinteressante no MSB Reference.

Eu fiquei impressionado com a dinâmica do Select, e o mesmo voltou a ocorrer com o Reference. Ligado ao Nagra HD (ligado direto neles ou passando pelo Pré Nagra Classic), os crescendos são de nos tirar o fôlego. E a micro é tão presente, que nada que estiver no disco deixará de ser ouvido! Mas, como digo, trata-se da transparência na medida certa, e nunca caindo para o analítico.

Quanto ao corpo harmônico, gostaria de ter em mãos um player EAD dos anos 90, ou um Wadia ou mesmo um Mark Levinson, e ouvir nossas referências para este quesito, para mostrar a todos o quanto os DACs evoluíram nesses 30 anos! Felizmente, chegamos lá! Se isso ainda está algo aquém do analógico, essa diferença agora é totalmente aceitável.

E chegamos a um dos quesitos mais ‘adorados’ pelos leitores, junto com o soundstage: organicidade. Um amigo, ouvindo o disco Pure Ella, entre a primeira faixa e a segunda, exclamou: “Consigo ver até a técnica vocal da Ella para, nos crescendos, não clipar a tomada”. Essa é a sétima onda, meu amigo, de um sistema ou componente superlativo: já não é mais materializar o acontecimento musical à nossa frente, é ‘ver’ o que ouvimos com todas as suas nuances, desde o distanciamento do microfone, ou até pendular em frente a ele. Aqui o MSB Reference não ficou devendo em nada ao Select.

CONCLUSÃO

Não me culpem por existir equipamentos superlativos, meu papel é apenas avaliar e compartilhar com aqueles que se interessam em saber em que estágio evolutivo os DACs do século 21 se encontram.

E se o leitor achar que não vale a pena ler aquilo que não pode ter, entendo perfeitamente.

Mas, independente de lermos ou não, ouvirmos ou não, eles existem e são um marco na indústria de ponta, e para se alcançar este desempenho foram anos e anos de desenvolvimento e aprimoramento.

Eu também não posso ter 90% do que testo, mas minha vontade de conhecer, independente disso, sempre foi muito maior. Sinto prazer, e não raiva. Pois essas ‘preciosidades’ me forçam a buscar extrair o melhor possível dentro de minhas limitações financeiras. E isso faço desde que abracei essa profissão de editor/revisor. E tento explicar (dentro de minhas limitações, claro), tudo que observei de cada produto testado.

O MSB, ainda que seja para poucos, pode – aos que desejarem esse grau de performance – prover um produto que não irá se tornar obsoleto, e com suas atualizações certamente poderá ser o DAC definitivo de qualquer audiófilo que consiga galgar esse último degrau.

Se é o seu caso, peça uma audição – a chance de você ser banhado pelas suas ondas é enorme!

Nota: 105,0
AVMAG #286
German Audio

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(+1) 619 2436615
US$ 86.900

SERVIDOR DE MÚSICA INNUOS ZENMINI MK3

Fernando Andrette

Fazia tempo que desejava fechar essa trilogia de testes dos produtos da Innuos, que começamos com o teste do ZEN (leia na edição 270), fomos para o Statement (leia na edição 274), e faltava o teste do ZENmini Mk3.

Por um bom tempo, desde antes do início da pandemia em 2020, que eu já tinha decidido investir em um servidor de música que pudesse me atender nas escolhas de nossa seção Playlist, ajudando na avaliação das gravações (técnica e artística), sem custar uma exorbitância, já que manter nosso Sistema de Referência atualizado custa muito dinheiro!

Ouvi e testei os produtos da Cambridge, com a ajuda de leitores e amigos, e tive por semanas modelos da NAD, Auralic e Aurender. E depois de todo esse processo, quando o Innuos ZENmini Mk3 chegou, comecei a olhar com bons olhos para ele por vários motivos: tamanho (já que tenho problema de espaço nos meus dois racks), mobilidade (já que necessito mudar os equipamentos de lugar a todo tempo) e, claro, sua performance como servidor de música e seus recursos de streaming – já que além de aceitar Roon Core ou Roon Endpoint, e mais recentemente sua própria plataforma InnuOS, ele armazena música em sua unidade interna , além de transmitir Tidal, Qobuz e Spotify e estações de rádio na Internet.

O modelo enviado para teste veio com 2TB de armazenamento interno. Mais que suficiente, penso eu, para quem deseje armazenar mais de 1000 CDs de sua coleção.

Não ouvi a versão Mk2, mas pelo que pude ler a nova versão tem melhorias significativas como a mudança da placa-mãe, otimização da entrada Ethernet e, agora, uma saída Ethernet que serve de ponte para outro dispositivo de rede, melhorando a integração do sistema. E tem saídas digitais USB e Coaxial, além de manter a saída analógica RCA (caso o usuário não possua um DAC externo). Ou seja, um verdadeiro Servidor de Música, moderno e versátil.

As informações que obtive eram que a CPU do Mk2 era um Intel J1900, e que a nova versão utiliza um Intel N4200, mais rápido e eficiente. Com melhorias também na memória RAM, que dobrou de 2GB para 4GB, algo que antes vinha apenas no modelo ZEN.

Para o teste utilizamos o Mk3 sem a fonte externa, ouvimos também seu DAC interno e, para fechar a nota final, o fizemos com sua fonte externa dedicada – que foi sem dúvida o grande pulo do gato em termos de performance.
Para facilitar a vida do nosso leitor, no final publicamos as notas nas três opções, para que você possa avaliar qual modo de operação lhe atende.

Desde o teste do ZEN que observamos e comentamos o quanto a plataforma de software do Innuos é amigável e fácil de utilizar, até mesmo para os marinheiros de primeira viagem ou os nossos leitores com mais de 60 anos (como eu).

Basta ligar o cabo Ethernet na sua rede, entrar no site da Innuos, digitar “my.innuos” e ele encontrará automaticamente qualquer dispositivo ZEN que esteja na rede. Feito isso, o usuário pode começar a usar o Mk3 e fazer tudo que desejar, como: ripar CDs, fazer backup, definir o modo de operação: Roon Ready, Roon Core, UPnP ou Squeezebox Server, e gerenciar sua biblioteca em sua plataforma escolhida.

Fiz minha avaliação utilizando primeiro o Roon e, a partir do final de 2021, usando a plataforma InnuOS da própria empresa, que achei muito boa – e com a vantagem de economizar 120 dólares por ano deixando de usar o Roon.

Copiar os CDs foi tão fácil como nos modelos já testados – são apenas alguns segundos e tudo está pronto. Conheço leitores que abriram mão de seus velhos CD-Players ou Transportes, e usam o ZENmini como única fonte para leitura de suas mídias físicas ripadas.

Por curiosidade, também fiz essa experiência, mas o comparativo foi totalmente injusto, já que nosso transporte Nagra custa um caminhão de dinheiro a mais que o Innuos. Mas para quem não tem outra opção, é muito válido sim. O que as pessoas precisam lembrar é que a qualidade do transporte a ser usado é essencial para que o DAC possa fazer o seu melhor.

E o que gostei no Mk3 é que ele tem um cuidado no fornecimento do sinal ao DAC, e isso ficou claro e ‘audível’ através dos meses, e de sua utilização de todas as maneiras possíveis (streamer e discos ripados).

Para o teste utilizamos os seguintes DACs: TUBE DAC da Nagra e MSB Reference, além do DAC interno do integrado da Mark Levinson No.5802 (leia teste na edição 282), e do Arcam SA30 (teste na edição 284). Cabos USB: Kubala Sosna Revelation, Sunrise Lab Quintessence Aniversário, e Oyaide Continental 5S V2 (leia teste edição 276). Cabos de força: Oyaide Tunami GPX-R V2 (leia teste edição 279), Sunrise Lab Quintessence Aniversário, e Transparent PowerLink MM2.
Esse foi um teste que foi sendo escrito por etapas, pois tivemos a oportunidade de realizá-lo sem pressa nenhuma, por um ano! Quisera que pudéssemos desfrutar de um período tão alargado com todos os produtos enviados para teste, sem atropelos, cronogramas apertados, preocupação em devolver o produto que já está vendido, ou necessita ir para alguma apresentação em uma revenda ou demonstração na casa de um cliente.

O leitor que imagina que nosso dia a dia é um céu de brigadeiro, não tem ideia do que é correr contra o tempo, torcendo para o amaciamento ser o mais rápido possível, pois cada dia a mais de queima, é um dia a menos de audição.

Então, o ZENmini Mk3 entra para o hall dos poucos produtos que tivemos à disposição por doze meses!

Como ele veio lacrado (e também sua fonte externa), fizemos uma primeira audição sem a fonte externa, com gravações de minha playlist pessoal, e colocamos ambos para amaciar por 100 horas. Quando voltaram para a sala de teste, iniciamos as audições sem a fonte externa e alternando o uso do DAC interno e as opções de DACs externos que tínhamos à disposição.

Com o DAC interno, o Mk3 (permita-me abreviar) me lembrou muito os DACs de entrada existentes no mercado, de até 500 dólares. Tão em moda e cultuados por diversos fóruns que só levam em consideração medições e a audição parece ser um mero detalhe.

Pelo DAC interno, tanto nos discos ripados como no streamer, o soundstage é quase que bidimensional, com pouca profundidade e largura, o corpo dos instrumentos menores e mais pobres, o equilíbrio tonal ainda que correto, sofre com pouca extensão nas duas pontas e a macrodinâmica também é limitada. Aqui, com a fonte externa, ocorreram significativas melhorias em todos os quesitos, menos na profundidade e largura da imagem sonora. Ou seja: usar o DAC interno do Innuos é uma situação de emergência, pois se o usuário o fizer por definitivo, estará sub utilizando o enorme potencial do produto!

E, ainda sem a fonte externa, com um DAC de alta qualidade via USB, a mudança é gigantesca! Planos são apresentados com enorme foco e recorte, largura do palco e um maior respiro entre os instrumentos e os solistas, extensão nas duas pontas, corpo mais correto, e os degraus do pianíssimo para o fortíssimo nas variações dinâmicas são muito mais detalhados. Agora é possível uma audição e avaliação das gravações mais segura e precisa, tanto tecnicamente como artisticamente, pois as interpretações, afinações e execuções já fazem parte do acontecimento musical. Deixamos de ter música ambiente, para presenciarmos música ‘presente’ à nossa frente!

Fico sempre me perguntando a razão das pessoas não conseguirem ser objetivas em suas descrições de sistemas e componentes de áudio. Se, nos ‘finalmentes’, o que importa é o que seu cérebro percebe e o quanto o ouvinte se envolve com o que escuta. Até minha filha, quando tinha sete anos de idade e ficava no chão da sala desenhando ou fazendo piquenique com suas bonecas, percebia quando a música para ela estava mais presente ou menos. Nas suas observações infantis, ela apenas dizia com um belo sorriso no rosto: “Papai, essa cantora veio nos visitar”, ou “Que lindo esse piano”. Me fazendo retroceder à sua idade, quando meu pai me pedia para ouvir suas alterações nos aparelhos em conserto.

Minhas observações eram semelhantes à delas, pois o que eu conseguia ouvir era se parecia mais com o que escutava no sistema que tínhamos em casa, ou menos. Se as vozes soavam como eu as ouvia nas conversas entre os adultos, ou na casa de um primo meu que aos sábados tinha um Sarau de Chorinho – e que eu implorava para o meu pai não ter compromisso naquele dia. Essas foram minhas referências iniciais, que marcaram minha percepção auditiva de maneira tão intensa como a impressão digital.

Então, quando começo a escutar um equipamento antes mesmo de iniciar os testes, quero conhecer esse produto, descobrir seu DNA sonoro, conviver com ele sem elucubrar ou julgar seu desempenho. E para isso deixo que meu cérebro interprete se a música soa como algo que está ali sem me chamar muito a atenção ou, ao contrário, me faz querer parar tudo que estou fazendo e prestar atenção.

Não pense, ouça!

Esse é o mais genuíno desejo que tenho que ocorra com você, amigo leitor!

E quando começamos a ouvir o Mk3 acoplado via cabo USB ao TUBE DAC, a música se fez presente. Estava na hora de iniciarmos a parte final do teste, e acoplar a fonte externa definitivamente, e vermos o tamanho do ‘sumo’ que poderíamos extrair dali.

A primeira boa notícia: o cabo de força não precisa ser excepcional e muito menos caro. Extraímos um belo resultado com o cabo de força Oyaide, muito compatível com o preço do Innuos. E se existiram diferenças entre os cabos, essas diferenças foram muito mais sutis do que poderíamos imaginar.

Segunda grande notícia: os três cabos USB utilizados tiveram excelente resultado, mostrando o grau de compatibilidade do Mk3 com cabos tão distintos de preço e assinatura sônica.

Mas as boas notícias não terminam aqui. Pois nos oito quesitos da Metodologia, seu grau de coerência foi muito alto.
O que significa isso exatamente? Que o ZENmini é um produto de alto nível e que pode ser perfeitamente o servidor de música de sistemas que estão no início da categoria Estado da Arte. O que o torna um verdadeiro Melhor Compra em termos de custo/performance.

Seu equilíbrio tonal, com a fonte externa e um DAC de alto nível externo, muda de patamar. Com graves corretos, presentes, encorpados, com energia, corpo e velocidade. A região média se torna muito detalhada, natural, correta e com excelente corpo. E os agudos surpreendem pela extensão, limpeza, decaimento suave, corpo e precisão.

O soundstage, como em todo streamer (continuo achando que o problema não seja do servidor ou streamer e sim das plataformas), ainda não tem a profundidade que necessita para nosso cérebro dizer “isso sim é uma imagem 3D!”, mas em termos de servidor de música em gravações de alto nível, ele realmente nos convence da materialização da música à nossa frente! Logo, a dedução que faço é que a questão do soundstage no streamer é um problema das plataformas. Alguns estão dizendo que o resultado não tem perdas, mas não é bem assim. Apesar de, teoricamente, o conteúdo passado pelos artistas às plataformas de streaming permanecer inalterado pelas mesmas (e isso é assunto para uma discussão mais longa), o Codec, o software utilizado por cada plataforma para transmitir e reproduzir os arquivos armazenados nela, varia bastante em qualidade – e é daí que saem a maioria das diferenças sonora entre as várias plataformas de streaming mais utilizadas no mercado.

Já em termos de foco, recorte, ambiência, altura e largura, o Mk3 se mostrou surpreendente, sendo de longe, nesse quesito, o melhor em sua faixa de preço e concorrendo com servidores mais caros!

As texturas, quando ligado a um DAC externo de alto nível, são excelentes, fazendo-nos apreciar as intencionalidades e as paletas de cores e formas, em gravações de bom nível técnico e artístico. Todo leitor que acompanha meus testes, sabe o quanto esse quesito me é essencial, para uma apresentação correta do que julgo ser alta fidelidade. Esse era um quesito que me fazia não querer investir quase nada em um servidor de música.

Pois os que conseguiram me convencer da ‘fidelidade’ na apresentação deste quesito são caros! O ZENmini Mk3, quebrou essa resistência, mostrando ser possível ter prazer em escutar streaming e apreciar este quesito.
Os transientes são precisos, e nos fazem acompanhar com interesse e encanto tempo e ritmo.

Assim como a dinâmica – tanto a micro como a macro – que possuem degraus suficientes para nos deixar impressionados com suas variações e complexidade em temas com enorme variação neste quesito.

Outro ponto que sempre questionei foi em relação ao corpo dos instrumentos, sempre menores que nas mesmas gravações em mídia física. Ainda que continuem menores, felizmente as proporções estão mais corretas (um contrabaixo não soa mais como um cello, por exemplo). Isso não é o suficiente para enganar seu cérebro (não o meu), mas já deixa a música mais coerente.

A materialização física do acontecimento musical, sem a profundidade necessária e sem o corpo correto, não fará seu cérebro acreditar que os músicos vieram nos fazer uma visita em corpo e alma, mas fica próximo de uma ‘apresentação virtual’, rs! O que já é o suficiente para quem não tem como referência absoluta a música não-amplificada, ao vivo!

CONCLUSÃO

Tenho a impressão que quando as plataformas de música conseguirem oferecer realmente a música como foi gravada, descobriremos que muitos servidores e streamers já estavam aptos a reproduzir com qualidade hi-end, e passaram como vilões erroneamente. Isso já ocorreu com o disco platinado (CD) que, por três décadas, foi considerado o ‘vilão’, e que na verdade não era. Todos os dias recebo relatos de leitores embasbacados com o que conseguem extrair de seus CDs em um sistema de melhor resolução, correção e folga!

Eu mesmo me pego revisitando gravações digitais e me surpreendendo o quanto de informação e beleza estava armazenado naquele disquinho, e nunca havia sido escutado corretamente. Então, com tudo que se aprendeu com clock, jitter, fontes mais bem dimensionadas, relação sinal/ruído, cabos, elétrica, etc, tenho certeza que os fabricantes de bons servidores de música já implantaram. Falta as plataformas de música fazerem sua parte e entregarem o que prometem.

E o ZENmini Mk3 está preparado, neste momento, como poucos servidores que ouvi e testei na sua faixa de preço.

Se você, como eu, estava à procura de um servidor de música de alto nível com preço acessível, você precisa ouvir o ZENmini Mk3. Pois ele é uma opção consistente em todos os sentidos, e com enorme capacidade de atender até mesmo o audiófilo exigente que abriu mão de mídias físicas para se concentrar apenas em streaming.

Eu fui convencido plenamente – e o que veio para teste passou a ser meu servidor de música escolhido para me ajudar mensalmente a escrever os Playlists do Mês!

SERVIDOR DE MÚSICA INNUOS ZENMINI MK3 (Streamer / DAC interno / Sem fonte)Nota: 72,0
SERVIDOR DE MÚSICA INNUOS ZENMINI MK3 (Streamer / DAC externo / Fonte externa)Nota: 84,0
SERVIDOR DE MÚSICA INNUOS ZENMINI MK3 (Reprod. conteúdo ripado / DAC e fonte externos)Nota: 92,0
AVMAG #283
German Audio
comercial@germanaudio.com.br
(+1) 619 2436615
ZENmini: R$ 16.476
Fonte: R$ 9.408

AMPLIFICADOR INTEGRADO CAMBRIDGE EVO 75

Fernando Andrette

De um certo tempo pra cá, a média de idade do audiófilo vem caindo – estamos observando uma renovação silenciosa no áudio hi-fi e hi-end, muito graças ao streaming de música que, de uma forma ou de outra, possibilitou o descobrimento de bandas e conjuntos de rock, blues e jazz que estão fazendo uma releitura destes estilos musicais com muita qualidade, atraindo pessoas de todas as idades para redescobrirem o gosto por gêneros musicais que antes eram mais apreciados pelos mais experientes.

Bandas como Greta Van Fleet que transitam entre o hard rock, blues e folk, e o grupo de jazz liderado por Kamasi Washington, veem fazendo a cabeça dos mais novos, promovendo uma renovação muito bem-vinda na cena musical, ‘forçando’ – no bom sentido – a garotada que antes ouvia em boombox e headphones a procurar toca-discos, e amplificadores integrados com mais qualidade de som, mas que atendam suas necessidade de hoje, que gira em torno de muita tecnologia, visual com um pé no vintage, e gabinete extremamente compacto.

Para acompanhar essa tendência, a fabricante inglesa Cambridge Audio lançou no ano passado dois amplificadores integrados, que atendem muito bem a este novo nicho do mercado audiófilo. São eles o EVO 75, objeto desta avaliação, com seus 75 Watts por canal, e EVO 150, com 150 Watts por canal.

O EVO 75 tem tudo o que os novos audiófilos procuram para curtir suas músicas, ver os encartes de álbuns na tela de LCD de 6.8 polegadas, e se conectar com o visual vintage da década de 60 e 70 com o aplique lateral que imita madeira. Caso cansem desse visual, a Cambridge disponibiliza vários apliques para trocar a lateral do seu Evo, um mais bonito que o outro. Além disso, ele possui entradas RCA, USB, coaxial digital, USB, HDMI ARC (retorno do som pelo HDMI), Ethernet RJ45 e saídas 3,5 mm para fone de ouvido.

Serve como pré-amplificador de linha e possui saída para subwoofer. Tudo isso em um gabinete de alumínio anodizado de 32 por 35 cm e 9 de altura. No painel frontal, temos pequenos botões em formato de filete com as principais funções do aparelho, como avançar e retroceder, liga/desliga, e o grande knob giratório de volume e seleção de funções.

Os botões não parecem muito intuitivos e, às vezes, é fácil se perder na navegação, mas para isso temos o controle remoto, que espelha as mesmas funções do painel e com algumas teclas a mais que vão direto ao ponto que queremos.

Além da fartura de entradas e saídas, o EVO 75 vem municiado com Spotify Connect, Tidal Connect com suporte para álbuns na versão Master e QoBuz, Google Chromecast, Deezer, YouTube Music, Apple Music, TuneIn Radio, AirPlay 2, Bluetooth aptX HD e suporte total ao Roon Ready.

A sacada da linha EVO é que ela foi pensada para aquela pessoa que se encantou com a qualidade de construção e design da linha Edge, não precisa de toda aquela usina de força, mas quer as facilidades de conexão e interação com os mais novos aplicativos do momento – que o CXN tem – juntamente com uma amplificação que entregasse um resultado sonoro entre o Azur e o CXN, em um gabinete menor. Ou seja, nada do que a Cambridge tinha atenderia perfeitamente estas exigências. Complexo, não? Pois bem, este é o perfil de uma parcela crescente de apreciadores de música, que não tem a menor vontade de transformar a música em um hobby custoso, que cresceram ouvindo os microsystems Aiwa dos anos 2000, e não querem abrir mão da qualidade que uma caixa acústica cabeada entrega.

De quebra, a Cambridge ainda pega aquele audiófilo que cansou de lutar com vários equipamentos, ou que quer montar um bom sistema de som compacto, bonito, para ficar na sala ou escritório, com qualidade suficiente para não sentir tanta falta do set principal.

Se olharmos bem para o mercado hi-fi, faz tempo que este tipo de equipamento premium supercompacto adentrou os lares mundo afora, e não apenas no áudio, mas no audiovisual também. Os projetores de ultracurta distância viraram uma febre, e todos eles com conexão de internet, aplicativos e streaming de vídeo integrados, muitos até com alto falantes, eliminando soundbar e fontes digitais como Apple TV, Chromecast, e pequenos sistemas 5.1!

O Cambridge EVO 75 entrega tudo isso com um som divertido, rápido e com uma pitada de ousadia. Isso graças à sua topologia de amplificação Hypex NCore classe D – que eu torço para que a Cambridge utilize em mais projetos no futuro, pois o resultado sonoro é realmente muito bom. Essa amplificação não é proprietária da Cambridge, mas com certeza eles fizeram uma excelente escolha e a ajustaram muito bem a este produto.

COMO TOCA

Iniciamos o teste com os seguintes equipamentos: streamer interno do EVO 75 com Tidal, DAC streamer Gold Note DS-10 com fonte externa com Tidal, Ethernet Switch Sunrise Lab. Caixas acústicas: Q Acoustics 3050i, B&W 805 D4, e Dynaudio Evoke 50. Cabos de força: Transparent MM2, Sunrise Lab The Illusion 20th Magic Scope. Cabos de interligação: Sunrise Lab The Illusion 20th RCA. Cabos de caixa: Sunrise Lab The Illusion 20th. Cabos de rede: Nordost Blue Heaven, Sunrise Lab Quintessence 20th, e Purist Audio. Cabo HDMI: Sunrise Lab 8k 20th, Chord C-view, e cabo padrão comum.

O EVO 75 veio lacrado, e sua embalagem segue a mesma linha do Edge: embalagem dupla com proteção em espuma e tecido para não arranhar nada!

Assim que ligamos ele na tomada, e acionamos o botão de alimentação na parte frontal, e vemos aquela tela enorme e brilhante se ascender… é impactante e muito divertido também. Os bornes de caixa possuem boas estrias, o que oferece ótima pegada na hora de apertar cabos com terminação spade. A tomada IEC possui o terceiro pino (terra), algo que nesta categoria de equipamentos é difícil de achar, mas que faz uma enorme diferença na qualidade de som.

As primeiras audições foram com a B&W 805, e devo dizer que me surpreendi com a desenvoltura do EVO 75 em empurrar essa bookshelf enorme com uma certa facilidade. Deixei o amplificador amaciando com ela por 250 horas, e foi quando não houve mais mudanças na qualidade do som que então comecei a perceber seu limite em termos de potência. A B&W exige mais amplificação – não que o EVO 75 não empurre a contento, mas falta aquele tico de fôlego para controlar melhor os movimentos do falante. Talvez o EVO 150 seja mais apropriado. Fora esse detalhe, daria para conviver com essa dupla sem problemas, pois não é tanto falta refinamento, o que falta é potência. Já com a Q Acoustics, a história foi outra – como é uma caixa mais amigável e, de certo modo, mais compatível com a amplificação, o encaixe foi perfeito! A amplificação do EVO 75 casou muito bem com a caixa, tirando tudo o que ela tinha a oferecer. Os graves soaram muito bonitos e toda a região média é recuada, tanto quanto as outras faixas de frequências. O palco se mantém atrás das caixas, esboçando passar para além das laterais das caixas, o que é algo muito bom, por sinal. O EVO não soa seco nem tem tendência a abrir demais, graças à amplificação Hypex NCore classe D, que não soa tão ‘classe D’ assim. O relaxamento está garantido e, com isso, boas horas de audição com muito conforto auditivo.

Com a Evoke ele deu um grande salto de qualidade, mas de novo os 75 Watts não dão conta de uma caixa tão grande.

Se tivesse a mão uma Evoke 10 ou uma 30, com certeza seria a perfeição, pois ele controlaria bem a caixa e tiraria aquele timbre mais encorpado das Evoke sem dificuldade, mesmo em passagens complexas em que há muitos instrumentos graves tocando ao mesmo tempo – ele não deixaria a peteca cair e seguraria a onda com bastante confiança.

A integração com Spotify é melhor que com Tidal. Mas não é um caso de arrancar os cabelos, é que o Tidal anda estranho mesmo, parando a execução do nada. A questão com o Tidal é no momento de fazer o login, que às vezes engasga. Testei três contas diferentes e aconteceu de entrar o Tidal Connect e só tocar pelo celular/tablet, e não sair som pelo EVO. Daí quando se escolhe o Tidal normal (sem ser o Tidal Connect – tem as duas opções) no cel/ tablet, aí sim toca pelo EVO. Já com o Spotify Connect não ocorreu isso, rodando liso sem nenhum problema. Reproduzir conteúdo do YouTube também é super fácil: espelhei meu Chromecast Ultra e a Apple TV 4K via HDMI ARC, sem problema algum, e o retorno do áudio é muito bom. Claro que, nesse quesito, o cabo HDMI fará toda a diferença, mas mesmo mudando os cabos, percebe-se que as qualidades do EVO estão lá em maior ou menor grau.

CONCLUSÃO

O Cambridge EVO 75 veio para ficar. Este nicho do áudio não é mais uma modinha, e seus concorrentes são diversos, mas poucos se comparam em beleza, versatilidade de estilos e de conexões como o EVO faz. A decisão de mudar a amplificação foi uma grande ideia, e um ato de coragem que rendeu bons frutos, pois o EVO poderia assumir o lugar do Azur sem a menor cerimônia, e aposto que os fãs da marca iriam adorar!

Para quem busca um segundo sistema minimalista, ou um set principal sem muitas firulas ‘direto ao ponto’ e de baixo custo, a linha EVO atende com muita competência.

Nota: 83,0
AVMAG #285
Mediagear

contato@mediagear.com.br
(16) 3621.7699
R$ 29.800

AMPLIFICADOR INTEGRADO WILLSENTON R8 KT88/EL34 X4

Fernando Andrette

Enquanto os mais ‘tradicionalistas’ dão de ombros para equipamentos fora do mapa do áudio estabelecido nos anos 70, eu, ao contrário, vivo fuçando e torcendo para que mais e mais marcas surjam dos mais diferentes pontos do planeta, e conquistem seu lugar ao sol.

E parece que tenho dado sorte, pois nunca houve na história do áudio hi-fi o surgimento de tantas marcas vindas da Ásia, do Leste Europeu, da Oceania e, agora, novamente do nosso Brasil.

Isso não só enriquece o mercado, como o deixa muito mais diversificado e interessante. Afinal, por trás de cada produto hi end bem feito, existe uma ideia, um conceito, uma filosofia e uma assinatura sônica que determina o grau de conhecimento e ousadia do projetista.

E eu tenho o maior interesse em conhecer um projetista pelo seu produto, pois quando bem executado, é possível perceber características pessoais e culturais do engenheiro e compreender como ele ‘enxerga’ e define o que seja hi-end para ele.

E tem produtos que imprimem uma assinatura tão incisiva, que fica difícil, avaliá-los apenas pela razão, pois ao escutá-los o que irá prevalecer será sempre a emoção.

Tive por diversas vezes frente a frente com produtos dessa vertente mais emotiva do que racional, e nunca criei nenhuma resistência em avaliar o produto dessa maneira (principalmente se fica evidente desde o primeiro instante que foi essa a intenção central do projetista).

Toda essa introdução foi para apresentar o Willsenton R8 (vou abreviar para ficar mais fácil), um amplificador integrado valvulado feito na China e que tem causado enorme furor em feiras, fóruns e testes pelos continentes.
Tudo nele chama nossa atenção: construção ponto a ponto manualmente, acabamento de excelente nível, design, versatilidade e, claro: performance!

Trata-se de um amplificador que pode ser usado com válvulas EL34, KT88 ou 6550, para que o consumidor tenha a assinatura das válvulas que mais lhe agradem (nosso modelo veio com KT88). Também pode ser usado como um amplificador de potência, além de ter um ótimo amplificador de fone de ouvido.

O consumidor ainda pode escolher se deseja que ele trabalhe em ultralinear ou tríodo (no LED vermelho ele funciona em modo ultralinear, e em verde em tríodo). E você pode alterar os modos sentado em seu ponto de audição, através do seu controle remoto.

Em modo tríodo ele possui 25 Watts e, em modo ultralinear 45 Watts (com válvulas KT88 e 6550) e 40 Watts com válvula EL34. O fabricante recomenda no mínimo 100 horas de queima, com estabilização total em 300 horas.

O ajuste de bias é o comum a todo amplificador valvulado, e depois de ajustado com 100 horas de amaciamento, durante todo o período de teste nunca mais precisamos reajustar o mesmo. Eu quase que usei as EL34 que estou vendendo, da Air Tight, mas como são casadas e sei que o futuro comprador irá desejar que sejam absolutamente zeradas, não fiz essa avaliação.

E também não fiz pelo fato de que, com as KT88, o Willsenton R8 soou lindamente!

Para o teste, utilizamos as seguintes caixas: Elipson Heritage XLS 15, JBL L100 Classic, Monitor Audio Gold 300 série 7 (teste na edição 290), Wharfedale Evo 4.4 (leia Teste 2 na edição 289). Fontes analógicas: prés de phono Rega Aura (leia teste na edição 291) e Gold Note PH-1000. Toca-discos Origin Live Sovereign, com braço Enterprise de 12 polegadas e cápsula ZXY Ultimate Astro G. Fontes digitais: Streamer Innuos ZENmini Mk3, dCS Bartok 2.0, e Transporte Nagra com TUBE DAC Nagra. Cabos de interconexão: Sunrise Labs Quintessence RCA, e Kimber Kable Carbon RCA. Cabos digitais: USB Kubala-Sosna Realization, e Sunrise Lab Quintessence Edição de Aniversário. AES/EBU: Crystal Cable Absolute Dream, e Dynamique Audio Apex (leia teste edição 290). Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado e Dynamique Audio Apex.

Com 4 entradas RCA, eu deixei os dois prés de phono ligados e usei a terceira entrada para alternar entre o Bartok e o Nagra. Em nenhum momento do teste eu ouvi o R8 como power, pois foram apenas 4 semanas, já que o integrado foi gentilmente cedido pelo seu felizardo comprador.

E decidi então explorar os dois modos de funcionamento (tríodo e ultralinear) não só com as oitenta faixas da Metodologia, mas também com muitos discos de ‘cabeceira’ que são minhas gravações preferidas, dos poucos e raros momentos de lazer.

Eu não me lembro exatamente quanto o importador me disse que ele já tinha sido amaciado, então fiz as anotações do primeiro contato com nossas gravações, e o deixei amaciando por 100 horas. E assim que ele voltou para a sala de testes, a primeira caixa que liguei foi a Elipson, pois além dela já estar totalmente amaciada, estava no término do teste, já pronta para a passagem de notas de cada quesito. E também pelo fato de estarem na mesma faixa de preço (20 mil reais).

Foi sinergia à primeira música!

Estava ouvindo Água de Beber do nosso disco Genuinamente Brasileiro Vol2, e me encantei como o R8 (vou abreviar ainda mais, rs) postou as seis vozes. Usei o verbo ‘postar’, pois não foi apenas reproduzir a faixa à minha frente, mas sim convidar-me a reviver aquele momento mágico com os cantores e os dois instrumentistas.

Lembro bem que fizemos três takes dessa gravação, e depois de muitas dúvidas eu, o Duda e o maestro optamos pelo primeiro take, com as vozes quentes e relaxadas. Eu fui voto vencido, pois a minha preferida era o segundo take, que na minha opinião foi mais relaxado, sem perder a concentração.

Mas realmente, a primeira tinha um grau de intencionalidade nas entradas e crescendos mais precisa tecnicamente, e quando escuto essa faixa em aparelhos ou setups que me ‘revivem’ esse momento, sei perfeitamente o que virá na sequência (traduzindo para os leigos: será difícil prestar atenção no que preciso para fechar as notas, me fazendo ‘recobrar’ o objetivo algumas vezes, rs). Trabalho em dobro, mas satisfação também em dobro faz parte da vida de todo revisor.

Voltando às observações de Água de Beber, ficou evidente que o caminho que o R8 iria me impor seria o do puramente ouvir e não avaliar. Nesses casos, eu mudo a forma de avaliar os quesitos, fazendo intervalos entre as faixas que usamos para cada quesito, com discos ou faixas apenas para curtir a assinatura sônica do produto. É uma estratégia interessante, no entanto leva-se o dobro do tempo no fechamento de nota.

Seu equilíbrio tonal segue a regra dos valvulados modernos (felizmente), com agudos com ótima extensão, decaimento correto, possibilidade de se observar as ambiências de cada gravação, e o melhor: nunca os agudos se tornam brilhantes ou excessivos.

Para ouvir um piano com a última oitava da mão direita com som de vidro, a gravação tem que ser muito torta para isso ocorrer. Eu não passei por esse azar – pelo contrário, independente dos pianos, dos pianistas, da qualidade de gravação, o que ouvi foi sempre um piano com feltro, e não vitrificado.

A região média possui aquela naturalidade inebriante que nos faz esquecer do mundo instantaneamente, nos colocando em sintonia direta com cada nota e acorde. E os graves, ao contrário de tantos valvulados vintage, possuem extensão, peso, deslocamento de ar e principalmente velocidade.

Tem a impetuosidade de um grave de um power de estado sólido? Evidente que não, mas é tão correto e preciso que você dificilmente depois de escutá-lo por algum tempo, irá sentir falta dessa maior ‘impetuosidade’ que os graves nos powers de estado sólido tem.

O seu soundstage possui muito bom foco, recorte e planos. Seja ouvindo um quarteto de cordas em sua formação habitual em arco, ou uma orquestra sinfônica com seus diversos naipes em planos.

Em uma sala como a nossa, que podemos deixar as caixas distantes o suficiente das paredes, a apresentação do palco sonoro do R8 foi muito convincente, com destaque para a EVO 4.4 e a L100 Classic, que possuem uma facilidade muito grande de reproduzir o ar em volta dos instrumentos solistas e os naipes da orquestra.

E aí chegamos ao ápice da beleza do R8: sua apresentação de texturas. Aqui meu amigo, o buraco é muito mais embaixo do que se imagina. Para superar essa apresentação, prepare-se, pois você terá que pôr a mão no bolso e de maneira pesada para conseguir.

Enquanto os audiófilos discutem as diferenças e vantagens de cada uma das topologias, eu se sou chamado a opinar, sempre pergunto: qual topologia traduz melhor e com maior sedução as texturas? Se alguém ousar levantar a mão e dizer que são os classe D, eu me retiro do recinto, rs!

Meu amigo, ouça um quarteto de cordas em um excelente valvulado em um setup todo acertado e não tem volta – acredite. É de ouvir prendendo a respiração e, se bobear, com lágrimas nos olhos.

Ou, se tem dificuldade para acompanhar cada voz de um quarteto de cordas, ouça as obras do Paganini para violino e piano. Não tem segundo round!

O R8 tem esse DNA dos Shindos, dos Air Tight, aparelhos que ouvi ou tive, e que guardo as melhores memórias de longo prazo deste quesito.

Ele soa com o refinamento necessário para nos mostrar detalhadamente a paleta de cores e as intencionalidades no equilíbrio certo, em que nossa mente não fica pulando de um lado para o outro, hora observando as intencionalidades, hora as paletas. É tudo uníssono, presente, congelando aquele momento e silenciando o que não faz parte do acontecimento musical.

É soberbo, é precioso e tão difícil de ser admirado por aqueles que nunca estiveram a 4 metros de distância de um excelente quarteto de cordas com músicos virtuoses, e em salas de espetáculo acusticamente decentes. Ou então frente a um violinista em uma apresentação solo. Para isso existem sistemas hi -end, para nos permitir repetir essas audições quando bem desejarmos.

O R8 para reprodução de texturas faz parte desse seleto grupo de valvulados capazes de nos apresentar as texturas como ela deveriam ser tratadas por todos integrados ditos hi-end.

Na dinâmica, a apresentação de micro é excelente, e na macro tudo dependerá muito mais das caixas do que dele. Pois em modo ultralinear, tanto com a L100 como com a EVO 4.4, o R8 se comportou com autoridade. Não espere sustos ou pirotecnias na macrodinâmica, pois falamos de 45 Watts – mas não haverá frustração eu garanto!

O corpo harmônico é muito bom, até mais do que eu poderia esperar. Ouvindo as três faixas do contrabaixo do disco Timbres que gravamos, o tamanho do instrumento está muito correto, mostrando inclusive as diferenças de tamanho dos três microfones utilizados (sim meu amigo objetivista, microfones diferentes tem corpo harmônico, equilíbrio tonal, texturas, transientes, tudo diferente).

Eu deixei por último a observação dos transientes, pois passei mais tempo curtindo inúmeras gravações do que avaliando faixa por faixa das oitenta, para escrever o teste. E muitas vezes ouço de audiófilos experientes, que o problema maior da válvula está na apresentação precisa de tempo e ritmo. Eu prefiro nesses casos balançar a cabeça a responder, pois quem foi no último Hi-End Show de 2015 (quanto tempo, não?), e foi em nossa sala, viu que mostrei inúmeros exemplos de transientes justamente para responder a essa questão, que é recorrente desde os anos 80.

No evento usei as caixas Kharma com os monoblocos ATM-3 da Air Tight, de apenas 100 Watts, em uma sala de 220 metros quadrados! E o que mais ouvi após as apresentações, foi: “Nossa, nunca tinha escutado valvulados com essa pegada, precisão e autoridade!”.

Talvez os valvulados dos anos 60, 70 e 80 tivessem essa limitação na apresentação de transientes. Isso há muito foi superado, acredite.

E no modo ultralinear, o R8 não teve dificuldade em nenhum dos exemplos utilizados para fechar a nota deste quesito.

CONCLUSÃO

Raramente deixo para a conclusão final os quesitos organicidade e musicalidade, mas aqui seria injusto separar esses dois quesitos, pois eles estiveram nas quatro semanas sempre andando juntos, pois quando eu ouvia determinada música em que os músicos estavam materializados na minha frente, meu cérebro, não conseguia pensar na qualidade da materialização e sim o quanto aquele exemplo era musicalmente agradável e real!

Esse é o efeito que eu chamo de colocar nosso cérebro no modo stop da racionalização e dar o play no modo emocional de ouvirmos.

Tudo será sempre uma escolha. Um sistema que seja perfeito e cubra integralmente todas as nossas expectativas, não existe e nem sei se um dia existirá. Então, meu amigo, antes de sair gastando seu suado dinheiro, escolha metas e estabeleça dentro de seu orçamento o que você realmente deseja de um sistema hi-end.

Se o que você mais deseja é um sistema que o emocione, levando-o a deixar o mundo em suspense enquanto você restabelece sua saúde mental e emocional, ouça o Willsenton R8.

Ele é tão versátil e com tantas possibilidades camaleônicas em termos de upgrades de válvulas, que podem tranquilamente elevar seu grau de performance (leia meu artigo Opinião deste mês) e em modo tríodo e ultralinear, que você pode escolher qual modo soa melhor com determinadas músicas.

Pode existir algo mais legal para fazer em nosso sistema?

Um produto altamente recomendado e que estará certamente entre os Melhores de 2022, com Recomendação do Editor!

Nota: 93,0
AVMAG #289
Elite Sound

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(19) 99713.5005
R$ 20.000 (Valor promocional)

AMPLIFICADOR INTEGRADO MARK LEVINSON No.5802

Fernando Andrette

Agora que a Mark Levinson está com um novo distribuidor no Brasil, começam a chegar para testes os novos produtos da marca, lançados no final de 2019 e começo de 2020.

A pandemia realmente mudou toda a estratégia de mercado, pois sem eventos, seminários e com problemas de estoque de peças, muitas entregas tiveram que ser adiadas e revistas. Cito isso, pois no nosso cronograma de testes esse integrado deveria ter sido avaliado no último trimestre do ano passado, e não agora.

Mas, felizmente, o produto chegou e podemos compartilhar nossas impressões com vocês e dizer de cara o quanto ele é bom.

Da série 5000, considerados os produtos de entrada deste fabricante, existem dois integrados, o No.5802 e o No.5805 (que esperamos poder em breve testar). Lá fora a diferença de preço é de 2000 dólares, entre os dois.

E se você for um amante de analógico, precisará optar pelo No.5805, pois ele tem um pré de phono MM e MC embutido, e um outro importante diferencial em relação ao No.5802: entradas analógicas!

Sim, meu amigo, esse é o primeiro integrado nos 25 anos da revista que testamos que não possui nenhuma entrada analógica. Algo que, no meu modo de ver e vivenciar o mercado de áudio, seria inadmissível até dois anos atrás. Mas a velocidade com que o mundo, costumes, valores e tendências mudaram, faz todo o sentido imaginar consumidores que desejem apenas entradas digitais de todos os tipos (e isso o No.5802 tem aos montes).

Os amantes do design, acabamento e durabilidade da marca, não terão do que reclamar, pois este modelo de entrada continua sendo um Mark Levinson, desenvolvido e construído nos Estados Unidos e com o mesmo apelo que a marca oferece há mais de quatro décadas.

O painel frontal continua sendo de alumínio sólido, de uma polegada de espessura, jateado e anodizado em preto, com os botões duplos em prata e o display colorido em LED vermelho. Além dos dois botões e do display ao centro, esse integrado possui um amplificador de fone com saída de pino de 6,35 mm. O integrado vem com um controle remoto de alumínio, comum a toda série 5000.

Estranho descrever a traseira sem nenhuma entrada analógica, e apenas uma saída RCA – caso o usuário deseje ligá-lo a um power externo. Além da tomada IEC e dos terminais de caixa, existem: uma entrada AES/EBU, uma USB 2.0, duas S/PDIF coaxial e duas S/PDIF óticas com capacidade PCM de 32-bit/192kHz e DSD 5.6, e decodificação MQA (Master Quality Authenticated) suportada em todas as entradas digitais – incluindo a USB assíncrona. A entrada de áudio Bluetooth é integrada com suporte para codec aptX HD. Ainda no painel traseiro, encontra-se uma entrada Ethernet (RJ45) utilizada para atualizações de firmware, uma conexão RS-232 (DB9) para controle de automação, e um trigger de 12V, além de uma entrada IR via conector de 3,5 mm.

Os engenheiros da Mark Levinson apostaram todas as fichas no DAC Mark Levinson Precision-Link II, todo baseado no chip DAC ESS Sabre de 32-bit, com um sistema desenvolvido pelo fabricante para a eliminação de jitter. Trata-se de uma topologia de distorção e ruído ultra baixos, com uma relação sinal/ruído de 120 dB (segundo o fabricante).

A amplificação é uma topologia classe AB de acoplamento direto e alimentado por um transformador toroidal de 500 KVA com enrolamentos secundários individuais, trabalhando em conjunto com quatro capacitores de 10.000 microfarads por canal, e com uma potência nominal de 125 Watts em 8 ohms, e 250 Watts em 4 ohms. O fabricante afirma que o No.5802 é estável até 2 ohms, o que o torna compatível com uma enorme quantidade de caixas existentes no mercado.

O peso final do No.5802 é de 27,6 kg, e aconselho aos futuros donos deste integrado que peçam ajuda ao desembalar e colocá-lo no rack.

Para o teste, utilizamos o streamer da Innuos Mini Zen MK 3 com fonte externa, e cabos USB Kubala Realization e Sunrise Lab Aniversário. E com o nosso transporte Nagra ligado ao No.5802 com o cabo AES/EBU Absolute Dream da Crystal Cable e com o coaxial Quintessence Aniversário da Sunrise Lab.

Gostei da possibilidade do No.5802, depois de um tempo sem sinal, entrar automaticamente em stand-by – nos dias de hoje, com o preço da energia elétrica, é uma opção importante. Pois minhas contas mensais já passaram de 500 reais por mês, faz mais de dois anos! O dia que eu receber produtos para teste já integralmente amaciados, criarei um prêmio especial para esse distribuidor, rs… Pois brinquei outro dia com o Chris Pruks que estou ficando velho para esperar o amaciamento de todos os produtos por nós testados – e manter todos ligados simultaneamente em vários cômodos da casa se tornou um problema, agora que os filhos cresceram e reivindicam mais espaços.

Às vezes tem produto em amaciamento até no sótão da casa, e quando arma os temporais de verão, é um corre-corre para tirar tudo da tomada. Fazer isso constantemente quando se tem 40 ou 50 anos é uma coisa, mas com 64, e ainda cardíaco, é outro panorama.

E é óbvio: o No.5802 veio lacrado para teste! À princípio ele ficou em repeat com um velho DVD da Yamaha e as caixas Elac Uni-fi, e posteriormente com a Wharfedale Elysian 4 (leia Teste 1 na edição 282). Mas, antes de ir para amaciamento, fizemos a primeira impressão com as caixas JBL L82 Classic (leia teste edição de 281) e com as recém chegadas JBL L100 Classic (em fase final de amaciamento), e a Estelon X Diamond Mk2 (em fase inicial de amaciamento).

Como ele não possui entrada analógica nenhuma, foi impossível neste primeiro contato ouvir nossa lista de LPs, que sempre escuto nessa Primeira Impressão (algo que confesso que não gostei).

Minhas anotações iniciais foram: silêncio de fundo impressionante, em que os sons brotam à nossa frente com ótimo foco e recorte. Achei o equilíbrio tonal muito correto para um produto totalmente frio. Voltamos a ouvi-lo novamente com 50 horas, e as mudanças não foram grandes, com exceção de uma melhora nos planos em relação a largura e profundidade, o que tirou aquela frontalidade inicial, tão comum em produtos sem queima alguma.

Deixamos mais 100 horas em amaciamento, já que estávamos terminando o teste da JBL L82 Classic. E com 150 horas decidimos por iniciar o teste, escutando-o com as Wharfedale, tanto streamer como CD.

Acho que a maioria dos nossos leitores que abriram mão de mídias físicas, irá gostar muito do No.5802, pois seu DAC interno é excepcional e sua potência e assinatura sônica o faz compatível com inúmeras caixas. O Mark Levinson No.5802 não teve nenhum problema em conduzir as Elac Uni-Fi, as duas JBL Classic (L82 e L100), as Wharfedale, as Wilson Sasha DAW e as Estelon X Diamond Mk2.

Sua assinatura sônica é muito equilibrada, na medida correta entre transparência e naturalidade. E nas três entradas utilizadas (USB, Coaxial e AES/EBU) o resultado foi excelente!

Os agudos têm muito boa extensão, decaimento suave e velocidade correta. Em comparação com o nosso DAC de referência, se mostrou com um pouco menos de corpo nas altas, mas nossa referência custa dez vezes o preço do DAC interno do ML). A região média é muito correta, precisa, com uma apresentação sempre muito coerente e agradável.

Mesmo gravações com muita complexidade e variação dinâmica e de transientes, a inteligibilidade é muito boa.
E os graves surpreenderam tanto na qualidade como na precisão, energia e deslocamento de ar.

Tanto que minha sugestão, para os futuros compradores da linha Classic da JBL, se quiserem também realizar um upgrade no integrado, que escutem tanto o No.5802 quanto o No.5805 (caso necessitem de entradas analógicas, como eu).

A autoridade do ML sobre todas as caixas utilizadas no teste, mostrou a qualidade deste amplificador em conduzir com eficácia caixas tão distintas.

O soundstage, se tivesse a oportunidade de usar um DAC externo, acredito que tiraria ainda um ‘caldo’ a mais deste quesito (como o No.5805 virá para teste, poderei sanar essa dúvida). Achei que o DAC interno é muito melhor em largura e profundidade do que em altura. Claro que isso pode ser, para muitos de vocês, algo secundário, mas sempre lembro aos que desejam um setup que engane seus cérebros, que corpo ‘pizza brotinho’ e músicos todos tocando sentados, não conseguirá jamais enganar sequer o cérebro de uma criança. O No.5802 não chega a tanto em fazer todos virarem tabladistas, mas a altura não é a que estamos acostumados em ouvir.

A apresentação das texturas foi excelente, fazendo-nos observar com facilidade a qualidade dos instrumentos, as escolhas dos microfones e a técnica dos músicos. Gostei muito e fiz grandes elogios à qualidade das texturas!

Os transientes foram ‘pêra doce’ para o No.5802. Os amantes de música com muito ritmo, irão amar este integrado. Gosto muito do CD do Joe Satriani de capa laranja, que na minha opinião é o melhor disco dele, tanto tecnicamente como artisticamente, e quando os transientes estão corretos é uma delícia de ouvir, pois existe uma precisão de tempo e andamento absurda, que nos faz colocar um enorme sorriso na boca e acompanhar batendo os pés.

A dinâmica também me surpreendeu tanto na micro, como na macro. Ainda que falte aquela folga final, que separa os meninos dos homens, ele se mostrou um ‘adolescente’ de muito potencial. E sua apresentação de microdinâmica é exemplar em sua faixa de preço.

O corpo harmônico foi a segunda dúvida que fiquei (será que é o DAC ou o amplificador?). Espero ter essa resposta em breve, quando testar o No.5805. Pois arrisco dizer que seja o DAC que reproduz os corpos um pouco menores que em outros integrados top de linha (mas que custam o dobro do seu preço) mas que foram testados com nosso setup digital de referência – então terei que deixar em aberto esse quesito em termos de conclusão definitiva. Aguardem o teste do No.5805, que teremos a resposta, ok?

A materialização física é muito boa, nos dando a sensação do acontecimento musical em nossa sala, e só não é mais fidedigna, pela questão da altura e do corpo, algo que insisto, pode ser do DAC ou de ambos. Sem tirar essa dúvida, me abstenho de dar opinião.

Mas, aí vem à mente as perguntas: a quem se destina esse integrado? Esses ’detalhes’ realmente importam? Acho que não, pois se a referência for exclusivamente streamer, as limitações sonoras são muito maiores que esses dois detalhes. Essa questão só se torna pertinente caso o consumidor tenha ainda mídia física ou escute downloads em alta definição.

Então, as duas questões levantadas quero que sejam encaradas de maneira bem restrita, certo?

CONCLUSÃO

Gostei muito do No.5802, ainda que não seja um produto para mim pela falta de entradas analógicas, mas que certamente atenderá uma legião de consumidores jovens que desejam um integrado de excelente performance, prático, construído de forma impecável e pelas mãos de um fabricante que é uma verdadeira referência no mercado hi-end.

Na sua faixa de preço existem dezenas de opções, mas poucos certamente terão uma assinatura sônica tão natural, e um grau de compatibilidade tão alto com inúmeras caixas acústicas.

E seu DAC interno possui qualidades de produtos Estado da Arte.

Se é um integrado com essas características que você está buscando, ouça tanto o No.5802 quanto o No.5805, no mínimo você irá se surpreender tanto com sua construção, como sua performance.

Nota: 94,0
AVMAG #282
Mediagear

contato@mediagear.com.br
(16) 3621.7699
R$ 83.635

AMPLIFICADOR INTEGRADO LINE MAGNETIC 219IA

Fernando Andrette

Eis uma marca que o leitor da revista irá daqui para frente ouvir falar muito. Pois em todos os mercados que já se firmou, tornou-se o centro das atenções e de calorosas discussões nos fóruns especializados em aparelhos valvulados.

Produzidos na China, seu fundador é um audiófilo apaixonado por restauração de amplificadores e caixas acústicas da Western Eletric – e ganhou fama na Ásia pelo seu grau de conhecimento e perfeccionismo na restauração de inúmeros amplificadores, drivers e caixas dos anos 20, 30 e 40, dessa lendária marca americana.

Com sua notória habilidade, o próximo passo foi abrir uma empresa atuando no mercado como fabricante OEM para outras marcas, como Cayin, Jungson e Shengya. E o último passo foi criar sua própria marca, a Line Magnetic, focando no relançamento de grandes produtos ‘clássicos’, porém atualizados para a nova realidade de mercado.

Como escrevi no primeiro parágrafo desse teste, a cada novo mercado que a Line Magnetic aporta, rapidamente o ‘boca a boca’ se instala e muitos amantes de válvulas 300B e 845, se sentirão seduzidos pela sua relação custo/performance.

O que mais li nos fóruns internacionais, que consultei para entender de onde vinha essa ‘febre’ pela marca, foi justamente o fato dos seus produtos serem muito bem construídos e ainda assim custarem muito menos que a concorrência, e manterem um grau de performance tão alto.

Quando o Hernani da Elite Áudio, distribuidor oficial da marca no Brasil, me ofereceu o produto para teste, não imaginava o tamanho do produto e muito menos seu peso de 55 Kg!

E muito menos os detalhes de seu design lembrando os anos 30, que só vemos naqueles filmes em preto e branco de ficção científica.

Para o trabalho sujo de tirar ele do carro e instalá-lo em nossa sala, foi preciso 4 braços, muito suor e gemidos – que só quem já está fora de forma sabe grunhir. E a única plataforma em que ele coube, devido à sua altura descomunal, tamanho e peso, foi a base da Audio Concept, felizmente colocada à frente do nosso setup de Referência.

O 219IA utiliza 8 válvulas em configuração dual-mono. O estágio de pré amplificação usa duas 12AX7 seguidas por um estágio de driver duplo que utiliza duas 310A, e duas válvulas 300B para acionar o estágio final de amplificação de duas válvulas 845. Para proteger as válvulas, o Line Magnetic tem uma gaiola de ferro bastante segura e pesada – como tudo nesse integrado, rs.

Seu controle remoto é de excelente nível e acabamento, pesado (rs), com volume para cima e para baixo, e mute.

Na base em que estão as oito válvulas, existem os ajustes de polarização e os ajustes para se tirar o ‘hum’ que, dependendo das instalações elétricas e da qualidade do aterramento, podem existir.

No painel frontal temos o grande VU ao centro, para apresentação da potência debitada, além do botão seletor de entradas (3 no total), e no lado esquerdo dois VUs menores para o ajuste de polarização das válvulas. Acima desses dois pequenos VUs, tem o ajuste de polarização para selecionar as válvulas a serem ajustadas. E no canto direito temos o botão maior de volume e, abaixo dele, o botão de liga e desliga.

No painel traseiro, temos as três entradas de linha e os terminais de caixas para 4, 8 e 16 ohms, bem como a entrada IEC.

Depois de ligado, o amplificador leva 30 segundos para entrar em funcionamento.

Como o produto estava apenas com 30 horas de uso, fiz o primeiro contato com ele ligado a caixa Monitor Audio (leia Teste 3 na edição 290), ouvindo nossos discos da Cavi Records, e deixei o integrado amaciando com as caixas Harbeth (leia teste na edição 290), que também estavam amaciando.

Por mais que as pessoas tentem simplificar, dizendo que amplificadores valvulados possuem uma sonoridade muito fácil de identificar, eu costumo ser bem mais cauteloso, pois dependendo da topologia (push-pull ou single-ended), quando bem projetados terão uma sonoridade bem distinta.

Como estava com a memória ainda fresca do Willsenton R8 testado em nossa edição 289, para mim ficou claro que colocar no mesmo pacote esses dois modelos seria injusto com ambos. Pois cada um prima por qualidades distintas.
Um primeiro exemplo: em volumes baixos – falo de audições com o volume no máximo a 60dB – o Line Magnetic soa muito mais coeso e equilibrado que o R8. Com muito melhor apresentação de microdinâmica.

Já o outro lado da dinâmica, na macro, o R8 por ter muito mais potência, tem maior folga para responder ligado em caixas com menos de 90 dB de eficiência.

Sempre haverá escolhas a serem feitas, meu amigo, não existe como contornar as escolhas. Sejam elas conscientes ou impulsivas.

Com 100 horas, a primeira caixa em que instalamos o Line Magnetic foi a JBL Classic 100 – e que casamento, meu amigo! Os 90 dB em 8 ohms da caixa foram ‘mamão com açúcar’ para os 24 Watts do Line Magnetic. Com excelente equilíbrio tonal, texturas refinadas, uma imagem tridimensional impecável, e resposta de transientes surpreendente.

A macrodinâmica, com a caixa certa, estará presente na medida e necessidade correta.

Estou vendo que no nosso Vendas & Trocas tem um par de JBL L100 Classic para vender por 25 mil reais, e ainda não foi vendido. Meu amigo, por esse preço, será muito difícil achar uma caixa de três vias superior a ela. Se você está pensando em um upgrade de caixas e possui uma sala entre 16 a 32 metros quadrados, coloque essa caixa no seu radar, pois além de tudo, com todos os integrados que testamos nos últimos seis meses, ela se destacou de maneira encantadora.

Voltando ao Line Magnetic, confesso que por mim usaria somente a L100 Classic para a realização do teste, mas como tínhamos à mão outras caixas com 90 dB de sensibilidade ou mais, acabamos por ouvi-lo também com a Elipson Heritage XLS 15 (leia Teste na edição 288), Monitor Audio Gold 300 (leia teste na edição 290) e Wharfedale EVO 4.4.

E com todas essas quatro caixas, pudemos ver o quanto este integrado é versátil e refinado.

O que mais me impressionou é que, ainda que ele tenha uma sonoridade bem quente e cativante, essas qualidades não encobrem uma transparência e naturalidade na medida certa.

O que mais admirei e me encantei com o Line Magnetic foi com instrumentos acústicos e vozes. Pois podemos nos ater aos detalhes, sem jamais nos perdermos do todo, mesmo em volumes reduzidos – o que só comprova seu impressionante silêncio de fundo e sua capacidade de organizar o acontecimento musical, entre as caixas, de maneira muito correta e coerente.

Para entender o que quero dizer com ‘organização’ entre as caixas, é preciso entender que isso só é possível se a eletrônica e a gravação, claro, tiverem uma correta apresentação de largura, altura e profundidade. Sem essa base, a organização do acontecimento musical será pobre e fatigante.

Junto a essa característica, é necessário que além de planos bem definidos, o foco, recorte e ambiência também sejam de alto nível. Pois do contrário, os solos e vozes no meio de uma orquestra soarão borrados.

O Line Magnetic, possui todas essas qualidades em alto nível!

E, por fim, a ‘cereja do bolo’ da organização musical entre as caixas: a materialização do acontecimento musical à nossa frente.

Em excelentes gravações, quando você escuta uma eletrônica com esse grau de assertividade, seu cérebro realmente se rende ao encanto. Foi aí que entendi porque a esmagadora maioria dos elogios nos fóruns internacionais, fala da capacidade sedutora de se ouvir música nesse amplificador. Sim ele é bastante sedutor, mas não cai na armadilha de soar doce demais ou letárgico.

Ao contrário, seu grau de sedução não perde o senso de responsabilidade de reproduzir a música da maneira mais correta possível dentro de seus 24 Watts.

Veja que não iniciei a avaliação falando do alicerce de nossa Metodologia – o equilíbrio tonal. E o fiz por um único propósito: saber que, como toda topologia de vácuo, o upgrade nas válvulas pode mudar o produto significativamente de patamar. Infelizmente não pude fazer essa experiência, ainda que se deseje muito ouvir o Line Magnetic com válvulas 300B e 845 de qualidade premium. Pois sei que seu equilíbrio tonal, certamente mudaria de patamar.

Com as válvulas que vieram de fábrica, não há nada de errado com este quesito. Mas em termos de decaimento nas altas, com válvulas superiores certamente teríamos a reprodução de ambiências ainda mais impressionantes, assim como na fundação da primeira oitava dos graves. Pois potência para isso, com as caixas certas, não será nenhum problema.

Outra característica que me chamou muito a atenção, foi a qualidade na reprodução do corpo dos instrumentos, uma questão que sempre vejo ser levantada nos fóruns quando discutem sobre amplificação de baixa potência, da dependência de caixas de altíssima sensibilidade (acima de 98 dB) para equilibrar a macrodinâmica e o corpo harmônico dos instrumentos. Desse problema o Line Magnetic não sofre, pois em todas as caixas utilizadas no teste, entre 88 dB e 92 dB, a apresentação do corpo harmônico foi impecável!

À medida que fomos fazendo as audições com as quatro caixas, ficou patente o quanto é preciso experimentar as opções de ouvir as caixas ligando-as nas saídas de 4, 8 ou 16 ohms, ainda que o fabricante da caixa especifique sua impedância. Na JBL (que é 4 ohms) e na Wharfedale (que é 8 ohms) o melhor resultado foi com 8 ohms. A Elipson (que é 6 ohms) teve o melhor casamento com a saída 4 ohms, assim como também a Monitor Audio Gold 300 (que é 8 ohms).

Quanto à cabos, o Line Magnetic se mostrou altamente compatível tanto com todos os cabos de força, como de interconexão e caixa. E não se mostraram nem um pouco exigentes, mostrando suas inúmeras qualidades com todos.

Mas eu gostei muito do Sunrise Lab Quintessence Aniversário de força e de interconexão (RCA), com os Virtual Reality Trançado nas quatro caixas. Compatibilidade não é loteria, meu amigo, compatibilidade é acerto de projeto.

Quando um produto é muito bem desenvolvido, sem pontas soltas, a possibilidade de uso de inúmeras opções de cabos é sempre muito maior.

CONCLUSÃO

O integrado Line Magnetic 219IA merece todos os elogios de crítica e de consumidores que vem recebendo desde o seu lançamento.

Acredito que possa ser o ‘porto seguro’ para todos que desejam a sonoridade de topologias 300B e 845, de baixa potência, mas que nunca se aventuraram por esses mares, por receio ou por achar que as opções até então existentes estavam além de seu bolso.

Extremamente bem construído e com uma performance tão cativante, que certamente irá conquistar uma legião de audiófilos que desejam imprimir a suas gravações favoritas esse alto grau de sedução.

Se você é daqueles que adora, na calada da noite, ouvir seus discos enquanto o mundo adormece, sem incomodar ninguém, mas se sentia decepcionado que em baixos volumes muito se perdia da música, você vai amar o 219IA, acredite!

Com caixas com no mínimo 90 dB de eficiência, bons cabos e fontes de bom nível, você pode ser levado ao paraíso sem ter que vender a alma ao diabo, meu amigo!

Nota: 96,0
AVMAG #290
Elite Sound

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(19) 99713.5005
R$ 50.000 (preço promocional)

AMPLIFICADOR INTEGRADO BOULDER 866

Fernando Andrette

Começar o teste lembrando do quanto os amplificadores integrados evoluíram nessa última década, é como chover no molhado! Ainda assim, é preciso.

Pois muitos leitores são céticos, e muitos outros que estão apenas iniciando sua jornada, são bombardeados com tantas informações desencontradas, que vale a pena lembrá-los (ou seria alertá-los?), que um bom integrado pode fazer sua felicidade vir muito antes do que ele esperava.

Eu, assim como das caixas bookshelf, sou fã de integrados. Afinal aprendi, na prática, que em muitas situações o menos pode ser realmente mais. E em todas as oportunidades que tenho em minhas consultorias, de indicar integrados, eu não hesito um segundo!

E não pensem que minha tentativa de convencimento seja o velho e surrado tema de ‘menos um cabo de força e um cabo de interconexão’ (ainda que tanto para o bolso, quanto para a instalação, seja um consistente argumento), e sim pelo fato de que muitos integrados de ponta irão atender perfeitamente, seja o iniciante, como o audiófilo rodado.

Basta uma consulta ao nosso top five para observar o nível de pontuação dos mais recentes integrados, e fazer uma conta rápida ‘de padaria’, para perceber o quanto se torna imbatível a relação custo/performance de um integrado, versus um pré e power.

Eu não gosto de profetizar, mas tenho a convicção de que a barreira dos 100 pontos para os integrados esteja bem perto de ser quebrada. E quando isso ocorrer, ficará ainda mais difícil defender os prés e powers até 100 pontos de que sejam uma melhor solução.

O integrado Boulder 866 é um excelente integrado, e antes de descrevê-lo, gostaria de lembrar a todos os nossos leitores, que assim como todos os prés e powers Estado da Arte possuem sua assinatura sônica, o mesmo obviamente ocorre também com os integrados Estado da Arte. E descobrir se essa ‘assinatura’ lhe agrada e é o que você procura, é essencial ouvir antes de sair gastando seu suado dinheiro.

Aqui tentamos, de forma exaustiva e minuciosa, mostrar o que observamos ao colocar o produto em teste com o maior número de equipamentos disponível naquele momento, e fechar a pontuação apenas quando ele é confrontado com o nosso Sistema de Referência.

O que percebi ao longo destes últimos três anos, é que os fabricantes de integrados de ponta estão optando por entregar ao consumidor pacotes completos com DAC, Streamer e alguns até com pré de phono. Vejo nessa estratégia dois lados: o bom é de facilitar a vida do consumidor, e o ruim é os recursos não estarem no mesmo nível de performance. Então é preciso avaliar criteriosamente as notas separadas (como amplificador, DAC, Streamer, etc.), para ver se atendem a suas expectativas.

Ou simplesmente (se for possível), comprar apenas o integrado pelo seu nível de performance.

Deste fabricante, testamos apenas o primeiro integrado, já fora de linha há um bom tempo, e o pré de phono 508 que tive como minha referência por três anos. E, claro, ouvi em alguns eventos e na casa de leitores, alguns prés e powers.

A Boulder é conhecida e reconhecida por ser uma empresa ‘verticalizada’, que procura ter domínio integral em todas as etapas de produção, e que não abre mão de pesquisar ‘fora da caixinha’ para desenvolver soluções que fogem à regra (um exemplo: seus DACs).

O 866 é um classe AB, com streaming, DAC (opcional), com três entradas analógicas XLR, entradas digitais Ethernet, USB (4), AES/EBU, Toslink e Wi-Fi. Seu DAC aceita PCM até 32/384, e DSD até 128. Todos os arquivos são submetidos a upsampling e oversampling à 192 kHz. A potência máxima contínua de saída é de 200Watts em 8 ohms, e 400Watts em 4 ohms. com potência de pico de 700 Watts em 2 ohms. Com peso de 24.5kg, é todo feito em alumínio anodizado prateado.

Seu design é totalmente diferenciado, com sua frente chanfrada que permite uma visão de sua grande tela até 10 metros de distância. Seu painel, tirando a tela à direita, é bastante minimalista, com apenas quatro botões grandes (que possuem a função de: aumentar e diminuir o volume, mute e standby/ligado).

No painel traseiro, temos as três entradas analógicas, todas XLR – o que pode ser um problema para os que tem um pré de phono RCA, que neste caso terão que usar um adaptador RCA para XLR, e a própria Boulder tem esses adaptadores (o meu 508 veio inclusive com um par) – os terminais de caixa tipo borboleta e o arsenal de entradas digitais na versão com DAC ao centro do painel.

Segundo o fabricante, o 866 tem a mesma técnica de aterramento que existe no seu power top de linha, o 3050, e que essa implementação faz toda a diferença na performance final.

Quanto ao chip utilizado no DAC, a Boulder fala muito pouco e sem nenhuma pista de como seja produzido. A única informação disponível que tivemos é que: “Em vez de deixar o DAC fazer a computação, fazemos nossa própria matemática DSP e, em seguida, alimentamos esses dados para o chip DAC. Sempre enviamos o mesmo tipo de dados para o DAC, independentemente do tipo de arquivo que esteja sendo usado. Se existisse um chip DAC superior à nossa solução, usaríamos ele – mas ainda não encontramos um que suporte a reprodução de DSD 64 e 128”.

Para instalar o Roon, e o próprio programa da Boulder para Streamer, contei com a ajuda do Heber da Ferrari. E depois de tudo devidamente ligado, foi só colocá-lo para amaciamento.

O arsenal de caixas que pudemos colocar com o Boulder foi realmente grande: JBL Classic 82, Elipson Legacy 3210, Elac Reference Debut 52, Estelon YB, e Wilson Sasha DAW. Para avaliar o DAC, utilizei o transporte da Nagra CD, através do cabo AES/EBU Absolute Dream da Crystal Cable. Os cabos de caixa foram: o Virtual Reality Trançado, o Oyaide Across 3000 B, e o Apex da Dynamique Audio. Cabos de força: Quintessence Aniversário da Sunrise Lab, e Transparent PowerLink MM2. Pré de phono: Gold Note PH-1000. Cabos de interconexão: Dynamique Apex, e Sunrise Lab Quintessence XLR.

Como todos os integrados que disponibilizam ‘pacotes’ as notas serão, na conclusão, separadas, na tentativa de ajudar o nosso leitor a entender o nível de cada proposta.

O Boulder necessita de pelo menos 200 horas de queima, para o amplificador, o DAC e o Streamer. Sua sonoridade irá mudar sutilmente do instante que é acionado, até a queima final. O que muda de forma audível é a qualidade do soundstage (largura, altura e profundidade) e o corpo harmônico. Em termos de equilíbrio tonal, transientes, textura, micro e macro, ele já sai tocando em excelente nível. O que é bom para o usuário já ir de cara aproveitando suas virtudes!

Antes de descrever suas qualidades, em todos os quesitos da Metodologia, o que mais chama a atenção é sua ‘autoridade’ em dirigir qualquer uma das caixas que tínhamos à disposição. Ele realmente possui folga suficiente, permitindo mesmo em passagens complexas com grande variação dinâmica que o ouvinte não perca o fio da meada. O que o coloca naquele grupo de integrados que não teme grandes desafios e nem tampouco escolhe gêneros musicais em que se sairá melhor.

Seu equilíbrio tonal é muito correto, com excelente extensão nas duas pontas, com arejamento nas altas suficiente para nos mostrar detalhes de ambiências e decaimentos corretos. Os graves possuem fundação precisa nas fundamentais, com bom corpo e deslocamento de ar. A região média é bastante transparente sem, no entanto, jogar mais luz que o que foi captado e mixado.

Ou seja, nada de pirotecnia onde não foi colocado.

Ele me lembrou muito a assinatura sônica do pré de phono, pelo seu grau de acerto no equilíbrio, entre neutralidade e transparência.

Seu soundstage, em termos de largura, altura e profundidade, é muito bom, principalmente em gravações de música clássica, em que os planos são retratados de maneira correta com bom foco e recorte. O silêncio de fundo certamente ajuda na composição desta ‘imagem’ sonora.

As texturas serão muito dependentes do sistema ligado à ele e, principalmente, das caixas e dos cabos. Gostei mais das texturas quando o 866 estava ligado às Elac e às JBL (das caixas mais de entrada) do que com a Elipson. E com o cabo Trançado de caixa da Virtual Reality.

Já com a Estelon YB e a Sasha DAW, as texturas estavam muito mais próximas do que escuto em nosso Sistema de Referência – se bem que é totalmente injusta essa comparação em termos de preço e performance, e faço apenas para que o leitor tenha a ideia do que o Boulder deverá ter como um par de caixas, em que o equilíbrio tonal seja mais para o neutro quente.

A resposta de transientes é espetacular! Todos os exemplos que utilizamos para fechar as notas deste quesito, o 866 passou com total mérito. O amante de ritmo/tempo irá se esbaldar com a performance deste integrado!

A dinâmica também foi de alto nível. Tanto a microdinâmica (aqui novamente mérito do silêncio de fundo), como a macro, graças a sua excelente folga e autoridade sobre as caixas utilizadas.

No quesito corpo harmônico, o comprador deste integrado terá que ter paciência e aguardar a queima total, pois nas primeiras 200 horas ele irá soar um pouco magro. Mas, depois de queimado, ele ganha corpo e as diferenças entre os instrumentos em termos de tamanho se revelam muito boas. Os melhores exemplos para saber que o corpo harmônico chegou lá, são gravações de piano solo e duos de contrabaixo e celo. Esses exemplos, quando bem captados, são matadores para se tirar a prova dos nove deste quesito. Claro que o ideal para avaliação de corpo harmônico será o uso de colunas e não de caixas bookshelf. Ainda que em boas bookshelfs, este quesito tenha nos últimos anos melhorado significativamente.

A materialização física do acontecimento musical (organicidade), quando utilizamos o analógico e o digital de referência, foi uma ‘pêra doce’! Mostrando que o integrado realmente é um excelente Estado da Arte.

E, por fim, a musicalidade dependerá mais dos seus pares (fontes analógica e digital), cabos e caixas. Minha dica: parceiros que primam pelo melhor equilíbrio possível entre neutralidade e naturalidade.

Como DAC, foi uma grande surpresa ver que se encontra no mesmo nível do amplificador. Gostei muito da forma com que o DAC interno codifica o sinal, de maneira limpa, equilibrada, sem pirotecnia, ainda que todo o sinal passe por upsampling. Comparando com o nosso DAC de referência, o que falta ao DAC interno do 866 é uma maior folga e realismo. É ainda audível aquela ‘digitalização’ inerente nos DACs mais modestos, mas sem comprometer o prazer em ouvir a música. E vale a pena lembrar que falamos novamente de um comparativo desproporcional em termos de preço e performance. E que só fazemos para poder pontuar o produto em teste de maneira correta e justa!

Quanto ao Streamer, ele se encontra em um degrau abaixo do DAC, mas ainda assim – quando ligado à rede e não wi-fi – é muito bom. Minhas restrições, como todo Streamer, são em relação ao soundstage, que sempre é menos profundo do que deveria. E o corpo harmônico é sempre menor. Mas não pensem que os outros integrados tenham descoberto a solução para o problema.

CONCLUSÃO

O Boulder 866 é uma das melhores soluções de integrados atuais. Feito por um fabricante com grande experiência em produtos de ponta, e que disponibiliza uma solução integrada para quem necessita de ‘tudo em um’. Se você se enquadra nesse perfil, minha sugestão é que você o ouça em seu sistema.

AMPLIFICADOR INTEGRADO BOULDER 866 (como streamer)Nota: 84,0
AMPLIFICADOR INTEGRADO BOULDER 866 (como dac)Nota: 96,0
AMPLIFICADOR INTEGRADO BOULDER 866 (como integrado)Nota: 97,0
AVMAG #280
Ferrari Technologies

www.ferraritechnologies.com.br
(11) 99471.1477
Boulder 866 sem Streaming DAC – US$ 20.400
Boulder 866 com Streaming DAC – US$ 23.000
AMPLIFICADOR INTEGRADO ARCAM SA30

Fernando Andrette

Não testava um produto da Arcam desde o início do século XXI. Escrevendo dessa forma, até parece muito mais tempo do que realmente é. Assim como falar de algum fato importante ocorrido no ‘século passado’, toma um contorno de algo que ocorreu com nossos pais e não conosco, e que apenas ouvimos falar.

Para a minha filha, eu ter nascido em 1958 é algo que parece muito mais antigo do que na verdade é (palavras dela) – o que eu entendo perfeitamente, pois tinha esse mesmo ‘estranhamento’ ao ouvir minha bisavó narrar o pânico que foi a passagem do cometa Halley em 1910!

Puxando pela memória e anotações pessoais, lembro do quanto gostei dos produtos da série FMJ da Arcam (integrados, CD-Players e Receivers).

A Arcam foi fundada em 1976, com o nome de A&R Cambridge Ltd, e por três décadas foi reconhecida por desenvolver produtos robustos e com uma relação custo/performance muito alta. Em 2017 ela foi comprada pela Harman International Industries e que, na sequência, foi adquirida pela Samsung.

Confesso que tinha algumas reservas quando o grupo Harman foi comprado pela Samsung, mas que foram totalmente dissipados ao testar todos os novos lançamentos como os Mark Levinson, caixas JBL e agora o integrado Arcam SA30. Mostrando que a Harman continua tendo total liberdade para manter sua posição de destaque no mercado hi-end sem nenhum tipo de interferência do novo acionista.

O novo integrado SA30 recebeu o prêmio EISA 2020-2021 como melhor amplificador integrado/DAC. E depois de conhecer e testar o produto, concordo plenamente com a escolha. Pois para mim o Arcam SA30 é a melhor surpresa deste início de 2022, tanto pela sua incrível qualidade de construção, como pela performance e versatilidade.
Voltando à minha experiência com os antigos Arcam por nós testados, sempre gostei de sua sonoridade quente, equilibrada e sem nenhum tipo de arroubos ou tendências de modismos sonoros.

E muito dessa ‘sonoridade’ não tenho dúvida que seja pela topologia Classe G proprietária, que emprega duas fontes de alimentação para abastecer os transistores de saída, com o primeiro conjunto de barramentos de alimentação funcionando em Classe A até uma determinada potência e, quando necessária uma energia adicional, o amplificador passa a funcionar em Classe AB. A topologia Classe G proprietária consiste em que essa passagem do Classe A para o AB seja feita em menos de um microssegundo, e apenas pelo tempo necessário, voltando a operar em Classe A imediatamente.

O SA30 possui 120 Watts em 8 ohms e 200 Watts em 4 ohms, com uma distorção harmônica total menor que 0,002% e uma relação sinal/ruído de 112 dB no modo Analogue Direct.

Mas o Arcam SA30 não impressiona apenas em ser um excelente integrado, repetindo a façanha ao apresentar um DAC de alto nível que utiliza o chip DAC ESS Technology Sabre ESS9038Q2M que suporta MQA, duas entradas digitais S/PDIF óticas, e duas coaxiais RCA, além de Wi-Fi e porta Ethernet para conexão de rede. Além disso, traz correção de sala Dirac Live, streaming com suporte para AirPlay2 e UPnP, compatibilidade com Roon Ready e (ufa!) um surpreendente estágio de phono Moving Magnet (MM) e Moving Coil (MC). E, para os amantes de fones de ouvido (sim!) ele também tem um bom amplificador de fone. E para os usuários de Home-Theater, o SA30 possui uma entrada HDMI para conexão de uma TV compatível.

Ou seja, o Arcam SA30 é uma central de entretenimento completa e, o mais importante: verdadeiramente hi-end! E todo esse pacote impressionante por menos de 30 mil reais!

A única entrada que o SA30 não disponibiliza é uma USB tipo B para conexão direta a um computador para reprodução digital. Mas em vez dessa opção, o SA30 oferece uma entrada USB Tipo A para reprodução de arquivos de música através de um dispositivo de armazenamento USB conectado.

O que gostaria de frisar é que neste pacote todo, o nível de qualidade é muito homogêneo e o consumidor terá uma performance consistente em todas as opções (DAC, amplificador de fone, e pré de phono).

As entradas digitais óticas podem aceitar dados PCM com resoluções de até 32-bit/96kHz, e as coaxiais suportam até 32-bit/192kHz.

O seu DAC interno possui sete filtros digitais à escolha do ‘freguês’. Se o usuário quiser fazer uso do recurso da correção de sala, o Arcam disponibiliza um microfone, mas aí os sinais analógicos serão convertidos em digitais com uma resolução de 32/192.

Felizmente o SA30 possui um modo Analogue Direct que mantém os sinais de entrada no domínio analógico, sendo travado o uso do Dirac Live (que bom! Eu explico mais adiante o que é o uso de correção de sala, quando não se necessita desse ‘recurso’).

No painel traseiro, o SA30 oferece três conjuntos de entrada RCA, e entradas phono MM e MC, conector HDMI eARC, conector RS232, dois conectores para antenas Wi-Fi (que estão incluídas no pacote), uma entrada IEC de 15 amperes com uma chave de seleção de 115v ou 230v, e um terceiro bloco com todas as entradas digitais já mencionadas.

No painel frontal temos um grande visor, um conjunto de nove botões: menu de tela, escolha de entradas, Dirac para ativar ou desativar as curvas de correção de sala, mute, info (para mudar as informações do visor), Direct (para ativar ou desativar o modo Analogue Direct), Display para ajuste do brilho do visor e Balance (para ajuste do canal direito e esquerdo). À direita temos o botão de ligar e desligar o SA30, e à esquerda o botão de volume.

Para o uso do streaming interno, a Arcam oferece seu aplicativo Music Life, que suporta Tidal, Qobuz, Deezer, Spotify, Napster, Internet Radio e podcasts.

Para o teste utilizamos todo o nosso arsenal de caixas disponíveis no período: JBL L82 e L100 Classic, Elac Reference Debut 52 e 62, Estelon YB e X Diamond MkII (leia Teste 1 na edição 284), Wharfedale Elysian 4, e Wharfedale Denton.
Não é todo amplificador que tem a possibilidade de conviver com 8 caixas no período de amaciamento e teste.
Como sempre, fizemos as anotações de primeiras impressões e o colocamos para 100 horas de queima inicial. Nas minhas anotações pessoais, escrevi: “Extremamente coeso e musical assim que foi ligado, ainda que frio”.

Com 100 horas, antes de iniciar a primeira rodada de pré avaliação, resolvi testar sua correção de sala. Fiz todos os procedimentos de ajuste (que não leva mais que alguns minutos) e esperei ver que curva de resposta ele me ofereceria. Na ocasião, estava com as caixas Elysian 4 em teste e a curva de resposta cortou em 3 dB os graves até 120 hz e acentuou os agudos acima de 2 khz.

Resultado: o som ficou indecente!

Morrerei batendo na tecla de que é muito mais inteligente corrigir a acústica da sala do que utilizar esses dispositivos de correção. Eles criam um padrão que simplesmente destrói o equilíbrio tonal! Quando fizerem algo realmente inteligente e que contorne os problemas de alterar o equilíbrio tonal, me convidem para ouvir. Em salas tratadas e que não precisam de correção como a nossa, as escolhas são absurdamente incoerentes!

O próximo passo, então, foi se certificar que o sistema Analogue Direct estivesse sempre ligado.

Com 100 horas, ganhamos maior extensão nas duas pontas, e um calor e naturalidade na região média ainda mais cativantes.

Mas achei que seria interessante deixar por mais 100 horas o SA30 amaciando, antes de iniciar todos os testes para avaliação de sua assinatura sônica como integrado, DAC, Phono, Streaming e amplificador de fone.

O que descreverei daqui para a frente, foi feito com três caixas: JBL L100 Classic, Estelon YB MkII, e Wharfedale Elysian 4. Caixas de preços e performances distintas, mas todas de alto nível dentro de sua faixa de preço. E com as três o SA30 se comportou magistralmente.

Sua assinatura sônica, graças ao seu excelente equilíbrio tonal, é muito segura e cativante. O melômano, assim como o audiófilo, poderão desfrutar de horas e mais horas de audição sem nenhum resquício de fadiga ou desinteresse.
O que o coloca no patamar de elite dos integrados é conseguir aliar transparência, naturalidade e musicalidade em uma faixa de preço em que, no momento, não temos nada no mercado. Por isso ele foi de longe a grande surpresa do primeiro trimestre, pois conseguir aliar em um único pacote tantas qualidades, é um feito e tanto.

Seu soundstage é de alto nível, tanto em termos de foco, recorte e recriação de ambiência, como na apresentação dos planos. Com todas as 8 caixas utilizadas, ficou evidente que os apaixonados pela recriação de um palco sonoro consistente irão se deliciar com o SA30.

Com seu equilíbrio tonal tão correto, as texturas são muito favorecidas, tanto em termos de paleta de cores dos instrumentos, como na apresentação de intencionalidade e qualidade da gravação e dos instrumentos. E essas qualidades ficam ainda mais evidentes quando tocamos as faixas deste quesito da Metodologia nas caixas Elysian 4 e Estelon YB MkII (que também primam pela mesma qualidade).

Mas não pense, amigo leitor, que essa apresentação calorosa e refinada não se ‘transforme’ em impetuosidade e velocidade quando a música exige. Os transientes são excelentes, com marcação precisa de tempo e ritmo, permitindo sentirmos a música pulsar e nos envolver, levando-nos a marcar o tempo com os pés.

Na macrodinâmica, dê o par perfeito de caixas e não haverá dúvida que os crescendo e fortíssimos terão o dinamismo escrito na partitura.

Seus 120 Watts se mostraram mais que suficientes para a reprodução de obras bem complexas. E cada uma das três caixas utilizadas para o fechamento das notas, deram conta com total folga e precisão.

E na microdinâmica, qualquer um dos exemplos foi uma verdadeira ‘pêra doce’. Interessante que existem integrados mais transparentes na faixa de 94 a 98 pontos em nossa Metodologia, mas todos os que aqui foram testados com essa pontuação, não tiveram uma melhor apresentação neste quesito. O que ocorre é que alguns, devido a sua maior transparência que o SA30, ‘enfatizam’ determinados detalhes na microdinâmica de forma mais intensa. Enquanto que o Arcam SA30 encara essa mesma passagem de maneira mais concisa apenas.

O corpo harmônico é excelente, como de todos os excelentes integrados na faixa acima dos 94 pontos.

E a materialização física nas excelentes gravações é feita de forma harmoniosa e convincente para o nosso cérebro e nossos ouvidos.

COMO DAC

Seu DAC interno está muito mais próximo do DAC interno do integrado da Gold Note que testamos, do que dos DACs internos dos integrados da Hegel H590 e H390. Achei, como o da Gold Note, mais refinado e com melhor equilíbrio tonal, e isso é uma excelente notícia para quem deseja um integrado definitivo em que não precise investir em um DAC externo de melhor qualidade.

Muito musical, excelente corpo, transientes precisos, boa micro e macrodinâmica, e um equilíbrio tonal correto e com excelente extensão nas duas pontas.

Onde ele não é perfeito? Na recriação dos planos em termos de profundidade e largura. Mas, compensando isso com um foco, recorte e reconstrução das ambiências como em DACs de alto nível (e, claro, muito mais caros).

COMO PRÉ DE PHONO

Aqui foi uma grata surpresa. Infelizmente só consegui testar a entrada MC, mas ela se mostrou de alto nível. Com baixo ruído de fundo, excelente equilíbrio tonal (tão bom quanto do amplificador), dinâmica de alto nível, corpo e soundstage de prés de phono sérios e acima de 2000 dólares no mercado, e com ajustes de impedância restritos, mas muito bem planejados.

Usamos as cápsulas Hana Umami Red e ZYX Ultimate Omega G – duas cápsulas muito acima do valor do integrado e, ainda assim, a performance de ambas as cápsulas foi surpreendente!

COMO STREAMER

Utilizamos apenas Tidal para ouvirmos no Arcam, e comparamos com o Innuos ZENmini MK3 sem uso de sua fonte externa, para sermos mais justos com o SA30.

Vou continuar insistindo na mesma tecla: será que as limitações que deixam quase tudo bidimensional são da topologia ou das plataformas? Enquanto não tiver essa resposta, fica difícil jogar a culpa nos Streamers.

O Arcam nesse quesito está no mesmo patamar dos Cambridges por nós testados. É possível ouvir sua coleção de música, mas não espere um envolvimento profundo com o que está escutando, pois para existir essa ‘conexão’ necessitamos um pouco mais de naturalidade e realismo!

COMO AMPLIFICADOR DE FONE DE OUVIDO

Outra bela surpresa, assim como são o pré de phono e o DAC.

Gostei muito da qualidade do áudio e do silêncio de fundo. Os amantes de fones se sentirão satisfeitos em ter investido no SA30 e levar de ‘brinde’ um amplificador de fone de tão bom nível!

CONCLUSÃO

Sei que muitos nos criticam, por testarmos produtos tão caros e fora da nossa realidade. Mas esses mesmos críticos, deveriam reconhecer o quanto nos esforçamos em mostrar produtos que podem ser a solução final para a sua busca de anos.

O Arcam SA30, a menos de 30 mil reais, ainda está naquela faixa de preço que para muitos é ainda muito caro. Mas, raciocine comigo: quantos amplificadores integrados oferecem um pacote tão amplo, e de qualidade, como o SA30?

Quantos poderão abrir mão de seus módulos de phono, DAC externo, streamer externo e amplificador de fone externo, por um único e definitivo upgrade?

Aqui começa a ficar interessante o custo desse SA30.

E coloque na ponta do lápis o quanto sairia ter esses mesmos benefícios em módulos com esse grau de performance, e fica muito coerente e sensato se pensar no Arcam SA30 como seu futuro upgrade.

Adorei o SA30, se isso for de alguma ajuda aos leitores que estão pensando em ir para essa solução.

E amei sua compatibilidade com as oito caixas que pudemos ouvir com ele.

Se você está naquele grupo de leitores da revista que está querendo definitivamente simplificar seu sistema de áudio, tornando-o mais minimalista sem perder a performance de um Estado da Arte, não ouvir o Arcam SA30 é um erro e tanto!

AMPLIFICADOR INTEGRADO ARCAM SA30 (COMO STREAMER)Nota: 70,0
AMPLIFICADOR INTEGRADO ARCAM SA30 (COMO PRÉ DE PHONO MC)Nota: 88,0
AMPLIFICADOR INTEGRADO ARCAM SA30 (COMO DAC)Nota: 94,0
AMPLIFICADOR INTEGRADO ARCAM SA30 (COMO AMPLIFICADOR INTEGRADO)Nota: 97,0
AVMAG #284
Mediagear

contato@mediagear.com.br
(16) 3621.7699
R$ 28.579

AMPLIFICADOR INTEGRADO KRELL K-300i

Fernando Andrette

O último Krell que ouvi foi o power One, quando avaliei a Dynaudio Platinum. E isso, se bobear, já faz uma década!

O tempo é implacável em nos dar rasteiras, principalmente para pessoas como eu que tem a maior dificuldade de guardar datas de aniversário ou de feriados. Para fazer as provas de história, eu sempre recorri a inúmeros artifícios como memorizar as datas recorrendo a fatos científicos ou grandes catástrofes que ocorreram no mesmo ano. E, ainda assim, muitas vezes eu confundia as bolas e tinha problemas em conseguir a média mensal.

Lançado em 2019, sempre tive curiosidade em ouvir esse novo integrado, já que testamos todos os modelos anteriores do 300i, e por muitos anos ele foi uma de nossas referências e esteve na lista dos Melhores do Ano (inclusive o usei no Hi-End Show de 2011, em nossa sala).

E a curiosidade só aumentou quando soube que era um projeto pessoal do Dave Goodman, atual diretor de desenvolvimento da Krell, e que está na empresa há 32 anos! E que ele implementou e registrou a nova tecnologia iBias (mais abaixo falo dessa tecnologia), e o DAC opcional do novo K-300i. Sempre achei Dave Goodman muito competente, e por isso mesmo seria peça chave no novo momento da Krell no mercado.

Segundo o fabricante, os principais destaques deste novo K-300i inclui baixo feedback negativo, circuito totalmente diferencial, transformador de potência de 771VA com 80.000uF de capacitância, e controle de volume Cirrus Logic CS3318 que funciona balanceado, para garantir os sinais de entrada permaneçam balanceados (inclusive do DAC opcional) até atingirem o estágio de ganho principal do amplificador.

Outro importante diferencial (segundo o fabricante), é que os circuitos até o estágio de driver operam em classe A pura. A tecnologia iBias permite que o amplificador forneça até os primeiros 90 Watts em classe A, sem gerar calor excessivo, e o consumo típico dos tradicionais classe A.

E que essa nova tecnologia também está sendo utilizada nos novos powers de maior potência que estão sendo lançados (na Axpona e em Munique neste ano, já foi apresentado o modelo estéreo de 400 Watts em 8 ohms).

O K 300i produz 150 Watts em 8 ohms, e 300 Watts em 4 ohms. O módulo DAC opcional usa o chip ES9028PRO Sabre, possui uma entrada USB-B que aceita sinal de dispositivos externos como HDs, drives NAS e computadores, e um receptor Bluetooth com aptX, entradas HDMI 2.0 e HDCP 2.2, e uma saída HDMI.

Para uso deste DAC opcional, o K-300i disponibiliza uma entrada ótica TosLink e Coaxial S/PDIF, uma entrada Ethernet. No painel frontal temos o botão de energia, seleção de fonte, navegação, menu e volume, e uma entrada USB-A para reprodução de pendrives e, à direita deste painel um visor iluminado.

Minha única crítica a esse novo visual do K-300i é referente ao volume no painel que é muito reduzido. O ideal seria que, quando acionado, ele ocupasse a tela toda por alguns segundos, e depois voltasse a mostrar a entrada que está sendo utilizada.

Você pode definir fontes de saídas variáveis, e até utilizar uma opção ‘fixo’, para permitir que o K-300i seja utilizado em um sistema de home theater.

No painel traseiro, temos dois pares de entradas de áudio analógicas balanceadas, e três pares de entrada RCA. Além de todas as opções de entradas digitais, caso o usuário tenha optado pela versão com o módulo DAC.

Voltando ao DAC, ele processa totalmente MQA com Roon, decodifica PCM até 24/192 por meio das entradas coaxial, HDMI e USB-B, e a entrada ótica está limitada a 24/96.

Pela entrada USB-B é possível reproduzir DSD até 128. Já o áudio de entrada USB-A do painel frontal, funciona em conjunto com um aplicativo Conversdigital MConnect Control, em download para iOS e Android, para decodificar PCM 24/192 e, nessa entrada, reproduz apenas DSD 64.

Esse aplicativo MConnect Control também lida com streaming de áudio de rede do Tidal, QoBuz, Spotify, Deezer e rádio da internet.

Gostei muito do controle remoto que, além de eficiente, coloca todos os principais controles em suas mãos e não é de plástico e sim de alumínio.

O único inconveniente é na hora da troca das pilhas, pois você precisa de uma chave de fenda Torx para remover quatro parafusos (mas nada que qualquer audiófilo já não tenha feito na vida, se teve um produto deste nível).

Para o teste utilizamos os seguintes cabos de força: Transparent PowerLink MM2, Virtual Reality Trançado, Sunrise Lab Anniversary, e Kubala Sosna Realization. As caixas, na maior parte do teste, foram: JBL L100 Classic, Wharfedale Denton, Elipson Heritage XLS 15, e Estelon X Diamond MkII. Cabos de caixa: Sunrise Lab Anniversary, Dynamique Audio Apex, e Virtual Reality Trançado. As fontes digitais foram: DAC MSB Reference (leia Teste 1 na edição 286), Innuos ZENmini Mk 3, e TUBE DAC Nagra. Quando ouvimos o DAC interno, utilizamos o cabo coaxial Sunrise Lab Anniversary, e um Crystal Cable Absolute Dream.

Felizmente o K-300i veio totalmente amaciado, o que nos ajudou a colocá-lo por apenas duas horas para estabilizar sua temperatura, e já passamos a apreciar suas enormes qualidades.

Fiquei, de cara, surpreso em ver que da assinatura sônica que conhecia de todo Krell que avaliei ou tive, muito pouca coisa restou. Ou seja, a nova direção soube acompanhar as mudanças de mercado, e se adaptar aos ‘novos tempos’, em que força aliada à folga elevam o grau de satisfação do ouvinte, e atendem a muito mais audiófilos e melômanos! E o K-300i possui, na minha opinião, essas duas qualidades na medida exata.

Por isso está recebendo tantos elogios e testes tão entusiasmados de revisores que, como eu, se surpreenderam com a guinada que a marca deu. Escrevo há anos que não é preciso que um produto hi-end esteja sempre com a faca nos dentes, mesmo em passagens sutis. Pois a música não é feita apenas de ‘tensionamento’, e que um bom produto mostre sua capacidade de resolução dinâmica apenas quando a música assim exigir. Pois a energia em excesso não permite que o ouvinte relaxe e aprecie a música em sua totalidade.

É uma marca que, por décadas, foi vista e admirada pela busca incessante de grandes arroubos dinâmicos – e dar essa ‘guinada’ em aliar à essa qualidade uma apresentação mais natural, isso representa um grande mérito, e que certamente está sendo o motivo central de tanta surpresa para muitos que, como eu, fazia tempo que não ouvia um produto Krell. Meu último Krell foram os powers Evo 400, que substituíram o estéreo Accuphase A60, que foi insuficiente para a nossa nova Sala de Referência. E ainda que eles tenham ‘domado’ minhas Dynaudio Temptations, sempre achei que em muitos momentos a música ganhava uma ‘tensão’ que em muitos outros powers não existia. Ainda que fosse admirável aquela energia ‘avassaladora’ na macrodinâmica, de obras complexas como grandes sinfonias.

Gosto de usar como exemplo se um power está ou não passando do ponto na aplicação de energia, a gravação da Reference Recordings do História de um Soldado de Stravinsky, pois essa obra foi escrita para um grupo de câmara, e que tanto a percussão quanto o contrabaixo é que determinam o limite da macrodinâmica (principalmente o tímpano). E se o grau de energia for excessivo, é notório como parece que o tímpano excedeu na energia utilizada, assim como o contrabaixo quando tocado com arco, pois ambos encobrem os instrumentos de sopro e o violino solo.

Lembro que muitos audiófilos adoram esse momento, pois acham que o sistema está sendo fiel ao que foi gravado. E sempre pergunto aos participantes dos nossos cursos: será que esse arroubo está na partitura? Não precisa ser músico para perceber que não está. Pois seria estranho em uma obra para orquestra de câmera, o tímpano soar com um ffff de uma passagem em uma obra sinfônica, como a Sagração da Primavera, por exemplo, do mesmo compositor.

São detalhes meu amigo, mas que fazem toda a diferença e nos mostram de forma precisa essa questão de estar com a ‘faca nos dentes’ o tempo todo. E isso não ocorre apenas com powers e integrados, também é comum em muitos DACs e CD-Players. Essa é uma ‘cultura’ do final do século passado, de buscar a qualquer custo a melhor
macrodinâmica possível, e aí ‘descobriu-se’ o outro lado, tão importante quanto, que é a folga!

Veja que para observar esses ‘fenômenos’ auditivos não precisamos ser nenhum especialista ou possuir ‘ouvido de ouro’ (como abomino esse termo). Basta se cercar de exemplos musicais decentes e, claro, ter tido a oportunidade de ouvir essas obras ao vivo em algum período de nossas vidas.

É óbvio que o primeiro disco que ouvi para saber o quanto o K-300i evoluiu neste comportamento, foi essa obra. E fiquei surpreso e feliz como ela foi reproduzida, na íntegra, por esse integrado! Pois existe precisão, mas também existe a sutileza. Existe a riqueza harmônica, e o contraste tão importante nas texturas dos instrumentos de sopro e cordas. O silêncio (tão importante nessa obra), está fidedigno, assim como o silêncio em volta de cada instrumento solo. Com um foco e recorte primorosos, e uma tridimensionalidade nos planos só existentes nos mais refinados integrados que testamos até o momento. E existe calor, naturalidade, pulsação, ritmo tudo na medida certa. Respeitando a escrita e execução. Sem contar com a captação primorosa do Professor Jonhson da Reference Recordings!

Pode parecer pretensão da minha parte, meu amigo, mas eu – depois da audição deste disco – poderia dar por encerrado esse teste, pois o que ouvi me convenceu plenamente (em todos os 8 quesitos) do alto grau de refinamento do K-300i. Mas temos um protocolo a seguir, faça chuva ou faça sol, e lá fomos nós passar todas as 80 faixas da Metodologia.

Seu equilíbrio tonal nos faz entender rapidamente o quanto nosso cérebro jamais se preocupa em saber se o que estamos ouvindo é fruto de uma topologia valvular ou de estado sólido. Nosso cérebro (quando treinado e com referências seguras), quer saber se o equilíbrio é correto ou não. E nesse quesito o Krell é persistentemente correto.

Persistente, pois com sua folga, poderia se dar ao luxo de querer estender um pouco mais no extremo agudo, ou a primeira oitava embaixo, e não o faz. A região média é transparente e natural, os agudos são livres de brilho ou dureza, e os graves são imponentes sem se tornarem protagonistas nunca. O que se traduz em longas audições com zero de fadiga auditiva – zero!

Seu soundstage, como descrevi na História de um Soldado, é 3D, como só apreciado em sistemas Estado da Arte top, com um mérito: a profundidade da imagem que, na maioria dos outros integrados, é menor que a largura e altura, e no K-300i é terminantemente igual!

Isso nos leva a apreciar obras sinfônicas com um interesse suplementar. Ouvi o LP Insight da pianista Toshiko Akiyoshi e seu marido Leo Tabackin, grudado na cadeira. Quem conhece essa obra ou tem esse disco, sabe da dificuldade nos crescendos mais intensos de manter os metais no fundo do palco, bem separados dos solistas na frente, e muitos solando nas laterais e não ao centro do palco.

Poucas eletrônicas conseguem fazer os solistas soarem para além das caixas (principalmente o primeiro saxofone, que sola no canal direito, e que nos bons sistemas soa para mais de um metro fora da caixa). No K-300i quase consegui esse mérito de soar a um metro fora da caixa, quase!

Mas em relação a manter o resto dos metais em seus planos, foi primoroso!

As texturas, junto com o equilíbrio tonal, na minha opinião, descrevem a beleza inata deste integrado. Pois esses dois quesitos, quando no mesmo nível, refletem a beleza que o sistema pode reproduzir. O K-300i estará certamente por muitos anos entre os meus preferidos nestes dois quesitos. Mas não se trata apenas de beleza e sim de fidelidade, permitindo a reprodução de intencionalidade dos arranjos, da qualidade dos músicos, de seus instrumentos e da captação, como muitos poucos integrados conseguem.

E chegamos à dinâmica, o ‘cartão de visita’ de todo Krell, desde sempre. E essa virtude não se perdeu. Diria apenas que se tornou mais ‘polida’ e requintada. Só se apresentando quando exigida e nunca, como antes, sempre presente além do necessário. E a micro, graças ao seu grau de transparência e silêncio de fundo integralmente correto.

Em termos de corpo harmônico, não me lembro de nenhum modelo da Krell ter qualquer dificuldade em reproduzir o que foi captado, e não foi diferente no K-300i.

E a organicidade foi um exemplo a ser seguido por todos os integrados que desejam galgar esse grau de performance. A materialização será realizada em todas as gravações que assim permitam, sem esforço adicional nenhum.

OUVINDO SEU DAC INTERNO E STREAMER

Depois de passar as 80 faixas da Metodologia, escolhi uma de cada quesito para ouvir no DAC interno do K-300i.

Gostei muito do DAC, ele não é superior ao do SA30 da Arcam, ou do IS-1000 da Gold Note, soando bastante similar a ambos.

Mas aquela beleza do 3D se perde um pouco, assim como o equilíbrio tonal não tem a mesma extensão e decaimento como nos DACs de Referência que usamos para avaliar o integrado. Mas sem essas referências externas muito mais caras, garanto que vocês irão se surpreender com sua qualidade. Pois tudo soa com suficiente folga, refinamento, calor e naturalidade, sem tirar as maiores qualidades do amplificador dos trilhos!

Seu streamer, como dos seus concorrentes aqui citados, é também muito semelhante. Não estando no mesmo nível do DAC (mas isso é uma deficiência da plataforma e não do aparelho). E ainda que seja inferior à nossa referência (o Innuos ZENmini Mk3), cumpre perfeitamente com o papel ao ter um equilíbrio tonal bom e nos permitir conhecer um universo de obras à nossa disposição. Mas, se for usado apenas o streamer, o K-300i estará sendo sub utilizado, não tenha dúvida disso.

CONCLUSÃO

Se você já possui um DAC Estado da Arte, e deseja apenas realizar um upgrade em sua amplificação, o K-300i deve estar na lista principal de escuta (principalmente se tiver uma sala com mais de 20 metros quadrados, caixa com sensibilidade média e estilo musical mais complexo), e a economia com o módulo DAC opcional você pode até usar para um cabo de força de maior qualidade.

E se você também necessita de um upgrade no DAC, a opção que a Krell oferece, além de atualizada, não compromete em nada a performance do K-300i como amplificador!

Ou seja, é um aparelho que está na linha de frente dos integrados atuais, e pode perfeitamente resolver seu problema de simplificar seu sistema sem perda de qualidade alguma (se este for seu caso, de trocar um pré e power por um integrado de altíssimo nível).

Outro grande trunfo deste novo integrado é que essa nova topologia iBias realmente funciona, pois por seis semanas ele funcionou em regime de quase 13 horas diárias sem jamais superaquecer. E dificilmente, em condições normais, se precisará mais do que os 90 Watts em Classe A para apreciar qualquer gênero musical.

Se ele estiver dentro do seu orçamento, não deixe de ouvi-lo!

AMPLIFICADOR INTEGRADO KRELL K-300i (COMO DAC)Nota: 93,0
AMPLIFICADOR INTEGRADO KRELL K-300I (COMO AMPLIFICADOR INTEGRADO)Nota: 99,0
AVMAG #286
Ferrari Technologies

info@ferraritechnologies.com.br
(11) 98369.3001 / 99471.1477
Versão sem DAC: R$ 59.900
Versão com DAC: R$ 75.900

AMPLIFICADOR INTEGRADO SUNRISE LAB V8 ANNIVERSARY EDITION

Fernando Andrette

Conheço o engenheiro Ulisses Faggi desde antes dele fundar a Sunrise Lab, quando seu pai ainda era vivo e ele me chamou para ouvir uma caixa book que havia feito, e a ouvimos ao ar livre, ligada ao primeiro integrado da Krell que havia sido apresentado no Hi-End Show de 1996!

Ou seja, lá se vão 26 anos que acompanho a carreira deste brilhante projetista, e sempre vi em sua maneira de buscar soluções para problemas complexos, uma enorme humildade e aquela gana de jamais desistir enquanto não houvesse solução para aquela questão.

Como ele havia largado um seguro emprego em uma multinacional para realizar seu sonho de uma carreira solo, por mais de uma década o Ulisses foi técnico do segmento hi-end mais solicitado que conheci.

E esse período foi uma pós graduação de alto nível, pois ele consertou todos os equipamentos hi-end que você possa imaginar, e cada um desses equipamentos foram de enorme valia para ele ir construindo em sua mente circuitos, topologias e maneiras de ampliar e exercitar a ‘engenharia reversa’, para entender no âmago como determinados produtos soavam tão melhores que outros, muitas vezes muito mais caros e complexos.

Mas o Ulisses técnico sempre dedicou um tempo para que o Ulisses projetista existisse paralelamente, ainda que de maneira esporádica, mantendo viva sua grande paixão de criar produtos que tivessem sua identidade e pudesse mostrar ao mercado seus conceitos e virtudes.

Acompanhei como espectador ativo todo esse processo em ebulição, pois sempre fui solicitado a ouvir todos os protótipos feitos pela Sunrise Lab nos seus 20 anos.

E sempre dei muitos ‘pitacos’, propondo desafios cada vez maiores, pois percebi que o potencial a ser lapidado era gigantesco.

Quando ele me comunicou que pararia com a área de manutenção de equipamentos, incentivei ele a ir buscar a realização do seu sonho, pois a vida é tão rápida e não podemos frustrar nossas maiores ambições e desejos.

A partir dessa virada de página, o volume de novos produtos foi cada vez mais consistente, começando com o primeiro integrado, o Music Box, um CD-Player (lembram?), cabos, pré de phono, e o mercado aos poucos assimilou que a Sunrise Lab era um fabricante disposto a galgar um lugar no seleto nicho de produtos top.

Mas produzir algo nesse país é uma coisa tão ‘hercúlea’, que a maior parte da energia é gasta buscando alternativas e soluções, e não usados na evolução dos produtos. Porém, quando temos talento, determinação e conhecimento, não há como impedir que as coisas aconteçam.

E os últimos cinco anos têm sido auspiciosos para a Sunrise Lab, com novos produtos muito mais sofisticados e uma aceitação impressionante, o que propiciou planejamentos ainda mais desafiadores e uma meta a ser alcançada o mais rápido possível: desenvolver no Brasil um amplificador integrado capaz de ombrear com os melhores integrados existentes atualmente no mercado, tanto em termos de robustez como de performance.

Eu acompanhei como uma testemunha ocular e auditiva desde o nascedouro desse projeto e, a cada etapa vencida, e cada protótipo ouvido em nossa Sala de Referência, antes de devolver o produto com as minhas observações, me perguntava: qual o ‘teto’ desse lindo projeto?

Para o leitor ter uma ideia do preciosismo e o tempo gasto com esse projeto, só eu ouvi cinco versões e, na última versão, fui enfático em achar que estava perfeito! Mas todos os meus argumentos não convenceram, e o Ulisses continuou buscando um refinamento na performance do produto que já era de altíssimo nível!

Os meses passaram, a pandemia dificultava as visitas, e para complicar tive o problema que me levou a dez dias na UTI no final do ano.

Em março, o Ulisses me ligou dizendo que agora ele achava que finalmente havia chegado à topologia tão desejada, e me trouxe o produto acabado para escutar. Fiquei emocionado ao ouvir algumas faixas da Metodologia e perceber o grau de refinamento e folga que a Edição 284 de Aniversário havia alcançado.

E ainda que ele tivesse características do penúltimo protótipo que havia tanto apreciado, eu tive que dar a mão à palmatória, pois o resultado geral excedeu em muito ao modelo anterior.
Os leitores que possuem as versões anteriores do V8, tomarão um susto ao ouvir que essa edição especial, muito pouco possui do DNA das gerações anteriores, e por muito tempo o Ulisses e o Juan discutiram internamente se este novo produto deveria ser considerado um V8, ou se deveria romper com a série tão consagrada que vendeu mais de 120 unidades (um fato inédito para qualquer fabricante de áudio hi-end pós 1996, vender mais de
100 unidades).
Completar 20 anos ajudou a acabar com essa dúvida, e acho que esse novo integrado irá consagrar os 20 anos de esforço e dedicação que culminaram com esse produto de nível tão superlativo!

Desculpe minha longa introdução, caro leitor, mas vamos compartilhar com vocês um fato inédito e que também diz respeito a essa revista, afinal o V8 Edição de Aniversário, foi o primeiro integrado testado a bater os 100 pontos!

Ou seja, estamos falando de um integrado genuinamente Estado da Arte de nível Superlativo, e para nossa surpresa ele é feito aqui e custa menos de 6 mil dólares! O que certamente fará uma dança das cadeiras enorme no mercado, principalmente para todos audiófilos e melômanos que sempre acharam que ter uma eletrônica Estado da Arte Superlativa era apenas para os abonados ou herdeiros de grandes fortunas!

Utilizando a frase da campanha de Barack Obama: “Sim você pode”.

Mas como um produto ‘Made in Brazil’ conseguiu essa façanha? Vamos lá, tentarei explicar de forma sucinta e objetiva as sacadas geniais do Ulisses para atingir esse patamar de performance tão refinada e sedutora.

Por fora, o novo V8 Edição de Aniversário possui um novo painel frontal moderno, e com linhas mais suaves e elegantes, sem deixar sua robustez comprovada em 4 gerações anteriores. Agora os novos pés são de alumínio maciço, além de um novo controle remoto em alumínio usinado.

Outra mudança é que a tampa superior agora é em espesso alumínio escovado, cobrindo os dissipadores laterais, além de toda a reestilização no painel traseiro, que ficou com uma melhor disposição das entradas, além de uma segunda entrada XLR.

A entrada IEC é mais robusta e os terminais de caixa são em cobre maciço banhados a ouro. Mas não pense que foram essas mudanças ‘cosméticas’ que elevaram o patamar de performance, pois isso não faria milagre algum.

É ‘debaixo do capô’ que estão as substanciais modificações. Um novo sistema de amplificação que utiliza uma nova tecnologia desenvolvida pela Sunrise Lab, e batizada de APS, que confere maior transparência, naturalidade e musicalidade com extrema compatibilidade com as enormes variações de rede elétrica e de caixas – até então difíceis de serem solucionadas.

Também foi desenvolvido um novo sistema de correção térmica, conferindo um tempo de pré-aquecimento menor, e uma nova etapa de pré-amplificação com fonte de alimentação SSPS, capaz de reduzir em 300 dBs por linha positiva/negativa. E, por último, um novo transformador que possibilita a seleção manual interna da rede elétrica para praticamente qualquer país com 100, 110, 117, 127, 220,230 volts, e 50/60 Hz.

Mas afinal, Andrette, o que é APS?

Um dia a neurociência vai descobrir como os engenheiros denominam suas descobertas, e como as batizam com letras e números, rs.

APS: ADAPTATIVE POWER SYSTEM

O Ulisses, desde a versão Mk3, se debruça com um problema recorrente que prejudica todos os powers, que é a variação de voltagem na rede elétrica. Esse fator é tão determinante na performance de qualquer amplificador, que todos já vivemos com uma reprodução sem energia em redes abaixo do especificado pelo fabricante, e uma reprodução nervosa e com timbres estranhos em redes acima do nominal. O mesmo ocorre nas frequências de rede de 50 Hz, que tendem a tocar com um timbre pior quando ligadas em 60 Hz, e o inverso (aparelhos de 60Hz tocarem sem vida em 50Hz).

Em sua pesquisa, o Ulisses percebeu que é possível medir variações de até 15 volts em uma instalação em questão de poucas horas, culminando em performances dos amplificadores muito abaixo de seu potencial.

Por dois anos a Sunrise analisou a situação e descartou de imediato a opção de regulagem ou regeneração (por criar outros problemas, também audíveis). E então ele desenvolveu o sistema APS.

Com esse sistema, o V8 Edição de Aniversário corrige os problemas de rede elétrica em tempo real, funcionando como um ‘computador analógico’, monitorando dados de temperatura, voltagem e corrente em vários pontos do circuito, e adapta o circuito a cada situação específica de cada casa e cada instalação.

Pois ele percebeu que, quando um amplificador reproduz um sinal cujo som consome muita energia de suas fontes de alimentação, estas instantaneamente reagem baixando a tensão consideravelmente, que se traduz em uma reprodução mais dura, menos relaxada e natural.

E você pode em questão de segundos, ao colocar suas referências auditivas, constatar o quanto essa música soará mais natural, com maior silêncio de fundo e relaxada.

Eu fiz uma busca por cinco meses para tentar descobrir se algum outro fabricante teve essa brilhante sacada, e pelo que consegui descobrir, jamais nenhum projetista seguiu essa linha de raciocínio até o momento!

E o que é SSPS?

SUPER SILENT POWER SUPPLY

Para ser usada junto com a topologia APS, a Sunrise desenvolveu uma nova topologia para a pré-amplificação. É uma nova fonte de alimentação que conta com seis fontes de corrente de extrema linearidade, e um sistema ativo de auto-cancelamento de ruído.

Cada etapa de filtragem possui o exato amortecimento para os circuitos subsequentes, para que possam funcionar totalmente equilibradas tanto no equilíbrio tonal como na energia. As seis fontes de alimentação conseguem atenuar o ruído da rede em até 300 dB!

Obviamente esse silêncio de fundo vai melhorar audivelmente a resposta de microdinâmica, transparência e detalhes, como a ambiência e planos, principalmente em gravações com inúmeros instrumentos.

O Ulisses foi talvez o único projetista que ‘abraçou’ nossa Metodologia desde que ela foi lançada em 1999. E passou a utilizá-la sistematicamente em suas buscas e estudos. Ele compreendeu de maneira enfática a importância do equilíbrio tonal, e não poupou esforços a cada novo projeto em ir ampliando a qualidade em seus produtos deste quesito.

Mas o patamar alcançado pelo novo V8 é impressionante e, ao mesmo tempo, assustador, pois mesmo os integrados com 98/99 neste quesito, ficam audivelmente comendo poeira! E estamos falando de alguns integrados custando de duas a quatro vezes mais que o V8!

Então, meu amigo, se sua busca em primeiro lugar é pelo melhor equilíbrio tonal possível, sua busca acabou!

Os agudos tem a maior extensão já ouvida em todos os integrados que testamos nos 26 anos da revista, com um decaimento maravilhoso e natural. O corpo dos agudos, assim como a velocidade, são exemplos a serem alcançados!

A região média possui a beleza de soar sempre natural e fidedigna ao que foi captado, jamais tendendo a nenhum lado (mais frio ou mais quente). E os graves possuem energia, deslocamento de ar, peso, mas não soam tensos ou nervosos, se comportando unicamente como a gravação foi realizada.

O soundstage tem finesse, com planos consistentes, sem a péssima sensação de frontalização nos crescendos dinâmicos, assim como foco e recorte, cirúrgicos.

Como escrevi acima, a ambiência é digna de nota, possibilitando o ouvinte ter uma ideia exata do ambiente em que a gravação foi realizada.

As texturas são tão ricas que você pode se perder avaliando as intencionalidades e detalhes dos instrumentos e dos músicos.

E os transientes te farão acompanhar cada compasso com os pés, automaticamente, graças à precisão e ao tempo.
Já falei que graças aos 300 dB na eliminação de ruído de rede, a microdinâmica causará sonoros sustos. E a macrodinâmica, idem!

Soberba a apresentação da Sagração da Primavera de Stravinsky, e o Concerto para Dois Pianos e Orquestra de Bartók. Audições com tanto prazer que realmente nos leva a questionar se ainda existe a necessidade de pré e power.

E o corpo harmônico senhores? Esplêndida! A reprodução deste quesito com tamanha precisão só havia escutado em prés e powers Estado da Arte!

E chegamos à materialização do acontecimento musical, a grande ‘mágica’ do hi-end, que nem o sexo feminino fica indiferente!

O V8 edição de aniversário está no mesmo patamar dos melhores prés e powers, e deveria servir como Referência à concorrência, neste quesito.

Ouvi em silêncio absoluto, Ella e Armstrong se materializarem na minha frente por 38 minutos!

Me responda qual o grau de musicalidade deste integrado? Depende exclusivamente de você, amigo leitor, e como são suas referências de música real. Pois se tem algo que o V8 Edição de Aniversário não nos lembra é que estamos ouvindo reprodução eletrônica – pelo contrário, no segundo compasso, seu cérebro já irá lhe agradecer por vocês terem finalmente saído de casa para escutar música ao vivo, não amplificada.

Você viu que não descrevi o sistema utilizado? Não o fiz por um único motivo: eu apenas desliguei nosso pré e power de referência e liguei o V8, por um mês, na nossa caixa de Referência, e nossas fontes de Referência. E posso garantir que viveria feliz pelo resto de minha existência com o setup dessa maneira!

Aliás, eu fiquei com o V8 Edição de Aniversário – e ele será o amplificador utilizado para fechar as notas de todos os produtos até 100 pontos!

Preciso escrever algo a mais?

Nota: 101,0
AVMAG #287
Sunrise Lab

ulisses@sunriselab.com.br
(11) 5594.8172
R$ 29.900

AMPLIFICADORES MONOBLOCO NAGRA HD AMP

Fernando Andrette

Foi mais difícil escolher a chamada de capa para o teste deste produto, do que escrever o teste propriamente dito – acredite!

E com a chegada da caixa Estelon X Diamond Mk2 na sequência, e a enorme sinergia alcançada com ambos no sistema, resolvi utilizar a chamada de capa também para o teste da Estelon (que será publicado em maio) como parte 2, pois me pareceu que um é a extensão primorosa do outro.

Então meu amigo leitor, Verdade Sonora 1 é uma tentativa de descrever o que os powers Nagra HD AMP são capazes de nos proporcionar em termos de prazer auditivo/emocional.

Mas, antes, quero que você veja com enorme atenção a construção desses monoblocos, enquanto descrevo suas características, e mesmo que você seja completamente leigo em termos de topologias, perceba o grau de limpeza e ao mesmo tempo como tudo possui espaço e nada está amontoado ou necessite de horas de desmonte de placas para ter acesso à alguma placa do circuito. Isso é algo raro mesmo em produtos superlativos e, acredite, nada disso foi escolhido por acaso.

Pois os engenheiros da Nagra se debruçaram neste projeto por três anos, e nos últimos meses desse processo, os principais componentes foram todos exaustivamente comparados, para ver o que ainda era possível se extrair em termos de performance.

Como já mencionei em outros testes de produtos da Nagra já publicados, os protótipos são ouvidos por todos os engenheiros envolvidos no desenvolvimento, em seus sistemas, em suas salas. E entre os engenheiros, a Nagra tem em seu quadro: músicos, engenheiros de gravação e produtores musicais.

O diretor da divisão de áudio – Matthieu Latour – em diversas oportunidades enfatizou seu orgulho da linha HD, lembrando que para se atingir o resultado esperado, não houve nenhuma restrição orçamentária ou definição do preço final de cada produto dessa série.

O único objetivo era desenvolver uma linha que contasse a história dos 70 anos da empresa, apresentando todo o conhecimento e expertise adquiridos nessas sete décadas! E Matthieu Latour sempre ressalta que a Nagra tem como objetivo: “Atingir a melhor solução técnica para o melhor resultado, seja com que topologia for, pois ‘não somos religiosos’ sobre qual tecnologia é melhor, queremos apenas atingir o máximo com o que nos propomos a desenvolver”.

Quando perguntaram a ele a razão do HD ser de estado sólido e não valvulado, sua resposta foi objetiva e direta: “É indiscutivelmente mais prático projetar um amplificador transistorizado de 250 watts em termos de confiabilidade, dissipação de calor, tamanho, etc.”.

Ao contrário da série Classic, com gabinetes muito menores, o power HD seguindo toda série tem dimensões grandes que necessitarão de espaço à sua volta. Medindo 238 mm de largura, 644 mm de altura e 542 mm de profundidade, não tem como não se notar esses monoblocos imponentes à nossa frente.

E pesando mais de 50 kg, foi necessário a ajuda do Robério (sempre ele), para conseguir instalá-lo em nossa sala, nas plataformas em que utilizo todos os powers em teste. Ele vem embalado em cases individuais, muito seguros, o que facilita seu transporte, mas não arrisque fazer isso sozinho pois será impossível.

Seu acabamento é deslumbrante e, ao mesmo tempo, limpo, pois na sua frente apenas o enorme modulômetro, marca registrada da Nagra, mas muito maior que o da linha Classic. E com os comandos de Desligado, Mute e Ligado, e um LED discreto amarelo quando está sendo acionado, que se apaga quando estiver estabilizado, ou vermelho se estiver em proteção. E uma micro-chave para o ajuste de brilho do modulômetro.

Nas costas temos, em cima, uma saída de ar, depois abaixo as entradas RCA ou XLR, uma chave de sensibilidade de entrada para ser compatível com diversos prés de linha que se queira utilizar, que pode ser ajustada em 1v ou 2v, e abaixo dois terminais de caixas padrão Cardas e, bem embaixo (quase rente a base), entrada IEC para cabo de 20 Amperes.

Dentro na base encontra-se o transformador toroidal de 1.600 VA, a placa à frente do transformador que hospeda a regulagem de dispositivos Mosfet, e todos os circuitos de entrada e saída do sinal. E, no topo, próximo a saída de ar, os oito enormes capacitores Mundorf personalizados e feitos sob medida para esse projeto específico.

A especificações dos HD AMP trazem potência de saída (<1% THD, 8/4 ohm) de 290 W / 475 W, e potência dinâmica (<1% THD, 8/4/2/1 ohm) de 330 W / 621 W / 1,11 kW / 1,65 kW (de acordo com medições de laboratório feitas em teste objetivo pela revista Hi-Fi News). A impedância (em 20 Hz – 20 kHz/100 kHz) é de 0,019 – 0,022 ohm / 0,142 ohm, e resposta de frequência é de 20 Hz – 20 kHz/100 kHz (em +0,0 a –0,6 dB / –1,38 dB). A sensibilidade de entrada (para 0 dBW/250 W) é de 65 mV / 1030 mV, e a relação sinal/ruído (em 0 dBW/250 W) é de 84,6 dB / 108,6 dB. A distorção (em 20 Hz-20 kHz, 10 W/8 ohm) é de 0,0015–0,044%. Com consumo de 161W (inativo) e 430 W (em uso), o Nagra HD AMP tem dimensões de 238 x 644 x 542 mm e peso de 56 kg cada.

A Nagra diz que todos os seus produtos antes de serem enviados passam por uma queima inicial de 72 horas – que em todos os testes de produtos que fizemos, não se mostrou suficiente (e olha que só não testamos o toca-discos Nagra HD. Então assim que os colocamos na sala, fizemos a primeira audição e o pusemos imediatamente em queima por 100 horas.

As conclusões preliminares deste primeiro contato foram feitas com ele ligado na Wharfedale Elysium 4, e nos surpreendeu o quanto a caixa subiu em termos de detalhamento em micro-dinâmica e como ganhou corpo na região médio-grave em relação ao Nagra Classic, nossa Referência!

O que me fez escrever em minhas anotações pessoais: quantos rounds o power Classic aguenta? Estou nessa estrada há tempo suficiente para não fazer projeções ou conjecturas de nada sem ouvir. Pois aprendi que muitas vezes o que parece óbvio não é tão óbvio assim, e que o ‘imponderável’ – assim como norteia nossas vidas – também o faz nesse segmento de áudio de nível superlativo.

Então deixei o rio seguir seu fluxo, e só voltei a ouvir com real interesse o power HD quando este completou 200 horas. E aí a ‘realidade’ se mostrou muito mais complexa e clara do que minha mais criativa imaginação poderia me propor.
Primeiro: achar que o power HD é uma ‘melhoria’ do power Classic, é um erro descomunal! Pois trata-se de um produto de uma superioridade tão acachapante, que não dá sequer para dizer que o HD é apenas mais refinado que o Classic. São de universos distintos. E com a chegada da Estelon, com duzentas horas de queima do HD, tudo se tornou ainda mais evidente e explícito em relação às diferenças. Pois a Estelon X Diamond Mk2, também é de outra magnitude em relação à nossa caixa de referência e à Wharfedale que estava em teste.

Mas deixemos essa questão para o teste da Estelon, em maio, e voltemos ao Power Nagra HD.

Eu gosto muito de testar produtos que tenham uma assinatura ‘autoral’, e não sejam apenas o correto ou o feito em escala com o que é a nova ‘tendência’ sonora. Pois um produto autoral conta uma história, e quando bem feito é digno de ser apreciado por todos que entendam a diferença entre um produto que possua características que fogem do lugar comum e escrevem sua própria trajetória.

Poucos produtos nesses 25 anos da revista tiveram a capacidade de realizar tamanho feito, e na magnitude realizada por esse power HD da Nagra – nenhum outro chegou a ser acolhido pela sua sombra!

VERDADE SONORA PARTE 1

Tentarei expor o que consegui extrair em termos de sonoridade desse power, nos 45 dias em que esteve em nossa sala. E, claro, comparando-o o tempo todo com o Nagra Classic, afinal alguma semelhança em sua assinatura teria que ter – feitos do mesmo DNA.

E é aí que tudo fica mais chocante, pois a beleza que o power Classic tem (leia o teste na edição 260), com todos seus inúmeros atributos de musicalidade, folga auditiva, inteligibilidade, conforto, são eclipsados quando ouvimos os mesmos discos no power HD.

Então descrever o HD como melhor lapidado, ou refinado, é uma sonora injustiça com esse amplificador.

Perguntado como descreveria então esse power, demorei alguns segundos para formular minha resposta, pois faltou-me uma descrição honesta e convincente, até que me veio o que para mim traduz de forma sucinta o que representou ouvi-lo.

É a única apresentação que tive a oportunidade de constatar não ser reprodução eletrônica! Seu cérebro não o fica questionando o que estamos a ouvir, tamanho realismo, precisão e naturalidade! Chegando, em muitos momentos, a me ver pensando que preferia o conforto de minha sala a estar ao vivo escutando aquela obra.

E isso jamais ocorreu, amigo leitor.

Nunca!

Sempre preferi a apresentação ao vivo a qualquer setup, por mais bem ajustado que fosse, pois essa comparação era impossível de ser viável, tamanha diferença entre uma eletrônica e a música ao vivo.

Escutando minhas dezenas de gravações de quartetos de cordas, duos, trios e solistas, me pegava relaxadamente, me falando: que bom estar aqui sem o ruído de vozes, celulares, tosse, embalagens de celofane, e o burburinho incessante humano.

Claro que esses momentos só ocorreram em gravações primorosas, sem compressão ou equalização, mas foram o suficiente para eu entender o grau de performance dos powers Nagra HD AMP quando ligados às Estelon X Diamond Mk2.

A música flui com total liberdade e não como reprodução eletrônica, nos permitindo estar presente e ser brindado com informações que parecem enevoadas em outros excelentes amplificadores. Estou falando de powers também de nível superlativo, obviamente, e alguns tão ou mais caros que o HD AMP.

Nada se perde e, no entanto, não precisamos fazer esforço adicional algum para sermos envolvidos plenamente pelo acontecimento musical. Esteja a ouvir obras complexas sinfônicas, ou um solo à capella. Então, não se preocupe em ter que selecionar determinados gêneros para explorar toda sua magnitude, pois o HD AMP não tem preferência alguma.

Leio muito em fóruns e testes, que determinado power é excelente para reproduzir vozes, ou determinados instrumentos ou gêneros musicais.

O Nagra HD desconhece essas escolhas.

Tudo soará integralmente (veja que não estou falando de neutralidade e sim de integralidade), coeso, uniforme, dos tamanhos que foram captados, que quando comparada essa mesma gravação em termos de corpo harmônico, com o Classic, fica evidente a razão se ser tão mais realistas as gravações no HD AMP do que no Classic.

Pois como sempre enfatizo, nosso cérebro, quando treinado pela referência do instrumento real, reconhece o que se aproxima ou não em tamanho na reprodução eletrônica.

Outro ‘gargalo’ tão difícil de se resolver, que é a macro-dinâmica, no HD com o par certo de caixa acústica irá surpreender até o mais fanático por essa busca tão insana. Pois a macro-dinâmica é tão bem reproduzida que fará a alegria de muitos que adoram pregar sustos em seus amigos.

Não é um cofre de uma tonelada caindo a sua frente, pois pirotecnia não é o forte da eletrônica Nagra, mas um instrumento de percussão oriental, tímpanos, bumbos, contrabaixos tocados em arco ou órgão de tubo, são magistralmente apresentados e com um detalhe: uma folga suprema!

Pois os graves deste Nagra possuem algo raro em qualquer amplificador de alto nível: autoridade, energia e deslocamento de ar, na medida correta.

Ouvindo os discos do baixista Jaco Pastorius (CD e LP), a princípio achei que a fundamental no power Classic era até mais bem definida, até me tocar que o invólucro harmônico que o HD reproduz é tão mais correto e preciso, que as notas são muito mais precisas e integrais!

O mesmo ocorre com vozes masculinas e femininas, pois a muito mais informação da técnica vocal, traquejos, barulho de boca, que nossa atenção é transportada para aquele ‘umbral’ em que ‘vemos o que ouvimos’ como nunca antes ocorreu com nenhum amplificador que já testamos ou ouvimos!

Estenda essas observações para qualquer solista, em que a técnica e intencionalidades se tornam tão evidentes que conseguimos ‘observar’ o grau de dificuldade exigido para aquele resultado.

Porém, antes que você pense que tudo isso é consequência de uma transparência absoluta, esqueça isso meu amigo, pois o Nagra não enfatiza absolutamente nada que não esteja no processo final da gravação.

O que ele faz é apresentar exatamente o que, ‘intencionalmente’, era para ser apresentado, e que por inúmeros motivos as eletrônicas têm dificuldade em fazê-lo.

Isso nos leva ao alto grau de seu equilíbrio tonal, que coloca em xeque outras propostas de alto nível – afinal se ele consegue realizar essa tão sonhada e desejada ‘integridade’ do acontecimento musical, os outros também podem (ou deveriam, se este é o seu conceito de alta fidelidade).

E aí está a razão da chamada de capa deste produto, pois o que o Nagra HD AMP nos propicia é verdadeiramente ouvir o que foi gravado. Sem adicionar ou retirar nada, e que em conjunto com a Estelon se potencializou ainda mais, pois ambos possuem esse mesmo propósito.

Os leitores me questionam se essa é uma tendência de mercado (buscar a maior neutralidade com o maior conforto auditivo). Não poderia dizer que seja uma tendência solidificada, mas percebo cada vez mais fabricantes galgando esse chão. O que para mim é um avanço monumental, pois dará a oportunidade de muitos audiófilos resgatarem todos os seus discos, algo inimaginável em termos de setups de até cinco a seis anos atrás. Pois o que sempre se pregou foi: o sistema hi-end irá mostrar as limitações das gravações, então o que é ruim, soará péssimo em um sistema de alta fidelidade.

E, editorialmente, sempre fomos contrários a essa visão, pois o sistema não pode ser mais importante que a música: é uma inversão de valores estúpida. E que só levou milhares de audiófilos no mundo a desistirem desse hobby. Pois parecia algo como correr atrás do pote de ouro no fim do arco íris.

Felizmente muitos fabricantes perceberam o erro, e estão fazendo uma correção de rota.

Mas sem usar ‘bandaids’, como aliviar sistemas brilhantes com cabos, ou passar a sensação de mais graves com sistemas ‘retumbantes’ em baixas frequências.

Como eu escrevo faz tempo, o mercado mudou, e com os avanços tecnológicos foi possível corrigir essas distorções de conceito e voltar à razão de existir a alta fidelidade: possibilitar o consumidor escutar seus discos com prazer e a menor fadiga auditiva, independente da qualidade técnica da gravação.

Agora imagine esse ‘conceito’ ser levado ao extremo das possibilidades atuais?

Esse é o power Nagra HD AMP, meu amigo.

O que ele faz é exatamente provar de forma inquestionável que qualquer gravação, se escutada em seu volume de masterização (e não acima), será plenamente satisfatória! Agora, imaginem em boas gravações técnicas e com grandes músicos, o nível de prazer emocional que pode ser alcançado?

Por isso a chamada de capa ser a Verdade Sonora, pois o que os engenheiros da Nagra alcançaram põe por terra a falácia que o hi end não foi feito para reproduzir gravações tecnicamente ruins.

Fiz questão, nos 45 dias em que tive o privilégio de ter esse produto em teste, ouvir minhas gravações que adoro, mais cavernosas, e o prazer auditivo foi pleno, pois muitas dessas gravações me são muito caras emocionalmente, pois contam grande parte de minha trajetória de vida e de minha família. Antes que me perguntem, claro que as ouço nos meus powers Classic sem esse deleite auditivo.

CONCLUSÃO

‘Integridade’ é uma palavra que terá que ser incorporada ao uso em nossos testes, quando outros produtos também estiverem nesse nível de performance.

E espero ter sido feliz na minha descrição do que é o power Nagra HD AMP, pois o que este produto atingiu em termos de performance extrapola em tudo que já observamos em qualquer produto por nós testado.

Claro que sei tratar-se de um produto fora da realidade de 99,99% dos leitores, mas não posso deixar de testar um produto apenas por ser inviável à esmagadora maioria dos humanos.

E poder compartilhar com vocês o nível que a reprodução eletrônica atingiu, já justifica o teste, pois não é pelo fato de não podermos ter algo que iremos negar sua existência.

E para o 0,1% de leitores que possam chegar a esse nível de performance, não perca seu tempo e escute-o, pois, nas condições ideias não existe a possibilidade de não se render às suas inúmeras virtudes.

Nota: 115,0
AVMAG #283
German Audio

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US$ 154.900

CAIXAS ACÚSTICAS WHARFEDALE DIAMOND 12.2

Juan Lourenço

A fabricante inglesa de caixas acústicas Wharfedale, deu mais um passo importante na evolução da linha Diamond – que é um de seus grandes sucessos e um dos produtos mais antigos em produção pela marca, também. Essa é a décima segunda atualização deste modelo que, não parece, mas é de entrada. E como era de se esperar, a Wharfedale conseguiu um ótimo compromisso entre tecnologia embarcada, design e preço.

Nesta nova versão das bookshelf Diamond, a 12.2 aqui analisada, as mudanças não foram apenas estéticas. O gabinete, por exemplo, ficou ligeiramente maior e graças à modelagem 3D, utilizando a tecnologia Intelligent Spot Bracing, que conecta as paredes opostas do gabinete com uma forma específica de suporte de madeira, conseguiu-se uma redução ideal da ressonância, melhorando a inteligibilidade geral da caixa acústica, mas sem transformá-la em um modelo de transição para torre, mantendo seu tamanho condizente com os drivers, sem turbinar o gabinete com frequências que não se encaixam direito – que algo que nunca dá certo. No teste de batidas na madeira com nó dos dedos, percebe-se o gabinete mais rígido em toda a extensão física, e não somente nos cantos o que é mais comum. Este novo travamento ajuda muito para um equilíbrio tonal superior.

O alto-falante mudou por completo, desde sua forma e tamanho até os materiais empregados. Na 11.2 o cone era de Kevlar de 5 polegadas, um cone muito robusto e de excelente rigidez, mas com pouca musicalidade, na minha opinião. Neste novo projeto, a Wharfedale utilizou um falante de 6,5 polegadas feito de um material bastante conhecido pela empresa inglesa: o polipropileno, que já foi utilizado em outros projetos. Mas as semelhanças com os cones anteriores param por aqui, pois nesta nova roupagem há um elemento novo misturado ao polipropileno, este material é a mica, que faz toda a diferença na dispersão do cone que, para aumentar a rigidez, recebeu nervuras que estabilizam o movimento do conjunto sem adicionar peso extra. Eles deram o nome de Klarity – e devo dizer que clareza é o que melhor define a sonoridade deste novo cone.

E como não poderia ser diferente, essa clareza vem acompanhada de precisão rítmica, suavidade e delicadeza – como nos modelos anteriores. Outra coisa herdada dos modelos anteriores é o tweeter, que não sofreu mudanças significativas, sendo o mesmo domo de tecido de uma polegada encontrado em toda a linha Diamond.

O novo crossover, com a topologia acústica LKR 24dB, utiliza indutores de núcleo de ar comumente encontrados em alto-falantes mais sofisticados. Seu maior benefício é a menor distorção, se comparados a outros tipos de indutores. Como a resistência da bobina é maior do que um indutor padrão de aço laminado ou núcleo de ferrite, a estrutura magnética do driver de médios/graves foi modificada para compensar, resultando em graves rápidos e limpos sem distorções provocadas pelo indutor. Com essas melhorias, e o gabinete com litragem maior (11,8L), novo alto-falante e tweeter, a caixa agora responde com mais precisão de 50Hz a 20kHz, com sensibilidade de 88dB. Seu peso agora é de 8.2 kg, cada.

A embalagem é de ótima qualidade, robusta – aguenta tranco e protege muito bem, além de acomodar as duas caixas em uma embalagem só.

COMO TOCA

Para o teste, utilizamos os seguintes equipamentos. Amplificador: integrado Sunrise Lab V8 SS. Fontes: toca-discos de vinil Timeless Audio modelo Ceres, com braço SME Series V e cápsula Hana HE. Cabos de força: Transparent MM 2, Sunrise Lab Premium Magic Scope. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Premium Magic Scope RCA, Sunrise Lab Reference Magic Scope RCA, e Sax Soul Cables Zafira III XLR. Cabos de caixa: Sunrise Lab Reference e Quintessence Magic Scope. Pedestais: Timeless Audio, e Airon HE-470.

Uma coisa bacana das Wharfedale, é a facilidade de posicionamento – e com a Diamond 112.2 não é diferente, ela toca bem nas posições menos desfavoráveis com o pé nas costas. Mas, quando encontra o ponto certo, ela cresce e fica muito gostosa de ouvir, tornando o processo de amaciamento não muito penoso.

Inicialmente deixei a caixa no pedestal Airon com uma distância de 1,5 metro de distância da parede de fundo, 2,3 metros entre elas e 60 cm das paredes laterais. Nesta configuração a caixa tocou tímida, pois os graves estavam um pouco dispersos e com pouco foco. Eu achava que era do amaciamento, mas não. Era do distanciamento. O amaciamento melhorou estas questões, mas na nossa sala a Diamond 12.2 precisava encostar um pouco mais na parede de fundo, e afastar 10 cm nas laterais, com mais ou menos 5 graus de toe-in.

O amaciamento dura por volta de 320 horas e, no caso da Diamond 12.2, ela começa com uma extensão interessante, mas depois do amaciamento diminui um pouco dessa extensão, principalmente no tweeter, mas encaixa melhor a transição entre os drivers, não fica velada, as frequências ficam menos exageradas, e os agudos ganham decaimentos mais condizentes com seu porte do que quando tiradas da embalagem.

A sensação de amplitude de palco é muito boa. Quando encaixa bem o posicionamento do toe-in, a velocidade nos transientes e o foco vincado elevam e muito o nível da audição, melhorando a sensação de realismo. A energia e o deslocamento de ar são bons – se alguém espera uma caixa escandalosa, essa não é a caixa ideal para isso. Ela dá um toque ousado, mas sem ser impetuosa ou exibida, deixando o sistema por trás dela se mostrar. Ela lida bem com muitos estilos musicais, sem preocupações com esse ou aquele estilo soarem exagerados. Ela não tenta roubar a cena te lembrando a todo momento que o som é dela – as coisas acontecem com maior discrição e, consequentemente, mais ajustados à realidade dela.

A Diamond 12.2 gosta muito de ficar no triângulo equilátero, se você precisa de mais espaço entre elas e o ponto de audição, vai encontrar um pouco mais de dificuldade no ajuste. Talvez precise fechar um pouco mais o ângulo de toe-in, para não perder extensão no tweeter. Por outro lado, ela responde bem à troca de equipamentos eletrônicos e cabos, e talvez este seja o ponto a mexer para conseguir mais extensão, caso precise ficar mais longe da caixa.
Quando coloquei no pedestal Timeless, a Diamond 12.2 ganhou mais arejamento e texturas melhores, um palco mais amplo lateralmente e um pouco mais de silêncio de fundo. A ideia aqui é mostrar que, embora seja uma caixa de entrada, ela gosta de bons pares, e se precisar ‘temperar’ o resultado final, ela responde aos estímulos prontamente.

CONCLUSÃO

A Wharfedale foi além do básico e deu à Diamond 12.2 mais do que se espera de um projeto de entrada, adicionando tecnologia e materiais sofisticados com preço honesto e muita qualidade em cada detalhe.

A Diamond 12.2 apresenta ao ouvinte uma sonoridade mais sofisticada sem os típicos excessos que nos fazem cansar da música em dez minutos de audição, colocando em evidência apenas o prazer em ouvir.

Nota: 72,5
AVMAG #283
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fernando@kwwifi.com.br
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R$ 4.600

CAIXAS ACÚSTICAS WHARFEDALE DENTON 85TH ANNIVERSARY

Fernando Andrette

Para mim não é nenhuma novidade receber caixas acústicas com design vintage e encontrar componentes atualizados. Foi assim com as duas caixas da série Classic da JBL (L100 e L82), agora a Denton em comemoração aos 85 anos da Wharfedale, e a Elipson Heritage XLS 15 (teste na edição 288).

Essa é uma tendência que veio para ficar, e eu não tenho absolutamente nada contra, desde que o ‘pacote’ não soe como uma vintage original dos anos 70/80, é óbvio!

Um leitor me perguntou se eu ouvi a L100 original ao lado da nova? Ainda não consegui, mas o querido amigo Henrique Bozzo (colaborador da revista) tem um par da L100 original e marcamos um dia de fazer essa audição. Acho que vai ser muito interessante, pois conheço inúmeros leitores que aguardam essa comparação. Assim que fizermos, publicarei nossas impressões.

Antes de publicar esse teste da Denton 85, vasculhei o mercado em busca da versão 80 anos, para ter uma ideia das modificações feitas no novo modelo, mas não consegui.

Então terei que confiar nos revisores que tiveram essa possibilidade, e nos fóruns que têm dezenas de relatos de usuários que compraram ambas, ou conviveram com as duas por um bom período.

Pelo que li, as diferenças entre as duas edições comemorativas vão muito além de mudanças pontuais. Pois o gabinete da 85 Anos é maior, para abrigar o novo falante de kevlar de 6,5 polegadas (contra o de 5” da 80 Anos) o que melhorou, segundo o fabricante, a sensibilidade da caixa. Já o tweeter de 25 mm ainda é de tecido e com um imã de ferrite, mas com uma grade frontal protetora, inexistente na 80 Anos.

Com uma melhor sensibilidade, a nova Denton precisa de apenas 40 Watts para se sentir à vontade em salas de até 16 metros quadrados. Mas o que mais admirei na nova versão foram os detalhes e a qualidade do gabinete, algo surpreendente para sua faixa de preço!

Trata-se de um gabinete de 9 kg, feito de folheado real de madeira, com 34 cm de altura, 24 cm de largura e 27 cm de profundidade. Não sendo uma caixa para ficar em uma estante de livros, ou em qualquer prateleira grudada na parede. Ela necessita, e merece, um bom pedestal para mostrar todos os seus encantos sonoros!

Outra diferença na nova versão é que o tweeter agora está deslocado para o lado (espelhado), para deixar claro se o ouvinte prefere ambos virados ‘para dentro’, ou ‘para fora’ (em todas as condições e salas que ouvimos, a caixa sempre soou melhor com os tweeter ‘para fora’).

Com eles abertos, o foco, recorte e planos, foram audivelmente superiores.

A tela, por ser um design vintage, é difícil de tirar, e o fabricante e inúmeros usuários preferem ouvir a caixa com a tela. Diria que essa escolha depende muito mais do setup do que das caixas, pois se o sistema tiver uma tendência a soar com brilho nas altas, a tela será um alento.

Mas se o sistema tiver um equilíbrio tonal correto, com extensão sem brilho nas altas, pode-se perfeitamente ouvir as Denton 85 Anos, sem as telas).

Sempre me pergunto a razão das pessoas ‘definirem’ algo como verdade, sem nunca questionar se a conclusão atingida não é apenas para uma determinada situação específica. Aí o consumidor lê duas ou três opiniões definindo que a Denton 85 é para ser tocada com a tela, e nem escuta como a caixa soaria sem ela.

O importante é que mesmo com a tela, em uma eletrônica de alto nível, os agudos possuem excelente extensão e decaimento. Então, se depois de ler este teste, decidir comprar essa belezura, fique à vontade para decidir se a ouvirá com ou sem a tela.

O essencial é: cuidado ao retirar a tela, pois só com a ajuda de uma espátula (sem ser de metal) que você conseguirá retirar a mesma sem marcar o canto da caixa. OK?

Recado dado, sigamos em frente. A beleza da Denton 85 Anos também está nos terminais banhados a ouro com jumpers de qualidade para o uso de biamplificação. E, em volta dos terminais, encontra-se uma placa comemorativa – em dourado – da caixa, e os dois pequenos dutos acima da placa.

A sensibilidade é de 88 dB, impedância nominal de 4 ohms (mínima de 3,8 ohms), resposta de frequência de 40 Hz a 20 kHz (+/- 3dB), e corte de transição para o tweeter em 3,1 kHz.

Utilizamos dois integrados para o teste da Denton 85: o Krell K-300i (leia teste na edição 286), e o Sunrise Lab 20th Anniversary (leia Teste 1 na edição 287). O streamer utilizado foi o Innuos ZENmini Mk3, e o DAC dCS Bartok 2.0 (leia teste na edição de setembro). Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado (leia teste na edição 289), e Oyaide Across 300B (leia teste na edição 286). Sistema analógico: toca-discos Thorens TD 1601 (leia Teste 2 na edição 287) e pré de phono Sunrise Lab M2.

A caixa veio lacrada, o que demandou uma audição preliminar ‘básica’, apenas com os discos da Cavi Records, e imediatamente a enviamos para a ‘sala de tortura’ por 100 horas iniciais. Ela vai precisar de tempo meu amigo, caso contrário você acabará achando que ela possui excelentes graves para o seu tamanho e excesso de agudos. Li em um teste, em que o revisor amou a caixa, mas achou que o agudo tende a ‘brilhar’ sem o uso da tela – discordo totalmente, pois o tweeter desta caixa precisa no mínimo de 150 horas para soar equilibrado, e também depende do amaciamento do falante de médio-grave, que responde de 40 Hz a 3,1 kHz, amaciar plenamente para haver o ‘encaixe’ do equilíbrio tonal.

Além é claro de uma eletrônica com a mesma assinatura sônica ou pelo menos com um grau de refinamento e neutralidade, para não impor ‘responsabilidades’ que não são da caixa.

Aliás, isso daria um bom tema para a seção Opinião: ‘De quem é a responsabilidade na cadeia sonora?’ – quem sabe um dia arrumo tempo para tratar dessa questão. Pois o que vejo de caixa levando a ‘fama’ do que não fez, é grande!
A Denton 85 estabilizou mesmo com 180 horas. Aí, para a ‘prova dos nove’, arranquei finalmente sua tela para ver se havia algum resquício de brilho no tweeter, e com ambos os integrados e cabos de caixa, os agudos se comportaram corretamente nas 80 faixas utilizadas na Metodologia.

E quando ouvimos as mesmas faixas com a tela, obviamente perdemos a precisão de ambiência e decaimento, nada mais.

A Denton, em nossa sala de home com 12 metros quadrados, gostou de ficar a pelo menos 1m da parede às costas dela, e o mais distante possível entre elas (as deixamos a 2,40m de tweeter à tweeter) e com um ângulo para o centro na audição de 20 graus. Nessa posição, obtivemos excelente foco, recorte e planos, dignos das melhores books que já avaliamos, sendo muitas delas o dobro ou o triplo de seu preço.

Sua assinatura sônica está bem mais para o quente do que para o neutro, e se isso é bom ou mau, só você pode dizer, meu amigo. Da minha parte, prefiro mil vezes essa característica do que a ‘neutra’, nessa faixa de preço.

E, antes que seja apedrejado em praça pública, deixe-me me defender. Provavelmente a eletrônica ligada a ela será mais modesta em termos de valor e performance. Portanto, gravações ruins terão uma tendência a soarem piores do que são. Então, optar por uma book para uma sala pequena, em que irmos sentar a no máximo 2,5 m das caixas, será um bálsamo para os nossos ouvidos.

E o fato de ser uma caixa com maior ‘condescendência’ com gravações tecnicamente ruins, é uma ótima medida! Agora, se você puder ligar essas caixas com algum dos integrados que usamos, meu amigo, ela te levará ao céu, acredite! Pois elas têm qualidades que as colocam em pé de igualdade com books custando até o dobro do seu preço.

São equilibradas tonalmente, possuem uma finesse na apresentação das texturas, um soundstage digno das melhores books, independente do preço. Têm tempo e ritmo contagiantes, corpo harmônico surpreendente para o seu tamanho, uma microdinâmica detalhada e uma macro desafiadora para o seu tamanho.

O equilíbrio tonal, como já escrevi, possui agudos com excelente extensão, decaimento suave, velocidade e corpo, para a reprodução de pratos, metais, etc, corretamente.

A região média soa íntegra, com naturalidade nos seduzindo instantaneamente. E os graves, se não tem a imponência da JBL L82 Classic, são suficientemente corretos para dar peso e corpo aos graves e médios-graves.

Em um bom pedestal, que a mantenha com o tweeter uns centímetros acima dos ouvidos, e corretamente posicionada, apresentará foco, recorte e planos com precisão cirúrgica! E se o ouvinte achar que os agudos passam do ponto, ele ainda tem o recurso de não tirar a tela, e ainda assim o foco e recorte serão satisfatórios.
As texturas são, como disse, sedutoras, pois expressam com fidelidade as intencionalidades e qualidades dos instrumentos, da gravação e dos músicos.

Os transientes, nos exemplos utilizados na Metodologia como o Uakti e o André Geraissati, foram reproduzidos de forma precisa, conservando o tempo, andamento e ritmo de maneira precisa!

Certamente a micro dinâmica será melhor apresentada sem a tela, mas se o ouvinte preferir manter a mesma, perderá apenas as passagens mais sutis.

E a macro, surpreende por não tentar fazer o impossível, se limitando a mostrar com clareza os crescendos – o que é um exemplo a ser seguido por muitos fabricantes de caixas bookshelf.

Se você deseja, nas passagens macro, maior deslocamento de ar e peso, mas seu espaço é reduzido para uma coluna, a única book recente que testamos que traz essa façanha é a JBL L82 Classic. Porém, a Classic não tem as virtudes de textura ou condescendência com gravações tecnicamente limitadas que a Denton 85! Sempre é uma questão de escolhas, meu amigo, principalmente nessa faixa de preço.

O corpo harmônico, ainda que não seja próximo do tamanho real dos instrumentos, é muito coerente ao manter as proporções dentro de sua limitação de tamanho. Em algumas excelentes gravações deste quesito, surpreende, pois consegue nos deixar claro as distinções entre o corpo de um sax barítono de um contralto, ou de contrabaixo e um cello.

E quanto à materialização física, a Denton foi surpreendentemente bem com vozes. Algumas, como do tenor José Cura, no CD Anhelo, e a divina Ella Fitzgerald, quase enganaram meu cérebro!

CONCLUSÃO

Em todas as consultorias diárias que presto a vocês leitores, sempre me deparo com muitos audiófilos que possuem uma enorme resistência a caixas bookshelf, sempre as tratando como produtos de ‘menor qualidade’. A esses, costumo dar meu testemunho de que essa ‘visão’ está profundamente equivocada, nos dias de hoje.

Pois em salas adequadas, elas podem ser a cereja do bolo. Evitando gastos com tratamento acústico, com amplificadores de maior potência, e trazendo muitos benefícios, como um soundstage muito mais correto, com ajustes de posicionamento simples e, o mais importante: um grau de imersão na música muito mais difícil de conseguir com colunas em salas sem tratamento acústico.

E se formos observar a realidade das grandes cidades, com espaços cada vez mais reduzidos, ou o audiófilo parte para uma book ou acabará tendo que abrir mão e usar apenas fones de ouvido. Eu com meu alto grau de fadiga com fones, teria que procurar outro hobby se só me restasse essa opção!

As books evoluíram muito caro leitor, e se sua referência ainda são as books da virada de século, precisa urgentemente escutar os novos modelos de vários fabricantes!

Se você deseja uma book com design dos anos 60/70, mas que deixem os convidados com o queixo caído ao escutarem, ouça com muito critério a Denton 85th Anniversary. Existem dezenas de testemunhos nos fóruns internacionais do impacto que essa caixa causou em suas vidas e em seus ‘preconceitos’.

Ela possui uma sonoridade rica, quente e atualizada com qualquer estilo musical.

Só tem um ‘entrave’, precisa de um integrado refinado e com excelente equilíbrio tonal, para mostrar todos seus atributos. Claro que não precisa ser nenhum dos dois integrados que usamos no teste, mas um integrado de entrada que também tenha uma assinatura sônica semelhante – o Leak Stereo 130, que está em teste é uma opção (teste na edição 289).

Mas claro que existem mais opções no mercado – é uma questão de garimpar e ouvir sem pressa.

Se você deseja uma book com essas qualidades que eu descrevi pormenorizadamente no teste acima, a Denton 85 precisa estar em sua lista de escuta!

Nota: 82,0
AVMAG #287
KW HiFi

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(11) 95442.0855 / (48) 3236.3385
R$ 7.615

CAIXAS ACÚSTICAS ELAC DEBUT 2.0 F5.2

Christian Pruks

A marca alemã Elac me é familiar já faz vários anos. Mesmo quando elas ainda eram projetadas e produzidas pela empresa na Alemanha, com cones mais sofisticados de sanduíche de metal com papel, tweeters tipo AMT (Air Motion Transformer, também conhecido como ‘folded ribbon’), gabinetes impecáveis com pintura preto-piano, e etiquetas de preço igualmente sofisticadas – como era a Elac FS249, uma das minha torres preferidas por anos, por sua musicalidade e naturalidade.

SOBRE A ELAC

A Elac não é muito conhecida nem disseminada em nosso território sul-americano, a não ser nos últimos 10 a 15 anos. Mas antes disso já tinham uma longa história, com mais 95 anos de existência, primeiro com desenvolvimento de tecnologias para sonar, e depois da Segunda Guerra com a fabricação de toca-discos de vinil, que continuou até a década de 1980. Em 1984 começaram a fazer caixas acústicas, as quais são bastante consideradas até hoje no mercado vintage europeu.

Então foi muito legal saber que elas passariam a ser projetadas pelo guru Andrew Jones, assim como esse trabalho passaria a ser feito nos Estados Unidos – o que eu considerei um golpe de mestre da empresa, provendo à marca uma, hoje, altíssima consideração por parte dos americanos, competindo lindamente no seletivo mercado interno deles.
Além disso, a escolha da Elac em começar, com Jones, com uma linha barata, de entrada, foi um ‘golpe de misericórdia’ em muitos concorrentes, e a minha felicidade – pois acabei mais perto de poder adquirir um par delas como referência em meu sistema!

O projetista de caixas acústicas inglês Andrew Jones, teve seu período mais relevante e reconhecido no mercado audiófilo, por passar um longo tempo na empresa japonesa Pioneer (com ênfase em sua marca hi-end TAD), e nos anos que duraram até o final de 2021, na alemã Elac. Jones, radicado nos EUA, estabeleceu seu laboratório de desenvolvimento na Califórnia, com a chamada Elac America. Ao mesmo tempo que ele ficou célebre por fazer caixas acústicas fenomenais – quase um pop star no meio audiófilo – todas as mais famosas delas foram de entrada e com bons preços. E com custo/benefício incrível, como a book BS22 e a torre FS52, ambas da Pioneer – até onde eu sei, as únicas caixas dessa marca que são audiófilas – e as linhas Debut, Debut 2.0, Debut Reference, Uni-Fi e Uni-Fi 2.0, da Elac – que estão entre seus mais recentes trabalhos.

SOBRE AS F5.2 & SETUP

A atual linha Debut 2.0 possui duas torres: a F6.2, com três woofers de 6 polegadas, e a ‘menorzinha’ F5.2 que tem três woofers de 5.25 polegadas de fibra de aramida (fibra sintética leve e rígida também conhecida como Kevlar), um tweeter de domo de tecido de 1 polegada com um guia de ondas de alta dispersão que o leva até 35kHz, três vias, três dutos, apenas um par de bornes de metal (não pode ser bi-cablada), mais de um metro de altura, e spikes parafusáveis para você desacoplá-las do piso e regular seu nivelamento.

As F5.2, como carga, são fáceis para os amplificadores, com seus 6 ohms, mas precisam de boa potência e qualidade para obter equilíbrio e autoridade. Usei-as com dois integrados que dão 50W em 8 ohms (sobre nenhum deles tenho o dado de potência para 6 ohms, mas é um pouco mais do os 50W) sendo que um deles dobra a potência em 4 ohms e o outro não. Em ambos o resultado foi excelente em matéria de uso do volume e quanto ao controle das caixas, mesmo em baixos volumes, mas não recomendo ir abaixo disso em matéria de potência – não que você não obterá volume de som com menos potência, mas sim que não exercerá o mesmo nível de controle das caixas, principalmente dos graves, e não terá a mesma qualidade de equilíbrio tonal, entre outras coisas.

O posicionamento das F5.2 é surpreendentemente fácil. Ajustes mínimos de distância do fundo e de paredes laterais são necessários – mas para esses não existe receita: tem que ir ouvindo e ir ajustando, para desespero dos que morrem de medo de usar seus ouvidos. A mesma coisa se aplica ao pequeno toe-in, cortesia do guia de ondas do tweeter que faz o palco ser enorme. É muito fácil adquirir uma imagem central com bom foco com as Elac F5.2.

O nível de compatibilidade dessa caixa – uma das mais equilibradas que eu já ouvi – é altíssimo. Se respeitada uma mínima boa potência para controlá-la, acho que por ser tão natural e musical, ela conseguiria ir bem tanto com valvulados como com transistorizados, e até com classe D! Quanto a todos os cabos envolvidos, fontes digitais e analógicas, e seus devidos acessórios, eu sempre procuraria características e contribuições sonoras com bom equilíbrio tonal, em todos esses. E, claro, ao começar um sistema com essa caixa, você pode usar equipamentos e periféricos categoria Ouro ou Estado da Arte inicial, mas saiba que ela irá responder muito bem a fontes e amplificações Estado da Arte intermediárias, equilibradas e com boa autoridade sonora. Ela tem para onde crescer.

Feitas de MDF e cobertas com vinil preto com uma textura que imita madeira, elas são bastante sóbrias e com design e acabamento bem feito, mas convencional. Isso, na minha opinião, foi o ‘preço’ a se pagar para ter o dinheiro do desenvolvimento gasto no projeto dos falantes proprietários e do divisor bem bolado – ou seja, na qualidade sonora, não em um visual luxuoso. A construção das F5.2 é excelente, de alta qualidade física, e o gabinete é bem sólido e bem travado internamente, lidando muito bem com vibrações e afins. E, os falantes terem seus cones pintados de cinza e o legal guia de ondas do tweeter, ambos fazem a caixa ter um visual muito legal.

SISTEMA

Para o teste das Elac F5.2, usei os seguintes equipamentos. Caixas acústicas: Energy C-50, e Emotiva B1. Amplificadores: Emotiva TA-100, e Aiyima A06. Fontes digitais: DAC interno do integrado Emotiva, Bluetooth uGreen, Google Chromecast Audio – todos com streaming de arquivos digitais armazenados em disco rígido, e com serviços de streaming pela Internet. Cabos: Sunrise Lab. Acessórios: um sortimento deles.

AMACIAMENTO

Com as F5.2 chegando lacradas para mim, começou o longo e exigente processo de amaciamento delas: 200 horas! E isso significa 200 horas de incômodo para todo mundo à minha volta, e ainda assim não dá pra deixar caixas amaciando durante a noite, infelizmente. Mas, caro leitor, devo dizer: vale a pena a espera e o trabalho! E muito!

Antes de começar o amaciamento, as minhas primeiras impressões foram: o palco desde o zero impressiona, e os graves descem bem e têm bom corpo (isso muda durante o amaciamento, quando os médios-graves dão uma sumida, mas não se preocupem, pois eles voltam depois, com vontade). Nesse primeiro momento, os agudos não tem extensão, mas isso aparece depois com beleza e precisão. Há, claro, como em toda caixa, um ‘desencaixe’ entre o grave e o médio-grave, e entre o médio-agudo e o agudo. O desencaixe do grave é muito bem resolvido lá pelas 120 horas de amaciamento, e o do agudo só lá pelas 180 a 200 horas, quando o médio-agudo recua e fica natural e equilibrado. Amaciamento é isso aí! E para as Elac F5.2: 200 horas!

COMO TOCAM

As Elac F5.2 tem um som mais para o quente, com muita profundidade e descongestionamento, e na maior parte do tempo não conseguem causar agressão ou serem analíticas. Quem quer uma caixa frontalizadora que ponha a cantora um metro na sua frente – uma situação completamente artificial – não vai querer as F5.2. Quem quer ter um som analítico e hiper detalhista, ‘hiper realista’, que mostre o bafo de alho do trombonista, as F5.2 não são para ele.

O equilíbrio tonal é excelente, trazendo uma característica que o Fernando Andrette adora: inteligibilidade em baixos volumes. Agudos com clareza sem serem ofensivos, médios bonitos e com belas texturas e bem integrados com os agudos. Os graves descem bem mais do que diz a especificação, então as F5.2 tem um bom porão. Já vi muita caixa descer bem, mas não ter peso no médio-grave, e esse não é o caso das F5.2: há porão, há tamanho e há peso, e há recorte, pois não é um grave borrachudo, não! O médio-agudo e o agudo poderiam se beneficiar de mais tamanho, recorte e presença – mas isso se espera de caixas bem mais caras.

Quanto ao palco, o som é separado e muito profundo, limpo, muito descongestionado – coisas que poucos anos atrás só se encontravam em caixas muito mais caras. Faixas que antes eram frontais e uma só massa sonora, que em outras caixas de bom preço eram muito comprimidas, agora ficaram ‘soltas’. O palco tem excelente largura e altura – em uma faixa ‘à capella’ do disco Strange Angels, da Laurie Anderson, em um momento há uma segunda voz, essa masculina, em uníssono com ela, e nas F5.2 você percebe que o homem é mais alto que ela! O palco delas é uma experiência ‘fora da caixa’ em muitas gravações – ou com integração natural entre o que acontece na caixa e o que acontece fora delas em outras gravações, fazendo uma imagem natural em toda sua largura.

O equilíbrio e os timbres providos pelas F5.2 – casadas em um bom e bem acertado sistema – sempre te mostrarão texturas bonitas e realistas, onde ficarão bem claras as diferenças entre bons ou maus instrumentos, e se esses foram bem captados ou não nas gravações.

Quanto à transientes, dá para perceber facilmente as diferentes intencionalidades e velocidades dentre uma massa de vários instrumentos – como o uso de várias percussões diferentes tocando ao mesmo tempo na trilha sonora da versão moderna da série Battlestar Galactica, concebida pelo jovem e prolífico compositor Bear McCreary. Neste caso, é um disco gravado ao vivo, um concerto com os melhores momentos da trilha da série, chamado So Say We All – Battlestar Galactica Live.

Com tremenda microdinâmica, não são caixas viscerais, e sua macrodinâmica tende mais à naturalidade do que aos ‘arroubos de paixão’. Isso quer dizer que crescendo de música mais complexa como a orquestral, por exemplo, são sutis e naturais – não chamam a atenção ao acontecer, simplesmente acontecem.

Como dito sobre o equilíbrio tonal (os quesitos são todos bastante interligados), o que eu acho que falta nas F5.2, para serem no mesmo nível de ‘supercaixas’ ultra hi-end (além de visceralidade) é o corpo harmônico trazer aquele brilho e tamanho e recorte extras ao médio e ao agudo, que faz as caixas topo parecerem ‘realidade virtual’. Entenda aqui que, se as F5.2 tivessem esse corpo a mais, elas competiriam com caixas que têm até dois zeros a mais na sua etiqueta de preço. Porque, amigo, pelo preço atual delas, eu teria dificuldade de dizer alguma outra caixa melhor!

A capacidade dessas caixas de serem orgânicas – de mostrarem de maneira mais orgânica e realista o acontecimento musical real – só não recebem nota mais alta, exatamente pelo que eu falo acima sobre o corpo harmônico.

Como nosso moderno e salutar editor chefe costuma dizer: os produtos mais Musicais – que melhor têm a capacidade de reproduzir música como ela é em todas suas características – são aqueles cujas notas todas são as mais próximas possível. E as torres Elac Debut 2.0 F.5.2 são esse tipo de equipamento!

CONCLUSÃO

Natural, musical, orgânica, equilibrada, a Elac Debut 2.0 F5.2 é o ponto de partida, o alicerce ideal para um sistema de entrada bem equilibrado. E se a amplificação escolhida for no mesmo nível financeiro da caixa, saiba que em um ou dois próximos upgrades, ela é que permanecerá – como um farol em um porto seguro – pois ela ainda terá um bocado de ‘garrafa pra vender’, como diz nosso arrojado editor Fernando ‘Amigo Leitor’ Andrette.

Nota: 85,0
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R$ 8.682

CAIXAS ACÚSTICAS JBL L82 CLASSIC

Fernando Andrette

Felizmente essa volta do visual vintage no áudio hi-fi não me parece ser apenas uma jogada de marketing ou um saudosismo exacerbado.

De tudo que ouvi até o momento, todos possuem essa ‘roupagem’ anos 70, porém repletos de atualizações e soluções bastante surpreendentes em termos de performance e versatilidade.

E começarei minhas apresentações ‘vintage’ em 2022 pela série Classic da JBL, testando o modelo L82 neste mês e, em breve, a L100 Classic 75, edição especial de aniversário de 75 anos da empresa.

E teremos mais surpresas ‘vintage’, vindas da Inglaterra em breve!

Eu ouvi rapidamente a L100 Classic no começo de 2020, e fiquei muito encantado com sua assinatura sônica, já que cresci ouvindo o modelo original nos anos 70, em diversas configurações e salas de clientes do meu pai e na casa de amigos. E por mais que gostasse naquela época da caixa, tinha para mim que ambas as pontas eram por demais coloridas e desequilibradas.

E como é fácil sermos ‘preconceituosos’ ao extremo, ao ter a oportunidade de ouvir novamente a caixa, antes de iniciar a audição, me passou o filme de várias configurações que tive de ouvir com a caixa e achei que iria ouvir mais do mesmo, só que em um sistema atualizado, sala com tratamento acústico, elétrica tratada, etc.

E foi uma sonora surpresa ouvir uma caixa sem pontas ‘não amarradas’, um belo corpo harmônico, texturas refinadas, e um equilíbrio tonal digno de caixas hi-end. E achei que, quando um novo distribuidor fosse definido, seria importante poder testar e compartilhar com vocês os avanços conquistados na linha Classic.

E esse dia chegou e resolvi iniciar pela L82 Classic, por ser a metade do preço da L100 Classic e, no meu modo de ver, no atual momento do mercado e no tamanho das salas da esmagadora maioria dos nossos leitores, muito mais condizente com a nossa realidade.

Muitos leitores reclamam que, por mais que saibam que para seus espaços books sejam o ideal, relutam em aceitar essa verdade, por sentirem que as books que possuem melhor corpo e peso nos graves e médios-graves, são geralmente fora de seus orçamentos.

E tenho que concordar que, dependendo do gênero musical apreciado, books ’magras’ são uma decepção. E ao ouvir a L82 Classic pela primeira vez em um ambiente de 12 metros quadrados, a Sinfonia Fantástica de Berlioz, me dei conta do quanto essa book fugia do estereótipo de magreza, e do prazer e encanto que foi ouvir a orquestra soando na sala, com corpo, peso e energia.

E antes de descrever tecnicamente a L82 Classic, deixo aqui para a posteridade que discordo integralmente dos testes que afirmam ser essa JBL para apenas determinados estilos musicais (como li em alguns testes), pois ainda que a linha Classic não seja a última palavra em transparência ou o último fio de cabelo em extensão nos agudos, o que ela se propõe é que o ouvinte desfrute da música sem ficar se preocupando em analisar o conteúdo e sim aprecie a música!

Dito isso, vamos aos detalhes técnicos dessa pequena joia musical!

Com seus 13 kg, é uma book de tamanho e peso imponentes. Seu clássico woofer de 20 cm ainda é o feito com celulose branco, e seu tweeter de domo de titânio de 2.5 cm vem com um guia acústico semelhante ao da L100. Sua sensibilidade é de 88 dB, crossover com corte em 1,7 Khz, resposta de frequência de 44 Hz a 40 kHz.Altura 44 cm, largura 28 cm e profundidade 31,5 cm.

Para facilitar o posicionamento em salas menores, o pórtico bass reflex fica ao lado do tweeter, o que se mostrou excelente quando a colocamos em nossa sala de home theater com apenas 12 metros quadrados. Pois foi possível deixá-las a apenas 70 cm da parede às costas da caixa, sem acentuação do grave ou perda nas fundamentais.

Seu design, como teria que ser, é tipicamente anos 70, muito bem acabado, porém sem o brilho e detalhes de caixas hi-end atuais. O folheado é de nogueira sem aplicação de nenhum verniz. Eu gosto, mas eu sou um cara que conviveu com todas as caixas dos anos 60, 70 e 80, e todas eram assim em termos de gabinete. Os mais jovens eu não sei o que acham (minha filha de 13 anos, achou um caixote sem ‘apelo visual’ algum, mas quando ouviu a caixa, se encantou pela sonoridade).

O importador não trouxe seu pedestal dedicado oferecido pela JBL, então ficarei devendo dizer como elas se comportam em seus pedestais, mais baixos, com uma angulação que joga seu som para cima. Então testamos as L82 Classic nos nossos dois pedestais disponíveis: o da Magis Audio e o da Timeless.

Pela altura do tweeter, ela ficou melhor instalada no da Magis, que é alguns centímetros mais baixo que o da Timeless, e assim conseguimos um foco e recorte mais refinado. Outra questão a ser considerada é deixar os tweeters voltados para dentro ou para fora. Você terá que testar as duas posições, pois cada uma tem vantagens e desvantagens, dependendo do tamanho da sala, distância possível entre as caixas, e se você prioriza a largura do palco ou a consistência da imagem entre as caixas.

Na sala de home-theater, priorizamos a imagem entre as caixas deixando o tweeter para dentro, e na nossa Sala de Referência – muito maior – deixamos os tweeters para fora.

Dica importante, para uma maior profundidade, será preciso dar a elas a maior distância de tweeter à tweeter. Menos de 2 metros entre elas, mesmo mudando radicalmente o ângulo de escuta, a profundidade será limitada. O ideal é, no mínimo 2.80 m, aí pode-se administrar o ângulo voltado para o ponto ideal de audição. Em nossa Sala de Referência, elas ficaram a 1.80m da parede às costas, a três metros entre tweeters, e viradas 15 graus para o ponto de audição.

Com a altura no pedestal da Magis, e com o tweeter ligeiramente acima das orelhas. Nessa posição, tanto largura como altura foram excelentes. A profundidade dependeu mais da qualidade da gravação do que das caixas.

Para o teste, utilizamos: powers Nagra Classic, integrado Mark Levinson 5802 e integrado Shuguang Audio SG-845-7. Pré de linha Nagra Classic, DAC TUBE Nagra, pré de phono Gold Note PH-1000, toca-discos Origin Live Sovereign com braço Origin Live de 12 polegadas, e cápsula ZYX Ultimate Omega G. Cabos de caixa: Dynamique Audio Apex, Virtual Reality Trançado e Oyaide Across 3000 B. Cabos de força: Sunrise Lab Quintessence, Transparent PowerLink MM2 e Kubala-Sosna Realization. Interconexão: Sunrise Lab Quintessence Aniversário (RCA e XLR), Dynamique Apex (XLR), Kubala-Sosna USB Realization, e Sunrise Lab Quintessence Aniversário e AES/EBU Crystal Cable Absolute Dream.

As caixas vieram lacradas ‘zero bala’. Se o amigo leitor, ao ler este teste, gostar da caixa e quiser adquiri-la, torça para ir a que testei, pois é uma caixa que precisa de um longo amaciamento – principalmente o tweeter, e para ele tenho um truque: quando puder deixe o ajuste do tweeter no máximo, mas só no tempo de amaciamento, e depois para as audições volte a 0 dB. Estou falando de um amaciamento de 180 horas, no mínimo. E outra dica para o woofer, se o amigo tiver analógico ouça muito LP e deixe as baixas frequências chacoalharem o woofer sem dó! As primeiras 50 horas serão sofríveis, mas não se preocupe, pois a partir daí começam a aparecer as virtudes da caixa.

Os graves têm uma autoridade e uma presença que fará você coçar a cabeça, de como uma book consegue esse corpo e deslocamento de ar. E o mais legal é que, mesmo em volumes na ‘calada da noite’, o grave se faz presente de maneira incrivelmente precisa.

A região média é muito correta, com excelente corpo tanto no médio-grave como até os 1.7kHz, quando o sinal é entregue ao tweeter.

Os engenheiros da JBL foram muito felizes na transição do médio-alto para o tweeter, pois não se sente sobreposição, mesmo quando ouvimos a menos de 1 metro da caixa. Mas, lembre-se, para se ter esse equilíbrio tonal, o ajuste do tweeter tem que ser zero dB! Nada de deixar no máximo, pois o brilho a mais não se traduz em extensão a mais, e compromete o equilíbrio tonal da caixa.

O tweeter é muito bom, ainda que não reproduza decaimentos super longos, como tweeters mais sofisticados (berílio ou diamante), então não espere a mais alta fidelidade em termos de ambiência e sim uma ideia aproximada dos ambientes em que as gravações foram feitas.

Por outro lado, o ouvinte terá excelente corpo nas altas e a correta velocidade.

Como escrevi no início do teste, discordo dos revisores que disseram que a L82 Classic não reproduz bem todos os gêneros musicais – eu achei exatamente o contrário. O que ela não faz com primor de caixas mais caras e sofisticadas, é mostrar o sumo do sumo da transparência ou do detalhamento. Vou dar alguns exemplos: ouvindo quartetos de cordas, não tenho a micro variação de tensão dos arcos, ou a precisão quase que visual das cordas dedilhadas. Em compensação as texturas, transientes, corpo e timbre são excelentes. Permitindo que o ouvinte não se desconcentre nunca da música.

Outro exemplo: desmembrar o naipe de metais e identificar cada instrumento, o todo sempre irá prevalecer nas L82 Classic, e não as partes ou detalhes. Por sorte, no momento do teste, também chegou a Elac Uni-Fi 2.0 UB5.2 – outra excelente book – com um falante dual-concentric (o tweeter no meio dos médio), que em termos de extensão nas altas e transparência é superior à L82 Classic. Porém é muito mais dependente do tamanho da sala, da eletrônica, do cabeamento e, pelas dimensões, jamais conseguirá reproduzir o corpo harmônico da L82 Classic, e nem esse grau de coerência e uniformidade do todo.

Como sempre escrevo, tudo é uma questão de compromisso. Seja em sistemas mais modestos, intermediários ou top.

Não há perfeição total! Quem acredita nessa possibilidade, irá gastar muito e sempre se sentir frustrado.

Peguemos o meu caso: eu não pensaria duas vezes entre a L82 Classic e books que não me possibilitam melhor corpo harmônico, pois ouço muito música clássica e obras complexas, e com enorme variação dinâmica. E aí entramos na maior das virtudes da linha Classic da JBL: gostam de serem testadas em volumes das gravações. O tranco que elas suportam sem distorcer é impressionante! Estou falando em volumes realistas das gravações, não em volumes excessivos e acima dos mixados nas gravações. Nesse aspecto, a L82 Classic tem comportamento de coluna e não book.

Seu soundstage, como disse, irá ser muito dependente da abertura e do ângulo das caixas em relação ao ouvinte, mas seu foco e recorte são muito precisos.

As texturas possuem uma bela paleta de cores, e em uma eletrônica de alto nível todas as intencionalidades serão apresentadas.

Os transientes são excelentes, assim como a macrodinâmica, que é muito acima do tamanho físico da caixa. Já a microdinâmica, dependerá muito da qualidade de captação, pois esse quesito está intrinsecamente relacionado ao grau de transparência. Então, se você é um audiófilo que quer que aquele sininho tenha que soar translúcido e transpassar todo o acontecimento musical, esqueça a L82 Classic. Mas se você não quer perder a concentração pelo sininho que insiste em se sobressair, desviando sua audição do todo, a L82 Classic pode perfeitamente ser sua caixa!

Outra virtude que já disse em vários pontos do teste, é o corpo harmônico, algo inacreditável para uma book com essas dimensões. Tímpanos, trompas, pianos, contrabaixos soam muito próximos de caixas tipo coluna de média para grande proporção. Este quesito da Metodologia foi o que mais me agradou na L82 Classic. Os amantes de rock ficarão impressionados como soam os bumbos nessa book!

Materialização física: aqui novamente essa ‘mágica’ depende muito do grau de transparência, porém sempre lembro a todos: do que adianta uma materialização física de um piano de cauda do tamanho de uma pizza brotinho? Seu cérebro não vai cair nessa, vai?

Então o que a L82 Classic faz é: em gravações impecáveis tecnicamente, ela lhe dá a noção (graças ao seu corpo harmônico) de um piano ali a sua frente. E em gravações medianas, o prazer fica pelo tamanho dos instrumentos (percebe, amigo leitor, como tudo é puro compromisso?).

Musicalmente, a L82 Classic me agradou muito, pois sua assinatura sônica está mais para o lado do quente, do sedutor e de que o ouvinte esqueça de avaliar limitações tanto da caixa, como do sistema ou da gravação. E possui folga suficiente para deixar o ouvinte colocar o volume realista da gravação sem se arrepender e correr para baixar.

CONCLUSÃO

Se você se convenceu que seu upgrade de caixas tem que ser uma book, ainda que você tenha restrições ao tamanho do corpo harmônico, peso dos graves, energia e deslocamento de ar, ouça a LS 82, uma caixa extremamente fácil de tocar, amigável com amplificadores de apenas 20 Watts como o integrado chinês utilizado no teste, como com os integrados com mais de 100 Watts como o Nagra e o Mark Levinson.

Com uma fonte (seja analógica ou digital de bom nível) cabos com bom equilíbrio tonal e um amplificador com a mesma assinatura sônica da caixa, não tem como errar!

O resultado será sempre a música e não os detalhes!

Nota: 86,5
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R$ 21.274

CAIXAS ACÚSTICAS ELAC UNI-FI 2.0 UB52

Fernando Andrette

Depois de testarmos toda a linha Reference e Debut Reference, com a participação de todos os nossos colaboradores (Juan Lourenço e Christian Pruks), achei que não iria me surpreender com nenhuma outra Elac de preço acessível ainda a ser avaliada.

E aí fomos convidados a conhecer a série Uni-Fi, e sua book 2.0 UB52, uma caixa com dimensões ainda menores que a Debut Reference, mas com um grande diferencial: trata-se de uma book de três vias com o uso de um falante concêntrico, com um tweeter embutido no médio de cone de alumínio de 4 polegadas, com um conjunto de imã de neodímio aprimorado da versão anterior UB5.

E o falante de grave de 5,25 polegadas também utiliza um cone de alumínio.

Em relação à UB5 que não conheci, as dimensões são um pouco diferentes, sendo a nova versão um pouco mais alta, porém mais estreita e mais profunda. O duto agora foi colocado na parte frontal do gabinete, justamente para permitir que as caixas possam ficar mais próximas da parede às costas delas. O gabinete também sofreu alterações com o uso de MDF mais espesso, cantoneiras internas de maior rigidez para se reduzir vibrações e colorações.

O novo crossover possui, segundo o fabricante, maior linearidade e melhor integração entre os drivers (os pontos de crossover são 200 Hz e 2 kHz, e no modelo anterior o corte em cima era em 2,7 kHz). Sua sensibilidade é de 85 dB (o que irá exigir um amplificador mais ‘parrudo’), e a impedância nominal é de 6 ohms, e mínima de 4 ohms.

Para baratear custos, a única opção de acabamento é o vinil black ash. Lá fora ela custa U$599, uma faixa com inúmeros concorrentes de peso.

Recebemos a Uni-Fi 2.0 (permita-me abreviar), totalmente zerada. O que nos levou a uma breve primeira audição e direto para a tortura de amaciamento junto com o integrado da Leak Stereo 130, que também chegou na mesma semana.

Para o teste, utilizamos os seguintes equipamentos: pedestais da Magis, Audio Concept e Timeless. Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado, e Oyaide Across 3000B. Integrados: Krell K-300i (leia Teste 2 na edição 286), Leak Stereo 130 (teste na edição 288), e Sunrise Lab V8 Anniversary 20 anos (leia teste edição 287). Fontes digitais: streamer Innuos ZENmini Mk3, CD-Player Mark Levinson No.5101 (leia teste na edição 285), DAC MSB Reference (leia Teste 1 na edição 286), Transporte e TUBE DAC. Toca-discos: Thorens TD 1601 (leia teste na edição 287), com cápsula ZYX Bloom 3 (leia teste na edição 274). Pré de phono do integrado V8 Anniversary, e Gold Note PH-1000.

Ainda que a Uni-Fi 2.0 seja uma das menores books já testadas, sua impetuosidade e capacidade de preencher com autoridade uma sala de até 20 metros, me lembrou a Boenicke W5SE, também de tamanho reduzido, que nos deixa perplexo como consegue driblar suas dimensões tão reduzidas.

Eu gosto muito de books de três vias, pois quando bem projetadas permitem uma uniformidade na apresentação do acontecimento musical, muito mais coerente e agradável em termos de inteligibilidade.

Isso fica evidente em passagens complexas, em que nas books de duas vias o falante de médio-grave tem que cobrir duas extensas pontas sem se esquecer da região média, e isso muitas vezes se traduz em menor corpo harmônico nos médios-graves, ou uma menor inteligibilidade em passagens com muita informação em uma mesma frequência. É o famoso ‘cobertor de pobre’ – afinal são escolhas que o projetista precisa fazer.

Isso ficou muito claro quando, recentemente, testei as JBL L82 e L100 Classic, que possuem os mesmos drivers, e o quanto a L82 Classic se esforça para cobrir uma região que se estende de 52 Hz a 1700 kHz. Tocando as mesmas faixas no mesmo volume, em ambas as caixas, o grau de conforto auditivo e de inteligibilidade, na L100, são muito maiores!
Para o leitor que possui um gosto musical em que as variações dinâmicas são frequentes, e escuta obras com muitos instrumentos, ter a possibilidade de escolha de uma book de três vias sempre terá vantagens, acredite.

Esse é o maior mérito da Uni-Fi 2.0, o ‘descongestionamento’ e a organização de tudo que esteja dentro do espectro de 60 Hz até 2 kHz, pois sua desenvoltura nessa ampla faixa é realmente impressionante.

Claro que se paga um preço por se colocar três vias em um gabinete tão reduzido. O uso de um falante concêntrico, se por um lado nos dá um foco e recorte cirúrgico, por outro lado o corpo harmônico dos instrumentos nessa frequência serão um pouco menores. Mas se tratando de books (sempre haverá uma perda neste quesito, não tem escapatória).
O importante é que na Elac Uni-Fi 2.0 o corpo harmônico é bem coerente, sem riscos de ouvirmos um violino com corpo maior que um contrabaixo, por exemplo.

É uma caixa que precisa de pelo menos 150 horas de amaciamento para podermos ter certeza de que seu equilíbrio tonal se aprumou. Antes do amaciamento total, a região média hora aparece frontalizada, hora recuada demais em relação aos agudos. A dica de que o martírio do amaciamento chegou ao fim, é colocar um quarteto de cordas ou um piano solo (boas gravações, claro) – e observar como a região média-alta se comporta. Se ficar oscilando, com certas frequências mais frontalizada e outras mais recuadas, ainda não amaciou completamente. Pois quando estiver 100%, há um encaixe e cessa qualquer tipo de oscilação.

Eu costumo também usar, em falantes concêntricos, saxofone alto e violino, pois ambos cobrem bem essa região em suas três oitavas (seja com as notas fundamentais ou com primeiro, segundo e terceiro harmônico).

Com 150 horas, toda oscilação finalmente cessou, possibilitando iniciarmos o teste e avaliação de todos os quesitos da Metodologia.

Como estava descrevendo, o equilíbrio tonal da Elac é muito bom, ainda que se o projeto não fosse de um concêntrico, os agudos poderiam ter um pouco mais de extensão e decaimento suave nas altas – o que é necessário para se ter uma maior fidelidade da ambiência em que as gravações foram feitas (algo que nos meus 50 anos de audiófilia, vi poucos darem a devida importância a esse detalhe).

E a vantagem deste tweeter ter menor extensão, é que gravações tecnicamente com excesso de brilho nas altas ficarão mais palatáveis aos ouvidos.

Escolhas meu amigo, sempre elas que irão nos fazer declinar ou abraçar qualquer produto.

A região média é surpreendentemente bem definida, e com um grau de transparência muito bom para a sua faixa de preço. Permitindo um grau de inteligibilidade de modelos muito mais caros. Como é muito coerente e plano dos 200 Hz aos 2000 kHz, toda a informação nessa faixa do espectro audível será notada sem nenhum esforço adicional. Essa foi uma das qualidades que mais chamaram a atenção de quem ouviu essas Elacs, sendo que todos os amigos músicos que o fizeram, ressaltaram que nessa região ela se comporta como um monitor de estúdio, porém sem ser frio ou analítico.

Os graves conseguem ser articulados, precisos, com boa energia, sem, no entanto, terem aquele peso e fundação tão presente e encantador na L82 Classic. Então, para os amantes de graves, a Uni-Fi 2.0 não será a melhor pedida (a menos que exista a possibilidade do uso de um subwoofer para trabalhar até os 70 Hz). Acima de 60 Hz, o grave da Elac já tem boa definição e nos surpreende pela autoridade com que se apresenta. Você fica olhando para aquele pequeno gabinete se perguntando como um falante tão pequeno consegue dar conta.

Como nunca fui um grave dependente, eu jamais me incomodo. Para mim, mais que graves que desloquem a bainha da calça, o que importa é o corpo harmônico, definição, sustentação e velocidade. E nesses quesitos dentro de sua limitação de tamanho, a Elac se mostrou excelente.

Existe uma coerência no equilíbrio tonal desta caixa, de cima embaixo, encantadora, que se traduz em uma apresentação sempre detalhada, solta, bem articulada e refinada. O que significa muito para uma caixa nessa faixa de preço (não nos esqueçamos disso).

Seu soundstage está acima de outras books concorrentes, graças ao falante concêntrico, à suas dimensões, e à facilidade de poder aproximá-las da parede por seu duto estar na frente da caixa e não atrás.

Os cuidados serão com a altura do pedestal em relação ao ouvinte. O Timeless permitiu que o falante concêntrico ficasse na altura do meu ouvido, quando sentado na posição ideal de escuta, e com um leve toe-in para o centro (10 graus apenas, será o suficiente), com isso a materialização do foco, recorte e planos foi excepcional! A Elac possui boa largura e altura, e um pouco menos de profundidade.

As texturas são de alto nível, principalmente na apresentação da paleta de cores dos instrumentos, e no reconhecimento da qualidade dos instrumentos e dos músicos. Chegamos a ouvir a gravação da Janine Jansen, dos 12 Stradivarius, nela – e nos surpreendemos como foi fácil observar as diferenças dos instrumentos. Esse foi o exemplo que utilizei para apresentar as qualidades da Elac para três amigos músicos.

Os transientes são excelentes, nos permitindo acompanhar com total interesse o andamento e ritmo com precisão, jamais soou letárgico em nenhuma situação.

A macrodinâmica obviamente será limitada, mas em volumes decentes, preservando suas limitações, é possível sim ouvir o quarto movimento da Sinfonia Fantástica de Berlioz, ou a Sagração da Primavera de Stravinsky, em uma sala de até 12 metros sem perda de interesse na audição. Falta aquele peso nos tímpanos? Claro que falta! Mas a obra não é apenas essas passagens de macrodinâmica, certo? E a micro, graças à sua transparência na região média, é muito fácil de ser escutada.

O corpo harmônico, como escrevi no início do teste, ainda que seja menor que de uma coluna (por motivos óbvios), é bastante coerente, e o ouvinte não correrá o risco de ouvir um flautim com mais corpo que um sax barítono.

A organicidade sempre costuma ser mais fácil de materializar em projetos com falantes concêntricos (quando bem executados, claro). Aqui, nas gravações técnicas de alto nível, os músicos se fizeram presentes.

CONCLUSÃO

Eu me encantei tanto com a JBL L82 Classic (por outras qualidades) quanto pela Elac, e ter as duas no mesmo período para fazer esses aXb foi muito elucidativo.

Se a L82 é sedutora por dar a uma book um corpo e um peso tão mais próximo das colunas, a Elac me ganhou pela sua capacidade de reproduzir qualquer gênero musical com enorme liberdade e graça. Se eu tivesse algum conhecimento técnico e jeito, buscaria uma maneira de juntar as qualidades dessas duas books em uma só. Pois, dependendo da música que ouvia, ficava em minha mente fazendo conjecturas de como seria essa simbiose de juntar as qualidades de ambas. A diferença, além do preço (a L82 é muito mais cara), é que a book da JBL é para ambientes maiores (até 20 metros) e a Elac, para salas no máximo de 14 metros (sendo o ideal para salas de 9 a 12 metros).

Então, se o seu espaço é reduzido, mas você chegou à conclusão que sua eletrônica merece uma caixa mais refinada e correta, a Elac Uni-Fi 2.0 UB52 precisa ser avaliada. Pois ela é uma book preparada para qualquer desafio, e não escolhe gênero musical para mostrar a que veio.

Esse foi o último projeto do projetista Andrew Jones antes de sair da Elac, e li em várias entrevistas que ele tinha enorme orgulho do resultado alcançado.

Eu agora entendo perfeitamente o motivo!

Nota: 87,0
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CAIXAS ACÚSTICAS ELIPSON HERITAGE XLS 15

Fernando Andrette

Se você não esteve desconectado do mundo nesses últimos dois anos e meio de pandemia, certamente sabe que o glamour do vintage voltou com tudo, da moda aos utensílios domésticos (está faltando ressurgir apenas no setor automotivo). E no segmento de caixas acústicas, cada dia surge um novo modelo, nos transportando diretamente para as décadas de 60/70, nos anos dourados, em que toda família de classe média tinha um sistema de áudio em sua sala de estar (nem que fosse um móvel enorme com tudo acoplado).

Eu vivi essa fase intensamente, e posso garantir que ter uma caixa de enormes dimensões no meio da sala era sinal de status, e um belo porta-copos e cinzeiros em dias de festas.

Claro que os grandes fabricantes de caixas acústicas, desses anos dourados, que sobreviveram à décadas de mudanças na maneira de ouvirmos nossa música, estão surfando nessa onda vintage ‘de braçada’ e ditando as regras, já que para eles ‘relançar’ seus maiores ícones se tornou quase que obrigatório.

Então era uma questão de tempo para o fabricante francês Elipson pedir aos seus engenheiros para mostrar como soariam hoje suas caixas daquele período, assim como fizeram (e com enorme sucesso) JBL, Mission e Wharfedale.
No entanto, como esse mercado vintage começa a ficar mais competitivo, entrar nessa onda necessita de que as empresas encontrem algum diferencial significativo para colher frutos.

E a Elipson optou por buscar esse diferencial no preço final ao consumidor!

Ao receber a Heritage XLS 15, me assustei com seu peso e com o volume da embalagem, pois estávamos ainda com a JBL L100 Classic em teste, e pudemos mesmo antes de abrir a caixa, observar que era ainda maior em tamanho que a JBL.

Ao desembalar as caixas, com ajuda de meu filho, é que notamos que as semelhanças com a JBL não acabam aí. O woofer de 12 polegadas também possui um cone branco e ainda que a Elipson seja mais alta e mais larga, o gabinete é muito semelhante, me lembrando que todas as caixas dos anos sessenta e setenta eram assim.

Outra semelhança é o pedestal baixo inclinado, idêntico ao da JBL, e que também necessita de quatro braços, para colocar a Elipson sobre eles.

Os bornes da caixa, arriscaria dizer que são os mesmos que da JBL, com o mesmo problema para rosquear, já que são muito próximos e de difícil acesso. Nesse caso a Wharfedale deu uma aula com suas caixas ‘vintage’, pois renovou onde era fundamental – e bornes de caixas também são fundamentais, tanto quanto falantes, crossover e gabinete.

As semelhanças com a JBL acabam aí, já que seu falante de médio de 44 mm é um domo de cúpula de seda, assim como seu tweeter de 25 mm.

Os cortes de frequências da Elipson também são bem distintos e interessantes, com o woofer trabalhando dos 40Hz até 700Hz, passando para o falante de médio que vai de 700Hz a 5000Hz, entregando ao tweeter nos 5000Hz, que vai até os 25kHz. Esse corte se mostrou bastante interessante, e foi possível perceber as vantagens dessa escolha nas nossas audições.

O fabricante fala em uma sensibilidade de 92dB para uma impedância de 6 ohms (valor mais próximo para uma medição em câmara anecoica). Diria que para salas normais de audição, a sensibilidade real da Elipson seja de 89dB, que já é suficiente para poder trabalhar com amplificadores em salas pequenas a partir de 20 Watts.

Como a maioria das caixas ‘vintage’ da atualidade, o consumidor pode ajustar em 1dB para mais ou para menos os médios e agudos, para se adaptar a acústica da sala de audição. E eu diria: esqueça esse ajuste e deixe a caixa, depois de amaciada, em flat – se você deseja o melhor equilíbrio tonal delas!

Por experiência, sabia só ao olhar aquele enorme woofer de cone de papel, que a queima seria longa (bota longa nisso), assim como foi das duas JBL (L100 Classic e L82 Classic).

Feita a primeira audição para minhas anotações pessoais, deixei-as nas mãos do belo amplificador integrado Willsenton R8 (leia teste na edição de 289), que também estava em fase de amaciamento – e só voltei a ouvi-las após 100 horas de queima.

Os médios e agudos com 100 horas, com ajuste em flat, já se mostraram bem encaixados e já foi possível perceber que a escolha dos engenheiros em estender os médios até os 5kHz foi extremamente acertada, e o encaixe para a passagem para os agudos se mostrou suave e sem nenhum vale ou pico.

Em compensação, os graves ainda eram o ‘grave de uma nota só’, e os médios-graves completamente recuados. Tanto que se o revendedor mostrar a Heritage XLS 15 nesse período de amaciamento, não irá vender nenhuma! Pois realmente o que se escuta, é assustador!

Voltando para a ‘sala de tortura’, deixamos a Elipson por mais 200 horas, só amaciando com gravações de órgão de tubo (Fuga de Bach, noite e dia).

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Amplificadores integrados: Sunrise Lab V8 edição de aniversário (leia teste na edição 287), Krell K-300i (leia teste edição 286), e Willsenton R8 (leia teste edição de 289). Powers: Nagra HD. Pré de linha: Nagra Classic. Digital: Nagra TUBE DAC, Transporte Nagra. Analógico: Pré de phono Gold Note e toca-discos Thorens TD 1610 (leia teste edição 287). Cabo de caixa: Virtual Reality Trançado. Cabo de interconexão: Kimber Kable Carbon RCA (leia teste 4 na edição 288).

Depois de 300 horas, finalmente os graves apareceram com peso, corpo e autoridade. Faltava ainda velocidade, mas pelo menos já foi possível deixá-las na sala de teste com o sistema e ir ouvindo inúmeros gêneros musicais à medida que fechávamos os testes da edições 286 e 287.

O que nos surpreendeu nessa fase, foi que mesmo fora da posição ideal, com caixas entre elas, sua imagem, foco e recorte no centro do palco eram bastante fidedignas. Mostrando que aquele enorme gabinete tinha muito a oferecer em termos de imagem sonora, quando estivesse no ponto ideal de audição.

A velocidade nos graves levou mais 80 horas – então, meu amigo, se você for um futuro comprador dessa caixa, é bom se munir de enorme paciência e colocar na cabeça que, antes de sair mostrando sua nova caixa, serão necessárias 400 horas de queima.

Ao buscar seu melhor posicionamento, descobri outra enorme semelhança com a L100 Classic: seu posicionamento é exigente e minucioso. Caso contrário, a altura do acontecimento musical sempre será mais baixa que o ideal. Para se corrigir esse obstáculo, sugiro que se comece por estabelecer a distância entre as paredes laterais e as costas das caixas. O primeiro passo é que a reprodução nas baixas frequências seja limpa, e para que isso ocorra, elas terão que ficar entre elas a pelo menos 2 m de distância. Se atente à quantidade de toe-in possível, pois elas não gostam de um ângulo muito voltado para o centro de audição, pois perdem uma de suas maiores virtudes: uma imagem ampla em termos de largura e profundidade.

O segundo passo, enquanto os graves nos guiam à escolha da posição ideal, é a distância das paredes. Elas, pelo seu tamanho, precisam de ar. Lembre-se que elas foram projetadas para salas entre 16 a 32 metros quadrados – usá-las em espaços menores será jogar seu dinheiro fora.

No mínimo elas precisam de 70 cm das paredes laterais e 80 cm da parede às costas delas. Mas se você quer deixá-las respirar de verdade, 1 metro no mínimo de todas as paredes, dará um excelente resultado, pois irá descongestionar os planos, foco e recorte.

Sem esse minucioso posicionamento na sala, o equilíbrio tonal será prejudicado. No entanto, se feito, a Heritage SLS 15 lhe recompensará com excelentes audições.

Outra dica importante: ainda que possua um gabinete imponente, é uma caixa para se ouvir em volume ‘correto’, pois se você se exceder no volume, ela tende a deixar o som mais frontalizado, perdendo a magia dos planos que ela apresenta. Mas não pense que nos volumes corretos, soará fria ou sem emoção. Pelo contrário, ela possui a capacidade de reproduzir em volumes corretos a música de maneira integral e muito cativante.

Seus graves possuem autoridade, peso e deslocamento de ar suficiente mesmo em baixa pressão sonora (entre 60 e 80dB), o que possibilita longos períodos de audição sem fadiga auditiva. Mas sua magia está na região média, com um grau de transparência incrível para sua faixa de preço (50% a menos que a L100 Classic), com uma apresentação natural e riquíssima em micro detalhes. Essa característica possibilita uma apresentação pormenorizada das texturas e intencionalidades.

Os agudos são corretos, sem nunca soarem brilhantes ou fatigantes. Essa escolha tem um preço: menor sensação de ambiência. Mas antes isso do que termos que ‘aposentar’ parte de nossa coleção por não conseguirmos ouvir os agudos.

Os transientes são corretos, porém sem aquela precisão cirúrgica que ouvimos em caixas com woofers menores – mas nada que tire o prazer de escutarmos música com forte marcação rítmica e variação de andamento.

A dinâmica é excelente, tanto a macro como a micro, mas com o adendo de jamais extrapolar o volume da gravação, pois ainda que os fortíssimos sejam reproduzidos, o endurecimento com o aumento de volume excessivo irá estragar essa passagem.

Os amantes de corpo harmônico (como o nosso colaborador Chris Pruks), iria ter orgasmos auditivos ao ouvir essa Elipson. Pois ela realmente sabe como reproduzir o tamanho real dos instrumentos (desde que fielmente captados).

Ouvindo obras sinfônicas com os naipes soando uníssonos, é um verdadeiro deleite ‘ver’ aquela imensa imagem sonora à nossa frente. Um excelente exemplo de corpo harmônico correto? Início do Quarto Movimento da Nona de Beethoven, com os contrabaixos tocando com arco. Nesse quesito, a Heritage XLS 15 é uma referência para qualquer caixa, independente do preço.

A materialização física do acontecimento musical dependerá sempre das melhores gravações existentes – nesses exemplos a sensação de estar acontecendo à nossa frente, será quase real!

CONCLUSÃO

Sempre, ao fechar um teste, a primeira pergunta que me vêm à mente é: A quem esse produto seria interessante? A resposta imediata é: a todo melômano que passou a vida buscando uma caixa dentro de seu orçamento e que possua sinergia com sua eletrônica (geralmente vintage ou mais de entrada). A este segmento arrisco dizer que essa caixa será o paraíso sonoro, pois ela não será exigente com seus pares, nem tão pouco seletiva ao extremo para se negar a tocar com eletrônicos mais antigos.

Mas, à medida que fui escrevendo o teste, tive que ampliar esse leque de consumidores aos que também amam válvulas – pois o casamento dela com o integrado Willsenton R8 foi magistral – como se tivessem sido feitos sob medida! Até no preço são semelhantes.

E, por fim, aos consumidores audiófilos que aprenderam a preservar sua audição e desejam uma caixa que possa lhes dar prazer em ouvir seus discos em volumes seguros, e não perder as nuances e detalhes de cada gravação.

Se você tem uma sala maior que 16 metros quadrados (o ideal seria de 20 a 25 m), e procura uma caixa com essas características descritas no teste, recomendo uma audição.

Ela pode lhe surpreender, só tenha a certeza de ouvir uma com 400 horas de amaciamento, por favor!

Nota: 89,0
AVMAG #288
Impel

marketing@impel.com.br
11 3582-3994
R$ 16.930

CAIXAS ACÚSTICAS WHARFEDALE EVO 4.4

Fernando Andrette

A cada caixa Wharfedale que recebemos para teste, temos uma sonora surpresa!

E quando pensamos na relação custo/performance de todas as séries que avaliamos até o momento (Diamond, Heritage e Elysium), fica muito nítido que esse fabricante com 90 anos de mercado quer continuar a ser reconhecido pelo seu grau de expertise e capacidade de produzir caixas acústicas altamente competitivas, e com uma relação custo/performance de alto nível.

A série EVO herdou muita tecnologia da série Elysium, como por exemplo o tweeter AMT, os dois falantes de grave de tecido duplo, o duto bass-reflex com saída controlada para baixo, para um maior controle de graves, e um gabinete baseado também na série top de linha.

O modelo EVO 4.4 é o top dessa série, e ainda que seja uma caixa com 23 kg, mais de 1 metro de altura, 25 cm de largura e 35 cm de profundidade, é uma caixa que não se torna imponente, ainda que esteja em salas de 15 metros quadrados.

O que chama a atenção é seu acabamento e a qualidade final dos quatro falantes. O fato do gabinete ser curvado, o deixa muito mais slim do que na verdade é. O gabinete da série EVO tem muito da série Elysium, como as camadas que misturam aglomerado macio e camadas mais rígidas de MDF. Esse composto tem como objetivo cancelar ressonâncias, e melhorar o efeito da transferência de ressonância de uma parede para a outra, internamente. Para isso se usa o recurso de colocar nas paredes suportes estrategicamente estudados para eliminação disso, sem secar demais o gabinete.

Para drenar a energia de baixa frequência, o duto fica na base do gabinete e, para isso, foi criado um suporte especial que separa o gabinete dessa base apenas por alguns centímetros, mas o suficiente, segundo o fabricante, para permitir que as baixas frequências respirem sem o efeito sopro existente em muitos projetos que utilizam dutos na frente ou nas costas das caixas.

A unidade de agudos AMT de 30 x 60 mm, utiliza uma maneira radicalmente distinta de mover o ar, quando comparada com um tweeter de domo. Um diafragma grande e leve plissado é acionado em sua superfície por fileiras de ímãs estrategicamente posicionados. Com isso o diafragma está sempre alinhado e, como resultado, permite uma ampla largura de banda e de fase, com muito baixa distorção.

Para trabalhar em conjunto com o tweeter AMT, os engenheiros desenvolveram um driver de médio de domo macio de 2 polegadas, muito leve, rápido e também com ampla largura de banda, graças a uma câmara traseira amortecida. Esse arranjo criativo permite que esse falante de médios trabalhe de 800 Hz a 5 kHz. Essa solução foi usada para permitir que o conjunto médio de domo macio e tweeter AMT sejam eficientes para uma maior precisão, rapidez na resposta de transientes e ampla dispersão, sem perda de detalhes, mesmo se você estiver muito fora do sweetspot (ponto ideal de audição).

Os dois falantes de graves da EVO 4.4, de 6.5 polegadas, são equipados com cones duplos de kevlar com uma borda de borracha de baixa perda, proporcionando uma resposta de ampla largura de banda com uma resposta de graves precisos e poderosos, e uma resposta de médios-graves ultra linear.

O crossover utiliza capacitores de polipropileno de alta qualidade, e indutores laminados de silício-ferro e núcleo-ar, utilizados para evitar interferência eletromagnética em uma placa de circuito modelada por computador para ajustar e garantir a resposta mais linear possível, sem vales ou picos entre os falantes.

Segundo o fabricante, todo esse cuidado e esforço no desenvolvimento do projeto resultou em uma sensibilidade de 89 dB, 8 ohms de impedância e resposta de 44 Hz a 22 kHz, com cortes no crossover em 1.4 kHz e 4.7 kHz.

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Amplificadores integrados Krell K-300i, Sunrise Lab V8 Edição de Aniversário, e o valvulado Willsenton R8 (leia Teste 1 na edição 289). Os cabos de caixa foram Virtual Reality Trançado, e o Dynamique Audio Apex. Fontes digitais: Streamer Innuos ZENmini Mk3, dCS Bartok, e transporte Nagra com TUBE DAC Nagra. Fonte analógica: toca-discos Thorens TD 1610 e Origin Live Sovereign com braço Enterprise C, e cápsula ZYX Ultimate Astro G. Cabos digitais: Crystal Cable AES/EBU Absolute Dream, e Dynamique Audio Apex (leia teste na edição 290). Cabos de interconexão: Sunrise Lab Quintessence Edição de Aniversário (RCA e XLR), Dynamique Apex (XLR) e Kimber Kable Carbon.

A caixa veio com apenas 40 horas de amaciamento, então fizemos apenas aquela rápida primeira impressão, com os discos da CAVI, e a colocamos para amaciar junto com o R8, que também chegou praticamente zerado.

O que ficou desse primeiro contato foi o mesmo DNA sonoro de todas as caixas atuais da Wharfedale: um grau de conforto auditivo maravilhoso, em que você pode tranquilamente ir apreciando cada melhora no amaciamento sem sair da sala ou deixar de ir descobrindo como seus discos de referência irão soar nela, à medida em que as pontas ganhem extensão e a região média e encaixe entre os médios altos e os agudos.

Com 100 horas voltamos a escutar primeiro com o integrado da Krell, que estava se despedindo e indo para o seu felizardo dono, e pudemos perceber o quanto a EVO 4.4 se adapta a diferentes topologias e assinaturas sônicas tão distintas, como do Krell, do V8 e do R8.

E isso é altamente positivo, pois compatibilidade é algo que preocupa muito os nossos leitores que não conseguem ouvir antes de definir a compra.

Pois por mais que a lei do consumidor permita a desistência, todos que já passaram por esse ‘perrengue’ de ouvir uma caixa que não casou com sua eletrônica, sabem o que significa reembalar uma caixa acústica e despachar novamente o produto. Ninguém deseja passar por isso, então um dos itens essenciais hoje é o nível de compatibilidade de uma caixa com diversas topologias. E nesse quesito a EVO 4.4 é matadora!

Ainda que com 100 horas os agudos tenham se estendido o suficiente até para observarmos a ambiência das gravações, os graves pareciam ainda estar com o freio de mão puxado.

Sabe como sabemos que falta amaciamento nos graves? Quando ouvimos dois instrumentos tocando em frequências próximas, como por exemplo 60 Hz e 80 Hz, e ainda assim temos dificuldade de entender quem é quem. Existem várias gravações para nos ajudar a saber, mas eu indico gravações de dois contrabaixos da Telarc, do baixista Ray Brown, que são ótimas, pois se os harmônicos dos dois instrumentos parecerem ser um instrumento só, e não se trata de uma deficiência da caixa, o amaciamento dos graves ainda não chegou lá.

E foi exatamente o que ocorreu nesse caso, e o que nos fez colocá-la por mais 100 horas para os woofers se soltarem por completo. Dito e feito, com duzentas horas os dois baixos puderam mostrar seus solos sem tudo soar como um baixo só e com baixa inteligibilidade. Pudemos então ouvir a EVO 4.4 e todas as 80 faixas de nossa Metodologia.
Seu equilíbrio tonal é muito correto, e o mais interessante é que não chama a atenção para a caixa, jogando luz onde não existe, ou adicionando ‘testosterona sonora’ nos graves.

Então o que teremos é o que a fonte entrega, assim como a eletrônica.

E isso é bom? Na minha opinião é excelente, por esse preço.

A região média é absolutamente transparente na medida certa e seu casamento tanto com o médio/grave como com o tweeter é muito bem feito. Realmente os engenheiros entregaram o que prometeram!

O soundstage, em termos de 3D é excelente, mas para esse resultado será preciso, paciência no ajuste fino do posicionamento, sendo criterioso em manter o mínimo de 2 m entre as caixas para um palco coerente e coeso sem lacunas, e respiro de pelo menos 60 cm das paredes laterais, e da parede às costas ao menos os mesmos 60 cm.
Mas não pense que pelo duto ser para baixo, você vai poder encostar as caixas na parede, pois se você o fizer, os graves vão embolar.

A largura e altura de palco são maiores que a profundidade, mas com jeito e pouco toe-in (na nossa sala gostamos mais delas com apenas 15 graus), música clássica teve foco e recorte suficientes para uma orquestra sinfônica soar com um respiro decente entre os naipes da orquestra.

Com um equilíbrio tonal tão correto, obviamente as texturas serão muito favorecidas. E com um médio com tanta transparência e detalhamento, as intencionalidades foram de caixas custando o dobro da EVO 4.4.

Se você é um fã incondicional como eu de texturas, mas o orçamento é justo, meu amigo ouça essa caixa, – ela pode te surpreender com o grau de refinamento com que as texturas são apresentadas.

Outro ponto alto delas é sua resposta de transientes. A pulsação de tempo e ritmo, além de correta, possui uma precisão de caixas muito mais caras. Nosso maior exemplo desse quesito é a faixa 5 do disco Canto das Águas do André Geraissati – é osso duro de reproduzir, pois muitas vezes um vacilo na precisão dos transientes e o resultado é uma apresentação confusa do tempo e andamento. A EVO 4.4 não vacilou uma só nota em mostrar a progressão e variação de tempo e a precisão na digitação das notas. Perfeito!

Não tenho dúvida que grande parte desse mérito é do falante de 2 polegadas de domo de seda de médio dessa caixa.
A micro dinâmica é do mesmo nível dos transientes, e a macro surpreende pela capacidade de nos dar deslocamento de ar e peso sem a caixa perder o fôlego ou clipar. Falo de volumes corretos, é claro. Mas a EVO 4.4 não se omite em mostrar com a cabeça erguida as variações em detalhes do pianíssimo ao fortíssimo. Os melhores exemplos para mim ainda continuam sendo: Concerto para Piano & Orquestra de Bartok, Sagração da Primavera de Stravinsky, e Sinfonia Fantástica de Berlioz. Certamente cada leitor tem suas gravações preferidas para esse quesito, mas eu utilizo essas três para o fechamento de nota, pelas peculiaridades de cada uma dessas obras, pois elas mostram formas diferentes de se atingir o ‘clímax musical’ de maneiras muito distintas, e todas com um grau de criatividade e técnica musical exuberante.

O corpo harmônico na EVO 4.4 se não é o ideal, está muito próximo dele. O que falta então? Na minha opinião é muito mais uma limitação física da caixa pelo seu tamanho, do que outra coisa. Pois na Elysium 4, este quesito foi retratado com um grau de realismo impressionante. E como a EVO 4.4 tem muitas semelhanças com a série acima, acho que se um dia a Wharfedale lançar uma 4.6, talvez tenhamos a resposta.

O importante é que, em termos proporcionais, a apresentação do corpo harmônico é bastante coerente, então o ouvinte não correrá o risco de ouvir uma viola e ficar na dúvida se não pode ser um cello.

Organicidade: aqui com os três integrados usados e as fontes digitais e analógicas, nas gravações primorosas a EVO 4.4 não teve a menor dificuldade de materializar o acontecimento musical. Se você é um fã de ouvir o acontecimento musical à sua frente, ela novamente entrega o que promete.

CONCLUSÃO

Vou parecer repetitivo, mas a conclusão é a mesma das outras caixas deste fabricante que testei recentemente: como eles conseguiriam tamanho resultado custando o que custam?

Ser feito na China só responde parte da pergunta, pois o principal será sempre o grau de performance, e nesse quesito todas que testamos são referência absoluta em suas classes.

Para quem busca uma caixa de porte médio para uma sala de até 25 metros quadrados, possui um bom integrado e uma fonte de alto nível (seja CD, Streamer ou analógico), tem um gosto eclético e exige refinamento e conforto auditivo gastando o menos possível na compra de uma caixa acústica, meu amigo, não ouvir a Wharfedale EVO 4.4 pode ser um grande erro. Tanto para o seu bolso, quanto para suas expectativas auditivas.

Pois sua musicalidade e compatibilidade com distintas eletrônicas, a colocam no topo das opções!

Nota: 90,5
AVMAG #289
KW HiFi

fernando@kwhifi.com.br
(11) 95442.0855 / (48) 3236.3385
R$ 16.920

CAIXAS ACÚSTICAS JBL L100 CLASSIC

Fernando Andrette

Eu tinha certeza que, no momento em que avaliasse a JBL L100 Classic, seria tomado por um misto de curiosidade e saudosismo, pois eu sou justamente da geração que teve ou conheceu amigos que tiveram em suas salas, nos anos setenta, um par de JBL L100 Century em seus sistemas.

E posso garantir que, entre os mais jovens, era a caixa preferida para ouvirmos os discos que amávamos e nossos pais odiavam.

No entanto, entre os clientes de meu pai (todos com mais de quarenta anos), era a caixa a ser contestada ou, para os mais ‘ortodoxos’, odiada – pois representavam uma ruptura com as caixas hi-end da época, que dominavam o cenário audiófilo: as caixas Klipsch. Os gigantescos armários de canto, o terror das esposas que viviam se incomodando com a poeira acumulada em volta das caixas, e a dificuldade de movimentá-las para se tirar tufos de sujeira e teias de aranha.

Lembro-me de alguns clientes, na tentativa de acalmar suas esposas, deixavam até que um vaso de samambaia ou adereços de louça fossem colocados para quebrar um pouco com aquele enorme ‘móvel’ de canto vazio.

E presenciei algumas cenas cômicas, como quando uma porcelana chinesa despencou do alto da caixa do canal direito, ao anfitrião se empolgar com a abertura de Carmina Burana, de Carl Orff.

E, cada vez que eu ia na casa de um amigo cujo pai amava os Beatles, eu voltava para casa sonhando em convencer meu pai a investir em um par de JBL L100 Century. Tentei até o apoio do meu irmão mais velho para ajudar-me, mas foi em vão! Meu pai tinha sólidas convicções, e nunca foi fã de nenhuma caixa da JBL.

Quando eu lhe perguntava o motivo, ele sempre me fitava profundamente, e calmamente me dizia: “não irei investir em uma caixa que não toque bem os gêneros musicais que aprecio”. E eu sempre respondia, mentalmente: “Invista para fazer seus filhos que amam rock felizes”.

Interessante que, nos anos oitenta, por duas vezes tive a possibilidade de comprar essa caixa e, ao ouvir em meu sistema, tive que concordar com meu pai que ela não havia sido feita para todos os gêneros musicais, e aí desisti da ideia e nunca mais pensei na possibilidade.

E, 50 anos depois, cá estou eu sentado em nossa Sala de Referência olhando para a versão ‘século 21’ desta caixa – cujo modelo original foi o mais vendido de toda a história da JBL!

Se meu pai estivesse vivo, certamente eu o traria para ouvir o que os engenheiros fizeram para tornar este modelo ‘clássico’ uma caixa surpreendentemente atualizada.

Então, eu não irei bater na tecla do ‘vintage revisitado’, pois ao ouvir e testar a L82 Classic (leia teste na edição 281), eu percebi que o que restou dos modelos originais foi apenas o estilo e o design (para servir de atração a um público admirador de um estilo ‘retrô’), mas que em termos de performance nada lembra os modelos originais.

E isso é o mais interessante, pois temos uma versão digna de competir com modelos e marcas atuais e perceber que os engenheiros da JBL fizeram a leitura correta de como precisa soar uma caixa hoje, hi-end. Se a L82 Classic já havia nos surpreendido com sua performance e uma qualidade impressionante para uma book na reprodução do corpo harmônico e dos graves, tinha uma ideia do que esperar da nova L100 Classic.

Mas ela extrapolou todas as minhas expectativas, e se tornou uma das caixas que mais prazer temos em colocar com inúmeros amplificadores, para ver como ela responde a assinaturas sônicas tão diferentes. Imagine que, desde que ela chegou (final de fevereiro), já a ouvimos com todos os powers e integrados que aqui estiveram. E seu grau de compatibilidade foi simplesmente estonteante.

Adorei mostrar sua performance para amigos músicos, audiófilos novos e mais velhos, e ver estampado em seus rostos como soam equilibradas e capazes de uma performance dinâmica de colunas muito maiores e mais caras!
O maior desafio das novas L100 Classic é agradar com seu design anos setenta pessoas que estão acostumados a colunas esbeltas, com acabamento laca de piano, ou gabinete de madeira com camadas e mais camadas de verniz – e olhar para a JBL com seu acabamento despojado e um tamanho desajeitado, que nem podemos chamar de coluna e menos ainda como de book, e esperar que sejam bonitas aos olhos.

Então, o primeiro desafio da L100 Classic é conquistar aqueles em que a primeira impressão será de puro estranhamento.

O segundo desafio é ter em mente que será imprescindível o uso do pedestal diferenciado para que o soundstage tenha a altura correta, pois se a deixar direto no chão, como muitos a usavam nos anos setenta, toda a imagem sonora será baixa, como se os músicos estivessem tocando sentados no chão (mas que jovem se preocupava com a altura da imagem sonora nos anos setenta?).

E, o terceiro desafio para ela conquistar os resistentes, será ter uma sala que permita que elas respirem e os graves não fiquem embolados.

Mesmo o gabinete sendo semelhante ao modelo original, ele não é idêntico. Para se atingir a performance desejada, os engenheiros recorreram a algumas mudanças na litragem da caixa, reforços internos para matar ressonâncias indesejadas, um novo folheado de Nogueira para as laterais e o fundo, e o painel frontal pintado em preto fosco.

Na nova versão, o tweeter de 1 polegada é de domo de titânio e está acoplado a um guia de ondas rasa, com uma lente acústica à sua volta. O imã de ferrite do tweeter é bastante robusto, com pouco mais de 3 polegadas de diâmetro, para que sua capacidade de absorver e transferir calor seja mais eficiente que os de neodímio. O falante de médio possui cone de celulose revestido de polímero para maior rigidez, de 5,25 polegadas. E o falante de grave de 12 polegadas tem um cone de polpa pura, que é mantido no lugar por uma grande estrutura de alumínio fundido e uma bobina de 3 polegadas. O falante de graves pesa quase 10 quilos!

O crossover utiliza 15 componentes com alguns capacitores eletrolíticos muito grandes, resistores e indutores de núcleo de ar, e um único indutor de núcleo de ferro. Os cortes são em 450Hz e 3,5kHz, em um filtro de segunda ordem, exceto para o tweeter que utiliza um filtro de terceira ordem.

O duto enorme bass reflex está na frente da caixa, ao lado do falante de médio. E acima do duto temos o atenuador de médio e agudo, que vão de -1 a +1 dB (deixamos todo o tempo de teste os atenuadores em 0 dB, sendo que apenas para acelerar o amaciamento usamos os atenuadores em +1 dB).

O gabinete usa um defletor frontal de 1 polegada e os laterais e de fundo de 3/4 de espessura, com um reforço no meio do gabinete em forma de V, para maior rigidez e travamento do gabinete. Todo o gabinete internamente está revestido com amortecimento tipo Dacron.

Lembrando o modelo original, a JBL em vez de telas de tecido usa o famoso Quadrex: uma espuma como tela de proteção, que tem as opções de cores preta, laranja e azul. Sequer tiramos, na montagem, essa espuma da embalagem, pois fizemos o teste na L82 Classic e vimos que não é possível ouvir seriamente com essa tela.

Na parte de trás, no meio do gabinete, temos os terminais de caixa que, na minha opinião, poderiam ser de melhor qualidade, pois quando usamos cabos tipo forquilha, apertar com as mãos é praticamente impossível e estava totalmente fora de cogitação usar um alicate para fazer o devido aperto, pois o alicate iria marcar os bornes. Se eu fosse dono de uma L100 Classic atual, certamente trocaria esses bornes imediatamente.

Esse foi o único ‘pênalti’ em minha opinião!

Para o teste, a Mediagear nos mandou os pedestais adequados, que inclinam a caixa para um melhor ajuste do ponto ideal de audição. Aprovamos integralmente o uso desse pedestal, e acho que será a melhor solução para quem adquirir a JBL.

O par do pedestal sai menos de 4 mil reais! Mas se você tiver habilidades manuais, pode também fazer seu próprio pedestal, lembrando-se apenas que as caixas pesam quase 27 kg e os graves são poderosos, então o material do pedestal deverá ser muito bem pensado e planejado.

As especificações das caixas, segundo o fabricante, são: resposta de frequência de 40Hz a 40kHz (-6 dB), sensibilidade de 90 dB, potência máxima admissível de 200 Watts, impedância de 4 ohms. Altura de 67 cm, largura de 39 cm e profundidade de 37 cm.

Para o teste utilizamos os seguintes integrados: Gold Note PS-1000, Arcam SA30, Krell 300i, Stereo 130 Leak, e Sunrise Lab V8 Anniversary. Powers: Goldmund Telos 2500, Nagra HD AMP e Classic. Cabos de caixa: Dynamique Halo 2 e Apex, Sunrise Lab Quintessence Anniversary, e Virtual Reality Trançado. Fontes digitais: Mark Levinson No.5101 (leia Teste 1 na edição 285), Nagra Transport CDP, Nagra TUBE DAC, e MSB Reference. Fonte analógica: pré de phono PH-1000 Gold Note, toca-discos Origin Live Sovereign com braço de 12 polegadas Entreprise Mk4, e cápsulas Hana Umami Red e ZYX Ultimate Omega G. Pré de linha: Nagra Classic. Streamer: Innuos ZENmini Mk3.

Como já havíamos passado pelo desespero que foram as primeiras 100 horas de amaciamento das L82 Classic (beiram o inaudível os agudos, caro leitor), fizemos uma primeira impressão de apenas quatro faixas, verificamos o mesmo que na L82, e colocamos a L100 para 100 horas direto sem intervalo no amaciamento. Depois ligamos no Gold Note já em fase final de teste, e verificamos que não era apenas o tweeter que necessitava demais tempo, os médios (que a L82, não tem), também careciam de pelo menos mais 100 horas.

Então, amigo leitor, esteja munido de paciência, que aquele brilho e dureza irão depois de integralmente amaciados dar lugar a uma timbragem extremamente natural e tudo irá se encaixar. Mas, antes de pelo menos as duzentas horas, não haverá como sentar e ouvir por horas essa caixa.

Com 210 horas, finalmente os médios recuaram e se encaixaram perfeitamente entre os graves e o tweeter. Fazendo com que o interesse a cada novo disco fosse se ampliando. Não é a caixa mais transparente e detalhista, mas sua naturalidade e facilidade em mostrar gravações mais complexas é muito convincente.

Com os atenuadores em 0 dB nunca irão aparecer agressivos, duros ou brilhantes. A região média possui uma folga e presença que nos cativa, e os graves a partir de 230 horas ganham um conforto, corpo, energia e deslocamento de ar que nos anima a buscar gravações que sejam ricas em baixas frequências.

Foi a hora de ouvir todos Marcus Miller, Brian Bromberg, Patricia Barber, e revisitar nossa coleção de LPs de rock progressivo dos anos setenta (comecei pelo álbum ao vivo Genesis Live, uma gravação tecnicamente limitada, mas que tem uma importância emocional em minha formação musical na adolescência, enorme!).

Impressionante como a L100 (permita-me abreviar), conseguiu descongestionar a região média, repleta de compressão, e nos dar um grau de inteligibilidade com precisão rítmica e nos passar um pouco da energia do palco e da plateia naquela noite! Não foi a audição com mais folga que fiz deste disco, mas tinha um apelo em termos de ‘vivacidade’ que deixou claro que essa seria uma das qualidades dessa JBL.

Outra característica: ela gosta de ser levada a tocar alto, e responde com enorme desenvoltura. De forma objetiva, diria que não é uma caixa com enorme extensão nas pontas – mas até onde ela responde, o faz com critério e muita autoridade! Você não vai ver ela desandar, ou engasgar em passagens complexas, pois ela sempre dará um jeito de se ‘enquadrar’ ao desafio imposto, e com isso ela vai nos conquistando e nos levando a propor novos desafios, com outros gêneros musicais.

E, ao contrário do modelo dos anos setenta, ela toca – e bem – qualquer gênero musical proposto. Mas os amantes de rock, blues e pop, esses se sentirão realizados, acreditem. Pois as L100 não se sentem intimidadas, nem mesmo com as gravações mais sofríveis tecnicamente.

Quem tem os primeiros LPs da cantora inglesa Kate Bush, sabe o quanto os engenheiros estragaram suas belas canções. É uma quantidade de compressão injustificável para os arranjos, fazendo com que tudo soe escuro, embolado, com baixa inteligibilidade. Nenhuma caixa ou eletrônica corrige erros tão insanos, mas a JBL L100, como diria meu pai: “come pelas bordas” sem revirar demais o centro, e com isso conseguimos ouvir aquela ‘massa batida no liquidificador’ e curtir o disco.

É como ouvir uma melodia que amamos em um elevador, mas com um pouco mais de qualidade. E quando isso ocorre, nos surpreendemos e nos sentimos gratos por aquele momento inesperado!

O soundstage da L100 é muito bom, mas não espere excelência em termos de foco, recorte e planos (principalmente no quesito altura). Novamente o que temos é um arranjo bem feito, que nos transmite o conceito, em termos de posicionamento, mas nada repleto de precisão como em muitas caixas em que podemos ver com exatidão o recorte em volta do solista.

As texturas são surpreendentes, e talvez sejam uma das maiores proezas das L100. Ouvi três discos do Hendrix, dos dois lados, só para curtir o grau de pressão intencional que Jimi imprimia nos seus solos. A melhor saturação em termos de distorção, que nenhum outro guitarrista atingiu! A quantidade de distorção e pressão no volume imposto aquela parede de amplificadores Marshall, é para nos fazer desistir, em inúmeras caixas hi-end, de sequer ouvir o solo todo.
Mas não na L100. Novamente ela nos mostra a soma do todo, sem buscar detalhar as nuances e com isso nosso foco fica preso ao momento, sem o cérebro querer esmiuçar como aquilo está sendo feito.

Um amigo, ao ouvir a L100, fez a interessante observação: “ouvir música nessa caixa é como estar faminto – não pensamos no que estamos colocando no prato, apenas queremos saciar a fome”! Então, se ela não nos apresenta com precisão total a paleta de cores dos instrumentos, ela nos coloca em contato com a resultante do todo, e como aquelas texturas em conjunto se comportam.

Os transientes são incisivos, precisos e contagiantes! Nada soará letárgico ou sem graça na L100, absolutamente nada. Parece até que está sempre ‘antenada’ 100%.

Para o seu tamanho, sua apresentação de macrodinâmica pode ser um puxão de orelha para muita caixa hi-end caríssima, mas que nunca se sujeita a colocar o ‘pé na lama’. Ela se mostrou tão ousada, que a desafiei a reproduzir a Abertura 1812 de Tchaikovsky, e quem quase morreu de susto com os tiros de canhão fui eu, e não ela. Temi por sua integridade, e cheguei a imaginar o cone de 12 polegadas se espatifando à minha frente. Que nada! Orgulhosamente ela passou pelo teste e ainda pediu bis! (que não dei, claro).

O corpo harmônico dessa caixa deveria ser estudado com afinco. Pois, pelas suas dimensões, não deveria ser tão ousada e determinada! Órgãos de tubo, tímpanos, contrabaixo, piano, harpa, foram reproduzidos com total fidelidade do que se conseguiu na captação, sem tirar e nem por.

Quanto à materialização física do acontecimento musical, pela sua maneira de resolver a menor transparência, o resultado será mais um esboço etéreo do que a apresentação ali na nossa frente. Mas mesmo este esboço é bastante sedutor, pois nos faz novamente nos mantermos ligados ao todo, e não aos detalhes.

Eu não tenho nenhum problema em trocar essa materialização pelo prazer em estar ali em frente a música na sua integridade. Mas sei de leitores que, junto com soundstage, essa materialização é essencial! A esses, certamente a L100 não será sua caixa!

CONCLUSÃO

É preciso lembrar que nunca haverá a realização plena da reprodução eletrônica. Sempre haverá perdas e ganhos, pois nenhum equipamento é perfeito! Então é sempre preciso colocar as questões em suas devidas perspectivas.

Para quem a L100 Classic pode ser a caixa ideal? Para todos que possuem uma sala de mais de 20 metros quadrados, possuem um sistema minimalista (de preferência um excelente integrado) e gosta de ouvir suas músicas de forma convincente com muita energia, deslocamento de ar, peso, precisão rítmica e de tempo, e que consiga resolver de forma ‘palatável’ gravações tecnicamente limitadas. Ouvintes que não queiram a transparência absoluta e sim a música o mais íntegra possível. Ainda que tenham que abrir mão de certos ‘adornos’ que para outros são fundamentais. Pessoas (como disse meu amigo), famintas por audições que os levem a revisitar sentimentos e pensamentos que lhe são caros!

Se você se enquadra nessa descrição, ouça com muita atenção a JBL L100 Classic (mas por favor tenha absoluta certeza de estarem amaciadas integralmente!). Em um bom integrado e com uma fonte correta, ela pode ser o ‘elo’ entre seu sistema e você!

Pontes muitas vezes nos levam a lugares inusitados. A L100 Classic pode perfeitamente ser essa ponte para inúmeros dos nossos leitores.

Nota: 92,0
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CAIXAS ACÚSTICAS MONITOR AUDIO GOLD 300 SÉRIE 5

Fernando Andrette

A última caixa que eu testei da Monitor Audio foi da série Platinum, faz um bom par de anos. Portanto eu não poderia rejeitar o envio para teste do modelo top da linha Gold, o 300 série 5, modelo que utiliza muitos os recursos da série Platinum em seu desenvolvimento.

Atualmente, a nova série Gold possui uma book modelo 100, a torre menor modelo 200, o canal central modelo 250, a caixa surround modelo FX, o sub W12, e a torre maior 300.

Segundo o fabricante, a Gold 300 série 5, foi projetada para oferecer uma verdadeira experiência audiófila e, para isso, utilizou a tecnologia dos drivers utilizados na série Platinum II. Em um gabinete com excelente acabamento, temos uma caixa de três vias como dois woofers de 8 polegadas feitos de RDT II (tecnologia proprietária de diafragma de alumínio fundido para maior rigidez e amortecimento), um falante de médio de 2 polegadas e meia C-CAM (Ceramic Coated Aluminium Magnesium) feito de um material extremamente leve e rígido, e um tweeter de baixa massa MDP (Micro-Pleated Diaphragm) com uma área de superfície oito vezes maior que uma cúpula de um tweeter tradicional. Esse tweeter tem uma resposta muito plana e pode responder (segundo o fabricante) até 100 kHz!

Também segundo o fabricante, esses avanços alcançados nesses drivers utilizados na série Platinum, são os de menor distorção na história da Monitor Audio, com quedas de mais de 8dB acima de 300 Hz.

O gabinete é de MDF de 18mm de espessura com dois dutos nas costas do gabinete para a resposta de baixa frequência. O fabricante disponibiliza quatro acabamentos: preto brilhante piano, branco acetinado, nogueira escura, e ébano piano. O gabinete em cima utiliza couro sintético, o que se mostrou bastante útil na fora de posicionar as caixas e evitar as marcas difíceis de remover em laca de piano preto. A tela é presa com imãs por de trás do gabinete, mas que tiramos após todo o amaciamento delas.

A Gold 300 pode ser bi-cablada ou bi-amplificada. Os spikes, além de bem acabados, são bastante eficientes em termos de dar estabilidade a caixa, são de alumínio fundido em forma de X, que se conectam a cada base do gabinete. Todas as chaves para a montagem dos spikes estão inclusas, o que facilita o trabalho do usuário.
O fabricante sugere ao menos 70 horas de amaciamento. Esqueça! Pois para realmente extrair todo o potencial da caixa, serão precisos no mínimo 200 a 300 horas. Pois se você ouvir as caixas com apenas as 70 horas indicadas, sua frustração será grande, acredite!
No manual, que está também em português, o fabricante dá uma boa referênc

a de posicionamento das caixas na sala, que pode ser bastante útil como ponto de partida. Eles falam, por exemplo, que as caixas devem ficar equidistantes pelo menos 1,80m entre elas, podendo chegar até 3m. Que o ideal é mantê-las em um perfeito triângulo equilátero, com pouco toe-in e uma distância mínima de 50 a 90cm das paredes laterais, e pelo menos 1m das paredes as costas. Constatamos serem corretas essas medidas, pois essas caixas precisam de respiro em relação a sala para darem o seu melhor.

Para o teste, utilizamos os seguintes equipamentos. Amplificação: integrados Line Magnetic 219IA (leia Teste 2 na edição 290) e Roksan Atessa (leia teste na edição 290), e nosso Sistema de Referência. As fontes digitais foram: dCS Rossini Apex (leia Teste 1 na edição 290), Nagra Transporte e TUBE DAC. Fonte analógica: toca-discos Origin Live com cápsula ZYX Ultimate Astro G, prés de phono Gold Note PH-1000 e Rega Aura (leia teste na edição 291). Cabos de caixa: Dynamique Audio Apex e Virtual Reality Trançado.

Ao fazermos o primeiro contato auditivo, nossas impressões foram desanimadoras. Então, muito cuidado se você for ‘afoito’ e desejar mostrar aos amigos sua nova aquisição. É a típica caixa em que faltará tudo em ambas as pontas. Como passei isso com a Platinum quando testei, não foi nenhuma novidade para mim que isso ocorra.

Mas ao ler o manual, tinha esperança que o tempo de queima pudesse ter diminuído. Ledo engano, afinal os drivers são similares, então o óbvio é que as 300 horas seriam necessárias novamente. Para aliviar um pouco, as Gold 300, a partir das 100 horas, já estarão com os graves menos ‘engessados’ e os agudos já com um pouco mais de extensão. O que já permitirá, ao menos, ficar na sala acompanhando sua evolução.

Sugiro a velha técnica de amaciamento, para que as 300 horas passem o mais rápido possível: uma caixa de frente para a outra, com apenas 4 dedos separando-as, uma caixa com os polos invertidos e a outra a polaridade correta, streamer nelas, 24 horas por dia, por duas semanas, a volumes de 80 db de dia e 60 dB de noite, com um edredom cobrindo ambas. Utilizo essa técnica há 30 anos – é a única maneira de passarmos por essa fase sem maior stress.
Depois de 240 horas, voltamos a caixa para nossa sala de testes, e eis que ela finalmente começou a mostrar suas qualidades. O médio alto encaixou nos agudos, e o médio grave ganhou corpo. Ainda sentimos falta de uma fundação mais bem recortada e definida nos graves, mas nos agudos já foi possível observar a beleza desse tweeter com sua doçura e decaimento suave.

As ambiências ainda soaram tímidas e homogêneas, mesmo em salas bem distintas em termos de acústica e volume cúbico, mas já estavam presentes.

Muitas pessoas desconhecem a beleza de um sistema apresentar a ambiência das gravações, porém quando passam a poder observar em seus sistemas como cada gravação possui sua própria ambiência (seja ela da própria sala de gravação ou feita por reverberação digital), não abrirão mais mão desse recurso. Pois a música também precisa respirar, para soar livre e mostrar seus decaimentos intencionais corretamente. Afinal música não é gravada em câmaras anecóicas, correto?

E nosso cérebro não se engana se uma gravação soar sem ambiência e respiro. Principalmente ao ouvir pratos, metais e vozes.

As últimas 60 horas, deixamos a Gold 300 na sala de testes, hora ligadas ao Line Magnetic e hora ao Roksan Atessa, pois ambos também estavam em processo de amaciamento.

A região média da Monitor Audio é muito transparente, porém na medida certa, sem nos fazer ficar o tempo todo perdendo a música para se prender a detalhes. Soa com bom grau de naturalidade e conforto auditivo, seja com poucos instrumentos ou com muitos.

Para você saber o quanto é boa e plana a resposta da região média, onde quase tudo de mais importante ocorre na música, você deve ouvir a caixa que deseja comprar, em volume baixo (entre 50 e 65 dB) e em volume normal (entre 65 e 80 dB de pico). E comparar o grau de inteligibilidade da caixa em volume baixo e normal. Se em volume baixo, algo se perder ou ficar borrado, desconfie do equilíbrio tonal e da relação sinal/ruído da caixa.

Agora se a inteligibilidade for correta em ambas as situações, bingo! A Gold 300 passou nesse teste com méritos.
E, com as 300 horas, finalmente pudemos posicionar as caixas para iniciarmos as avaliações auditivas. Na nossa sala ela ficou a 1.64 m da parede às costas das caixas, 1.20m das paredes laterais, e 4 m de distância de tweeter à tweeter. Com elas paralelas às paredes laterais sem nenhum toe-in. Nessa posição, as Gold 300 tiveram o respiro que elas tanto exigem e precisam para soarem descongestionadas e com uma bela holografia sonora.

Fiquei surpreso em ver o quanto ela preencheu a sala, o que não é comum para caixas deste porte. Ela, ainda que possua 90 dB de sensibilidade, e possua uma impedância de 4 ohms (3.5 ohms mínimo), segundo o fabricante ela gosta de estar sendo empurrada com mais Watts (o fabricante fala de no mínimo 100 Watts). Com o Roksan Atessa e o Nagra HD, ela se sentiu realmente dentro de uma enorme zona de conforto, para mostrar todos os seus dotes.

Seu equilíbrio tonal, depois dela integralmente amaciada, é muito correto, com graves bem definidos, com bom peso e deslocamento de ar. E os agudos são de uma suavidade inebriante e de alto conforto auditivo.

O seu soundstage é exemplar, tanto em termos de largura, profundidade como altura, mantendo os planos estáveis, mesmo em passagens complexas e com grande variação dinâmica. O foco e recorte são precisos, e depois de 300 horas de queima, as ambiências surgiram, possibilitando ouvirmos com precisão as salas em que as obras foram gravadas.

As texturas não possuem aquele último grau de exuberância encontrado em caixas mais sofisticadas, mas além de corretas, conseguem nas melhores gravações mostrar a intencionalidade das mesmas.

Os transientes são excelentes, tanto em termos de precisão quanto de ritmo.

A macrodinâmica é surpreendente para o tamanho da caixa, e capaz de suportar grandes variações sem dobrar os joelhos ou jogar a toalha. Só não espere algum tipo de pirotecnia ou fogos de artifício. E a microdinâmica, graças ao silêncio de fundo, é muito boa.

Surpreendente o corpo harmônico dos instrumentos, principalmente de contrabaixos, pianos, contrafagote, sax barítono, etc. Gostei demais da apresentação deste quesito em instrumentos tão difíceis de serem reproduzidos em seus tamanhos corretos (quando bem gravados é óbvio).

E a materialização física: foi de alto nível em gravações bem feitas!

CONCLUSÃO

Sei o quanto nosso leitor, distante dos grandes centros, sofre em tentar a cada mês decifrar em nossas avaliações qual seria a melhor opção de caixa para o seu sistema. Por isso que o número de consultorias a respeito de caixas é o maior que recebemos diariamente (diria que de cada dez consultorias, seis são sobre caixas acústicas).

E também sei o quanto é difícil ajudar sem que o leitor possa ouvir em seu sistema os produtos por nós testados mensalmente. Se serve de ‘consolo’, o que posso afirmar é que o mercado jamais esteve tão bem servido de ótimas opções.

Claro que isso não resolve o dilema, pois sou o primeiro a dizer em nossos Cursos de Percepção Auditiva, que a caixa é – junto com um pré de linha – a peça mais delicada de se escolher. E a caixa é ainda mais, pois será a responsável pela assinatura final do sistema.

Fora o elemento chamado de ‘gosto pessoal’ – que cada um de nós tem como definição para a escolha de uma caixa.

O que procuro então fazer, para aliviar um pouco tantas dúvidas, é descrever o mais objetivamente possível o comportamento de cada caixa com os eletrônicos que temos em mão para a avaliação.

Então, vamos lá: a Monitor Audio Gold 300 é uma caixa que precisará de pelo menos uma sala acima de 20 metros quadrados para dar o seu melhor. Em espaços menores, fatalmente ela será prejudicada justamente naquilo que é um dos seus maiores trunfos: a excelente imagem holográfica 3D. A amplificação precisará, além de ser muito correta no quesito equilíbrio tonal, ter pelo menos 80 Watts de potência, pois as Gold 300, apesar de sua sensibilidade, gostam de trabalhar com folga de Watts. Pois para extrair o melhor dos seus graves, será preciso autoridade.

É uma caixa que não tem dificuldade em nenhum gênero musical e, para extrair seu melhor, precisa apenas de espaço, uma eletrônica e cabos corretos.

Tomando essas precauções, pode perfeitamente ser a caixa definitiva para os que querem um sonofletor Estado da Arte com excelente acabamento e alta performance.

Nota: 92,0
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CAIXA HARBETH SHL5PLUS XD

Fernando Andrette

Nossos leitores mais antigos irão se lembrar que a Harbeth já esteve no Brasil entre 2000 e 2003, e depois saiu sem nenhum importador mostrar interesse em sua volta.

Até que, no meio da pandemia, o Fernando Kawabe me disse que assim que a produção da Harbeth se normalizasse, ele estaria trazendo novamente a marca. E ele cumpriu a promessa, e nos disponibilizou para testes o modelo logo abaixo da top, a Super HL5plus XD.

Fundada em 1977 pelo engenheiro HD Harwood, que havia acabado de deixar o departamento de pesquisa da BBC decidindo que iria produzir monitores de alto desempenho. E utilizaria em seus monitores o polipropileno, um material para cone de falantes com um timbre muito correto, leve e de enorme durabilidade. A BBC, ouvindo seu primeiro protótipo, concedeu a ele uma parceria para a compra de seus monitores, pois constataram que o seu novo falante era muito mais eficiente, preciso e com menor coloração que os falantes de cone de papel dopado que todos os fabricantes que forneciam monitores para a BBC utilizavam.

Nos mais de 40 anos da empresa, muitas melhorias foram feitas, mas o que se mantém como no início da companhia são seus gabinetes e o design retrô, muito semelhantes aos designs originais.

O modelo SHL5plus XD é uma caixa de 3 vias, mas que na verdade utiliza dois tweeters e um falante de médios-graves de 200mm. O primeiro tweeter responde até 14kHz, sendo este um ferrofluido de 25 mm, e o segundo um super tweeter de 20 mm que responde até 20kHz.

Segundo o fabricante, a caixa responde de 40 Hz a 20 kHz (+- 3 dB), tem uma impedância de 6 ohms, sensibilidade de 86 dB, pesa apenas 15.8 Kg, mesmo com uma dimensão considerável de 63.5 cm de altura, 32.2 cm de largura e 30 cm de profundidade.

Alan Shaw, o diretor técnico e atual dono da Harbeth, utilizou no novo modelo SHL5plus XD, o seu mais recente driver patenteado para graves e médios, o Radial2, com 7.9 polegadas. Cada falante é construído à mão na própria fábrica na Inglaterra, depois são medidos, e casados antes de receberem seu gabinete e irem para a bancada de testes auditivos, antes de serem considerados finalizados para envio aos clientes.

Pense em uma empresa totalmente verticalizada – essa é a filosofia da Harbeth, desde sua fundação.

Seu gabinete de excelente acabamento será certamente olhado com desdém por quem procura brilho em frisos ou um design slim com fundo arredondado e mais estreito que a frente, tão em moda na atualidade. Ao contrário, a Harbeth mantém a tradição como a realeza britânica, em que nada será alterado se se mostrou eficiente e capaz de acompanhar as evoluções existentes, sem mudar a forma.

Então, se você leitor for adepto da ‘aparência’ acima do conteúdo, esqueça este teste. Pois as caixas Harbeth não abrem mão de sua filosofia, e é por isso mesmo que seus gabinetes parecem estar na contra mão do que se prega em termos de inércia, para se matar colorações espúrias. Como um instrumento musical, os gabinetes da Harbeth soam com a música, fazendo uso de amortecimento interno apenas em locais pontuais, e que sejam críticos em termos de coloração.
E até mesmo os parafusos existentes no primeiro modelo ainda estão em uso na traseira do gabinete.

Quanto às regras vigentes nos sonofletores modernos, a Harbeth viola todas elas, como por exemplo: o teste do nó de dedos para ouvir o grau de amortecimento da caixa – ainda que ao fazer o teste é possível notar a eficiência do material de amortecimento colocado internamente, que não deixa a caixa ressonar, soando com um decaimento muito rápido, porém sem soar completamente seco ou morto. Ou a ideia de que, para se ter um excelente soundstage em termos de largura, profundidade e altura, o ideal seja um gabinete fino com curvatura nas paredes laterais – a Harbeth é literalmente um caixote, e suas dimensões exigem um suporte específico, com a altura certa para que o primeiro tweeter esteja na altura do ouvido, e não o super tweeter ou o falante de médios/graves. Não tente burlar essa regra, pois você irá perder muito do encanto desses monitores!

Agora, se você sempre desejou ouvir um monitor em seu sistema, que possua refinamento suficiente para lhe apresentar a música como ela foi produzida, sem, no entanto, soar frio ou transparente em demasia, eu o aconselho a ouvir uma caixa Harbeth.

Elas visualmente parecem ‘despretensiosas’, e certamente são caras. Se você for daqueles em que a racionalidade é o que bate o martelo em toda decisão para futuros upgrades, certamente as Harbeth não farão parte de sua lista Top 5 de caixas a serem ouvidas.

E ainda assim, eu lhe digo: Ouça!

Pois você não só pode ser surpreendido, como se encantar com tudo que ela tem a lhe dizer, sobre monitores feitos sob medida para nos deixar frente a frente com a música, e nada mais entre ela e você. Sei que esse argumento já foi utilizado à exaustão para te convencer, tanto por fabricantes, como por revisores críticos de áudio, e entendo que você tenha criado até uma ‘resistência’ a esse tipo de argumentação. No entanto, eu vou insistir para que você o faça, ao menos por curiosidade e até mesmo para discordar de minha opinião.

Agora, se o fizer em condições satisfatórias, meu amigo, será difícil não a colocar naquela lista de possíveis candidatas a um futuro upgrade!

Para o teste utilizamos os amplificadores: integrados Line Magnetic modelo 219IA, Willsenton R8, e Sunrise Lab V8 Aniversário, power Gold Note PA-10, e Pré e Power Nagra Classic. Fontes analógicas: toca-discos SME Synergy (leia Teste 1 na edição 291) e Origin Live (nosso Setup de Referência). Fontes digitais: Transporte Roksan Atessa, Transporte Nagra, Transporte dCS Bartok, e DACs Nagra TUBE DAC e dCS Rossini Apex. Cabos de caixa: Sunrise Lab Aniversário, Virtual Reality Trançado, e Dynamique Audio Apex.

Enquanto aguardava a produção do pedestal pelo fabricante de racks e pedestais Sabiá, deixei a Harbeth amaciando no pedestal da Magis. Como disse, à altura da caixa é essencial para um perfeito soundstage, mas como era apenas amaciamento deixei a caixa em queima por 150 horas nessa condição, sendo que a cada 50 horas eu sentava para ouvir a evolução do amaciamento. É uma caixa que precisa de pelo menos 150 horas, sendo que a partir das 200 horas não notei absolutamente mais nenhuma mudança.

Quando você a coloca, saindo do zero, você terá uma região média aberta, com falta de extensão em ambas as pontas. Sendo que o super tweeter precisará de pelo menos 150 horas para abrir por completo.

Incomoda ir ouvindo desde o início? Não, mas para os mais apressados ficará sempre aquela ‘pulga atrás da orelha’: será mesmo que vai chegar lá? Eu conheço bem a insegurança audiófila, e sei o quanto coça as mãos para mostrar aos amigos o novo upgrade. E por mais que você repita aos amigos: falta amaciamento, a maioria sai sempre com uma opinião formada dessas audições (e sabemos muito bem o estrago que essas opiniões apressadas podem fazer). Então mantenha a calma, e confie. É uma caixa que requer paciência na queima, paciência no posicionamento e precisa de pares de seu nível para brilhar.

O que ela tem de positivo é que seu grau de compatibilidade é enorme. Adorei ela tanto com o R8 como com o V8, e o power da Gold Note PA-10. Todos os três com assinaturas sônicas tão distintas, e que a Harbeth soube ‘interpretar’ com maestria cada um desses pares. Os excelentes monitores tendem a desempenhar esse papel sem
dificuldade alguma – dando ‘voz’ às qualidades e limitações da eletrônica que você colocar.

Ainda que sua sensibilidade não seja alta, com esses amplificadores a Harbeth se sentiu muito à vontade.

Seu equilíbrio tonal é extremamente correto e com enorme folga com gravações tecnicamente ruins. E com as boas e excelentes, será um deleite auditivo. Seus graves são impressionantes, tanto em peso como velocidade e deslocamento de ar (perdendo apenas para a JBL L100 Classic, que utilizam woofers de 12 polegadas). Em uma sala entre 18 a 35 metros quadrados, não creio que o usuário sentirá falta de grave (a não ser que ele seja um ‘grave dependente’). Diria que seus 40Hz são suficientes para a maioria das gravações e estilos musicais.

Mas é sua região média que nos faz suspirar, e se render ao grau de refinamento, detalhe e apresentação dos instrumentos e vozes! Com texturas inebriantes, e de um grau de refinamento e realismo, a Harbeth nos coloca a menos de um metro do acontecimento musical. Arrisco dizer que esse grau de realismo na apresentação de texturas, só ouvi em caixas muito mais caras que a Harbeth (coloque o triplo do valor pelo menos).

E os agudos – depois do super tweeter completamente amaciado – seu decaimento, extensão e ambiência, são excelentes! O encaixe entre a região média-alta e o primeiro tweeter é perfeito, sem nenhum pico ou vale audível, o que permite mesmo em passagens com enorme quantidade de instrumentos, um grau de inteligibilidade pleno. Isso é fundamental para qualquer monitor de alto nível: inteligibilidade.

No entanto, manter esse grau de inteligibilidade com conforto auditivo é o problema. E nesse quesito a Harbeth é uma consistente referência a todos que desejem fabricar monitores hi-end.

Os transientes são impecáveis, tanto em termos de tempo, como em andamento e marcação de ritmo. Ouvi inúmeras gravações encardidas em variação de ritmo, em que muitas caixas parecem ‘engasgar’ para reproduzir, e a Harbeth fez com maestria e vivacidade contagiante!

A dinâmica é apresentada com autoridade e folga, tanto a micro, como a macro. Claro que haverá sempre a limitação física dos falantes, mas nos volumes corretos e com a capacidade do amplificador aceitar a demanda de fortes variações dinâmicas, a Harbeth não se intimida. E quanto à micro, é um dos monitores mais fidedignos que escutei nos últimos anos. Tanto que se tivesse a oportunidade de voltar a gravar, seria certamente o monitor que utilizaria para mixar o trabalho!

O soundstage dependerá e muito do uso correto do pedestal especificado pela própria Harbeth (em termos de altura). A Sabiá gentilmente nos forneceu esse pedestal, e acredito que seja uma excelente opção aos futuros compradores dessa marca de caixas.

Pois bem, o usuário precisará se munir de paciência, para estabelecer a melhor posição delas em sua sala. Para começar, uma dica: pouquíssimo toe-in – se o fizer, no máximo 15 graus para o ponto de audição. O que esses monitores necessitam é de arejamento à sua volta. Pois como um instrumento musical, elas ‘respiram’, e essa característica exige que elas estejam afastadas pelo menos 50 cm das paredes laterais e 1 metro da parede às costas.

Se você pesquisar vídeos no YouTube, irá perceber que em todo vídeo deste fabricante, quando está soando bem, as caixas estão mais afastadas das paredes (principalmente esse modelo, e a top de linha, pelas suas dimensões). Então, antes de ouvir essas lindas caixas, veja se você terá um ambiente favorável para lhe dar o que ela necessita. Pois esse arejamento irá determinar o primor na resposta do palco sonoro, foco, recorte, planos e ambiência. Dando as condições favoráveis mínimas, ela irá brilhar também nesse quesito!

Quanto ao corpo harmônico, o tamanho dos instrumentos captados na gravação, não será problema para esse monitor.

Tem o tamanho exato de um contrabaixo? Claro que não, mas pelas suas dimensões está muito mais próximo de uma coluna do que de uma bookshelf, o que lhe garante uma posição de destaque neste quesito, semelhante à da JBL L100 Classic.

E a materialização física do acontecimento musical em nossa sala? Sua apresentação de organicidade é primorosa!

Se o ouvinte tiver se excedido nas taças de vinho, sugiro não ficar andando entre os músicos, para não tropeçar, rs!

Falando sério, não tem como não se encantar com a reprodução do acontecimento musical à nossa frente com essa Harbeth!

Acho que consegui dar pistas consistentes de como extrair o melhor desse belo monitor hi-end.

Mas falta a cereja do bolo: sua musicalidade! Sua capacidade de expressar o âmago musical beira o sublime! Não por ser hiper precisa na recriação de detalhes, mas sim pela sua ‘interpretação’ do todo, como só escutamos em uma apresentação ao vivo, com todas as imperfeições humanas na execução musical. Se você é um fã do hiper realismo, esqueça essa caixa.

Mas se você deseja audições mais ‘humanizadas’, em que se ouça as limitações técnicas da gravação, junto com a virtuosidade de um solista, sem jamais se queixar da qualidade técnica da gravação, essa Harbeth precisa ser ouvida com atenção.

Pois o que mais escuto de reclamação de leitores, é o quanto se perde o interesse em escutar gravações tecnicamente limitadas, ainda que a música seja excelente. Essa ‘receita’ de equilibrar entre o tecnicamente equivocado e a música bem executada, a Harbeth faz com enorme maestria!

CONCLUSÃO

Acho que no parágrafo anterior já sintetizei e fiz a defesa da melhor maneira possível das qualidades dessa impressionante caixa.

A única coisa que gostaria de dizer para finalizar, é que teria esse monitor para fazer minhas gravações sem sequer pensar em uma segunda opção! E ter um monitor hi-end desse naipe em nosso sistema é um privilégio!

Nota: 93,0
AVMAG #291
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R$ 49.800

CAIXAS ACÚSTICAS WHARFEDALE ELYSIAN 4

Fernando Andrette

Quando o Fernando Kawabe nos contou que iria distribuir as Wharfedale, fui um dos que o parabenizou pela iniciativa, pois essa era uma marca que não eu entendia não estar ainda oficialmente no Brasil.

Pois dentre os grandes fabricantes ingleses de caixas acústicas, percebo uma enorme coerência em todas as suas linhas e um enorme esforço para oferecer produtos com excelente relação custo/performance, que atendam desde o iniciante com uma verba restrita até o audiófilo que deseja colocar um ponto final em sua trajetória, atrás de seu sonofletor definitivo.

Já tive a oportunidade de ouvir alguns modelos da série Diamond e da linha EVO, mas meu foco era poder algum dia ouvir a Elysian 4, o modelo mais sofisticado da Wharfedale, e que teve excelentes revisões em várias mídias em todos os continentes!

Então, assim que o Kawabe nos ligou dizendo que a primeira importação havia chegado, não titubeei em solicitar essa caixa para teste. No entanto, sua chegada calhou com os dias que estive internado e, por isso, tivemos que adiar sua chegada à redação por três semanas. O que foi positivo, pois o Kawabe a deixou com um cliente que gentilmente a colocou em amaciamento por quase 30 horas. Não foi o suficiente, mas de qualquer forma ajudou a deixar tanto o tweeter AMT (Air Motion Transformer) e as duas unidades de graves de 8.5 polegadas, um pouco menos engessados!
Trata-se de uma caixa imponente, para ambientes acima de 25 metros quadrados, e que necessariamente precisará de respiro para poder mostrar suas inúmeras qualidades.

O amigo e fiel escudeiro Robério, mais uma vez fez literalmente todo o trabalho bruto, de transportar as caixas até nossa sala, desembalar e posicionar as caixas exatamente no ponto em que deixamos nossa caixa de referência, a Wilson Audio Sasha DAW, para eu fazer uma primeira audição e minhas anotações iniciais.

A Wharfedale disponibiliza a caixa em três luxuosos acabamentos: preto, branco e nogueira. Felizmente a que veio para teste foi em Nogueira (como amo caixas com acabamento de madeira!).

O gabinete possui um defletor frontal feito de HDF, e o restante do gabinete é feito de painéis de MDF, com várias camadas para controlar as ressonâncias. Internamente o gabinete de graves é isolado da unidade de médio e do tweeter.

A caixa tem 1,19 cm de altura, 40 cm de largura e 43 cm de profundidade, e cada uma pesa 50 Kg. O falante de médio de 6 polegadas tem sua própria câmera também. As três unidades (de graves e médios) usam um cone feito de uma matriz de fibra de vidro tecida, material patenteado pela Wharfedale que, segundo o fabricante, combina baixa massa com alta resistência.

A caixa possui excelentes terminais (algo raro esse padrão de qualidade nessa faixa de preço) e pode ser bi amplificada ou bi-cablada. Em vez de jumpers de metal, o fabricante disponibiliza um cabo trançado de excelente bitola e muito bem acabado.

A base é fixa na caixa, assim como os spikes, que já vêm embutidos na base. O trabalho é apenas regular os spikes, ligar as caixas no amplificador e definir sua melhor posição de escuta.

A sensibilidade é excelente (92dB), com resposta de frequência de 30Hz a 22kHz e impedância de 8 ohms (sem especificar a impedância mínima).

Para o teste utilizamos os powers Nagra Classic e HD (leia teste na edição de abril próximo) e o integrado Mark Levinson 5802 (leia Teste 2 na edição 290). Cabos de caixa: Oyaide Across 3000B, Virtual Reality Trançado, e o Dynamique Audio Apex. Pré Nagra Classic, conversor TUBE DAC, streamer Innuos ZEN MINI 3 com fonte externa (leia teste na edição de maio próximo), transporte Nagra, pré de phono Gold Note PH-1000, toca-discos Origin Live Sovereign Mk4 com braço de 12 polegadas Enterprise C Mk4, cápsula ZYX Ultimate Omega G, cabos de interconexão Sunrise Lab Quintessence Aniversário (XLR e RCA).

A impressão inicial que tive é que as primeiras 30 horas não foram suficientes para ‘soltar’ os dois extremos, pois nas minhas primeiras impressões eu anotei que os agudos estavam sem nenhum ar e com pouquíssimo decaimento. E os graves estavam absolutamente engessados, com falta de energia e também pouco deslocamento de ar.

Como o duto da caixa é apontado para baixo, pude fazer vários experimentos, com as caixas mais próximas das paredes ou bem mais distantes. O fato é que rapidamente notei que a mesma posição encontrada para a Sasha, não se mostrou adequada para a Wharfedale. Pois ficava um nítido buraco no centro do imaginário palco sonoro.

Então a primeira conclusão é que em nossa sala, a máxima distância entre elas (de tweeter a tweeter) não poderia ser maior que 3,90m (na Sasha DAW é de 4,50m). Outra conclusão é que a Wharfedale gosta de um toe-in mais voltado para o ponto de audição (quase 30 graus) e o posicionamento das caixas em relação à parede às costas é mais importante e decisivo, que das paredes laterais.

Assim, à medida que avançamos no amaciamento e os graves se soltaram, ganharam corpo, energia e extensão, fixamos as mesmas a 1,75m da parede às costas, e limitamos a abertura em 3,70m do centro de cada tweeter, e conseguimos uma excelente imagem, tanto em termos de foco, recorte, corpo, como planos (altura, largura e profundidade).

Isso já com 180 horas de queima e sem sentir que os agudos estivessem próximos da queima final. Muitos leitores têm dúvida de quando finalmente chegamos ao fim do amaciamento. No caso específico de caixas, a primeira dica é ouvir diariamente três a quatro faixas que possuam muita informação nas pontas e que, se possível, sejam gravações realizadas em salas de concerto (em que a ambiência captada na gravação seja do próprio ambiente e não reverb digital colocado na mixagem). Pois a primeira dica de que o processo está no final, é quando se nota nos agudos as diferentes ambiências de gravações distintas.

Eu utilizo, nesse caso, gravações de grandes corais e órgãos de tubo. E, para entender se os decaimentos se tornaram mais suaves e naturais, pratos que também sejam gravados em boas salas de concerto (as gravações do trio do pianista Keith Jarrett pelo selo ECM, são excelentes, principalmente ao vivo). Você pode usar até mesmo gravações de instrumentos solo, como violino, trompete, flauta, vibrafone, etc. Mas é preciso fazer esse pente fino diário, até se ter a certeza de que nada mais foi alterado.

A Wharfedale Elysian 4 levou, até à queima total, 280 horas. Daí em diante, pudemos finalmente iniciar a audição dos discos utilizados em cada um dos nossos quesitos, para fechar sua nota.

Eu gostei demais dessa caixa. Pois ela consegue ser transparente sem passar do ponto e descambar para o analítico, e tem uma assinatura sônica que nos convida a longas audições diárias!

Seus agudos jamais tendem para o brilho, sua região média soa sempre muito natural e orgânica, e seus graves têm um grau de apresentação digno de caixas custando o dobro de seu preço. Esse é um grande mérito, meu amigo, pois a Wharfedale não tem apenas porte de ‘gente grande’, ela soa como uma caixa Estado da Arte refinada e definitiva.

Os nossos leitores mais antigos sabem que procuro ‘decifrar’ todas as possibilidades para se extrair o sumo de cada produto que testamos, e quando percebo de imediato o potencial de um produto em teste, à medida que vou ouvindo os discos da Metodologia e fazendo minhas observações pessoais, vou imaginando o que poderia fazer para extrair mais.

E no caso desse teste, foi uma enorme surpresa ouvir que, mais do que bi-cablar a caixa, um jumper de melhor qualidade faria mudanças interessantes, tanto na extensão nas altas, como de maior organização entre a micro e macrodinâmica. Ao substituir o jumper original pelo da Sunrise Lab, esses dois quesitos foram substancialmente aprimorados. Então, aos futuros proprietários, recomendo que se avalie a possibilidade desse upgrade.

Para o amigo ter uma ideia, com esse upgrade a nota final no equilíbrio tonal e na dinâmica ganharam um ponto cada!

O soundstage dessa caixa é excelente para os amantes de música clássica e de grandes grupos orquestrais (como big bands e grandes corais mórmons). O foco – desde que as caixas tenham condições de respirar na sala – e o recorte são excelentes. Assim como os planos, na largura, profundidade e altura.

As texturas possuem aquele grau de qualidade que separam as boas caixas das excelentes, com enorme facilidade de se perceber a intencionalidade sem esforço nenhum adicional. Assim como a paleta de cores e os detalhes na qualidade dos músicos e de seus instrumentos.

Os transientes possuem precisão e harmonia para delinear tempo e espaço e nos fazer bater os pés constantemente com o andamento da música.

E a dinâmica, tanto a micro como a macro, é apresentada de forma exemplar, pois a Wharfedale não se intimida com grandes crescendo, trabalhando com enorme folga e sem deixar o sinal comprimido ou bidimensional (algo tão comum quando a caixa não tem ‘bainha’ para sustentar o fortíssimo).

Foi difícil ‘intimidar’ a Wharfedale em termos de macrodinâmica, acredite – o que me fez fazer três páginas em anotações ao ouvir exemplos encardidos, como a Sagração da Primavera de Stravinsky, 1812 de Tchaikovsky, ou a Sinfonia Fantástica de Berlioz. Escrevi, ao final, que ela passou com méritos nesses exemplos!

Se o amigo, como eu, não abre mão do melhor corpo harmônico captado em uma gravação, irá se sentir realizado ao ouvir que a Wharfedale nos mostra pianos em tamanhos quase reais, assim como contrabaixos, cellos, tímpanos, etc.

E a materialização do acontecimento musical (organicidade) será ‘palpável’ em gravações bem sucedidas neste quesito.

Resumindo: A Elysian 4 pode, com os pares ideais, enganar seu cérebro que não se trata de reprodução eletrônica o que estamos ouvindo!

Mas agora vem a melhor parte: todo esse ‘pacote’ de qualidades custa menos de 100 mil reais! Antes de me lançarem ao precipício, deixe-me apenas explicar que caixas com a pontuação que a Elysian 4 receberá, custam em sua maioria acima de 100 mil reais, o que a coloca em uma posição bastante privilegiada para os que buscam sua caixa Estado da Arte definitiva (e agora podem me jogar aos leões!).

CONCLUSÃO

Falo faz tempo que se tem um segmento que evoluiu muito nos últimos anos, foi e de caixa acústicas. A Wharfedale é uma prova, tanto com essa série top de linha como com suas séries inferiores (iremos em 2022 testar mais três modelos), que merece estar no radar de todos que desejam um upgrade de caixas.

A Elysian 4 é uma caixa digna de todos os prêmios e dos excelentes testes que já recebeu.

Para audiófilos que buscam uma solução definitiva, ela certamente atenderá a todas as expectativas (principalmente os que não abrem mão de refinamento e apresentações que nos façam esquecer serem meras reproduções eletrônicas).

Sua compatibilidade é excelente e, para quem tem salas de 25 a 40 metros quadrados, não ouvir essa caixa será indefensável! Espero que se é este seu caso, amigo leitor, não deixe de escutar, ela pode te surpreender como ocorreu comigo.

Altamente recomendada e certamente estará entre os Melhores Produtos do Ano!

Nota: 96,0
AVMAG #290
KW Hi-Fi

fernando@kwhifi.com.br
(11) 95442.0855
(48) 3236.3385
R$ 85.000

CAIXAS ACÚSTICAS ESTELON YB MKII

Fernando Andrette

Minha curiosidade em ouvir a Estelon YB MKII, só aumentou quando me despedi da Estelon Diamond XB MKII (leia teste na edição 279) e percebi que seria interessante ver como uma caixa de valor mais acessível, e com outra topologia e falantes, se comportaria em termos de assinatura sônica, e se teria o mesmo ‘apelo emocional e sonoro’ tão característico da série acima.

E, claro, poder tirar a dúvida se uma Estelon selada (suspensão acústica) teria semelhanças na reprodução dos graves com uma bass-reflex (XB Diamond). Não me lembro de cabeça de outro fabricante de caixas Estado da Arte que utilize com maestria duas topologias tão distintas, o que só aguçou ainda mais minha curiosidade.

Eu não ouvi as versões anteriores das caixas Estelon, e o máximo de informação que consegui foi lendo os reviews feitos antes do lançamento da geração MKII em comemoração aos dez anos da empresa. Mas, pelo que li, a Estelon YB MKII sofreu muito mais alterações até que a linha Diamond, o que a colocou em um novo patamar de performance.

O modelo original YB não utilizava o mesmo composto das séries acima, à base de mármore moído, e possuía um outro crossover e outro cabeamento. O que não foi alterado para a nova série foi o desenho assimétrico do gabinete, e a colocação dos falantes para minimizar os reflexos internos e em relação ao seu posicionamento na sala de audição.

Ao receber a caixa, a primeira impressão visual que me veio à mente é que a YB MKII é uma versão miniatura da Forza (modelo acima da linha Diamond) e, como a Forza, possui um acabamento e formas que certamente agradam ainda mais aos olhos que a linha X Diamond.

A YB MKII foi uma unanimidade em termos de beleza e requinte a todos que tiveram a oportunidade de vê-la em nossa sala (ao contrário da XB Diamond, que teve resistência ao seu visual). Suas formas são mais harmoniosas e as soluções encontradas para deixá-la mais slim, foi inclinar o woofer bem rente ao chão de maneira que a caixa pode ser colocada perto das paredes laterais sem ter problemas de reflexão ou coloração.

Para baratear os custos, a YB MKII utiliza um woofer de 8 polegadas da SEAS com cone de alumínio, um falante de médio de 5,8 polegadas da Scanspeak com o famoso cone de papel deste fabricante, da série Revelator, e um tweeter de 1 polegada também Scanspeak de cúpula de berílio, da série Illuminator. A fiação interna é agora a mesma utilizada na série Diamond, da Kubala-Sosna.

A resposta de frequência, segundo o fabricante, é de 30 Hz a 40 kHz, potência nominal de 150 Watts, impedância nominal de 6 Ohms, sensibilidade de 86 dB (2,83V), gabinete de composto de mármore, e peso de 45 Kg. Com altura de 1,260 mm, largura 332 mm e profundidade (na base) de 394 mm.

O fabricante recomenda seu uso em salas no mínimo de 16 metros e máximo de 45 metros quadrados.

Ela também vem em um excelente Case profissional com rodas, para facilitar o manuseio. Mas a caixa, ao contrário da XB Diamond MKII, não sai do Case com rodas para facilitar seu manuseio e posicionamento, vindo com pés de borracha, que devem ser trocados pelos spikes assim que for determinada sua posição final.

Eu sugiro fazer à dois a retirada da caixa do Case, e fazê-lo com as luvas que vem com a caixa. E nada de relógio no pulso, fivelas, ou material que possa marcar seu acabamento deslumbrante!

Para o teste, o arsenal de eletrônicos foi grande. Amplificadores integrados: Mark Levinson No.5802 (leia teste na edição 282), Shuguang Audio modelo SG-845-7G (leia teste na edição 283), Boulder 866 (leia teste na edição recente de Melhores do Ano – 280). Powers: Nagra HD (leia teste edição 283), Nagra Classic. Pré-amplificador: Nagra Preamp. Fonte digital: Nagra TUBE DAC com Transporte Nagra. Sistema analógico: prés de phono Gold Note PH-1000, e PH-10 com PSU-10 (leia teste 2 na edição 281), cápsulas Hana Umami Red Umami e ZYX Ultimate Omega G, braço Origin Live Enterprise C MK4, e toca-discos Origin Live Sovereign MK4. Cabos de caixa: Dynamique Audio Apex. Cabos de interconexão: Dynamique Audio Apex, Sunrise Lab Quintessence Aniversário. Cabos de força: Kubala-Sosna Revelation (leia teste edição de maio próximo), Sunrise Lab Quintessence Aniversário, Transparent Audio Opus G5 e PowerLink MM2. Caixa de referência: Wilson Audio Sasha DAW.

Como veio na sequência da XB Diamond MKII, foi embalar essa e já colocar para amaciamento a YB MKII. E deixar ela ligada ao Mark Levinson, que também estava em fase de amaciamento. Mas, antes disso, fiz nossa Primeira Impressão (sempre com os discos gravados por nós e meia dúzia de LPs que utilizo há anos para esse primeiro contato).

E ainda que o primeiro impacto tenha sido bastante diferente em relação à XB Diamond MKII em termos de deslocamento de ar, extensão nas duas pontas e equilíbrio tonal, gostei da sua apresentação de foco, recorte e planos, e ela se mostrou muito mais fácil de posicionar do que a XB Diamond.

A YB MKII precisa de muito mais que 150 horas iniciais para se ajustar e começar a dar o seu melhor. Ainda que se possa ouvir o processo de amaciamento desde o começo, haverá gravações que incomodarão e outras que serão uma verdadeira ‘pêra doce’. Aos apressados eu aconselho: calma, muita calma. Pois, do contrário, haverá o risco de se cometer erros na sua avaliação final!

Vamos aos cuidados necessários: eu já testei caixas que mudaram sua posição na sala algumas vezes, mas nem a Boenicke W8 (que também possui um woofer lateral) eu tive que diversas vezes reposicionar o woofer hora virados para dentro, hora para fora, como tive que fazer com essa Estelon! Para ser exato, alterei, até o término do amaciamento, sete vezes a posição. Pois quando achava que havia chegado ao ideal, ao mudar a posição da caixa em relação às paredes, uma nova rodada de escolha, ocorria.

Mas isso não tem nada a ver com exigência da caixa em relação a sala, e sim em esperar o término total do amaciamento do woofer, que realmente demora (só não é mais longo do que o do tweeter de berílio, rs).

Para o amigo leitor ter uma ideia, com 300 horas é que finalmente o equilíbrio tonal se encaixou para não sofrer mais nenhuma alteração, e podermos (finalmente) deixar os woofers apontados para as paredes laterais e não para o centro entre as caixas. Mas isso foi em nossa sala, em que qualquer caixa tem espaço suficiente à sua volta para respirar.

Então, em salas menores, com acústicas diferentes, será preciso paciência para esperar os woofers se soltarem totalmente, para definir a posição dos woofers.

Outra característica muito interessante é a possibilidade (depois de inteiramente amaciada) de se ajustar o foco, recorte e planos milimetricamente. Se o ouvinte for um apaixonado por música clássica, ele poderá ajustar a Estelon para se extrair o supra sumo em planos (tanto na profundidade, como na largura e altura), e definir com precisão o foco e recorte.

Essa característica tão interessante a XB Diamond também apresentou – mas a YB me pareceu ainda mais cirúrgica nesse quesito. Ao ponto de a caixa sumir ‘literalmente’ na sala, e a música ser recriada em sua integridade!

E aí chegamos ao DNA sonoro da Estelon, que tanto me impressionou na XB Diamond. A capacidade de deixar a música fluir à sua frente como se não fosse reprodução eletrônica. Enganando seu cérebro e o convidando a profundas imersões a cada disco ouvido.

Claro que a YB MKII não chega ao mesmo grau de refinamento e intencionalidade que a linha Diamond, mas ela o faz com tanta segurança e um caráter sônico tão bem estabelecido, que o efeito de ‘magia’ é muito semelhante ao da série acima.

Os graves são simplesmente os melhores que ouvi em caixas seladas (independe do preço), o que me leva a crer que a Forza supere a linha Diamond (bass-reflex) tanto em deslocamento de ar, quanto em precisão e velocidade (dúvida que só esclarecerei se um dia tiver a oportunidade de testá-la).

A YB MKII não soa como uma caixa selada ‘convencional’, pois os graves possuem definição, peso e sobretudo velocidade e energia, para nos fazer perguntar o motivo de outras caixas seladas não soarem assim nos graves! E olhe que nossa Sala de Referência está acima das medidas sugeridas pelo fabricante.

À princípio (na fase de amaciamento), achei que para se ter mais energia nos graves a posição ideal delas seria com eles voltados para dentro, pois na fase final de amaciamento (mais de 200 horas), foi nessa posição que muitas vezes me vi balançando a cabeça com a sua resposta nas baixas frequências e sua autoridade.

Mas, à medida que o amaciamento chegou às 280 horas, ficou claro que na reprodução de órgão de tubo e percussões, que o woofer para fora, além de encher mais, se alinham perfeitamente com o médio-grave, facilitando o posicionamento final das caixas (já com os spikes), que ficaram a 1,80 m da parede às costas delas, e 1,20m das paredes laterais, com um toe-in de apenas 15 graus para a posição ideal de audição.

Neste ângulo, o soundstage para obras sinfônicas e big bands se mostrou perfeito!

Foram dias de glória, como diria um grande amigo!

São aqueles momentos em que parece que tudo teve a conjunção perfeita, de equipamentos disponíveis, caixa à altura da eletrônica, e música para escolhermos a dedo!

A YB possui um equilíbrio tonal excelente e comedido! E gosto muito quando a caixa se comporta assim, pois permite entendermos a relação e o desejo do engenheiro de gravação ao não dar mais ênfase ao que não está explícito na partitura! Triângulos, sinos, percussões, não irão ‘concorrer’ com os solistas ou com os cantores.

As texturas serão fidedignamente apresentadas, em toda sua paleta de cores, sem nos fazer perder em detalhes que desviam nossa atenção do todo.

O tempo e ritmo serão precisos, mas também concisos na maneira de nos seduzir e nos colocar dentro da melodia.
E a dinâmica é apresentada em toda sua variação de degraus, do pianíssimo ao fortíssimo, sem arroubos pirotécnicos ou fogos de artifício!

Para mim, depois de testar dois modelos deste fabricante, ficou claro que seu conceito é que a música flua sem artifícios, como ouvimos um instrumento nas mãos de um virtuose! Assim como o virtuose não precisa provar mais nada a ninguém, a Estelon não se prende à ideia de que para ser competitiva no mercado de caixas superlativas, necessite ser eloquente ou ‘reinventar’ a roda. Ao contrário, ela mais uma vez nos lembra da importância do ‘menos ser mais’. Ao fazer com que a música seja presente e não a caixa acústica.

Ouvi nos últimos 30 anos, e testei excelentes caixas, propostas e conceitos diversos e soluções muitas vezes audaciosas. Mas a Estelon se encaixa em uma categoria à parte, pois consegue aplicar conceitos e soluções em que claramente o resultado não apenas é mais preciso, como também é mais harmonioso e musicalmente encantador!
Não quero de maneira alguma dizer que assim seja o certo, ou que atenda as expectativas de todos audiófilos. Pois sei que cada um tem a sua ideia pessoal do que seja certo ou errado para ele. E sabemos que as escolhas vão muito além apenas da performance do produto (principalmente caixas acústicas).

Mas para aqueles que ainda hoje utilizam como referência para as suas escolhas, música ao vivo não amplificada, certamente ao ouvir atentamente uma caixa Estelon, notarão o quanto lembram as características de uma sala de concerto, sua ambiência, timbres, texturas, transientes, etc. E como seu cérebro consegue relaxar e ser enganado por essas caixas!

Essa característica ficou clara tanto na XB como agora na YB, sendo que a diferença está muito mais no grau de lapidação e refinamento do que em algum quesito de nossa Metodologia.

Claro que a XB consegue entregar um resultado ainda mais requintado em termos de nos colocar frente à música e aos músicos, mas fato é que essa diferença só se torna audível se o audiófilo tiver como ouvir ambas em seu sistema simultaneamente.

CONCLUSÃO

Para os nossos leitores, que necessitam de ver em detalhes a diferença entre as Estelon, sugiro se debruçarem nas notas dadas aos quesitos, e aí terão ideia das diferenças.

Mas, para os que estão apenas estudando a caixa definitiva que gostariam de colocar em seu sistema, o que posso dizer é que a Estelon YB MKII possui todas as virtudes inerentes à XB MKII, custando a metade do valor. E sabemos, nos dias de hoje, o quanto isso pesa no orçamento e na viabilização ou não de um upgrade.

E com mais uma vantagem: ser muito mais acessível e fácil de ajustar em salas menores do que a XB.

Quanto ao conceito, o mesmo DNA está presente, em todos os aspectos. Deixando a música fluir sem impor uma assinatura sônica, ou escolhendo estilos musicais para mostrar suas qualidades.

Claro que estamos falando de uma caixa que será exigente com a eletrônica e, no mínimo, precisará que o sistema também sinalize na direção da neutralidade. Com esses cuidados, não vejo como o audiófilo que se referencie pela música ao vivo não amplificada, não se renda a seus inúmeros encantos!

Nota: 99,0
AVMAG #281
German Áudio

comercial@germanaudio.com.br
(+1) 619 2436615
R$ 219.860

CAIXAS ACÚSTICAS ESTELON X DIAMOND MKII

Fernando Andrette

Várias vezes leitores me abordaram perguntando que tipo de teste é o mais complicado de se escrever, e não tenha dúvida, amigo leitor, que os testes mais difíceis são os que quebram paradigmas ou que se comportam integralmente como um ‘ponto fora da curva’.

Pois testes desses equipamentos exigem que todos os cuidados sejam minuciosamente revisados, e que o setup esteja à altura do produto avaliado.

Felizmente, tanto para o teste dos powers Nagra HD AMP (leia teste na edição 283), como agora para o teste da Estelon X Diamond Mkll, tínhamos à disposição ambos e por tempo suficiente para o amaciamento e avaliação criteriosa.

Sugiro aos leitores que leiam também o teste do HD AMP, assim como também das Estelon XB Diamond MkII (edição 279) e Estelon YB MkII (edição 281), pois em ambos eu explico um pouco da filosofia da empresa, o histórico do fundador e principal projetista Alfred Vassilkov, e como ele desenvolveu as formas e o conceito de suas caixas acústicas.

Pois se for explicar a você leitor tudo novamente, esse teste ficará longo demais.

No entanto, em respeito a todo novo leitor que conquistamos todos os meses, farei um breve apanhado do trabalho de Alfred. Depois de trabalhar por 25 anos para diversas empresas de áudio, o CEO Alfred Vassilkov passou cinco anos desenvolvendo o conceito de um alto-falante que pudesse transmitir com fidelidade a música em qualquer tipo de sala de audição doméstica.

Ele usou todo seu conhecimento em acústica e formas e materiais para gabinetes para chegar à conclusão que, tamanho objetivo, só teria êxito se ele conseguisse desenvolver um gabinete de alta massa amortecido e que fosse muito rígido, sem superfícies internas ou externas paralelas. Sua solução foi criar um gabinete feito de pó de mármore com um design que, a mim, lembra um ‘bispo’ de uma peça de um jogo de xadrez estilizado. Em que o tweeter de diamante de 1 polegada se encontra na parte superior do gabinete mais estreita e logo acima o falante de médio de 7 polegadas com cone de cerâmica Accuton e o woofer de 11 polegadas também de cerâmica Accuton, na base da caixa.

Suas formas, dependendo da luz do ambiente, parecem que criam movimentos e, dependendo do ângulo de visão do ouvinte, se tornam ainda mais atraentes.

Já havia escrito nos teste com os modelos YB e XB Mkll que a principal virtude desses falantes era a capacidade da música não soar sendo irradiada das caixas, ainda que estejamos a curtas distância dos defletores. Esse fenômeno psicoacústico é imprescindível para que nosso cérebro relaxe e se concentre na música sempre de forma intensa e precisa, e não resta dúvida que essa possibilidade foi explorada ao máximo pelo sr Vassilkov.

Mas as Diamond vão muito além dessa ‘magia sonora’, ao nos possibilitar em sistemas bem ajustados a capacidade de escutar todas as qualidades intrínsecas de cada gravação. E nesse aspecto, concordo plenamente com o Jonathan Valin da Absolute Sound, que ao avaliar a X Diamond Mkll escreveu: “Seja por causa de seu gabinete altamente projetado, artisticamente esculpido, excepcionalmente ‘invisível’, sua mistura ultra suave de drivers altamente neutros e lineares, a X Diamond não quebra o encanto de ouvir música aparentemente tocada em um espaço e tempo diferente do aqui e agora do seu quarto. É um feito incrível de proeza de engenharia, que cria um estéreo maravilhoso”.

Eu nunca escutei nenhuma versão original das Diamond, então não tenho como fazer comparações dessa nova versão com a anterior. Mas, segundo o fabricante, as principais diferenças são: um novo tweeter de diamante de 25 mm da Accuton com uma largura de banda estendida até 60 kHz, um novo woofer de 11 polegadas de sanduíche de cerâmica, e um novo médio-grave de 7 polegadas com cone de diafragma de cerâmica. Novos resistores Mundorf Supreme e capacitores de filme Mundorf Silver Gold Oil. E, por fim, uma nova fiação top de linha da Kubala-Sosna, e um novo crossover de terceira ordem entre o woofer e o falante de médio, e de segunda ordem entre o médio e o tweeter.

O que temos de informações técnicas: as X Diamond Mkll são indicadas para salas de 25 a 80 metros quadrados, seu peso é de 86 kg, sua resposta de 22 Hz a 60 kHz, impedância de 6 ohms (com mínimo de 3.5 ohms em 50 Hz), mínimo de potência indicado de 20 Watts, e sensibilidade de 88 dB (2.83 V).

Para o teste utilizamos nosso Sistema de Referência e também os monoblocos Nagra HD AMP. Fontes digitais: além do Nagra TUBE DAC, também o MSB Reference. Cabos de força de 20 amperes da Kubala Sosna Realization nos powers HD AMP.

Outros revisores que tiveram a chance de ouvir a nova X Diamond, narram experiências semelhantes às do Jonathan Valin ao tentar descrever o palco sonoro e a transparência das imagens sonoras, e as observações seguem a mesma direção: “A X Diamond Mkll está entre aquelas raras caixas que você pode ouvir de qualquer distância e não tem chance de descobrir onde estão os falantes esquerdo e direito e quantos drivers tem cada caixa. Mesmo em campo próximo, e apesar de seu tamanho, ela desaparece completamente e, de olhos fechados, não havia nada que indicasse que o som vinha delas”.

E, por último, a descrição do revisor Jeff Fritz do site SoundStage: “Lana Del Rey foi retratada com uma presença tridimensional em um palco sonoro palpavelmente tangível. O mais impressionante foi a imagem quase visível de Del Rey enquanto ela cantava bem no meio do palco. Esse palco era magnificamente profundo, estendendo-se muito além do plano descrito e além da parede. Imagens auditivas precisamente delineadas. Com as vozes femininas e masculinas soando neutras e claras – em termos de precisão tonal era tudo que eu podia pedir”. Os que me leem sempre, sabem o quanto evito citar outros revisores e, muitas vezes, até me nego a ler antes de tirar minhas próprias conclusões. Mas como esses depoimentos batem integralmente com minhas conclusões, resolvi abrir uma exceção.

Então vamos à nossa avaliação. Lembrem-se que no teste do HD AMP, eu escrevi que haveria o Verdade Sonora partes 1 e 2. E que a ‘simbiosidade’ entre o HD AMP e a X Diamond havia sido tão impressionante, que o mais correto seria dar a chamada de capa o mesmo título sugerido ao power HD AMP (edição 283).

Mas essa tomada de decisão vai muito além de um mero ‘simbolismo metafórico’. Pois ainda que sejam produtos distintos, ambos fabricantes parecem possuir a mesma visão do que se deve buscar no áudio Superlativo!

Com isso não estou de maneira alguma dizendo que ambos necessitam trabalhar em conjunto, mas que quando isso ocorre o resultado é uma ‘Verdade Sonora’ magnífica!

Li e reli várias vezes os testes dos que tiveram a chance de ouvir essa caixa, e quanto mais eu lia, o que me veio à mente foi a dificuldade com que cada um tentou dentro de seu grau de experiência, transmitir com fidelidade o que as X Diamond Mkll lhes proporcionaram em termos de prazer auditivo. E todos foram enfáticos o suficiente para transmitir ao seu leitor o quanto as Estelon os surpreenderam positivamente.

No meu caso, ouso dizer que a situação foi um pouco distinta, pois ainda está em minha memória fresca o impacto dos testes de dois modelos da Estelon. E sinceramente eu achava que a X Diamond Mkll, teria um pouco mais de ‘refinamento’ do que a XB e que, portanto, o ‘efeito Estelon’ já estava suficientemente assimilado.

Esse mesmo erro cometi também no teste do power Nagra HD AMP, achando que seria uma extensão mais aprimorada do Classic, e “dei com os burros n’água” (prometo não cometer mais esse erro caro leitor, pois duas vezes foi mais do que suficiente).

Então me vi em má situação para descrever minhas observações da X Diamond Mkll, pois dizer que ela é apenas superior a XB Mkll seria um erro irreparável. Pois são de pedigrees distintos, ainda que ambas tenham o mesmo DNA sonoro e aparentemente o que as faz diferente são detalhes de tamanho apenas.

Sempre tentamos racionalmente criar respostas que nos pareçam ’sensatas’ teoricamente, mas que na prática se mostram imprecisas e muitas vezes mal formuladas. Pois a questão não é o quanto são diferentes, mas sim o que as torna diferentes.

E só depois de muito ouvir e ouvir, cheguei a alguns caminhos interessantes e tentarei compartilhar com vocês essa conclusões.

A primeira que de tão óbvia só poderia abrir essa pauta, é que para a nossa sala de testes a XB Mkll foi limitada em dois quesitos: macrodinâmica e na resposta de graves (tanto em deslocamento de ar como em peso e energia). Mas a partir dessa conclusão as outras características e diferenças, já não são tão óbvias.

E começo aqui pela explanação de um fenômeno psicoacústico muito mais evidente na X Diamond Mkll do que na XB.

Chamei-o de: “Efeito Sonoro Bokeh”. Quem gosta de fotografia, certamente já ouviu e fez uso deste efeito para conseguir melhores imagens em suas fotos. Para os não familiarizados, tentarei explicar: Bokeh é uma palavra japonesa que tenta descrever a suavidade e a qualidade do desfoque de fundo de uma fotografia ao fazer uma imagem com uma profundidade de campo rasa (ou seja, em que o fundo está tão presente quanto a imagem principal). Para se conseguir o efeito desejado, o fotógrafo recorre a desfocar suavemente o fundo, tornando tudo ao entorno da imagem principal mais suave, agradável e harmonioso. Essa técnica é muito usada em fotos de campo e retratos da natureza, em que se separa o fundo ‘perturbador’ da imagem principal.

Eu sempre lembro em meus textos e testes do perigo de uma transparência excessiva nos tirar a concentração do todo, nos levando a ficar presos em detalhes que não estão ali como o acontecimento central. E esse problema é muito mais ‘permissivo sonicamente’ quando determinadas frequências se sobressaem na reprodução da música. Inúmeros setups sofrem desse problema, e caixas acústicas mais ainda!

Isso ocorre por inúmeros motivos, e por muito e muito tempo era até motivo de ‘orgulho’ para muitos audiófilos, mostrarem como os agudos de suas mais recentes caixas acústicas, soavam em relação a sua referência anterior. Ou os graves, quanto maior o impacto e sustos, melhor era seu apelo. E, por fim, a região média, que de tão precisa e transparente, pregava pequenos sustos nos ouvintes, com ‘ruídos de gravação’ que pouco tem a ver com o discurso musical.

Quantas vezes ouvi caixas enormes com uma resposta capaz de fazer a bainha das calças tremerem em um rufar de tímpanos e, quando entravam vozes ou instrumentos de sopro de madeiras, o corpo desses instrumentos era enorme (uma vez até citei em um artigo uma audição que fiz em uma caixa caríssima em que as vozes pareciam do tamanho de uma boca de hipopótamo). Ou aquele triângulo ao fundo da orquestra, concorrendo com o solista como se tivesse a mesma relevância!

Nada contra se esse for o seu ‘barato’ sonoro, de seu atual estágio na busca da perfeição. Mas se você deseja um sistema que faça seu cérebro realmente esquecer que está ouvindo música reproduzida eletronicamente, esses ‘fetiches sonoros’ não enganarão seu cérebro jamais. E, acredite, existem dezenas de fabricantes de áudio trabalhando seriamente para lhe proporcionar a oportunidade de seu cérebro relaxar e ouvir somente a música e nada mais.

Então, voltando às caixas acústicas especificamente, conseguir esse difícil equilíbrio entre transparência, naturalidade, musicalidade e realismo, é um dos desafios mais complexos a serem resolvidos. Pois quando se consegue dois ou três desse objetivos, sempre a proporção entre eles não é a ideal, ou a que o projetista tanto almejava ao sair do nível teórico ao prático.

Os que fizeram nossos Cursos de Percepção Auditiva, irão lembrar da primeira dica que sempre dei a todos: se forem começar um sistema do zero, comecem pelas caixas acústicas e montem a eletrônica para extrair o melhor da assinatura sônica da caixa escolhida. Caixas acústicas são a parte do sistema mais próxima à um instrumento musical!

Os estudantes de música têm enorme dificuldade de escolher seu primeiro instrumento, os audiófilos iniciantes também. E pedir ajuda ou orientação, não é vergonha alguma!

No entanto, à medida que caminho para o final dessa minha carreira, percebo que muitos audiófilos ‘rodados’ não têm a segurança necessária para escolher suas caixas definitivas. Pois muitos ainda estão presos a ‘pirotecnias ’e determinadas características sonoras, que tornam essa busca final muito mais complexa e dispendiosa.

Sem falar na quantidade de excelentes caixas que existem na atualidade, para deixar a escolha ainda mais emocionante e diversificada.

Então, o meu conselho, que compartilho há anos, continua em pé: se for iniciar do zero, comece pela caixa, pois ela dará a assinatura sônica de seu sistema e será o ‘norte’ seguro para a escolha e ajuste fino do setup escolhido.

E não esquecer jamais que toda caixa possui a assinatura do seu projetista, então antes da escolha, é preciso conhecer o que o projetista imaginou para o seu produto e ouvir se o que busco em minha caixa ‘derradeira’ é o que aquele projetista também buscou.

E a X Diamond Mkll possui um conjunto de características que são muito distintas de todas as caixas que ouvi, tive e testei. Claro que minhas escolhas serão sempre muito diferentes das de vocês leitores, pois tudo que adquiro tem como principal função ser uma ferramenta de trabalho para aprimorar nossa Metodologia.

Por outro lado, aqueles que apreciam a Metodologia e a acham um porto seguro para escolhas finais, certamente levarão em conta nossas escolhas e o motivo de seguirmos determinada direção.

Por essa perspectiva, a X Diamond Mkll, tem uma das qualidades mais importantes da Metodologia: aliar transparência com naturalidade, realismo e musicalidade, como nenhuma outra caixa por nós testada.

Mas, se o amigo imagina que este equilíbrio foi alcançado ‘ampliando’ essas quatro características ao extremo da possibilidade tecnológica hoje existente, esqueça, pois não foi este o caminho tomado pela Estelon. Ela atingiu esse equilíbrio usando como referência a maneira que a música é gravada, mixada e masterizada. Se foi captada, mixada e masterizada de maneira exemplar, essa gravação soará impressionantemente realista! Se a captação, mixagem e masterização foi mediana, o resultado será idêntico!

Isso nos leva à outra questão (a mesma dos cabos neutros, lembra?): o quanto o audiófilo aprecia montar um sistema livre de colorações ou ‘artefatos’ lúdicos. E o quanto são capazes de não desejar interferir no que não soa magnífico, sem expurgar essas gravações do seu convívio?

Pois arrisco dizer que se esses audiófilos, que possuem resistência, se pudessem ouvir um sistema corretamente equilibrado em conjunto com a X Diamond Mkll, iriam se surpreender o quanto a folga, precisão e equilíbrio desses sistemas superlativos são capazes de fazer por gravações tecnicamente limitadas, que nunca mais desistiriam de nenhum de seus discos que amam artisticamente.

Sempre, em rodas de discussão, ouvi de muitos audiófilos (e até de fabricantes de caixas conceituados), que tweeter de berílio ou diamante, deixam os agudos brilhantes, com timbre falso, etc. E sempre respondi que isso não é regra, e atualmente arrisco dizer que o projetista precisa ser muito inábil para não saber usar esses tweeters e explorar seus enormes recursos.

Nos últimos anos, nossas caixas de referência tiveram tweeters de domo de seda, fita, diamante, domo de seda novamente, e nunca nenhuma de nossas caixas teve a beleza, extensão, clareza, definição e realismo da X Diamond Mkll nos agudos.

E vou mais longe: nenhuma chegou perto da resolução tímbrica dessa caixa nas frequências altas! Duro constatar isso, pois estou falando de caixas excelentes que tivemos, e que duas delas custam no mercado americano 20 a 30 mil dólares a mais que essa X Diamond!

O mesmo posso dizer da região média, que já na XB se mostrou completamente superior à todas as nossas últimas caixas, e foi no teste da XB Mkll que comecei a fazer a analogia com o Bokeh, em que o fundo da imagem sonora está ali para fazer a composição do todo, e não para concorrer com o tema central!

E depois de ouvir e testar três modelos deste fabricante, é que compreendi a importância do gabinete, do design, da escolha dos falantes, do conceito, e da genialidade do projetista da X Diamond. Ele conseguiu colocar em prática o que todo grande projetista de caixa acústica deseja: fidelidade sem impor nenhuma assinatura pessoal!

Enquanto todos querem deixar sua marca e serem reconhecidos pelas suas obras, me parece que Alfred Vassilkov deseja que seu reconhecimento venha pela capacidade de proporcionar ao ouvinte as audições mais próximas da realidade hoje alcançadas na reprodução eletrônica. E isso é impossível de se almejar quando os produtos impõem uma assinatura sônica!

Percebem a sutileza e mudança de perspectiva?

Ao buscar não impor uma assinatura sônica, ele está libertando e enfatizando o que toda caixa de nível superlativo deveria ser! E isso, meu amigo, garanto que nem passa na cabeça da esmagadora maioria dos audiófilos do planeta, pois é preciso ouvir para entender a profundidade deste conceito, na maneira de reproduzir com a maior fidelidade possível a música reproduzida eletronicamente!

Existe uma parábola Zen que fala da beleza da água límpida que toma a forma do objeto que a recolhe sem perder suas características inatas.

E no catálogo em que a Estelon fala das belezas naturais da Estônia, e que serviram de fonte para o design das caixas X Diamond, tem algumas fotos deslumbrantes de mata virgem e água em abundância. Arrisco dizer que Alfred (mesmo que jamais tenha ouvido falar neste poema Zen) quis dar a suas caixas a forma ideal para a reprodução da música gravada.

Pois o resultado é tão consistente que, a mim não resta dúvida que não foi ao acaso que ele conseguiu tamanho feito! Pois basta ouvir os graves da X Diamond e se questionar como um falante apenas de 11 polegadas consegue uma resposta tão precisa e com tanta energia e deslocamento de ar, lembrando caixas com dois falantes de 10 polegadas e gabinetes muito maiores!

E aqui, novamente, é preciso lembrar que não se trata de pirotecnia e sim de controle, definição e precisão.

Como diz um grande amigo, não vai cair um cofre de uma tonelada na sua frente e te matar de susto, mas qualquer nota grave emitida por um instrumento musical soará magistralmente coesa e correta em tempo, sustentação, corpo e decaimento.

Em termos de soundstage, acho que já detalhei todas as qualidades, mas uma delas para mim é mais importante do que os planos precisamente apresentados de acordo com a captação e mixagem. Que é o foco tridimensional. E aqui mais uma vez o ‘efeito sonoro bokeh’ se mostra perfeito, pois como o fundo do palco não tem o mesmo peso que os solistas, a separação, ou melhor, o delineamento do acontecimento principal, chega a ser chocante de tão preciso e realista.

Ouvindo gravações em duo de vários cantores e cantoras, é incrível como se percebe até quando os cantores estão no mesmo microfone ou em microfones separados, assim como a diferença de altura, distância dos cantores e ângulo do microfone. Você literalmente nesses casos ‘vê’ o que está ouvindo! E tudo graças ao fundo nunca concorrer com o essencial.

E quando esse equilíbrio foi captado e mixado nas alturas intencionalmente previstas ou desejadas, nunca se perde o todo.

E, como escrevi linhas atrás, esse é um resultado difícil de se conseguir nas caixas acústicas, pois depende de muito conhecimento, crossovers bem ajustados, falantes corretos, gabinete, etc. Pois do que adianta sua eletrônica conseguir a proeza de manter o foco, recorte, planos e ambiência corretos, se sua caixa tem problema para manter tudo em seus devidos planos?

Essa é uma questão totalmente resolvida pelas caixas Estelon em toda sua linha, pelo visto.

As texturas também são muito favorecidas pela capacidade da X Diamond Mkll não impor assinatura sônica. Então sempre estamos ouvindo a qualidade da gravação, a virtuosidade dos músicos, a intencionalidade do compositor e a qualidade dos instrumentos.

Para uma pessoa apaixonada por texturas como eu, foi glorioso poder ‘redescobrir’ nuances de texturas em gravações que estão comigo por uma vida! E ao mesmo tempo me perguntar como eu nunca havia observado tanta riqueza e detalhes que na X Diamond Mkll são tão evidentes!

Quando as pessoas falam de transientes corretos, geralmente elas se referem a marcação de tempo e ritmo para dizer se gostam ou não. Mas existe um efeito que demonstro desde 1999, nos Cursos, que eu chamo de ‘letargia sonora’. Uma sensação fácil de se escutar, que deixa a gravação soando com uma certa displicência, com baixo interesse de nosso cérebro em apreciar e escutar. Coloco uns dois ou três exemplos e faço os participantes ouvirem, como pode na mesma gravação a apresentação ser desleixada ou precisa.

Mas na X Diamond Mkll, esses mesmos exemplos possuem um novo elemento que chamei de ‘deslizes sonoros’, quando no grupo (um ou dois músicos), não estão tão ligados quanto o restante dos músicos. E nunca tinha percebido isso em nenhuma caixa e muito menos em qualquer eletrônica que testamos.

Mas com a dupla HD AMP e X Diamond Mkll, os ‘vacilos’ se tornaram audivelmente evidentes!

Macro dinâmica, se você deseja coice no peito, cócegas na próstata (que imagino que ocorra nas salas audiófilas com caixas que descem a 20 Hz, cercadas por uma dupla de subwoofers que desce a 10 Hz e powers de 1000 Watts por canal), esqueça essa caixa. Nenhuma Estelon, creio (nem a Extreme), foi feita para esse tipo de ‘espetáculo pirotécnico’.

Agora, se deseja ouvir um órgão de tubo corretamente, grandes variações dinâmicas nas obras sinfônicas, a última oitava da mão esquerda de um piano soando em fortíssimo, ou instrumentos percussivos orientais de maneira em que você possa ficar na sala sem risco de danos auditivos, a X Diamond Mkll pode lhe proporcionar momentos inesquecíveis.

E quanto à microdinâmica, só não espere ela lhe dar mais ênfase a ruídos do que à música, mas tudo que foi corretamente captado estará lá!

Quanto ao corpo harmônico, eis aqui uma outra impressionante revelação: nunca ouvi nenhuma outra caixa (independentemente de tamanho e de preço), reproduzir tão detalhadamente as diferenças de um naipe de violinos e violas, ou de um cello e um contrabaixo, ambos tocados com arco!

É prazeroso dar ao nosso cérebro a possibilidade de ficar na dúvida se aquilo à nossa frente é ou não real!

É preciso vivenciar esse momento para descrever os sentimentos que essas audições nos proporcionam.

Em relação à organicidade, esse quesito talvez seja o ‘cartão de visita’ de todas Estelon Diamond – junto com o soundstage, claro! Até gravações medianas parecem mais ‘materializadas’ que em qualquer caixa que já testamos.

Isso torna toda gravação imediatamente mais interessante e emotiva (e quem não deseja isso, ao investir tanto tempo e dinheiro em um sistema?).

Então, junte todas essas qualidades de cada um desses sete quesitos, e você terá o grau de musicalidade que a X Diamond MkII pode proporcionar.

Em um sistema que esteja na mesma direção, suas audições serão absolutamente prazerosas e emocionantes. E como já relatei, com o grau de folga dessa caixa, mesmo gravações tecnicamente ruins, que são limitadas pelos erros do engenheiro de gravação ou acústica da sala de gravação (principalmente shows ao vivo em espaços abertos), terão seu apelo artístico preservado.

CONCLUSÃO

Espero ter conseguido fazer uma radiografia próxima ao que a X Diamond Mkll nos proporcionou.

Como em uma montanha-russa me senti, por muitas vezes ao ouvir meus discos de cabeceira, me perguntando ao término dessas gravações como a X Diamond Mkll consegue transmitir com tanta precisão o que outras caixas se esforçam para conseguir.

A música apenas flui sem resistência, sem barreiras, sem surpresas. É como se o acontecimento musical estivesse sendo executado ali à nossa frente em tempo real. Essa sensação e essa materialização física ocorreram com diversas gravações de diversos gêneros e distintos períodos.

Pela primeira vez meu cérebro fez, em gravações excepcionais, correlação com aquele momento mágico em que eu estava dentro da sala de gravação com os músicos que lançamos pela CAVI Records. Fui literalmente transportado para 1958, 1961, 1967, 1969, 1971, em gravações de jazz, rock progressivo, folk, música clássica e música instrumental brasileira.

O problema, meu amigo, é que isso se torna viciante, pois todos que amam a música mais do que sistemas, querem eternizar esse momento.

Se você pode e deseja estar com a sua música no mesmo espaço-tempo em que ela foi executada e gravada para a eternidade, a Estelon X Diamond Mkll é esse portal!

Nota: 110,0
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