Influência Vintage: RECEIVER THE FISHER 400

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio

O termo Vintage tem a ver com ‘qualidade’, mais do que ‘ser antigo’. Vem do francês ‘vendange’, safra, sobre uma safra de um vinho que resultou excepcional. ‘Vintage’ quer dizer algo de qualidade excepcional – apesar de ser muito usado para designar algo antigo.

Nesta série de artigos abordamos equipamentos vintage importantes, e que influenciam audiófilos até hoje!

Seja em vitrine de lojas, casas de amigos abonados, ou fotos em revistas, todos temos ‘brinquedos’ nos quais nunca pudemos nem encostar nossas mãos – às vezes nem em sonho! A maior parte de nós cresce, e passa a pensar em outras coisas, e outros são colecionadores – e muitos dos ‘brinquedos’ continuam presentes e valorizados no mercado de usados.

MADE IN USA

Enquanto a década de 70 foi tomada de assalto pelo áudio japonês – digo no mundo do alto de maior qualidade, também, não só do áudio consumer – a década de 60 tinha as empresas de áudio americanas (e também europeias), e a amplificação valvulada, falando mais alto aos corações dos audiófilos. Claro que algumas marcas japonesas tiveram seu espaço no valvulado, como a Sansui, mas as americanas Fisher, McIntosh e HH Scott – entre outras – eram parte integral da realeza.

O RECEIVER THE FISHER 400

O 400 é o modelo mais compacto da linha da empresa. Um receiver estéreo FM valvulado fabricado pela empresa americana Fisher Electronics, de 1963 a 1968, considerado um dos melhores receivers da década de 60. Ele trabalha em classe AB, push-pull, com quatro válvulas pentodo 7868 na saída, e doze válvulas 12AX7 na parte de pré-amplificação, e provê 25W por canal em 8 ohms (a especificação tão falada de 65W eu suponho que seja potência total em 4 ohms). Além do sintonizador FM estéreo – cujo circuito também é valvulado – o 400 traz entrada para toca-discos com cápsula Moving-Magnet (MM). Ou seja, uma amplificação com uma potência decente para lidar com a maioria das caixas acústicas da época.

O preço de anúncio do The Fisher 400 era de US$329.50, em 1963, em seu lançamento – o que, em valores atualizados, é quase US$3.300! Hoje, um 400 usado em bom estado, oscila entre 500 e 1000 dólares, nos EUA.

Claro que, se você quer ter um equipamento desses hoje em dia, é necessária uma séria manutenção, afinal seus componentes têm praticamente 60 anos de idade! Mais que eu! Achei interessante, em um fórum de discussão de áudio, na Internet, uma receitinha que foi passada do que tem que ser feito para tirar um resultado melhor do The Fisher 400. Aqui vai: “a troca de todos os capacitores, troca do retificador de selênio por uma ponte retificadora moderna, mudar o resistor do bias das válvulas de saída de 5.6K ohms para 3.3K ohms (para trabalhar mais frio), e adicionar resistores de 10 ohms entre os catodos das válvulas de saída e o terra (em quatro lugares). ATENÇÃO: Não sabemos o resultado e não nos responsabilizamos pelas modificações e seu funcionamento – procure sempre um técnico capacitado.

MODELOS SEMELHANTES

Não confundir o 400 com o 400-T, que era transistorizado, e não foi muito bem aceito pelo mercado, pois ainda era muito cedo para o transistor substituir a qualidade da válvula em amplificações – isso começou a gradativamente acontecer só lá para a virada da década de 70.

A questão que faz o The Fisher 400 ser o escolhido, em vez de seus companheiros de linha 500-C e 800-C (mais potentes e equipados) diz-se ser por causa do circuito mais simples, com menos componentes, trazendo um som com maior clareza e qualidade. Isso é algo que ocorria com várias marcas com bastante frequência – como é o caso do ‘pequeno notável’ integrado Kenwood KA-2002, que já saiu aqui nesta coluna. Essa questão nada mais é que um ponto bastante abordado, até hoje, por vários fabricantes de amplificadores audiófilos: o caminho de sinal curto, e o circuito mais simples, evitando muitas distorções e alterações no sinal.

Entre os concorrentes de época americanos, temos claro integrados como o HH Scott 299, e receivers como o McIntosh MAC 1500, que hoje tem preços mais valorizados no mercado de usados.

COMO TOCA O FISHER 400

Segundo a maioria dos depoimentos, o The Fisher 400 traz o calor do som valvulado, com boa limpeza e uma transparência decente para a idade.

SOBRE A FISHER

A Fisher Electronics foi fundada em Nova York pelo engenheiro Avery Fisher, em 1945, com sua vontade de projetar e produzir um rádio que soasse como se ele estivesse ouvindo uma orquestra sinfônica ao vivo. Já em 1945, toda sua ideia já estava voltada à um dia chegar na Alta-Fidelidade (quando nem o termo e nem os meios existiam ainda).

Avery Robert Fisher foi uma figura mais importante, até, que sua fabricação de equipamentos de Alta-Fidelidade.

Nascido em Nova York em 1906, Fisher cresceu em uma família de judeus de origem russa, onde não só seu pai era uma espécie de ‘audiófilo’ da época – e melômano! – com uma enorme coleção de cilindros fonográficos, como todos membros da família aprendiam a tocar algum instrumento musical – ou seja, ele e os cinco irmãos. Piano era uma constante no lar dos Fisher, e o próprio Avery foi um violinista amador.

Avery Fisher

Depois de formado engenheiro na Universidade de Nova York, na década de 30, sua paixão por música o levou a experimentações com acústica e projetos de circuitos de áudio, enquanto trabalhava em uma editora de livros. Nessa época ele começou a montagem de rádios para amigos, de maneira artesanal, e alguns anos depois montou sua primeira empresa, a Philharmonic Radio Company, em 1937.

Avery Fisher foi um notório filantropo no cenário musical nova-iorquino, fazendo parte do conselho do Lincoln Center For The Arts, e da Orquestra Filarmônica de Nova York. Em 1974 ele estabeleceu o Avery Fisher Prize – do qual é ganhador o célebre pianista americano e professor da Juilliard School of Music, Emanuel Ax, entre outros. Fisher também patrocinou pessoalmente a renovação da sala de concertos do Lincoln Center, que por isso passou a ser chamada de Avery Fisher Hall.

The Fisher 800-C

Em 1942, Fisher fabricava rádios para as Forças Armadas Americanas e Aliadas. E, na mesma década, a Philharmonic Radio fabricou e instalou o sistema de comunicação da torre de controle e de instrumentação de pouso do Aeroporto LaGuardia, de Nova York, entre vários equipamentos de comunicação, civis e militares.

Com o fim da guerra, e capitalizado, Avery Fisher e seus engenheiros começaram a Fisher Radio, depois chamada de Fisher Electronics. Seus rádios, amplificadores e receivers – todos chamados de “The Fisher” (mais o número de modelo) foram um grande sucesso. Seus receivers estéreo valvulados, produzidos de 1964 até 1968 – incluindo o 400 – ainda são admirados, colecionados, restaurados e usados por muitos audiófilos mundo afora.

Em 1969, Fisher vendeu a empresa para o grupo Emerson Electronics, que o manteve até 1977, quando a Fisher Electronics passou a fazer parte da Sanyo Electric, que diversificou a empresa totalmente no ramo de áudio e vídeo de consumo, batizando até aparelhos de TV.

A marca Fisher foi descontinuada totalmente no ano 2000 – mas o legado de Avery Fisher permanece vivo na história da alta-fidelidade e da música clássica!

Anúncio no ano de lançamento, 1963

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