Opinião: INTEGRADO ESTADO DA ARTE DE 98 PONTOS – QUAL É O GANHO?

Opinião: É PRECISO SABER O BÁSICO PARA NÃO COMETER ERROS TOLOS
março 5, 2023
HI-END PELO MUNDO
março 5, 2023

Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Por uma variedade de circunstâncias felizes, há algumas semanas tenho convivido, no meu sistema, com um amplificador integrado de 98 pontos na Metodologia – ou seja, um Estado da Arte muito alto que, portanto, ultrapassa qualitativamente a maioria esmagadora do que existe de conjuntos compostos de pré-amplificador e power.

Desde que a terra esfriou existe um preconceito quanto a amplificadores integrados na audiofilia. Integrado era coisa de sistema de entrada, era ‘simples’, e mesmo que tocasse bem, sempre tinha alguém perto para dizer “imagina o que tocaria, então, com um pré e power!” – deixando claro que você estava no caminho errado, que “você não sabe o que é bom, nunca vai atingir o nirvana com um integrado, está é perdendo muita coisa no som”. Isso mudou, e mudou muito!

Ter um sistema com caixa bookshelf e integrado, então: Vixe! Alguns deviam até achar que microsystem ‘rAiwa’ era melhor, de tão subespécie que era considerado esse tipo de sistema! Para informação do leitor, saibam que durante muito tempo utilizei integrado e caixas bookshelf categoria Diamante Referência, e não só tocavam muito bem, de maneira prazerosa e equilibrada, como também davam um grave bem decente. Tanto que caixas bookshelf atuais ainda são as melhores opções para ambientes bem pequenos, onde caixas torre ‘transbordariam’…

Os dois tipos de equipamento que mais evoluíram nos últimos 10 anos, na audiofilia, são as caixas bookshelf e os amplificadores integrados. Hoje, olhar feio para eles é mais do que preconceito, é desconhecimento puro.

Enfim, liguei o amplificador integrado italiano Gold Note IS-1000 – enviado pelo amigo Fábio Storelli da German Audio – às minhas caixas Elac Debut 2.0 F5.2, torres bem equilibradas, bastante musicais, de som quente e limpo – um dos melhores trabalhos do célebre engenheiro inglês Andrew Jones – usando o streamer e DAC internos do IS-1000, ouvindo Tidal, Qobuz e YouTube Music, além de meus CDs digitalizados armazenados no computador.

Como o amplificador já estava amaciado, o primeiro dia de audição resume-se à palavra: “UAU”!!

Daí veio a ideia de escrever esse Opinião, porque até hoje perduram preconceitos contra amplificadores integrados, apesar de só no mercado brasileiro haverem mais de meia dúzia de modelos que tocam absurdamente bem! Só este Gold Note é o quarto melhor integrado já testado até hoje aqui na revista!

Conhecendo um pouco de Gold Note, minhas expectativas já estavam altas. Mas eu nem reli o teste que o Fernando fez dele, pois queria que minhas impressões fossem só minhas, sem nenhuma ideia pré-concebida – só curtindo mesmo. E, no primeiro dia, o IS-1000 já superou todas as minhas expectativas, e me surpreendeu completamente.

Obviamente o melhor amplificador que eu já tive em um sistema meu – e uma das melhores amplificações que já esteve na maioria dos sistemas que eu já ouvi. Mesmo!

Mas aí voltamos ao título desta coluna Opinião: “o que eu ganho, em matéria de sonoridade, pondo em meu sistema um amplificador integrado de 98 pontos na Metodologia, selo ‘Estado da Arte: Edição Monte Olimpo’?”…rs… Para tal, fiz anotações especificamente das primeiras impressões, do choque de se migrar de um integrado e DAC decentes de aproximadamente 80 pontos, para 98 pontos.

As primeiras impressões a seguir foram todas ouvindo faixas e discos que eu conheço muito bem, e ouço com muita frequência. São tanto faixas usadas para testes e ajustes, como faixas que ouço por pura curtição. Não acho que adiante eu listar nenhuma das faixas, porque não é um teste, e sim um artigo de opinião.

O primeiro choque é a obscenidade de profundidade – é chocante! Planos e mais planos, e mais planos.

A altura e largura de palco não parecem ter uma parede de limitação física ao acontecimento natural – tudo toca livre de restrições de espaço, achatamentos ou embolamentos (dependendo da gravação, claro). A largura do acontecimento musical, pela primeira vez aqui, começa a ir além das laterais das caixas, para ambos lados – e essa é uma característica que eu só vi se manifestar em sistemas mais complexos e avançados.

O acontecimento musical brota no espaço parecendo que está fazendo zero esforço, tanto em sua manifestação quanto em sua micro e macrodinâmica – ambas naturais.

Passou a ficar totalmente claro que cada naipe de músico de uma orquestra, ou músicos individuais de pequenos grupos, está tocando com uma vontade, empenho e ‘paixão’ diferentes, cada um pondo intensidades compatíveis com seus instrumentos, mas também com seu toque pessoal de esforço e dedicação. E isso, meu amigo, é simplesmente mágico! E essa diferença de intencionalidade não acontece em sistemas de entrada, simplesmente.

Dá para dizer se um naipe de uma orquestra, ou um instrumentista de um grupo menor, está menos entrosado e dedicado – como se faz com facilidade na vida real, no acontecimento musical real. São informações que estão nas gravações, mas que somente DACs e amplificações de maior nível de qualidade irão desvendá-las.

Os músicos parecem ter muito mais prazer de tocar, melhor entrosamento e relaxamento entre eles – e isso é uma das coisas que melhor transmite, melhor cria, uma conexão entre o ouvinte e o músico.

Ouvindo piano solo, pela primeira vez com o sistema atual, consigo distinguir entre o som que vem das cordas e o que vem das principais partes ressonantes do instrumento, como o metal e a madeira – isso tudo compondo todo o invólucro harmônico do instrumento. Não é algo que te dá as peças separadas, o ‘todo’ destrinchado – nada disso! – ele apenas te dá um óculos e uma luz de muito maior qualidade para você ‘ver’ o ‘todo’ e os detalhes dele, ao mesmo tempo. Isso sim é Detalhadamento, com D maiúsculo, e não uma cansativa ênfase reveladora e artificial nos médios-agudos e agudos, como querem muitos. Aqui o timbre é soberbo e muito orgânico – porque a realidade não é ‘8K’, meu amigo, que pouco ou nada tem a ver com naturalidade. E, por isso, claro, a fadiga ouvindo o IS-1000 é baixíssima!

A extensão e de graves é muito maior, e o decaimento é muito natural. Aqui é outro ponto onde a sensação é como se antes houvesse limites ‘físicos’ e agora não tem mais. A sensação de folga geral agora é muito superior, tanto de energia, pulsação e ataque da música, como folga de corpo harmônico – não sinto mais a falta de ‘recheio’ de graves em vários discos, como sentia antes (e não tem ‘mais grave’ do os amplificadores anteriores, apenas tem ‘melhor grave’ com melhor corpo harmônico.

Vejam que eu aqui não abordei a sonoridade do Gold Note pela Metodologia da revista, pelos quesitos já nossos conhecidos. A ideia é realmente passar a impressão sonora simplesmente ouvindo música, sem análises profundas, e dizer aquilo que te faz babar no som do equipamento, que se sobressai e encanta.

Eu fiquei me perguntando se eu sinto falta de algo, se eu preciso ou precisaria de um pré & power. Bom, no sistema do jeito que ele é hoje, e até para vários upgrades futuros, a última coisa que eu imaginaria é alguma ‘necessidade’ de um pré e power. Aliás, este arranjo aqui é o que o Fernando Andrette chamaria de “sistema definitivo” para muita, muita gente.

Bom março, e boa música!

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