Editorial: A ORELHA OUVE, MAS É O CÉREBRO QUE ESCUTA

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Muitos dos leitores, que fizeram nossa série de Cursos de Percepção Auditiva, acharam que iriam apenas ouvir música reproduzida em vários sistemas, e aprender a usar esses exemplos musicais em seus setups para o seu ajuste fino. E ao chegarem lá, se depararam com inúmeras informações que ‘aparentemente’ nada tinham a ver com reprodução eletrônica, como a função do hipocampo para a memória de longo prazo, e a necessidade de educarmos nossa audição para saber o que precisamos ouvir para corrigir erros. E muitos ali tiveram pela primeira vez o contato com o conceito de habilidades auditivas, e como nosso sistema nervoso central codifica de maneira efetiva o processo de compreendermos o que ouvimos. E que sem o desenvolvimento pleno de nossas habilidades auditivas, todo som ou conversação não serão reconhecidos plenamente. Inúmeras vezes os participantes me questionaram sobre o ‘ouvido de ouro’, e sempre respondi que todos que não possuem nenhuma deficiência auditiva grave, podem aprender a escutar corretamente. Pois nosso sistema auditivo já está pronto ainda no ventre, mas todas as habilidades de se escutar e aprimorar a audição serão desenvolvidas durante todo o período de nossa primeira infância. Assim, se tivermos a oportunidade de nascer em um ambiente em que haja os melhores estímulos auditivos, como ouvir música, e familiares comunicativos, já estaremos bem encaminhados. Segundo a diretora da Faculdade de Fonoaudiologia da PUC Campinas, Leticia Reis Borges Ifanger: treinar as habilidades auditivas é eficaz e cientificamente provado. E existe atualmente até uma plataforma online, Afinando o Cérebro, que oferece atividades auditivas verbais e não verbais, para aprimorar a atenção, foco e memória. Um dos exercícios consiste na habilidade de escolher o que irá prestar atenção, e deletar o que está ocorrendo simultaneamente. Uma vez escrevi um Espaço Aberto em que, desde muito novo, eu gostava de estar em ambientes abertos com muita informação simultaneamente, e escolhia uma voz, ou uma música de fundo, e me esforçava em me fixar apenas no que desejava ouvir. E quando chegava em casa, em um ambiente tão musical, passei a fazer esse mesmo exercício, fixando minha atenção em um instrumento de cada vez, até memorizar toda a sua linha melódica ou solo. Todos temos essa habilidade, basta aplicá-la no nosso dia a dia. E ainda que não goste da denominação ‘ouvido de ouro’, tenho que reconhecer que quando aprendemos a nos concentrar e saber exatamente o que precisamos escutar, nossa habilidade auditiva melhora impressionantemente. E quem irá fazer esse trabalho pesado de codificação sempre será o nosso cérebro. Portanto, ao ouvirmos nossa música, a mente não pode estar carregada dos problemas do dia a dia e nem tão pouco inflamada de emoções. É preciso deixá-la livre para que possa desfrutar daquele momento, e fazendo isso estamos limpando nossa mente e finalmente passamos a escutar e compreender o que ouvimos. Pois será o nosso cérebro que irá interpretar corretamente o que estamos ouvindo, e quando temos essa experiência tão intensa pela primeira vez em nossas vidas, jamais iremos novamente ouvir música apenas como som ambiente. Jamais!

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