Espaço Aberto: CRÔNICA DO FIM DO ESTÉREO

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Em algum dia, de algum ano, no século 21, enquanto ninguém está olhando, consumidores desavisados começam a ser levados para longe do Estéreo… Será o fim do mundo como o conhecemos? rs…

Alguns anos atrás, eu estava em um aeroporto esperando o embarque para o meu vôo, quando percebi que tinha esquecido meu fone de ouvido em casa. Viajar sem música – e sem o isolamento dos barulhos do mundo que os fones proporcionam – é impossível.

Procurei uma loja no aeroporto, e comecei a ver os modelos de fones baratos, que pelo menos aparentassem ser minimamente decentes. Foi quando percebi que vários dos baratos não tinham mais indicação de que lado era o esquerdo e que lado era o direito (!). Estéreo para quê?

Algum tempo depois, começaram a aparecer essas caixas Bluetooth portáteis com melhor qualidade sonora, com volume de som que conseguia importunar os vizinhos, com respostas de frequência minimamente decentes, com graves que deixaram pessoas embasbacadas porque saiam de um invólucro tão pequeno – tudo cortesia de avanços tecnológicos, tanto na fabricação dos falantes, quanto na estrutura das caixinhas, quanto em um tal de DSP (o Processamento Digital de Som) que é o maior responsável.

Pensei que alguma dessas caixas poderia ser algo interessante para por em cima de uma mesa de trabalho, para um balcão de cozinha, um atelier. Li um bocado de reviews desses produtos, e a maioria sequer mencionava a palavra “Estéreo”, e ainda menos a palavra “Palco”. A preocupação com a formação de uma imagem estéreo, que é um dos passos mais importantes para a inserção da pessoa dentro do acontecimento musical, para a imersão, era o menor de todas as considerações. Mesmo as caixas mais tubulares, ou ‘longilíneas’, afastando um canal do outro, acabavam sendo Mono.

Mas, pelo menos, depois de um tempo as que eram inegavelmente Mono passaram a ser objeto de alguma preocupação dos fabricantes, com a introdução de um sistema que permitia o pareamento de duas delas – com uma fonte Bluetooth como um celular – de forma que uma reproduziria o canal esquerdo, e a outra o direito. Estéreo, portanto. Mas, ainda necessitando que o usuário saiba o mínimo de posicionamento de seu par de caixinhas, para poder usufruir de alguma imagem Estéreo.

Existem muitos exemplos no mercado consumer de sistemas de som que não se preocupam o suficiente com a imagem Estéreo. E claro que isso de uma maneira ou de outra, acontece há décadas – pois sempre a maioria das pessoas posicionavam seus equipamentos com as caixas encostadas dos lados – desde microsystems até sistemas maiores de som, aqueles em racks de cerejeira com porta de vidro fumê e o logo da empresa em um friso de aço escovado.

Entre os exemplos atuais, os que melhor podem se beneficiar do DSP para proverem uma imagem Estéreo decente são as soundbars – porque já usam DSP para os efeitos de surround que são a razão de sua existência, além da maior distância física entre o canal esquerdo e o direito. Mas, a audição de música Estéreo não está em suas prioridades, até porque tem muita gente tentando fazer o máximo para o Dolby Atmos Music decolar como padrão de música pop, através das plataformas de streaming – mas isso é uma aberração que terá que ser abordada em textos exclusivos para ela.

O caminho ainda é longo – mas é preciso que estejam conscientes da importância do que é Estéreo, em vez de tentar fazer o possível para que os sistemas de som consumer só funcionem em dois extremos: Mono e 3D Espacial (Dolby Atmos Music). E nenhum dos dois é bom para a música que foi feita e gravada desde sempre até hoje, e também não presta para vários tipos de música, como a orquestral.

Tirando os audiófilos, a maioria de todo o resto dos ouvintes de aparelhos de som devem achar que ‘duas caixas de som são melhores do que uma’ para dar mais volume de som, ou porque ‘duas enchem mais a sala’.

A verdade é que a existência de duas caixas de som, uma esquerda e outra direita, é que seu posicionamento correto faz com que se forme, entre as caixas, uma Imagem Estéreo. E isso pode ser feito (com maior ou menor qualidade, claro) com o tal “posicionamento correto” de qualquer par de caixas: duas Bluetooth, de um microsystem ‘Raiwa’ da década de 90, de um sistema com caixas grandes e rack de cerejeira e vidro fumê da década de 80, etc e tal.

As pessoas esquecem-se de que “Estéreo” significa “Sólido” em grego. Foi pensado para isso desde que foi concebido, mais de 70 anos atrás.

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