Christian Pruks
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Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio
O termo Vintage tem a ver com ‘qualidade’, mais do que ‘ser antigo’. Vem do francês ‘vendange’, safra, sobre uma safra de um vinho que resultou excepcional. ‘Vintage’ quer dizer algo de qualidade excepcional – apesar de ser muito usado para designar algo antigo.
Nesta série de artigos abordamos equipamentos vintage importantes, e que influenciam audiófilos até hoje!
Seja em vitrine de lojas, casas de amigos abonados, ou fotos em revistas, todos temos ‘brinquedos’ nos quais nunca pudemos nem encostar nossas mãos – às vezes nem em sonho! A maior parte de nós cresce, e passa a pensar em outras coisas, e outros são colecionadores – e muitos dos ‘brinquedos’ continuam presentes e valorizados no mercado de usados.
DEUTSCHE PERFEKTION
Ninguém contesta a altíssima capacidade e qualidade da engenharia alemã – especialmente quando se trata de engenharia mecânica. E a EMT, para os aficionados em toca-discos de alta qualidade, e sua rica história, é uma daquelas marcas que povoam os sonhos de muitos, desde colecionadores até quem queira ouvir seus preciosos vinis com um belíssimo estilo vintage de design industrial.
O Deutsche Perfektion – ou Perfeição Alemã – é um livro escrito pelo italiano Stefano Pasini, um colecionador de toca-discos antigos e expert em EMT, que conta toda a história da dedicação da empresa no projeto em construção de toca-discos para uso profissional, de 1950 até 1989. E a EMT continua despertando paixões!
O TOCA-DISCOS DE VINIL EMT 938
Sendo uma das marcas dominantes, na Europa, no mundo dos toca-discos de vinil para emissoras de rádio e estúdios estatais e de alto nível – ou seja, para uso profissional – a EMT trouxe ao mundo, em 1982, o 938, uma versão simplificada do 948, que foi um sucesso absoluto, sendo destinado à rádios que tinham um orçamento mais reduzido, precisavam da resistência e precisão mecânica do 948, mas por um preço mais acessível.
O 938 é um toca-discos com sistema de tração direta – Direct-Drive – com estabilização de velocidade por quartzo (33, 45 e 78 RPM) que, apesar de ter sido baseado em seu irmão mais velho e complexo, o 948, usa o mesmo motor e placa de circuito de controle. No caso do 948, havia uma placa de fácil acesso para cada função diferente, inclusive uma para o pré-amplificador de phono interno (MM e MC), uma ideia que era para facilitar a manutenção do aparelho. No 938, todas as placas foram simplificadas e unificadas em uma placa só, embutida em sua base – que, apesar de mais simples, o circuito de phono era mais moderno que seus antecessores, o que acabou por agradar bastante um público mais exigente de qualidade sonora – além de ter um esquema de manutenção bem bolado em que a placa desliza para fora debaixo do aparelho, por baixo.
Outros recursos que foram emagrecidos no 938, são a eliminação da lâmpada que iluminava a superfície do disco, e do sistema de reverso que invertia a rotação do disco (aqui vale lembrar que os toca-discos Direct-Drive da EMT partiam do zero para a rotação estabilizada em menos de 500 milissegundos, e paravam igualmente rápido).
O EMT 938 tem um gabinete bem sólido, com um ótimo isolamento contra vibrações, grande estabilidade mecânica em seu funcionamento, e traz uma saída para fones de ouvido (para monitoramento). Suas saídas de sinal são via conectores profissionais DIN, não RCA.
Por que usar um toca-discos ‘profissional’ em seu sistema de áudio de casa? Porque são toca-discos resistentes e precisos, muito bem construídos, muito bem isolados mecanicamente, com braços de excelente qualidade e tracionamento superior, que não desregulavam com facilidade – e que facilmente usariam uma variedade de cápsulas disponíveis.
Tanto que, no mercado de usados nos EUA e Europa, por exemplo, um EMT 938 em bom estado hoje alcança valores de 5000 dólares – e cheguei a ver mais de um por 5000 euros, e um por 5000 libras! Isso por um toca-discos usado fabricado 40 anos atrás!
Tudo bem que o preço de um EMT 938 zero km na década de 80, chegava a beirar os equivalente a 10 mil dólares, em valores de hoje. Isso porque era o mais barato da linha, vindo abaixo do ‘irmão mais completo’ 948, e do topo de linha 950.
MODELOS SEMELHANTES
Os que podem ser considerados modelos semelhantes, na verdade, são os modelos 948 (de 1979) e 950 (de 1976) da própria EMT – que compartilham o mesmo motor, braços semelhantes e a mesma finalidade, sendo os primeiros Direct-Drive da empresa, e o 938 o último modelo de toca-discos desenvolvido e fabricado pela EMT. E, antes, na década de 60, a marca também tinha em linha modelos de toca-discos ‘profissionais’ como o 927 e o 930, com tração por polia, e o 928 de tração por correia.
Claro que, para a finalidade de toca-discos de broadcast de rádio, e equipamento de estúdio, muitos outros aparelhos foram desenvolvidos na época, especialmente no Japão, de maneira mais famosa pela própria Technics com seus modelos ‘profissionais’ Direct-Drive SP-15, SP-25 e SP-10 – entre muitos outros modelos e marcas vindas da Terra do Sol Nascente.
COMO TOCA O EMT 938
A única vez que eu ouvia algum toca-discos EMT, foi 950 e o 948, nos estúdios da Rádio & TV Cultura, em São Paulo, na década de 80. Tenho a impressão de que eles serviram a todas a funções relativas a LP para a rádio, durante as décadas de 80 e 90. Inclusive toda a transcrição dos vinis do grande acervo da FM para a montagem dos programas de música erudita e MPB que iam para o ar. Se você ouviu a Rádio Cultura FM durante as décadas de 80 e 90, tenha certeza de que aquela música, se era de vinil, havia passado por um toca-discos EMT. Soam limpos, precisos, e silenciosos – mesmo se você apertasse o botão que invertia a rotação, o braço não pulava.
Tenho muita curiosidade de saber como eles tocariam com uma cápsula moderna, e talvez até com outro braço, já que o original EMT 929 é um braço de massa bem alta.
SOBRE A EMT
A EMT – Elektro-Mess-Technik, ou Tecnologia de Medição Elétrica, foi fundada em 1938 por Wilhelm Franz, em Berlim, especializada em instrumentos de medição, e que floresceu na após o término da Segunda Guerra Mundial.
Na década de 50, seu produto mais famoso foi o reverberador eletromecânico modelo 140 (depois 140st versão estéreo) – cuja placa de reverberação de metal tinha 1 metro de altura por 2 metros de largura! Quatro deles foram instalados no célebre estúdio Abbey Road, em Londres, onde operaram até 1976!
Seu primeiro toca-discos ‘profissional’, o 927, surgiu em 1951, e poucos anos depois veio seu irmão reduzido, o 930 – ambos equipados com braços feitos pela dinamarquesa Ortofon – e que tiveram várias versões, desde o mono até o estéreo, algumas com recursos a mais exigidos pelo mercado profissional, como espaço para um segundo braço.
Os anos trouxeram os toca-discos Direct-Drive – como 938 – e uma série de cápsulas magnéticas Moving Coil, além de parcerias com a Thorens, CD-Players profissionais para estúdios e rádios, entre outros.
Em 1989, a empresa belga Barco comprou a EMT, quando o mercado de toca-discos de vinil, mesmo os profissionais, já estava em franca decadência por causa da disseminação do CD.
Mas a Elektro-Mess-Technik permanece viva entre seus admiradores e colecionadores!