Opinião: É PRECISO SABER O BÁSICO PARA NÃO COMETER ERROS TOLOS – PARTE 2
abril 6, 2023
HI-END PELO MUNDO
abril 6, 2023

Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Mês passado, o Fernando Andrette fez um artigo tecendo considerações sobre o espectro de frequências da maioria dos instrumentos musicais – o infográfico de lá está também reproduzido aqui neste artigo, para referência.

E isso suscitou uma série de discussões (pacíficas..rs…). Foram mais ‘considerações’, na verdade – sobre a resposta de frequência das caixas e a necessidade real de subwoofers.

E não estou falando de subwoofers para home-theater, que vão reproduzir efeitos sonoros de filmes, que além do uso de subs normais chegam a extremos de ter subs que são somente vibração, como acoplados aos pés do sofá, ou dentro da cadeira, que só servem para fazer ‘massagem’, mais nada. Não tem nenhuma informação musical lá. É equipamento circense ou de parque de diversões. E também não falo de subwoofer de carro, que só serve para querer fazer o carro desmontar ou para incomodar os outros com batidas eletrônicas.

Aqui estou falando estritamente de música. De música de qualidade.

Muitos parecem ter uma obsessão por subgraves – e, na verdade, no gráfico, bem se vê que a maioria das frequências graves dos instrumentos musicais está de 40Hz até perto de 100Hz. Quando se vê, por exemplo, na imprensa especializada americana o disseminado uso de subwoofers – além da questão de marketing, claro – é preciso entender que as salas lá são um bocado diferentes das nossas. São salas geralmente muito maiores e, em várias partes do país, as construções usam paredes duplas de drywall (que ‘vazam’ grave que é uma obscenidade) em um sanduíche com uma lã ou espuma que dá isolamento térmico e retarda chamas, para contenção de possíveis incêndios, que são aplicados em um estrutura metálica bastante móvel (por causa de terremotos). É uma maneira decentemente durável e barata de se construir, e de fácil manutenção. Acontece que essa espuma usada no sanduíche também é uma enorme armadilha de graves! Daí grande parte da dedicação do americano ao uso de subwoofers.

Em uma sala de alvenaria, sem muita janela envidraçada enorme (outro elemento arquitetônico ‘ladrão’ de graves), e que seja em tamanhos brasileiros ‘normais’, o uso de subwoofer para a maioria dos gêneros musicais, é bastante desnecessário.

Até porque, se a maioria dos instrumentos responde de 40Hz para cima, então muitas das caixas acústicas bookshelf boas do mercado seriam suficientes, certo?

Então para quê ter caixas tipo torre? Porque existem situações onde a caixa bookshelf é muito pequena para o tamanho da sala. E porque com uma caixa torre de boa qualidade, você tem uma acontecimento musical apresentado com maiores dimensões e maior ambiência, e com corpo harmônico maior e mais correto.

Eu tive caixas acústicas bookshelf durante muitos anos. Uma vez eu pus um sub para testar, ver se resolvia meus questionamentos sobre graves. Eu realmente desgosto de ter o acontecimento musical à minha frente, pequeno. Isso me desconecta da música, ela fica parecendo longe e ‘falsa’. Pus o sub, regulei do jeito certo, que é ‘complementar à resposta de frequência da caixa’, e trouxe um pouco de ‘porão’, mas tudo continuou sem impacto e sem tamanho.

Fiz o artifício de subir o corte do sub um pouquinho, invadindo a resposta de frequência da caixa (que, em sala, ficava ali pelos 50Hz), tomando cuidado para não sujar o grave, embolar e duplicar sons (que estarão sendo respondidos ao mesmo tempo pelas caixas e pelo sub). Isso fez melhorar marginalmente, apenas. Mas, um dia, eu tive uma ideia, que foi a de usar o controle tonal do meu amplificador integrado – até porque ele já ficava ligado direto, não tinha botão de ‘by pass’ ou de ‘direct’, então o que ele tivesse que sujar o som, já estava sujando. Para tal teste – ideia que já estava no fundo da minha mente por vários motivos – desliguei o sub totalmente, e aumentei um ponto no controle de graves do integrado. E depois mais um ponto (usando dois pontos no total). O controle de agudos permaneceu intocado, assim como qualquer outro controle que o amplificador tivesse.

O resultado? Muito mais cheio, maior e com mais impacto exatamente na faixa de 50Hz a 100 e poucos Hz! Onde a maioria dos instrumentos graves estão! Um efeito transformador incrível, da água suja para o vinho francês!

“Ué! Não é você que é contra o uso de controles tonais e equalizadores?”, me perguntaram. Bom, eu não sou contra o uso criterioso dos mesmos. E já declarei várias vezes que a maioria das pessoas não sabe como usar esses recursos.

Assim como já cansei de ver gente usando para alterar a audição de disco por disco – e isso não podia estar mais errado! Equalizador e controle tonal você usa para corrigir e adequar a relação entre os componentes de um sistema, e a interação desse mesmo sistema com a sala – e isso de maneira muito suave. Uma vez corrigido não se mexe mais, e ainda assim é preciso saber fazê-lo – e, sinto dizer, a maior parte das pessoas não sabem como, falta-lhes a referência e a mínima metodologia.

Muitos audiófilos que ouvem gêneros musicais que são amplificados (não-acústicos) como o rock e o pop, parecem procurar que seus sistemas toquem com a energia de um P.A. de show ao vivo. Desnecessário dizer que isso é um ponto de vista Quantitativo (‘mais’ energia, ‘mais’ volume, ‘mais’ impacto), e não Qualitativo (onde se busca Qualidade de Som). Isso pode ser interessante em sistemas de quem ouve só rock e pop – gêneros cuja maioria dos discos são notoriamente comprimidos demais, uma massaroca sonora, com baixo comprometimento com a qualidade de captação e reprodução de seus instrumentos individuais. Mas, a questão interessante é que, mesmo aqui, onde esses audiófilos precisam de energia, onde eles procuram impacto, é principalmente nas frequências de 40Hz para cima – como já citado. A exceção seria a moderna música pop eletrônica que, sim, responde em frequências bem baixas, como 20 a 30Hz com facilidade.

Para gêneros como rock e o pop acústicos, jazz, orquestral, world music, e semelhantes, o uso de um subwoofer é menos importante do que ter o equilíbrio tonal, tamanho e energia corretos na faixa dos 40Hz a 100Hz.

Um exemplo onde o sub mais atrapalha do que ajuda é – quando em sistemas hi-end corretos e equilibrados – você por subs enormes para trabalhar com caixas grandes. Mesmo considerando a dificuldade de se casar, de se ajustar a sobreposição de frequências (inevitável) de maneira que não vire um caos, uma massaroca de graves, outro problema ocorre: ao ouvir uma orquestra, por exemplo, a reprodução passa a trazer uma energia descomunal à mesma (e irreal) que pode seduzir algumas pessoas – mas quando você tira o disco da orquestra e põe uma soprano cantando, o corpo harmônico de sua voz estará tão turbinado que ela terá o tamanho de um hipopótamo! Não é o caminho para a maioria dos sistemas e salas.

O problema todo, portanto, está na falta de compreensão sobre quais são os graves mais importantes para a satisfatória reprodução eletrônica de música. E, claro, não estragar seus graves querendo ser “mais realista do que o rei”.

Eu mesmo sou bastante fã do tamanho e da energia que trazem caixas antigas com falantes grandes (woofers de 10 a 15 polegadas), mas não sou fã de sua baixa resolução e seu equilíbrio tonal deficiente e sujo. Seriam ótimas se eu só ouvisse rock e pop – o que está muito longe da verdade.

Vale citar, curiosamente, que várias dessas caixas antigas têm respostas de frequência que não descem abaixo de 40Hz – e algumas nem descem abaixo de 50Hz! Um exemplo, adorado por sua energia e tamanho do acontecimento musical, usadas extensamente tanto por audiófilos como em P.A. em locais menores, e sempre presentes em cinemas antigos, são as Altec Voice of the Theater. Além da resposta de agudos das cornetas não ir acima de 16kHz (!), a resposta de seus graves começa aos 40Hz!

Você precisa de um subwoofer? Ter um subwoofer irá resolver seus problemas, irá satisfazer suas necessidades de tamanho e energia na reprodução de graves? Provavelmente não.

É preciso pensar bem, e ver qual o caminho que é o melhor para seu sistema.

Boas audições outonais!

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