Opinião: O FETICHE PELO ERRO AUDIÓFILO
maio 5, 2023
HI-END PELO MUNDO
maio 5, 2023

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Nos nossos 27 anos, escrevemos dezenas de artigos a respeito de tendências tecnológicas, avanços nas áreas de semicondutores e o uso de novos materiais promissores para a construção de cabos e cones de falante, como o Grafeno, por exemplo.

Lembro de um artigo em que falei a respeito do uso da nanotecnologia para tornar componentes e circuitos mais ágeis e menores, e das descobertas da neurociência para nos ajudar a compreender melhor nossa audição e como interagimos com a música, seja ouvindo ou tocando um instrumento.

Certamente que esses artigos eram embasados em constatações e não em mera ‘Futurologia’ ou achismo. E todos esses avanços estão presentes hoje em nosso dia a dia, e colaboraram para que os equipamentos de áudio e nossa percepção auditiva fossem ampliados.

E coloco nesse hall de novidades consistentes duas novas descobertas, que irão certamente revolucionar os futuros alto falantes hi-end e os circuitos e placas de áudio, em um futuro bem próximo.

O primeiro exemplo irá revolucionar os alto falantes, com a descoberta de uma equipe da Universidade de Saarland na Alemanha, que vem trabalhando faz algum tempo com materiais ‘inteligentes’ que já foram usados para produzir garras robóticas a vácuo, correias transportadoras movidas a músculos artificiais, e até uma geladeira futurista capaz de monitorar e regular a temperatura dependendo dos alimentos que estiverem sendo armazenados naquele momento.

Agora aplicaram essa mesma tecnologia para revolucionar os alto-falantes atuais, tornando-os muito mais leves, dissipando menos calor e com muito menor distorção.

Serão cones inteligentes produzidos com filmes de silicone ultrafinos, que agem como músculos artificiais (no mesmo princípio das esteiras), com seus próprios micro sensores, permitindo criar falantes com formas totalmente planas e com um gasto de energia ínfimo em relação aos falantes convencionais.

O projeto foi batizado de Alto-falante de Músculo Artificial. A tecnologia é baseada em finos fios de silicone revestidos com uma camada eletricamente condutora, o que resulta na prática em um elastômero que utiliza muito pouca energia para seu funcionamento e com isso gera ínfima distorção harmônica.

Para funcionar, o elastômero vibra e executa movimentos de flexões variáveis, de acordo com a frequência e volume aplicado no falante.

Ao combinar os dados de medição que se deseja dar a esse falante, com algoritmos inteligentes que ficam armazenados no próprio elastômero, se programa a sequência de resposta pretendida, com um resultado absurdamente preciso tanto em timbre como velocidade. Pois o filme irá pulsar nas frequências programadas com total precisão.

O que é mais promissor é que a gama de aplicações sonoras é muito vasta, podendo ser usado como um tecido por cima das paredes para cancelar ativamente ruído de ambiente interno e externo, ou mesmo usado em roupas para emitir sinais acústicos.

Já se o filme elastomérico for enrolado, poderá ser usado para substituir os imãs dos falantes convencionais, para acionar o cone dos falantes atuais, com ganho de qualidade em relação aos eletroímãs enormes e pesados.

Nos estudos realizados até o momento pela equipe do professor Paul Motzki (coordenador do projeto), em um comparativo direto com os melhores falantes da atualidade, as frequências além de mais fidedignas, tiveram um comportamento muito mais próximo do evento musical ao vivo.

O próximo passo para que essa tecnologia tão promissora se torne uma realidade, será uma enorme injeção de dinheiro de algum fabricante de falantes, ou um pool de fabricantes, para viabilizar a industrialização dos falantes dignos do século 21.

A segunda descoberta irá revolucionar os circuitos eletrônicos em todas as áreas. Trata-se do ‘Meminductor’! Cientistas da Texas A&M University anunciaram a descoberta de um novo elemento de circuito batizado de Meminductor.

Antes que seu cérebro entre em parafuso meu amigo, vamos tentar dar uma resumida no que os circuitos elétricos representam em nossas vidas há mais de meio século. Vamos pelo exemplo mais simples e de uso diário: os interruptores de luz em nossas casas, e aos mais complexos que atualmente são usados em nossos computadores, celulares, televisores, equipamentos de áudio, automação e em nossos carros.

Um circuito elétrico é basicamente direcionado para o controle do fluxo de eletricidade para manter um equipamento ligado e em bom funcionamento.

Ele é constituído de três elementos básicos: resistores, capacitores e indutores. Cada um desses componentes cumpre um papel no circuito elétrico, ou de armazenar energia ou restringir o fluxo de eletricidade que passa por esse circuito.

Com o avanço da nanotecnologia e da aplicação da física quântica, os cientistas descobriram que haviam comportamentos ‘estranhos’ no mundo dos circuitos. E em um estudo para descobrir os motivos dessas nano-variações, em 2008, descobriu-se o Memristor e, recentemente em 2019, o Memcapacitor.

Para H. Rusty Harris, um dos pesquisadores deste novo estudo, o descobrimento desses novos elementos existentes no circuito elétrico, colocou o mundo de cabeça para baixo. Pois ficou evidente que tanto o capacitor quanto o resistor, possuem uma ‘memória’ fazendo com que suas propriedades de corrente e tensão dependam de valores anteriores de corrente ou voltagem por tempo.

E aí Harris e sua equipe deduziram que se o capacitor e o resistor continham essa ‘memória’, era uma questão de tempo descobrir o mesmo elemento também no indutor.

E isso ocorreu há poucas semanas.

Se eu fosse você, leitor, já estaria perguntando: na prática, o que isso pode mudar no futuro? Tudo, meu amigo, desde como os circuitos elétricos são aplicados, até o nível de confiabilidade e qualidade na performance desses novos circuitos elétricos.

Pois será possível torná-los muito mais seguros, precisos e capazes de fazer autocorreção, quando em uso.

Afinal, o próximo passo da equipe é estudar como se armazena essa memória nos capacitores, indutores e resistores, programando-os individualmente, antes mesmo de trabalharem em conjunto.

Para o áudio hi-end são duas notícias excelentes, que podem levar o nível de performance a um novo patamar de referência.

Como circuitos elétricos são usados na maioria dos produtos movidos a eletricidade, esse avanço certamente será muito mais próximo de estar em nossas vidas do que o projeto do alto falante muscular.

Espero estar vivo para ouvir o que essas duas descobertas podem fazer pelo áudio hi-end nos próximos anos!

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