Opinião: É PRECISO SABER O BÁSICO PARA NÃO COMETER ERROS TOLOS – PARTE 3
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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

“Cometer o mesmo erro repetidamente, esperando resultados diferentes, é a definição de Insanidade” – é uma frase atribuída a um sujeito famoso que é um pouquinho mais inteligente que eu, que respondia pelo nome de Albert Einstein.

Acompanho o melhor que posso a imprensa audiófila, assim como vários fóruns de discussão, tanto de forma escrita quanto em mídias novas como YouTube e as redes sociais. E fico literalmente bestificado como se ‘anda em círculos’, como se ama de paixão desenfreada bater cabeça com os mesmos erros – sendo que alguns deles estão sendo cometidos desde que a audiofilia existe!

É uma mistura de pensamento pequeno com desconhecimento voluntário – e acontece também com profissionais da área! Você procura sites, fóruns, vídeos querendo aprender mais, confrontar suas ideias, lapidar seu conhecimento – e em vez de expandir seu conhecimento, melhorar seu sistema, educar sua audição, você consegue ou descobrir que não saiu do lugar, ou se ver ‘confortável’ cometendo uma série de erros, às vezes repetidamente. Abaixo alguns deles:

MÚSICA MAL GRAVADA EM DEMONSTRAÇÕES & AVALIAÇÕES

Aqui tenho visto dois lados: um que defende que a música usada para demonstração está ruim e precisa-se de ‘música nova’, e outro que defende que a música usada para demonstração está ruim e precisa-se de ‘música velha’…rs…

Quem está certo? Nenhum dos dois, não em sua totalidade… Por quê? Porque é muito bom que haja qualidade musical naquilo que está sendo demonstrado ao mesmo tempo que haja qualidade sonora – apesar de que eu, hoje, acho mais importante em demonstrações e avaliações, haver qualidade sonora, ter o uso disseminado de gravações de alta qualidade técnica.

Mas, quem se educou a vida inteira sobre a qualidade instrumental e musical de um jazz ou clássico, não quer ouvir (e vai sair correndo da sala) que puser heavy metal, pop eletrônico atual, hip-hop, etc e tal. E quem definiu que suas vidas musicais giram em torno de ‘música nova’ sem preocupação nem com a qualidade de suas gravações, além de não estarem ouvindo os equipamentos direito, vão estar espantando da sala ainda mais gente.

Uma batida eletrônica, ainda mais com uma linha de baixo pesada e repetitiva igualmente eletrônica, não irão me dizer como é a definição, a articulação, o recorte, a textura e o corpo dos graves e médios graves de um par de caixas ou mesmo de um sistema – e isso de deve à uma limitação inerente ao tipo de instrumento usado. Se os ouvintes querem realmente avaliar sistemas e caixas, e gostam de música pop eletrônica atual, podem facilmente gostar de música negra do final da década de 60 e da década de 70 – podem ouvir outras coisas, portanto. Reclamam de alguém estar demonstrando música clássica, mas adoram trilhas sonoras de filmes modernos as quais, mesmo quando eletrônicas, que usam uma estrutura musical enormemente derivada da música clássica!

Qual é a solução? Uma melhor seleção do que tocar, que não faça fugir da sala nem um tipo nem outro de audiófilo. Como? Entendendo melhor de música por parte de quem demonstra, e entendendo melhor de música por parte de quem ouve a demonstração. E o que é essencial? Qualidade sonora, pois se você quer saber como toca um sistema, precisa de qualidade sonora, e isso é um aprendizado, não é algo instantâneo.

Tenho visto, inclusive, gente defendendo alguns discos atuais como ‘bem gravados’, mas seu uso de efeitos e compressão é tão grande que acabaram com os aspectos Qualitativos do som da maioria dos instrumentos usados neles. E isso não é ser ‘bem gravado’ nem aqui nem na China!

O fato é que a maioria do pessoal mais velho preza música mais tradicional – porque é obviamente mais bem gravada, e melhor como música, no geral. E o pessoal mais novo abraçou a causa do ‘tudo é válido em matéria musical’ e preza mais a música atual e os gêneros mais populares, cuja maioria das gravações nada têm de ‘bem gravadas’.

Ponderação e critérios fazem-se necessários. Selecionar o que tem de melhor gravado na música nova, assim como selecionar gravações antigas que possam agradar musicalmente tanto os antigos (não se ofenda, eu também sou um) quantos os novos. E isso é apenas a circunstância, porque o foco é em qualidade de gravação – e isso inclui como foram captados os instrumentos e o quão fiéis eles são à realidade, porque, meu amigo, a realidade é extremamente rica, então não vamos empobrecê-la para fazer ela caber na marra dentro de nossas caixinhas.

NÃO POSICIONAR AS CAIXAS CORRETAMENTE

Essa é a história mais velha da audiofilia. Trocando em miúdos: a maioria esmagadora dos audiófilos não posicionam suas caixas corretamente – por uma série de motivos, sendo o principal o desconhecimento.

O que isso acarreta? Não – e eu digo categoricamente não – vai nem trazer o potencial sonoro das caixas e muito menos vai sequer tocar direito.

Não, caro leitor, não enfie suas caixas nos cantos. Não, não deixe suas caixas praticamente encostadas nas paredes ao fundo, porque não só o Equilíbrio Tonal vai pro vinagre, como a qualidade do grave obtido com as caixas perto da parede aos fundos, é miseravelmente ruim, com sons embolados e sem recorte – a não ser que você goste dos graves de bumbo de bateria soarem iguais ao bater na lateral do sofá. Se você tem falta de graves (seja por causa das caixas ou por causa da eletrônica), não enfie as caixas nas paredes ao fundo, porque estará criando um problema pior.

E pense bem na distância entre uma caixa e outra, que deve ser (para começar) semelhante à distância entre qualquer uma das caixas e a posição do ouvinte, formando um triângulo – e não ter uma caixa longe da outra só porque tem um rack e um monte de equipamentos entre elas.
E, por fim, faça o toe-in das caixas no ângulo correto – que é a angulação das mesmas em direção ao ponto de audição. Se não fizer isso, quase certo que não vai ter ‘palco’, que é imagem estéreo formada entre as caixas.

CABOS

A maior parte das pessoas já está percebendo que existe diferença sonora entre um cabo e outro. E, se tocam diferente, então existe um que é melhor do que outro – e muito disso é sinergia com o seu sistema, também.

Mas “eu não acredito em cabos”… Bom, comigo eles sempre foram pontuais, confiáveis, ponta-firme… rs. Pare de assistir discussões na Internet sobre se cabos de milhares de dólares valem a pena ou não, fazerem diferença ou não – porque se eles são para seu poder aquisitivo e seu nível de eletrônica, então procure ouví-los e tirar suas próprias condições. Se não são para seu sistema, procure cabos condizentes e experimente-os. Não fiquem se sentindo confortáveis com o que dizem alguns malucos na Internet, porque desde que o mundo é mundo comida boa só se faz com ingrediente bom, móvel bom só se faz com madeira boa. Por que motivo você não usaria o melhor que pudesse em seu sistema?

Tenha os melhores cabos que você pode ter, e siga em frente – tanto dedicando mais tempo para apenas ouvir música quanto perseguindo questões audiófilas mais produtivas.

O STATUS E O EXCLUSIVISMO NO ÁUDIO

Não comprem equipamentos audiófilos para parecer bacana para o seu vizinho ou para impressionar o seu grupo de amigos.

Não caia no conto do exclusivismo e do status provido por marcas. Sim, existem marcas que são caras mas fazem produtos elaboradíssimos, provendo altíssima qualidade de som. Não compre ‘marca’, compre equipamentos que vão prover Qualidade Sonora.

Então muito cuidado quando encontrarem fabricantes de caixas, por exemplo, que dizem que para suas caixas a madeira do gabinete é selecionada uma a uma para casar com a ressonância do alto-falante e por isso custam caro e elas demoram para serem produzidas. Não acredite no papo do ‘pêlo de camelo da Patagônia’. Não comprem o marketing do ‘exclusivo’ e chique. Comprem Qualidade Sonora.

DESINTERESSE EM ENTENDER MÚSICA

Esta crítica se aplica também a muitos profissionais da área. Não precisa ir fazer 8 anos de Conservatório e nem uma faculdade de musicologia, mas aprender como a música real é. Aprender como soam os instrumentos reais, vai te ensinar uma enormidade, mas uma absurda enormidade sobre qualidade de som!

E não, som amplificado de música de barzinho ou de show pequeno, ou som de PA amplificado de show de rock/pop não são ‘música real’. Mas você pensa “ah, mas eu não ouço música acústica, não é minha praia”, mas acontece que se você entender como essa música acústica real é, vai te permitir entender o quão correta e bem feita é a amplificação de um show que, por sua, vez lhe permitirá perceber o quão correta e bem feita é a gravação de seus discos de rock/pop, o que, por sua vez, lhe permitirá entender o quão bem captado e gravado foram os sintetizadores usados na música eletrônica que você gosta, o que, por sua vez (finalmente! rs) permitirá que você compre um melhor equipamento de som e regule-o corretamente extraindo o melhor dele. Compreende?

Isso se chama Qualidade. Não abra mão do conceito de Qualidade – ele é bem menos variável, menos interpretável e menos particular do que você imagina.

MEMÓRIAS DE CURTO E DE LONGO PRAZOS

Já foi provado cientificamente que a Memória Auditiva de Longo Prazo existe sim – senão você não reconheceria a voz de seus familiares próximos, mesmo depois de décadas.

E isso não depõe a favor dos tarados pelos testes cegos e testes AxB – que são obviamente testes que usam a Memória Auditiva de Curto Prazo. Já é inútil querer ouvir durante pouco tempo um equipamento, montar uma avaliação mental dele, julgar e sentenciar – para não dizer que como é que você vai julgar algo sem ter Referência, e como é que você vai ter Referência sem ter memória de Longo Prazo?

Ou seja, não seja vítima do festival de besteiras – tenha Referências, ouça e analise com calma, conheça, aprenda, memorize e não só melhore a Qualidade de sua audição, como melhore seu sistema do jeito certo. E o Teste Cego e o Teste AxB, do jeito que são, não são o melhor caminho e, muito menos, nenhum tipo de ‘árbitro definitivo’.

OBJETIVISMO NÃO OUVE EQUIPAMENTO

O dia que alguém provar que um hambúrguer é mais gostoso do que outro com testes de laboratório, eu passo a acreditar que os testes técnicos e medições poderão, talvez, um dia, me dizerem como um equipamento toca. Nesse meio tempo, continuarei a ouvi-los.

E os doutrinadores do objetivismo ainda têm a cara de pau de virem dizer que se você ouviu um equipamento cujo teste objetivo disse que é ‘ruim’, e ele toca bem, então é ‘placebo’. Considerando que até agora nenhum objetivista conseguiu fazer uma correlação entre o teste objetivo e a qualidade sonora final, eu nem preciso ficar ofendido pela estupidez de chamarem isso de ‘placebo’. Prefiro seguir os ensinamentos de grandes projetistas de caixas acústicas, por exemplo, reconhecidos mundialmente, que dizem que as medições são excelentes para se iniciar uma caixa acústica, mas que o acerto da sonoridade da mesma é sempre feito de ouvido.

Você não vai decidir se uma comida é gostosa fazendo uma avaliação de laboratório do valor nutricional dela – você vai lá e come a comida.

Bom, por hoje é só, pessoal. Ouçam, percebam, entendam, aprendam. Sejam melhores em seus hobbies, principalmente quando eles são, também, paixões.

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